A cara que ninguém pensou para a Agamenon

 

 

Diario de Pernambuco

Por Tânia Passos

Muito se pensou para a Agamenon Magalhães, mas dificilmente o cenário que se desenha fazia parte do imaginário dos urbanistas. Já foram pensados elevados para a via desde a década de 1970 e, em 2009, o urbanista Jaime Lerner chegou a desenhar um modelo de elevado passando por cima do canal do Derby. O projeto de Lerner foi descartado e no lugar dele surgiram quatro viadutos que irão pontuar os quatro cruzamentos que apresentam as maiores retenções: Bandeira Filho, Paissandu, Dom Bosco e Rui Barbosa. A ideia do governo do estado é aumentar a velocidade da avenida que passará em média de 20km/h para 30 km/h. O ganho na velocidade se dará com a eliminação dos quatro cruzamentos.
O governo do estado já bateu o martelo e a licitação deverá ser concluída em março deste ano. A previsão é que a obra fique pronta até dezembro de 2013. O cenário futurista e ainda incrédulo para uma parcela da população está orçado em R$ 135 milhões. Mas o que se questiona é principalmente qual a vantagem dos viadutos para o transporte público?

Com a eliminação do elevado por cima do canal, por onde passaria livre o corredor exclusivo de ônibus, a faixa dos coletivos será feita em nível ao lado do canal e as paradas em cima do canal. Com os ônibus numa pista exclusiva haverá uma faixa a menos para os carros. Mesmo assim, a expectativa é de ganho na velocidade. “Para se ter uma ideia, no cruzamento da Paissandu que tem uma velocidade média de 5km/h, nos horários de pico, chegará a 18km/h com a remoção dos semáforos”, ressaltou o secretário das Cidades, Danilo Cabral.

O argumento de melhoria da velocidade ainda não convenceu especialistas no assunto. Para o professor do departamento de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco e membro do conselho da Associação Nacional de Transporte Público, César Cavalcanti o ganho é temporário.

“Nós temos uma frota que cresce 6% ao ano. Pode ser que não engarrafe no primeiro ano, mas a tendência é termos engarrafamentos por cima dos viadutos”, alertou. Também especialista em mobilidade urbana, o engenheiro Germano Travassos vê com preocupação a construção dos viadutos. “A primeira pergunta é aumenta a velocidade para quem? Para os carros? O foco não deve ser esse. É um equívoco, se o argumento for ganho na velocidade para o automóvel. A experiência nos mostra que é temporário e com um detalhe onde há mais fluidez, atrai mais tráfego”, afirmou.

Já Oswaldo Lima Neto, professor e doutor em mobilidade urbana, chama atenção para outro aspecto. “É necessário uma preocupação com o entorno que já é engarrafado e vai impactar nos viadutos. A Rosa e Silva, por exemplo, terá que ter os semáforos ajustados para acelelar o fluxo e tem que se pensar na travessia de pedestre”, ressaltou.

As críticas não tiram o otimismo do secretário Danilo Cabral. “O projeto prioriza o transporte público. Haverá uma faixa exclusiva para os ônibus com paradas em nível e pagamento antecipado e melhorando a velocidade da via, melhora também para os ônibus”, afirmou Danilo Cabral.

Com a construção dos quatro viadutos, 31 imóveis terão que ser removidos. No cruzamento da Bandeira Filho, por onde vai passar o primeiro viaduto, os impactos são mais visíveis. O supermercado Bombreço construído há mais de 40 anos será 100% removido. Em cima do terreno será construída a curva do viaduto. “Vai ficar ruim para fazer as compras, mas eu espero que melhore o trânsito. Não pode ficar do jeito que está”, afirmou a professora Helena Cavalcanti, 56 anos.

Também na Bandeira Filho, sete metros do Mc Donalds terá que ser recuado para a instalação de uma via local. O mesmo acontece com a Farmácia Pague Menos e o terreno da lateral do Clube Português. Na via, onde há também quatro edifícios residenciais, as preocupações são as mais variadas. “Tenho medo que embaixo do viaduto vire um ponto de sem teto ou drogados e as nossas moradias vão ficar mais inseguras”, revelou o aposentado Valter Vasconcelos Martins, 80 anos. A preocupação dele tem respaldo no que acontece na prática com a ocupação dos espaços vazios. No Recife, praticamente todos os viadutos têm ocupação irregular. Exceção apenas para os espaços que ganharam urbanização a exemplo do complexo de viadutos do Aeroporto dos Guararapes.

4 Replies to “A cara que ninguém pensou para a Agamenon”

  1. Tania Passos,
    Todos os argumentos contra os viadutos, servem contra o elevado. Afinal, o aumento de veiculos ao passar de anos ( como todos especialistas falaram) se dará de qualquer formar. Eu não sei qual a melhor opção, mas o fato de entrevistar especialistas que são contra e politicos (secretarios) que são a favor não escrarece a ninguem.
    Não tem nenhum especialista que seja a favor dos viadutos?
    Eu mesmo acredito que as duas opções são paleativas, acho que o VLT seria mais correto, mas não tenho conhecimento suficiente para defender.

