Maior e menor linha de ônibus da Região Metropolitana do Recife tem em comum a mesma tarifa

 

Linha Araçoiaba/Camaragibe é a mais longa da Região Metropolitana do Recife com 93km de extensão. Foto: João Velozo Especial DPO/D.A.Press
Linha Araçoiaba/Camaragibe é a mais longa da Região Metropolitana do Recife com 93km de extensão. Foto: João Velozo Especial DPO/D.A.Press

Quando o estudante Anderson Fernando da Silva, 20 anos, embarca na Linha 2463 – Araçoiaba/Camaragibe, sabe que terá pela frente um longo percurso. A mais extensa linha do Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP) tem 93 quilômetros em uma viagem de ida e volta.

Anderson Silva, 20 anos, perde 4 horas por dia nos deslocamentos de casa para o trabalho. Foto: João Velozo Especial DP/D.A.Press
Anderson Silva, 20 anos, gasta 3 horas por dia nos deslocamentos de casa para o trabalho. Foto: João Velozo Especial DP/D.A.Press

Por dia, ele gasta uma média de 1h30  para ir e o mesmo tempo para voltar.  Cada deslocamento custa R$ 3,35 do anel B. Também na Região Metropolitana do Recife, dessa vez em Olinda, a estudante Linda Maria Vicente, 33 anos, costuma usar a linha mais curta do STPP. A Linha 1966 – Rio Doce/Circular – percorre apenas três quilômetros em uma viagem de ida e volta e a tarifa também custa R$ 3,35.

A semelhança entre a maior e a menor linha do sistema é apenas no valor da tarifa. A sua maior diferença, no entanto, não é apenas a distância. Mas o tipo de serviço que é oferecido. Para os usuários da  Linha de Araçoiaba/Camaragibe, os problemas vão desde o intervalo das viagens de até 2 horas, deixando o usuário refém do tempo, a  má qualidade do transporte com um ônibus convencional, insuficiente para a demanda dos horários de pico e a falta de organização das filas, onde os homens costumam passar na frente.

Linha Rio Doce/Circular é a mais curta da Região Metropolitana com 3km de extensão. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press
Linha Rio Doce/Circular é a mais curta da Região Metropolitana com 3km de extensão. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press

“Velho, mulher e criança aqui não tem vez. Os homens passam na frente e tomam os lugares na cadeira e ninguém faz nada”, criticou a diarista Maria Glória de Almeida, 53 anos. Ela pega o transporte às 4h para chegar no trabalho às 6h. Na volta para casa, já cansada, sabe que terá que passar quase duas em pé.

A redução no intervalo das viagens da linha de Araçoiba não está nos planos do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, responsável pela gerência do sistema. De acordo o diretor de operações, André Melibeu a linha tem caráter social e não há demanda suficiente para aumentar o número de veículos.

Linda Maria Vicente usa a Linha Rio Doce e gasta menos de 10 minutos para chegar ao seu destino. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press
Linda Maria Vicente usa a Linha Rio Doce e gasta menos de 10 minutos para chegar ao seu destino. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press

“Nós vamos fazer uma fiscalização nos horários de pico para verificar se há necessidade de aumentar o número de veículos, principalmente na sexta quando a demanda aumenta ou de mudar o modelo do veículo que tenha uma capacidade maior”, afirmou Melibeu. O Grande Recife também se comprometeu em melhorar a fiscalização nas filas para evitar que as pessoas passem a vez. “É uma questão de consciência. Só podemos orientar”, revelou.

Sobre a menor linha do sistema com apenas três quilômetros, ele explicou que foi uma estratégia para reduzir linhas. “Havia cinco linhas que iam todas para o centro de Rio Doce, nós transferimos todas para o terminal e criamos a linha circular para fazer essa operação”, afirmou.

A linha de Araçoiaba/Camaragibe, operada pela Mobibrasil, faz apenas 11 viagens ao dia, transporta quase 700 passageiros e percorre mais de mil quilômetros. Já a menor linha RioDoce/Circular, operada pela Conorte, faz 86 viagens, transporta 1,1 mil usuários e faz 260 km por dia. Mesmo com um trajeto quatro vezes menor, arrecada 70% a mais do que a linha mais longa.

