Ciclista e pedestre, sem vez

 

Talvez na pressa pouca gente perceba, mas na Rua João Lira, ao lado do Parque 13 de Maio, no centro do Recife, uma imagem que traduz bem a preferência pelos veículos e a total falta de atenção com o pedestre e o ciclista.

Nesta imagem, a fotógrafa Alcione Ferreira flagrou uma cena em que o ciclista pedala ao lado dos carros, mas cadê a calçada do pedestre? Ela simplesmente não existe. Infelizmente não é um caso isolado. Temos “n” situações desse tipo.

Outro caso emblemático é a Avenida Norte, um importante corredor de tráfego, onde o pedestre não tem vez. Ao longo da via, há calçadas com  desníveis enormes e espaços sem continuidade do passeio. É o nosso Recife, mas pode ser diferente.

 

Veneza brasileira

 

 

Matéria publicada no dia 29.05.11 (três meses antes da aprovação do projeto)

 

Tânia Passos

Diario de Pernambuco

 

Não se pode imaginar o Recife sem os rios. Mas comece a imaginar o Recife com os rios navegáveis. O sonho, quase romântico, de uma Veneza brasileira pode sim acontecer.

Mas não apenas pelo aspecto turístico de passeios sob as pontes. A navegabilidade dos rios passa a ser uma condição essencial de mobilidade para uma cidade travada pelo trânsito caótico.

Pela primeira vez, o rio está sendo encarado como um instrumento viável para o transporte hidroviário integrado ao ônibus e metrô.

A Secretaria das Cidades incluiu a navegabilidade dos três rios que cortam o Recife, Capibaribe, Beberibe e Tejipió, entre os quatro projetos que poderão receber recursos do PAC da Mobilidade este ano.

Orçado em R$ 398 milhões, o projeto aponta três eixos a serem explorados pelas hidrovias: as zonas Oeste, Norte e Sul.

Dos três eixos, a Zona Oeste é a mais viável para o transporte hidroviário de passageiros por causa da demanda existente. O Capibaribe é, na verdade, uma via paralela às avenidas Rui Barbosa e Rosa Silva, que estão com o trânsito saturado.

Imagine então trocar o caos do trânsito nessas duas vias por outra sem semáforos, engarrafamentos, buracos ou protestos e, de quebra, uma das mais belas paisagens da cidade.

Para se ter uma ideia do que pode significar na prática, a equipe do Diario conferiu em um catamarã o trajeto previsto para o eixo da Zona Oeste, que inclui cinco estações hidroviárias:

a estação central do metrô do Recife e o trecho das futuras estações do Derby, Plaza, Caiara e da BR- 101. Devido ao assoreamento a embarcação chegou até o penúltimo trecho.

Em uma conta simples, marcamos o tempo gasto pelo barco no trecho entre Casa Forte e Jaqueira, de apenas três minutos, e de Casa Forte até o Derby, de 10 minutos. É claro que de carro ou ônibus o tempo tende a ser muito maior devido aos engarrafamentos e semáforos.

De acordo com o projeto da Secretaria das Cidades, se aprovado o projeto de navegabilidade, o serviço de transporte público hidroviário será feito por meio de concessão, da mesma forma que ocorre com os ônibus.

O modelo das embarcações só será definido posteriormente em edital. Um dos critérios é que as embarcações sejam fechadas, climatizadas e com equipamento de segurança.

“Ao contrário dos ônibus, nenhum passageiro poderá ficar de pé. Serão todos sentados e com os equipamentos de proteção”, afirmou a secretária executiva das Cidades, Ana Suassuna.

O projeto prevê a dragagem do rio nas três rotas, recuperação das margens e remoção das palafitas. As cinco estações estarão integradas ao Sistema Estrutural Integrado (SEI).