  2. Bela reportagem tânia, sou mais contra estes viadutos, pois as colocações dos especialistas na reportagem já dizem tudo, e não é só esses viadutos, também a via mangue e a duplicação do capitão temudo, estamos nas mãos de políticos que não olham o problema da mobilidade de forma séria e eficaz, estamos vivendo foruns e mais foruns de mobilidade, e tudo que é colocado sobre melhorias no transporte coletivo fica apenas nos discursos. Estamos vivendo numa cidade em que não se constrói um km sequer de corredores de ônibus há mais de 05 anos, e os que o governo do estado diz que vai construir, na prática já existem, um exemplo é o chamado leste-oeste, onde o governo faz a propaganda que está construindo esse corredor, mas o corredor da caxangá de fato já existe, apenas vai receber estações para melhorar o embarque. são tantas coisa para se falar, mas o fato é que estamos juntos para divulgar estes absurdos que vemos na mobilidade pernambucana.

    De Seu Amigo
    Clayton Leal
    Blog Meu Transporte

  3. Se onde há maior fluidez atrai mais tráfego, por que a paralela da Caxangá não diminuiu o tráfego da avenida? A via concebida para desafogar a Caxangá tem baixo tráfego e sua fluidez é muito maior devido a menor quantidade de sinais no seu trajeto.

    Se há um ganho para os automóveis que circularão na Agamenon com a construção dos elevados, mas será temporário por conta do aumento da frota, deve-se questionar como evitar que esse aumento vá parar nas ruas? O corredor de ônibus será beneficiado com o ganho de velocidade e há outras medidas que estão em estudo como o rodízio no centro expandido do Recife que limitaria a circulação de veículos. Se há um crescimento para a frota de automóveis, está pode ser mantida desde que um crescimento na utilização do transporte público ocorra em níveis semelhantes fazendo com que o veículo particular só tenha serventia nos finais de semana ou em momentos como ir as compras, hospitais, etc.
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    O colega acima falou do Capitão Tenudo e da Via Mangue. O Capitão Tenudo é uma prova de como originalmente se construir elo de ligação inadequado as vias ligadas. De um lado há a Agamenon com 4 faixas e do outro o Cabanga com três sendo o ele, o viaduto, com apenas 2 faixas. Depois de anos é que fizeram o conserto muito em função do aumento da frota que ao passar por um gargalo não tinha como evitar congestionamento. A Via Mangue é uma via não só pretende desafogar a Conselheiro Aguiar utilizada como forma de acesso a cidade vizinha e final da zona sul, como permitár a implantação da continuação do corredor de ônibus Norte/Sul que demandará faixas exclusivas, portanto eliminando para os demais veículos criando estrangulamento para estes. Havendo outra forma de se chegar aos locais extremo sul, evita-se grande concentração numa única via.

    Claro, os políticos e entes do governo que estão viabilizando irão puxar a sardinha para o seu lado, mas que é do contra deveria criar mostrar alternativas funcionais e não especulativas. Se o que o governo promete não será duradouro, hoje nada tende a ser duradouro, pois onde já há uma grande rede de metrôs por exemplo, o aumento de demanda por tal meio vem forçando a ampliação da rede e problemas continuam como necessidades de locais em superfície para desapropriar, rachaduras em casas nas construções dos túneis; ou em BRs já saturadas onde é preciso duplicar ou triplicar e continua não sendo garantia de efeito duradouro, pois o Brasil continua sendo dependente do transporte rodoviário, tanto que as vendas de implementos rodoviários tem crescido.
    Nada é duradouro ou de efeitos a longo prazo, pois foi dito que as placas de concreto dos corredor da Boa Vista durariam mais de 10 anos e em pouco mais de 2 anos já deram problemas; se as pessoas usassem como forma de condução as bicicletas, não teria espaço ou vias adequadas a sua circulação. Enfim, se não fazem uma cidade planejada prevendo cenários futuros, moldar o presente é correr atrás do prejuízo e em certas ocasiões, não há mais opções.

  4. Com a construção do VIADUTO ESTAIADO DA RUA BANDEIRA FILHO, a
    AVENIDA ROSA E SILVA ficará praticamente INTRANSITÁVEL, pois o volume de veículos aumentarão consideravelmente. A SOLUÇÃO para diminuir OS ENGARRAFAMENTOS será O ALARGAMENTO daquela via pelo lado direito, que vai do CLUBE PORTUGUÊS até o HOSPITAL IPSEP, que fica na esquina da RUA DO ESPINHEIRO e também a construção de um TÚNEL NO CRUZAMENTO COM A RUA AMÉLIA