Navegabilidade e corredores exclusivos para a Região Metropolitana

Por
Juliana Colares

Era para a presidenta Dilma Roussef contar a novidade. Mas João da Costa se
antecipou e a liberação de cerca de R$ 2 bilhões do PAC da Mobilidade para
intervenções no Recife e na região metropolitana entraram no discurso do
ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, e do governador Eduardo Campos.
Todas as intervenções fazem parte de um programa pensado para o transporte coletivo.
E já há quem diga que quando tudo estiver pronto, o recifense poderá deixar o
carro em casa e usufruir de um sistema público de qualidade. As ações incluem
corredores exclusivos para ônibus, implantação de BRTs (Bus Rapid Transit ou,
em tradução livre, Transporte Rápido por Ônibus), elevados, túneis, terminais
de integração, viadutos e o tão esperado projeto de navegabilidade do Rio
Capibaribe.

O recurso liberado foi menor que o pedido, mas nenhum projeto apresentado
deixará de ser posto em prática. A Prefeitura do Recife e o Governo do Estado
pediram R$ 777 milhões do Orçamento Geral da União (OGU) e R$ 1,268 bilhão de
financiamentos, totalizando R$ 2,045 bilhões, com a contrapartida de R$ 148
milhões da prefeitura e R$ 350 milhões do governo estadual. Foram liberados R$
656 milhões do OGU e R$ 1,046 bilhão de financiamentos, totalizando R$ 1,702
bilhão. A conta passa um pouco dos R$ 2 bilhões anunciados quando acrecenta-se
os R$ 203 milhões de contrapartida municipal e R$ 270 milhões estaduais.

Segundo o secretário das Cidades de Pernambuco, Danilo Cabral, o PAC da
Mobilidade destinou R$ 18 bilhões para projetos de nove regiões metropolitanas
do Brasil, com teto de R$ 2,4 bilhões para cada uma. A Região Metropolitana do
Recife foi a única que apresentou projetos conjuntos e complementares para
serem executados pela prefeitura e pelo governo.

O sonhado projeto de navegabilidade, chamado de “jóia de ouro da coroa” por
Danilo Cabral e exaltado pela presidenta Dilma como um atrativo turístico,
teve que sofrer um corte para caber no pacote. O projeto inicial tinha três
braços. Permanecem os que vão do centro do Recife (altura da Avenida
Guararapes) até o início de Olinda (próximo ao Tacaruna), com 2,9 Km. E o de
11 Km que integrará a Estação Central de Metrô do Recife com o sistema de BRT
que será implementado, também dentro do PAC da Mobilidade, na BR-101, com 30,5
Km de extensão.

A execução do plano fluvial custará R$ 389 milhões. Foi excluído o tronco que
saía do Recife Antigo até as proximidades do Shopping Center Recife, em Boa
Viagem. A justificativa são as outras obras previstas ou em andamento para
melhorar a mobilidade na zona sul, como a Via Mangue e a ideia de, num futuro
mais distante, implementar um sistema BRT na Avenida Domingos Ferreira.

Segundo Danilo Cabral, ainda são necessários um estudo de impacto ambiental e
uma audiência pública. Ele garantiu, no entanto, começar a executar as obras
fluviais ainda neste ano (veja os detalhes no quadro acima). Na parte de
corredores exclusivos de ônibus que cabem à prefeitura, as licitações das
obras serão lançadas até o fim de 2012 e algumas podem ser iniciadas ainda
neste ano.

Navegabilidade entrou no PAC da Mobilidade

 

 

Não é tudo,  mas pelo menos a maior parte dos projetos inseridos no PAC da Mobilidade, pelo estado e a Prefeitura do Recife, foram aprovados pelo Governo Federal.

Da Prefeitura do Recife são prioridades a conclusão e ampliação das perimetrias II e III e a implantação da Radial Sul. Esses projetos totalizam investimentos na ordem de R$ 820,7 milhões.

Somando este valor às obras que já estão em andamento chega-se a um investimento de R$ 2 bilhões, segundo o prefeito João da Costa. “São investimentos que representam a priorização pelo transporte coletivo”, disse o prefeito.

Já o Governo do Estado, além da II perimetral, em parceria com o município, também aposta na IV perimetral, no trecho do contorno do Recife da BR 101. A rodovia federal, que já é uma via urbana, ganhará um corredor exclusivo de ônibus nos moldes do BRT.

Dentro do pacote de projetos do PAC da Mobilidades, as perimetrais II, III e IV são prioridades. Na ordem seguinte estão os corredores de ônibus: Leste/Oeste e Norte e Sul.