“A gente quer uma confluência de modais dentro da estrutura da mobilidade. Todos os equipamentos estarão diretamente integrados: ônibus, metrô e o transporte fluvial, com o pagamento de uma passagem”, afirmou Suassuna.

Se o projeto da navegabilidade será mesmo ser executado vai depender ainda da seleção dos projetos. “O projeto da navegabilidade é importantíssimo e viável, mas se a gente tiver que optar vamos escolher o dos corredores de tráfego Norte/Sul, Leste/Oeste, Avenida Norte e da 4ª perimetral devido a demanda de transporte ser muito maior”, afirmou o secretário das Cidades, Danilo Cabral.

 

As armadilhas das bocas de lobo


Um risco constante para quem dirige nas vias urbanas é se deparar com bueiros no meio da rua. Eles são usados como pontos de inspeção de galeria pluvial ou caixas de visitas para técnicos das companhias telefônicas ou elétricas. A importância deles é indiscutível, mas a localização e a falta de manutenção se tornam verdadeiras armadilhas.

Há dois aspectos a se discutir. O primeiro, no caso do Recife, é que não existe um plano diretor do nosso subterrâneo, então os bueiros são instalados de forma aleatória, seja no meio da rua, ou nas laterais. E, o segundo ponto é a  péssima manutenção.

E aí são dois problemas: a ausência da tampa, na maioria das vezes, se torna um risco para o motorista atolar a roda do carro no buraco ou provocar um acidente.  E também em relação ao pavimento, que não acompanha o mesmo nível da tampa e, com o aumento das camadas de asfalto, acaba ficando abaixo e passa  a ser um buraco em pontencial.

O pior é que não existe uma legislação para regulamentar o uso do espaço subterrâneo. Algum político se habilita?

 

 

Enquete: 76% são contra os flanelinhas

 

No resultado da última enquete, que trouxe à tona a discussão sobre o uso dos espaços públicos, ficou evidente que a maioria das pessoas não concorda em ser “obrigado” a pagar pelo uso das vias públicos na hora de estacionar. Na enquete 76% das pessoas  responderam que são contra a cobrança por parte dos flanelinhas e 24% acreditam que o serviço deles deveria ser disciplinado pelo município para coibir os abusos.

E absolutamente ninguém respondeu que acha justo o pagamento e  que o carro fica melhor guardado com a presença do flanelinha. Mas, no final das contas, sem que nenhuma providência seja de fato tomada, no sentido de permitir ou coibir essa prática, os motoristas estão por si e cada um vai se comportar e pagar o que achar conveniente. Nesse aspecto, porém, a prática tem mostrado que, em geral, as mulheres são mais vulneráveis às investidas dos flanelinhas e, na maioria das vezes, acabam pagando o preço que lhes é cobrado. Tá na hora de começar a dizer não!

 

Velha frota nas vias do estado

 

Quase 30% da frota que circula no estado tem entre 15 e 40 anos de idade. Desse universo, os balzaquianos representam 20,62%. Parece incrível que carros com 40 anos ainda circulem na cidade. Ao contrário de outros países, o Brasil ainda não aprovou uma legislação que tribute a mais os veículos de acordo com a idade.
No estado, o índice mais otimista é da frota de até cinco anos, que representa quase 40%. Na estatística do Detran, não são contabilizados os veículos com menos de cinco anos. Ficam de fora, por exemplo, os carros novos. O comerciante Rogério Borba, 46 anos, comemorou a compra de uma S-10, zero. “Mesmo com o trânsito ruim, não há condições de enfrentar o transporte público”, afirmou.
O Detran emplaca por dia cerca de 1.200 veículos. Desses, cerca de 100 são usados e o restante novos. Outro dado que deve ser levado em conta na estatística do Detran é que existem pouco mais de 27 mil ônibus no estado, cerca de um milhão só de automóveis e mais de 700 mil motos. Já o transporte de carga é de 240 mil veículos.

