Transporte público faz bem à saúde

ônibus engarrafamento Recife - Foto - Júlio Jacobina DP/D.A.Presss

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Tânia Passos

Quem enfrenta todos os dias metrô e ônibus lotados e perde tempo preso nos engarrafamentos dificilmente vai acreditar que o transporte público faz bem ao corpo. Mas um estudo científico da Organização Mundial de Saúde (OMS) defende a priorização de corredores exclusivos como uma política de saúde pública. Segundo a entidade, o uso majoritário de coletivos impacta diretamente na qualidade do ar que respiramos e reduz o número de acidentes de trânsito.

Caminhar até a parada do ônibus também é mais saudável que dar um passo para entrar no carro. A estimativa é que uma pessoa que se desloca de ônibus pode gastar por dia 350 calorias a mais do que quem faz o mesmo percurso de carro. Equivale a uma hora de caminhada.

O recorte feito  pelo pesquisador Carlos Dora, coordenador do Departamento de Saúde e Meio Ambiente da OMS, que realizou o levantamento, foi baseado em mais de 300 pesquisas em todo o mundo sobre saúde, mobilidade, planejamento e gestão urbana. Para ele, o transporte coletivo priorizado não é apenas uma necessidade urbana, mas, sobretudo, humana. “A inatividade física ocasiona doenças como a diabetes e a hipertensão.

A poluição do ar é um problema muito grave nas grandes cidades, e o carro é o principal responsável por isso. No Brasil, as estatísticas são assustadoras: 40 mil pessoas morrem no trânsito por ano”, ressaltou Carlos Dora, que também defende a melhoria de outras formas de deslocamento não motorizado, com mais incentivo para bicicleta e caminhadas.

O auxiliar de serviços gerais Cristiano Marinho, 36 anos, voltou a usar o transporte público depois que teve sua moto roubada há dois meses no Recife. Com 1,65 de altura e 80 kg, ele conta que perdeu cinco quilos desde que voltou a usar o ônibus. Além de mais magro, ainda passou esse tempo bem distante do risco de ser mais um nas estatísticas de acidentes de moto no estado, que somam 30% do total de acidentes de trânsito registrados.

Apesar disso – e em decorrência das más condições do transporte público local – ele não vê a hora de voltar à moto. “ Caminho mais de 20 minutos de casa para a parada de ônibus e muita coisa tenho que resolver a pé. Uma coisa é perder peso. Outra é sofrer todo dia. Prefiro ter minha moto de volta”, revelou.

Aos 58 anos, a empresária Ana Carolina Caldas não faz a menor ideia de como é andar de ônibus. Aos 18, ganhou o primeiro carro dos pais. “Nunca andei de ônibus na minha vida. Antes de ter o meu próprio carro, sempre tinha alguém para me levar ou buscar nos lugares”, revelou. Com 1,60 de altura e 83kg, ela está acima do peso que gostaria. Mas perder calorias no ônibus, nem pensar. “O nosso transporte público é muito ruim. Prefiro a dieta”, afirmou.

A professora do Departamento de Nutrição da UFPE Fernanda Lima chama a atenção para os hábitos alimentares. “Quanto mais atividade física, melhor, e isso inclui até mesmo a caminhada ao ônibus. Mas é importante os cuidados com a alimentação”, ponderou.

Saiba mais

Relação transporte público e saúde

Obesidade

300 milhões de pessoas são obesas no mundo, sendo 1/3 nos países em desenvolvimento
350 calorias são gastas a mais por dia para quem se desloca no transporte público se comparar o mesmo percurso feito de carro
19 milhões de pessoas morrem por ano por inatividade física com doenças como diabetes e hipertensão: 3,2 milhões estavam aparentemente saudáveis

Poluição do ar

2 milhões de pessoas morrem por ano por causa da poluição do ar
68% dos poluentes na atmosfera são despejados pelos automóveis
90% da poluição do ar em áreas urbanas têm como fator poluidor os automóveis

Acidente

1,2 milhão de pessoas morrem por ano em acidente de trânsito em automóveis. Quanto mais corredores de transportes de massa, menos carros nas ruas
66% dos empréstimos no Banco Mundial entre 2002 e 2004 foram para investimentos de vias para o trânsito comum, que não privilegiam o transporte público

Fonte: Pesquisa do coordenador do Departamento de Saúde Pública e Meio Ambiente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Carlos Dora