Mobilidade arrastada

O crescimento das cidades tem refletido no tempo que as pessoas demoram para ir de casa ao trabalho. O Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perguntou aos brasileiros, pela primeira vez, o quanto demora esse percurso e descobriu que, para 52,2% da população, ele leva em média de seis a 30 minutos.Quem vive em unidades da Federação mais desenvolvidas e populosas, porém, costuma levar, em média, mais de uma hora. É o caso de paulistas e cariocas.

Os dados não surpreendem os pesquisadores do instituto. Segundo a coordenadora de geografia, Maria Luísa Castello Branco, foi verificado no Brasil um fenômeno que ocorre em áreas metropolitanas de todo o mundo. “Mais pessoas se deslocando, levando mais tempo”, resumiu. Segundo ela, esse resultado era previsto porque geralmente quem mora em um município pequeno trabalha perto de casa e leva até cinco minutos para fazer o trajeto

. “Nas grandes cidades, as pessoas levam até mais de duas horas. Em São Paulo e no Rio (de Janeiro), por exemplo, que são densamente ocupados, o tempo de deslocamento de mais de uma hora é comum”, ressaltou. Nos dois estados, o alto tempo de locomoção atinge 428 mil (16,8% da população) e 229 mil (23,1%), respectivamente.
A expectativa da pesquisadora do IBGE é de que com os dados em mãos, os gestores consigam trabalhar melhor a questão do transporte público. “A informação nova é um indicativo para que se repense a questão da mobilidade urbana”, explica. Essa também é a esperança do técnico em prótese dentária, Fábio Alquimi, 32 anos.

Todos os dias ele pega um ônibus de Valparaíso para o Setor Comercial Sul, Distrito Federal. “Chego a ficar até duas horas no caminho, mas a média é de 1 hora e 20 minutos. O problema é que, sinceramente, eu não vejo como melhorar de imediato. A única saída seria investir mais em transporte público de qualidade”, sugere.
Para ele, uma alternativa para desafogar o trânsito seria uma maior variedade de transportes públicos. A especialista em mobilidade urbana e em educação da Universidade de Brasília (UnB), Maria Rosa Magalhães, também aposta no investimento em mais opções, como metrôs e trens urbanos. Segundo ela, a deficiência na variedade é, inclusive, um dos motivos para que o tempo gasto na locomoção seja grande.

Fonte: Correio Brasiliense