Um dia sem carro, quando?

 


Por

Tânia Passos

A dinâmica do trânsito em um sábado não é a mesma dos dias úteis, mas pode ser uma boa oportunidade para neste 22 de setembro, Dia Mundial sem Carro, você começar uma experiência que pode mudar um padrão de comportamento de total dependência daqui para a frente. Em um universo de mais de dois milhões de veículos no estado, sendo metade na Região Metropolitana do Recife, deixar o carro em casa pode fazer toda a diferença. Seja por um dia, dois, três, semana, mês ou ano. Sonho? Mudar os hábitos e criar outras formas de deslocamento, até bem pouco tempo, pareceria coisa de outro mundo, que não o nosso, mas hoje já serve como reflexão e oportunidade. A discussão sobre mobilidade em uma cidade travada e a possibilidade de diversificar os modais ganha adeptos entre os recifenses que, pela primeira vez, estão mais mobilizados para a campanha hoje.

A dependência do carro, no entanto, se tornou um obstáculo que vai além da discussão da melhoria do transporte público. É bem mais fácil que “alguém” faça a escolha de deixar o carro em casar para que o caminho fique livre para o nosso carro passar. Quem mais reclama dos congestionamentos é quem menos está disposto a abrir mão do seu quadradinho de rodas. Mas há sempre possibilidade de mudanças. Foi no dia 22 de setembro de 2010, que o funcionário público Márcio Cabral, 39 anos, resolveu atender ao apelo da campanha mundial de deixar o carro por um dia e fazer os deslocamentos em outros modais.
Disposto a contribuir com a mobilidade e o meio ambiente, mesmo sendo um dos poucos na cidade a aderir à causa naquele ano, ele aceitou o desafio e desde então adotou o ônibus como seu principal meio de locomoção e não se arrepende. O carro passou a ficar mais tempo na garagem e Márcio descobriu que o veículo poderia ser utilizado nos finais de semana para o lazer.

Hoje, a campanha que surgiu na Europa, no final do século 20, volta a dar um recado para um momento de reflexão. Deixar o carro em casa, por um dia. O bombeiro Jardel Santana, 38, usa o carro de duas a três vezes por semana. Nos outros dias utiliza o ônibus e o metrô. “Quando estou sozinho, eu uso transporte público, mas se preciso trazer os filhos e a esposa para resolver alguma coisa, prefiro o carro”, explicou o bombeiro, que também costuma oferecer carona. “Não gosto de andar sozinho no carro. Acho um desperdício”, revelou.
A pé, de táxi…


O ônibus ou o metrô são opções de transporte, mas não só. Dependendo do percurso, o deslocamento pode ser feito de bicicleta, a pé, táxi ou com a junção de mais de um meio de transporte. A independência do carro é também uma escolha. A bióloga Lígia Lima, 26 anos, que participou do 1º Desafio Intermodal do Recife, prefere fazer a maior parte dos seus deslocamentos a pé. “Em alguns trechos também uso a bicicleta e se a distância for muito grande, eu vou de ônibus, mas dificilmente de carro”, afirmou. Para o ciclista Enio Paipa, vencedor do Intermodal do Recife, a bicicleta é um meio de transporte que ele não abre mão. “Eu percorro em média 50 quilômetros por dia de bicicleta. É, sem dúvida, meu principal meio de transporte”, revelou.

Deixar o carro em casa é uma escolha que a funcionária pública Mardilene Ferreira, 52, ainda não está disposta a fazer. Embora seja simpática à ideia da campanha do Dia Mundial sem Carro, ela admite sua dependência do automóvel. “Posso deixar de usar o carro por um dia, mas não sairei para lugar nenhum. Se for feijão ou nada, eu fico com nada”, revelou. Ela mora em Boa Viagem, trabalha em Olinda e tem um filho estudando na Unicap. “Vou trabalhar de carro, volto para almoçar em casa e à tarde vou levar meu filho na aula. Às vezes é preciso buscá-lo à noite”, revelou. E o congetionamento?