A terceira prioridade são os projetos de navegabilidade e da Avenida Norte. Na reunião com o governo federal para definir as prioridades. O secretário executivo do PAC, Maurício Muniz, explicou que a soma dos projetos apresentados pelas 24 cidades atingiu R$ 31 bilhões, superando em R$ 13 bilhões o limite estabelecido pela União.

Por causa disso, a implantação de alguns projetos teve que ficar de fora, por enquanto. O Governo do Estado decidiu adiar a implantação do corredor da Avenida Norte e do corredor fluvial Sul.Com isso, a soma dos projetos do estado que era de R$ 1,7 bilhão caiu para R$ 1,3 bilhão. “Vamos buscar outras alternativas para executar também estas obras”, afirmou o Eduardo Campos.

Mas ficou dentro, o restante do projeto de navegabilidade. A primeira e mais importante etapa terá cinco estações interligadas com os terminais de integração. As estação vão ser instaladas ao longo do Capibaribe entre a BR 101 e a Casa da Cultura. O trecho deverá desafogar principalmente o setor Norte da cidade.

Veneza brasileira

 

 

Matéria publicada no dia 29.05.11 (três meses antes da aprovação do projeto)

 

Tânia Passos

Diario de Pernambuco

 

Não se pode imaginar o Recife sem os rios. Mas comece a imaginar o Recife com os rios navegáveis. O sonho, quase romântico, de uma Veneza brasileira pode sim acontecer.

Mas não apenas pelo aspecto turístico de passeios sob as pontes. A navegabilidade dos rios passa a ser uma condição essencial de mobilidade para uma cidade travada pelo trânsito caótico.

Pela primeira vez, o rio está sendo encarado como um instrumento viável para o transporte hidroviário integrado ao ônibus e metrô.

A Secretaria das Cidades incluiu a navegabilidade dos três rios que cortam o Recife, Capibaribe, Beberibe e Tejipió, entre os quatro projetos que poderão receber recursos do PAC da Mobilidade este ano.

Orçado em R$ 398 milhões, o projeto aponta três eixos a serem explorados pelas hidrovias: as zonas Oeste, Norte e Sul.

Dos três eixos, a Zona Oeste é a mais viável para o transporte hidroviário de passageiros por causa da demanda existente. O Capibaribe é, na verdade, uma via paralela às avenidas Rui Barbosa e Rosa Silva, que estão com o trânsito saturado.

Imagine então trocar o caos do trânsito nessas duas vias por outra sem semáforos, engarrafamentos, buracos ou protestos e, de quebra, uma das mais belas paisagens da cidade.

Para se ter uma ideia do que pode significar na prática, a equipe do Diario conferiu em um catamarã o trajeto previsto para o eixo da Zona Oeste, que inclui cinco estações hidroviárias:

a estação central do metrô do Recife e o trecho das futuras estações do Derby, Plaza, Caiara e da BR- 101. Devido ao assoreamento a embarcação chegou até o penúltimo trecho.

Em uma conta simples, marcamos o tempo gasto pelo barco no trecho entre Casa Forte e Jaqueira, de apenas três minutos, e de Casa Forte até o Derby, de 10 minutos. É claro que de carro ou ônibus o tempo tende a ser muito maior devido aos engarrafamentos e semáforos.

De acordo com o projeto da Secretaria das Cidades, se aprovado o projeto de navegabilidade, o serviço de transporte público hidroviário será feito por meio de concessão, da mesma forma que ocorre com os ônibus.

O modelo das embarcações só será definido posteriormente em edital. Um dos critérios é que as embarcações sejam fechadas, climatizadas e com equipamento de segurança.

“Ao contrário dos ônibus, nenhum passageiro poderá ficar de pé. Serão todos sentados e com os equipamentos de proteção”, afirmou a secretária executiva das Cidades, Ana Suassuna.

O projeto prevê a dragagem do rio nas três rotas, recuperação das margens e remoção das palafitas. As cinco estações estarão integradas ao Sistema Estrutural Integrado (SEI).

“A gente quer uma confluência de modais dentro da estrutura da mobilidade. Todos os equipamentos estarão diretamente integrados: ônibus, metrô e o transporte fluvial, com o pagamento de uma passagem”, afirmou Suassuna.

Se o projeto da navegabilidade será mesmo ser executado vai depender ainda da seleção dos projetos. “O projeto da navegabilidade é importantíssimo e viável, mas se a gente tiver que optar vamos escolher o dos corredores de tráfego Norte/Sul, Leste/Oeste, Avenida Norte e da 4ª perimetral devido a demanda de transporte ser muito maior”, afirmou o secretário das Cidades, Danilo Cabral.