Entenda a dinâmica da maior e menor linha de ônibus da RMR

Sobre a linha mais longa
92,59 km (ida e volta)
662 passageiros
1.020 quilômetros percorridos por dia
R$ 3,35 é a tarifa
R$ 0,07 é o valor pago por usuário por quilômetro rodado
R$ 2.220,00 é a arrecadação diária da linha
R$ 2,20 é o que a empresa arrecada por quilômetro rodado

Linha 2463 – Araçoiaba/TI Camaragibe

Percurso (Camaragibe/Araçoiaba) – Terminal Integrado de Camaragibe, Rua Luiza Alves, Rua Antônio Felipe, Avenida Belmínio Correia, Rua Manoel Ribeiro, Rua Belchior de Athaíde dos Santos, Rua Padre Luíz Muremberg, Avenida dos Girassóis, Rua Padre Ozeas Cavalcante, Estrada da Linha, Avenida General Milton Cavalcante (PE-27), Estrada de Aldeia (PE-27), Acesso Chã de Conselho, Rodovia PE-027, Avenida Marechal Nilton Cavalcanti, Avenida Major Pessoa Guerra, Rodovia PE-041, Praça São José, Vila de Itapipiré de Cima,

Percurso Araçoiaba/Camaragibe ): Rodovia PE-041, Rua João José de Freitas, Rua João Felipe de Barros Dias, Avenida Major Pessoa Guerra, Avenida Marechal Nilton Cavalcanti, Rodovia PE-027, Acesso Chã de Conselho, Estrada de Aldeia (PE-27), Avenida General Milton Cavalcante (PE-27), Estrada da Linha, Rua Padre Ozeas Cavalcante, Avenida dos Girassóis, Rua dos Narcisos, Avenida Belmínio Correia, Rua Nova, Rua Luiza Alves, Terminal Integrado de Camaragibe

Sobre a linha mais curta
3 km por dia
86 viagens/dia
1.170 passageiros/dia
R$ 3,35 é a tarifa
R$ 2,20 é o valor pago pelo usuário por quilômetro rodado
R$ 3.920,00 é a arrecadação diária da linha
R$ 15,20 é o valor arrecadado pela empresa por quilômetro rodado

Linha  1966 – Rio Doce/Circular

Percurso: TI Rio Doce/ Rua 37 – Terminal Integrado de Rio Doce, Avenida das Garças, Avenida Nápoles, Rua 37, Avenida Tiradentes e Terminal Rio Doce

Fonte: Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano

Recife entre as capitais com maior tempo de deslocamento de casa para o trabalho

 

Engarrafamento - Foto - Alcione Ferreira DP/D.A.Press

O tempo médio que os moradores das principais capitais brasileiras demoram no trajeto casa/trabalho é relativamente maior, na comparação com regiões metropolitanas com mais de 2 milhões de habitantes de outros países. Em São Paulo e no Rio de Janeiro o cidadão gasta 31% a mais de tempo no percurso. Os dados constam de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no período entre 1992 e 2009.

O estudo mostrou que, dentre as principais capitais do mundo, São Paulo (42,8 minutos) e Rio (42,6 minutos) só ficam atrás de Xangai (50 minutos). No mesmo ranking, Recife e Distrito Federal ficaram à frente de capitais como Nova York, Tóquio e Paris, com demora de 35 minutos em média para a população se deslocar de casa para o trabalho. As análises também mostraram uma queda na qualidade dos serviços de transporte público no país.

“Os dados apontam que tem havido piora nas condições de transporte urbano das principais áreas metropolitanas do país desde 1992, com um aumento nos tempos de viagem casa/trabalho. Esta piora nas condições de transporte parece estar relacionada a uma combinação de fatores, incluindo o crescimento populacional, a expansão da mancha urbana e o aumento das taxas de motorização e dos níveis de congestionamento”. Um exemplo recente se deu no Distrito Federal. O governo local passou a administrar várias linhas de uma empresa privada em razão de uma série de queixas da população.

O pesquisador Rafael Pereira, responsável pelo estudo, acredita que a grande quantidade de dados apresentados seja útil para que os governos possam pensar em formas de diminuir o tempo gasto pelos cidadãos no trânsito. Ele acredita, porém, que tais informações sejam apenas um ponto de partida. “Esperamos que esses dados sejam incorporados no debate sobre o tema nesses núcleos mais específicos. Eles seriam úteis para saber, por exemplo, se a as obras para a Copa do Mundo e a Olimpíada seriam eficazes na resolução do problema de mobilidade urbana. Porém, não pode ser a única fonte de dados. É necessário um estudo específico em cada região”.

Na última terça-feira (12), o ministério das Cidades publicou a Portaria nº114/2013, criando um grupo de trabalho voltado para a criação de um Sistema de Informações em Mobilidade Urbana. De acordo com a portaria, o objetivo é “ser referência nacional para a formulação de políticas públicas na área de mobilidade urbana”. O grupo de trabalho deverá contar com representantes da Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, do Ipea e da Associação Nacional de Transportes Públicos, dentre outras entidades. O grupo deve ser instalado em, no máximo, 45 dias.

Fonte: Agência Brasil

Um dia sem carro, quando?