 

 

Trânsito (peso) pesado

Por Tânia Passos
Diario de Pernambuco

Nós só “caminhamos” sobre rodas. O crescimento da frota no estado, que já ultrapassou a marca dos dois milhões de veículos, tem impactos maiores na Região Metropolitana do Recife, que chegou à marca de um milhão de veículos. Para se ter uma ideia, no estado a proporção é de um carro para 4,4 pessoas e na RMR é de 3,7. A Região Metropolitana também recebe fluxo do interior e de outros estados, ou seja, quase 70% do tráfego do estado.
E quase todo passa por dentro do Recife. O tráfego que a capital recebe não é apenas de automóvel – o transporte de carga tem sido um dos gargalos até então sem solução. Uma das esperanças é a implantação do anel viário, que deverá funcionar como uma quinta perimetral e vai ligar os litorais Norte e Sul, passando por fora das cidades. O projeto executivo deverá ser apresentado pelo estado em novembro.
Ao contrário dos maiores centros urbanos do país, o Recife ainda é muito condescendente com o tráfego pesado. Hoje não há nenhum tipo de restrição. Caminhões dos mais diversos tamanhos e eixos circulam em vias inimagináveis.
Na última quinta-feira, o Diario flagrou uma Scania de seis eixos e 30 toneladas tentando fazer uma manobra no Cais José Mariano. O local é um dos pontos de carga e descarga das madeireiras e recebe transportadoras de todo o Brasil.

O motorista da Scania, o paulista Oswaldo Tavares, 60 anos, esforçou-se para atrapalhar o menos possível. Não conseguiu. Sem espaço para fazer a manobra, ele acabou colidindo com o ônibus, que estava atrás tentando passagem na via estreita e já sem espaço.

“Eu buzinei, mas ele não escutou”, defendeu-se o motorista do ônibus, Edson Azevedo, 56 anos. Consciente da dificuldade, o paulista sabe que, na terra dele, esse tipo de operação seria impraticável.

“Em São Paulo é proibido circular na cidade com transporte de carga. Lá é preciso fazer o transbordo para veículos menores. Mas aqui não há essa restrição, por outro lado, é difícil para o motorista porque as ruas são estreitas”, admitiu.

Para o engenheiro e consultor de transporte urbano, Germano Travassos, o Recife está atrasado no quesito circulação viária de caminhões de carga. Ele aponta dois grandes gargalos desse tipo de transporte na cidade: o Cais José Mariano e o Cais do Porto.

O primeiro, em relação às madeireiras e o segundo devido as atividades, ainda existentes, na área portuária, cujo entorno é usado para as operações de carga e descarga.

O Diario flagrou na Avenida Martin Luther King, praticamente na frente da Prefeitura do Recife, um verdadeiro comboio de caminhões, alguns usando a área do passeio para efetuar a descarga de mercadorias. “É preciso fazer um estudo para remover esse tipo de veículo das vias urbanas.

No caso do Porto do Recife, talvez uma alternativa, que requer um estudo, seria usar a Avenida Norte como escape e seguindo pela BR-101. Mas no caso do Cais José Mariano, qualquer trajeto irá impactar”, revelou Travassos.

O diretor de operações da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), Agostinho Maia, disse que a legislação municipal permite a operação de carga e descarga para caminhões de até seis metros, no período das 7h às 20h. Ou seja, não impede nada. A lei se aplica na área do centro expandido, que compreende o trecho da Avenida Agamenon Magalhães até o Marco Zero.

 

 

Bisbilhoteiros do trânsito

 

À primeira vista pode parecer estranho, mas a foto acima mostra um agente de trânsito monitorando o tráfego do alto de um edifício, no centro de São Paulo. Com binóculo e rádio, ele se comunica com a Central de Engenharia de Tráfego (CET).

São os chamados PACs (Postos Avançados de Comunicação), criados desde a década de 1970 e atuais até hoje. Na capital paulista existem 13 postos de observação na área central.