“É a parte ruim. Eu tenho que calcular com uma hora meia de antecedência os compromissos e o carro ligado muito tempo gera muita poluição. Meu sonho é ter um carro elétrico. Pelo menos vai poluir menos”. Pode ser, mas não melhora a mobilidade.

4 Replies to “Um dia sem carro, quando?”

  1. Alguns ainda não migram por falta de estrutura, seja faixa para bikes, calçadas planas e padronizadas para os pedestres, ônibus confortável e rápido para quem opta pelo público, bem como no caso do metrô, menor intervalo e menos lotação.
    Contudo, para todos e aí diria que em alguns aspecto, pode ser o menos vulnerável em tese, quem usa o carro sai na frente e considero como um dos fatores de ter tanto carro nas ruas o problema da segurança pública.
    Já foi mostrado matérias que as pessoas usam o carro para ir a locais próximos de casa porque não percebem segurança para fazer o deslocamento a pé. Esta semana, um vizinho ao sair para o estágio cedo, foi assaltado na rua de casa por duas pessoas numa moto que faziam uma arrastão no bairro. Depois fiquei sabendo por terceiro que o mesmo teria dito que se tivesse carro, talvez não teria ocorrido isso, mas pensa em adquirir tão logo ganhe mais. Para ver, segurança ineficiente estimula deslocamento por carro, pois muitos não se sentem seguros em ir até a parada de ônibus, no próprio ônibus, ou fazer trajeto a pé até o trabalho.
    Logo, as pessoas não compram um carro apenas para terem independência na locomoção motorizada deixando de ficar depende de várias conduções, limitações de horário, lotação, etc, mas também porque o carro passa uma certa segurança.

  2. aliado a isso.uma imprensa q difunde o uso ao transporte individual.q o Brasileiro é apaixonado por carro,a gente entende.mas nesse atual estágio,não está sendo bom pra ninguem.concordo contigo tania.o cara q usa carro é o q mais critica os engarrafamentos.

  3. Raimundo, vc fez colocações coerentes, mas vou discordar no contexto segurança: embora a segurança pública no Recife seja precária, tem sido comum assaltos em sinais(e principalmente em horários de pico).
    Falta a conscientização dos políticos sim, mas principalmente dos usuários de carro. Cidades que mudaram o paradigma(Bogotá é um exemplo carro), experimentou como conseqüência uma redução na criminalidade(e olha que a situação colombiana não é das melhores neste itém).
    Deve acabar com essa farra de carros oficiais também e cobrar caro o estacionamento, sem ceder. Sou favorável ao pedágio urbano também.
    Se for feito isso e não ceder, os ricos serão obrigados a buscar outras formas e principalmente os políticos, o que geraria uma melhora por consequencia, já que eles não iam se deixar na mão.

  4. Marcelo Alvarenga,
    sei que ninguém está imune, mas o condutor de carro pode criar caminhos onde o risco seja menor, diferente de quem está a pé que pode ser facilmente abordado por outro pedestre, ciclista, motociclista e até condutor de carro. Todas essas situações escuto vez ou outra aqui no meu bairro e não é diferente em outros onde a circulação a pé é mais utilizada. Sei que em Bogotá, a restrição ou não favorecimento de vias para os carros reduziu a criminalidade, só antes disso, temos que reduzir a quantidade drogados nas ruas do centro, a volta da Polícia do Bairro realmente trazer eficácia, pois ladrão esperto sabe o horário que eles fazem ronda. Quanto ao pedágio urbano, rico não vai se importar em pagar, e isso em outra análise é forçar a maioria que não é rica, mas tem um carrinho a não acessar o centro da cidade ou pagar valor que vai pesar no seu bolso, enquanto os cheios de dinheiro que não abrem mão do carro pagarão, até porque pagam dentro do Shopping Recife, por exemplo, estacionamento exclusivo com manobrista. Outra é que rico tem mais de um carro, então se criam rodízio, ele tem como burlar com veículo de placa diferente. Sobre carros do governo também serem limitados, tá ruim. Eu pergunto se o excelente ex-prefeito de Bogotá deixou de usar o do governo para, por exemplo, anunciar a inauguração dos feitos dele. No dia que eu ver a maioria dos políticos usando transporte público para ir trabalhar, o mundo será outro.