 


Por

Tânia Passos

A dinâmica do trânsito em um sábado não é a mesma dos dias úteis, mas pode ser uma boa oportunidade para neste 22 de setembro, Dia Mundial sem Carro, você começar uma experiência que pode mudar um padrão de comportamento de total dependência daqui para a frente. Em um universo de mais de dois milhões de veículos no estado, sendo metade na Região Metropolitana do Recife, deixar o carro em casa pode fazer toda a diferença. Seja por um dia, dois, três, semana, mês ou ano. Sonho? Mudar os hábitos e criar outras formas de deslocamento, até bem pouco tempo, pareceria coisa de outro mundo, que não o nosso, mas hoje já serve como reflexão e oportunidade. A discussão sobre mobilidade em uma cidade travada e a possibilidade de diversificar os modais ganha adeptos entre os recifenses que, pela primeira vez, estão mais mobilizados para a campanha hoje.

A dependência do carro, no entanto, se tornou um obstáculo que vai além da discussão da melhoria do transporte público. É bem mais fácil que “alguém” faça a escolha de deixar o carro em casar para que o caminho fique livre para o nosso carro passar. Quem mais reclama dos congestionamentos é quem menos está disposto a abrir mão do seu quadradinho de rodas. Mas há sempre possibilidade de mudanças. Foi no dia 22 de setembro de 2010, que o funcionário público Márcio Cabral, 39 anos, resolveu atender ao apelo da campanha mundial de deixar o carro por um dia e fazer os deslocamentos em outros modais.
Disposto a contribuir com a mobilidade e o meio ambiente, mesmo sendo um dos poucos na cidade a aderir à causa naquele ano, ele aceitou o desafio e desde então adotou o ônibus como seu principal meio de locomoção e não se arrepende. O carro passou a ficar mais tempo na garagem e Márcio descobriu que o veículo poderia ser utilizado nos finais de semana para o lazer.

Hoje, a campanha que surgiu na Europa, no final do século 20, volta a dar um recado para um momento de reflexão. Deixar o carro em casa, por um dia. O bombeiro Jardel Santana, 38, usa o carro de duas a três vezes por semana. Nos outros dias utiliza o ônibus e o metrô. “Quando estou sozinho, eu uso transporte público, mas se preciso trazer os filhos e a esposa para resolver alguma coisa, prefiro o carro”, explicou o bombeiro, que também costuma oferecer carona. “Não gosto de andar sozinho no carro. Acho um desperdício”, revelou.
A pé, de táxi…


O ônibus ou o metrô são opções de transporte, mas não só. Dependendo do percurso, o deslocamento pode ser feito de bicicleta, a pé, táxi ou com a junção de mais de um meio de transporte. A independência do carro é também uma escolha. A bióloga Lígia Lima, 26 anos, que participou do 1º Desafio Intermodal do Recife, prefere fazer a maior parte dos seus deslocamentos a pé. “Em alguns trechos também uso a bicicleta e se a distância for muito grande, eu vou de ônibus, mas dificilmente de carro”, afirmou. Para o ciclista Enio Paipa, vencedor do Intermodal do Recife, a bicicleta é um meio de transporte que ele não abre mão. “Eu percorro em média 50 quilômetros por dia de bicicleta. É, sem dúvida, meu principal meio de transporte”, revelou.

Deixar o carro em casa é uma escolha que a funcionária pública Mardilene Ferreira, 52, ainda não está disposta a fazer. Embora seja simpática à ideia da campanha do Dia Mundial sem Carro, ela admite sua dependência do automóvel. “Posso deixar de usar o carro por um dia, mas não sairei para lugar nenhum. Se for feijão ou nada, eu fico com nada”, revelou. Ela mora em Boa Viagem, trabalha em Olinda e tem um filho estudando na Unicap. “Vou trabalhar de carro, volto para almoçar em casa e à tarde vou levar meu filho na aula. Às vezes é preciso buscá-lo à noite”, revelou. E o congetionamento?

“É a parte ruim. Eu tenho que calcular com uma hora meia de antecedência os compromissos e o carro ligado muito tempo gera muita poluição. Meu sonho é ter um carro elétrico. Pelo menos vai poluir menos”. Pode ser, mas não melhora a mobilidade.

O X da mobilidade

 

A mobilidade urbana talvez seja hoje um dos temas mais importantes dentro da estrutura das cidades. E isso acontece por uma razão simples: as pessoas precisam se deslocar de forma segura e confortável para ter acesso aos serviços, lazer, centros de compras ou apenas o direito de ir e vir.
Essa preocupação que se faz mais evidente hoje é relevante devido ao crescimento desordenado das cidades e do aumento, sem freios, da frota de veículos. Que pedaço  cabe a cada um de nós?

A discussão ganha contornos mundiais por se tratar de um problema que afeta a todos, desde as condições das vias, das calçadas, da qualidade do transporte público, do espaço ocupado pelo transporte individual, seja motorizado ou não.

No caso da Região Metropolitana do Recife, o desafio da mobilidade envolve um entendimento metropolitano com soluções que não podem ser isoladas. Começamos hoje uma caminhada virtual no sentido de ampliar as discussões, apontar problemas, soluções e criar um canal de comunicação entre aqueles que buscam uma mobilidade urbana e necessária. Sejam bem vindos!