Ser ciclista em São Paulo e não morrer tentando

Bicicletas e carros - Foto - Cecília Sá Pereira DP/D.A.Press

Assim comprovou tragicamente um jovem que ia para o trabalho em sua bicicleta passando pela Avenida Paulista nas primeiras horas de domingo quando foi atingido por um carro. O motorista, um estudante de 22 anos, fugiu do local do acidente levando consigo o braço amputado de David Santos de Souza e jogando depois o membro em um córrego.

Horas depois, o motorista se entregou à polícia.

“Muita gente comentou: ‘O que fazia um homem a essa hora (05h30) de bicicleta na Paulista?’. Ia trabalhar. Por acaso só os bêbados podem passar por lá?”, disse à AFP Willian Cruz, um analista de sistemas de 39 anos que há uma década adotou a bicicleta como meio de transporte.

No entanto, o ciclista, de 21 anos, admitiu que trafegava pela contramão no momento do acidente.

Cruz alimenta o site www.vadebike.org, onde fomenta o uso da bicicleta nesta cidade de 11 milhões de habitantes, com uma frota de 3,8 milhões de veículos motorizados e onde há apenas 60,4 km de ciclovias exclusivas.

Pouco amiga da bicicleta

Milhares de paulistas desafiam o tráfego, as ruas que sobem e descem e as longas distâncias para usar este meio de transporte mais barato, mais rápido e não poluente. Mas são poucos em relação ao exército de carros, motocicletas e ônibus que percorrem as ruas de São Paulo.

“Temos que aprender a conviver com tudo isso. São Paulo não é uma cidade amiga da bicicleta, mas está progredindo. Há cinco anos, quando comecei a pedalar, era muito pior”, comentou à AFP Aline Cavalcante, uma jornalista de 27 anos que junto a um grupo de amigos instalou um café e uma tenda de bicicletas.

No domingo, Aline participou do protesto que bloqueou a Avenida Paulista depois do acidente.

Segundo dados da pesquisa Origem/Destino de 2007, que o Metrô de São Paulo elabora a cada dez anos, em 1997, 0,5% das 31 milhões de viagens diárias na capital e na região metropolitana eram feitas em bicicleta. Esse percentual aumentou para 0,8% em 2007, de um total de 38 milhões de viagens, ou seja cerca de 300.000 viagens.

Mais bicicletas, mais mortes

Mas, apesar de ser mais barato e rápido do que utilizar um carro particular ou transporte público, se locomover de bicicleta é muito perigoso.

“Muitas pessoas veem na bicicleta uma alternativa para seu transporte diário, mas São Paulo não está preparada para receber essa demanda”, comentou à AFP Carlos Henrique Carvalho, pesquisador da área de transporte do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“São Paulo fez investimentos, ampliou um pouco a rede, mas ainda sim é muito pouco em relação ao necessário para essa demanda. O que está acontecendo é que o número de mortes tem aumentado”, alertou.

Segundo dados do Ipea, 12 ciclistas morreram em acidentes de trânsito em 1997 no estado de São Paulo. Em 2010, foram 290, 4% do total de mortes por acidentes terrestres no estado.

Só na cidade de São Paulo, 52 ciclistas morreram em acidentes de trânsito em 2012. Em 2010 foram 49, de acordo com números municipais.

Há um ano, a bióloga Juliana Dias, de 33 anos, morreu atropelada por um ônibus na Avenida Paulista, depois de ter perdido o equilíbrio ao discutir com o motorista de um outro ônibus que fechou a sua passagem. Sua morte provocou indignação.

Grupos que incentivam o uso de bicicletas, como o “Bike Anjo”, onde um ciclista experiente acompanha os novatos em seus primeiros dias; e o ‘BikeSampa’, o sistema de aluguel de bicicletas públicas, são sinais de que este meio de transporte está ganhando espaço nas ruas paulistanas.

Além das ciclovias, separadas dos outros veículos, existem 120 km de ‘ciclofaixas’ que funcionam aos domingos e feriados. Também há 58 km de ‘ciclorrotas’ localizadas geralmente em ruas laterais, sinalizadas com pintura especial e placas.

Em Bogotá, cidade com a maior extensão de ciclovias da América Latina, são 376 km destinados às bicicletas.

Santos de Souza trafegava pela ciclofaixa da Paulista quando foi atingido pelo veículo que amputou seu braço direito.

O atropelamento provocou comoção nas redes sociais. No Facebook foi criada uma página chamada “Um braço mecânico para o ciclista atropelado na Paulista”, enquanto no Twitter multiplicam-se as mensagens pedindo justiça.

Fonte: Portal do Trânsito

O prêmio para o infrator

Reprodução/Internet

Por

Mariana Czerwonka

Em breve entrará em vigor em todo país, a Resolução 404/12, que estabeleceu que multas leves ou médias podem ser convertidas em advertência. A norma está presente no Código de Trânsito Brasileiro desde 1997, mas só foi regulamentada agora. A medida entrará em vigor no dia 1° de julho de 2013.

Até que me provem o contrário, não vejo nada de educativo nessa determinação. Para mim, parece um prêmio ao infrator. E explico o porquê desta minha afirmação. Por mais que as infrações leves e médias sejam consideradas de menor gravidade, muitas delas podem colocar em risco a segurança do trânsito, como por exemplo, falar ao celular ao dirigir ou trafegar com a luz de freio queimada.

Se analisarmos o contexto em que vivemos na atualidade em relação ao trânsito, é impensável imaginar qualquer medida que beneficie infratores de trânsito, pois a sensação de impunidade no Brasil ainda é muito latente.

Não estou querendo dizer que todas as pessoas que cometem infrações no trânsito são infratores contumazes, mas infelizmente, pelo contexto, a maioria paga pela minoria.

Voltando a resolução, de acordo com procedimento regulamentado, o infrator poderá requerer junto ao recurso de defesa o pedido de conversão da multa para advertência, e caberá ao órgão de trânsito fiscalizador e que aplicou a punição, acatar ou não o referente pedido.

E vocês, o que acham?

Fonte: Portal do Trânsito