E os bisbilhoteiros de plantão  fazem muitas vezes o que as câmeras não conseguem. Aliás, elas não estão em todos os lugares. No caso de Recife são 66 equipamentos, sendo 27 com monitoramento online e em São Paulo mais de 300 para registrar o tráfego.

Mas são os Pacs que avisam à central quando um motorista faz besteira no trânsito. Que falta faz bisbilhoteiros desse tipo por aqui…

 

Em briga de trânsito…

 

Motorista agressivo que se meter a besta no trânsito, pode perder a Carteina Nacional de Habilitação (CNH). Isso mesmo. AComissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados, aprovou o projeto do ex-depoutado Ricardo Quirino (DF), que prevê a suspensão do documento. A ideia não é má, tirar das ruas os motoristas violentos. O projeto tramita em caráter conclusivo e falta ainda ser analisado pela Comissão de Constituição e Justiça. Pelo projeto quem vai determinar a suspensão será um juiz e o requerimento pode ser feito pelo Ministério Público ou ainda uma autoridade da representação judicial. Se a lei pegar, as famosas brigas no trânsito podem estar com os dias contados…

Em caso de acidente, o carro deve ser removido da via?

Um acidente atrapalha o trânsito. Sete acidentes atrapalham muito mais. Um engavetamento envolvendo sete carros na Avenida Boa Viagem, trouxe um transtorno de quase três horas. O engavetamento ocorreu pela manhã e só no início da tarde a pista foi liberada. O acidente , que causou o transtorno é apenas pano de fundo para uma discussão que precisa ser levada a sério. Afinal de contas, em caso de acidente, sem vítimas, a pista é ou não liberada? Deveria ser, mas existe ainda uma situação mal resolvida entre o que diz a Companhia de Trânsito e o que dizem as seguradoras.

Na dúvida , os segurados decidem não tirar o carro do lugar. Só o carro que estava na frente e sofreu danos menores, o motorista preferiu sair por conta própria. No acidente em questão, o último motorista que entrou no engavetamento sofreu um corte na cabeça, mas não chegou a ser socorrido para um hospital. Ficou no local acompanhando o desenrolar da ocorrência.

Como houve uma vítima com um corte, teve que se esperar a chegada dos peritos do Instituto de Criminalística (IC). O agente de trânsito, que chegou ao local uma hora depois, tentava entender a história para saber se poderia ou não liberar o tráfego. Enquanto isso, uma fila enorme se formava de motoristas impacientes querende saber, enfim, a razão da pista não ter sido liberada.

A faixa de pedestre, o pedestre e o motorista

A campanha que está sendo realizada em São paulo pela valorização da faixa de pedestre tem mostrado resultado no bolso de quem ainda não entendeu a importância da faixa. No balanço da campanha em favor da travessia segura foram computados cinco mil multas no período de 8 a 21 de agosto. Destas, 2.579 foram para motoristas que não deram preferência ao pedestre. Além disso, 1.300 condutores foram multados por não utilizarem a seta indicativa de mudança de direção.

Mas o trabalho educativo desenvolvido pela Central de Engenharia de Tráfego (CET) não é voltado apenas para os motoristas. O centro de treinamento da CET atua também na conscientização dos pedestres. Alunos de escolas públicas ou privadas tem turmas agendadas todos os dias para aprender o bê- a- bá dos pedestres.

Eles são recebidos por um grupo de educadores e recebem noções básicas sobre os cuidados no trânsito. Depois vão para a aula prática. No local funciona um centro urbano cenográfico com faixas de pedestres e semáforos.

Eles aprendem como fazer a travessia e o como se comportar em vias, onde não existam faixas de pedestre. Nesses casos, a orientação é fazer a travessia em linha reta e nunca em transversal e o mais o longe possível das curvas. As crianças aprendem direitinho. Só precisam aplicar isso também quando se tornarem motoristas.