O transporte público que temos

 

Diario de Pernambuco

Rebeca Kramer
Rebecakramer.pe@dabr.com.br

Qual meio de transporte você utiliza para se deslocar? Quem conseguiu juntar algum dinheiro e investiu na compra de um carro ou de uma moto ainda se resguarda de precisar utilizar o transporte público na RMR. Andar de ônibus ou pegar metrô para a maioria das pessoas é sinônimo de lotação, tempo de espera grande, acessibilidade insatisfatória e pouca segurança, além de deficiência de informações sobre as linhas.

O resultado é o aumento na aquisição de veículos particulares, que superlotam as ruas da cidade. Com a finalidade de discutir a problemática do transporte público, o grupo dos Diarios Associados promove a 8ª edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, próxima terça (25), a partir das 8h30, no auditório do Diario de Pernambuco e terá como palestrantes:  o gerente regional de manutenção do Metrô do Recife, Bartolomeu Carvalho; o coordenador de projetos especiais da Urbana- PE, João Braga; e a coordenadora de planejamento do Grande Recife, Ivana Vanderlei.

Uma das questões a serem abordadas pelo  gerente regional de manutenção do Metrô do Recife, Bartolomeu Carvalho, será a relação direta existente entre trânsito e transporte, no sentido de que o transporte público pode contribuir para a solução dos problemas de trânsito. Além disso, com o aumento do tráfego, o transporte público torna-se mais lento, fazendo-se necessário que mais veículos prestem o mesmo serviço. Com os custos aumentados e os usuários sentindo diretamente no bolso, as pessoas ficam desestimuladas a utilizar ônibus e metrô, fazendo apenas por falta de opção. Já as que passam a ter um poder aquisitivo melhor, migram para o veículo particular, reforçando o congestionamento e alimentando o círculo vicioso.

Segundo Carvalho, outro ponto de destaque de sua apresentação será a exposição sobre Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs) como alternativas de transporte coletivo. Netos dos velhos bondes, eles são um misto entre metrô e ônibus conhecidos pela sua estrutura e pelos equipamentos serem menos pesados do que os utilizados em sistemas de transporte público tradicionais. “Acredito que os VLTs podem preencher uma lacuna entre os sistemas de ônibus e metrôs, vindo a atender demandas próximas ao transporte metroviário. Estamos realizando estudos para implantação de VLTs e metrôs nos principais corredores de transporte da RMR. Entretanto, esses ainda não estão no nível de projeto”, esclarece.

Já a coordenadora de planejamento do Grande Recife, Ivana Vanderlei, irá apresentar tópicos relacionados com as obras de transporte para a Copa do Mundo de 2014, licitação das linhas e construção de novos terminais integrados. Os acessos viários ao mundo da Copa compreendem cinco grandes projetos e totalizam mais de R$ 1 bilhão de recursos federais, estaduais e municipais. Um deles é a Via Mangue, corredor expresso que está sendo construído com o objetivo de facilitar a mobilidade na Zona Sul da capital. Outro exemplo é o Corredor-Norte Sul, via exclusiva para ônibus, que será viabilizado com recursos do mundial, e vai ligar a Região Metropolitana Norte ao centro do Recife, especificamente ao metrô.

 

VLT na BR-101, quem diria?

Depois que o governador Eduardo Campos bateu o martelo na definição do modal para o corredor da BR-101, também chamado contorno do Recife, definindo o modelo BRT (Transporte Rápido por Ônibus), entra em cena uma nova discussão sobre o Veículo Leve sobre Trilho (VLT).  E Porque não?

Quase no fim do segundo tempo, eis que a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) – Metrorec decidiu trazer à tona o projeto idealizado para a BR 101, apartir do VLT. Na verdade, o projeto já existia. Não sei, ao certo, porque eles ficaram tão quietinhos enquanto os empresários de ônibus ganhavam espaço na definição dos três corredores de tráfego: BR-101, Norte/Sul e Leste/Oeste.

Foram meses para o governador decidir se o monotrilho entraria nos corredores exclusivos de transporte público de massa.Mas o VLT não aparecia nas possibilidades, a não ser para a Estação de Cajueiro Seco ao Cabo de Santo de Agostinho e em Suape.Até mesmo o que se pensava inicialmente do VLT na Agamenon Magalhães acabou caindo no esquecimento.

Pois bem, no último dia 26 de setembro, o secretário das Cidades, Danilo Cabral recebeu a visita, por meio do Sindicato dos Metroviários, do gerente regional de manutenção da CBTU-Metrorec, Bartolomeu Carvalho, que apresentou slides, vídeos e plantas de toda extensão que vai da Estação de Cajueiro Seco até o Terminal da Macaxeira.

Na apresentação, o secretário das Cidades, Danilo Cabral e o executivo de Mobilidade, Flávio Figueiredo, questionaram o motivo pelo qual, a CBTU não fez essa apresentação há mais tempo. Bartolomeu afirmou que todo traçado do BRT, apresentado pelo PROMOB, foi copiado do projeto original já apresentado pela CBTU no PPA (Plano Plurianual) 2012-2015, do governo federal.  Pode até ser, mas parece não ter sido o suficiente.

Agora existem pelo menos dois fortes fatores para reverter o que já foi, em tese, definido: o tempo e uma nova decisão política. Mas nada que não possa ser feito.

 

 

 

 

 

Um dia diferente no trânsito, que poderia se repetir

 


A integração do transporte público é um dos diferenciais da Região Metropolitana do Recife em relação a outras capitais brasileiras. Mas o acesso aos principais corredores de tráfego e terminais de integração ainda deixa muito a desejar.

No dia mundial sem carro, quando decidi deixar o carro em casa, tentei observar as opções para chegar ao corredor principal, no caso a Avenida Conselheiro Aguiar. Levando-se em conta que eu estava na Barão de Souza Leão, a caminhada até a Conselheiro levaria cerca de 20 minutos. Outra opção seria, a paralela da Barão, a Capitão Zuzinha. A primeira opção teria uma oferta maior de linhas, a segunda mais limitada.

Optei pela segunda. Foi o primeiro erro. O ônibus da linha PE-15 me levaria até a Agamenon Magalhães, mas eu queria ir para o Bairro de Santo Amaro, no centro. Tive que descer na Conselheiro Aguiar e pegar a segunda condução até o Terminal de Santa Rita. Tudo certo. Lá peguei, enfim, o circular .O terceiro ônibus, a terceira passagem.

Para minha surpresa o terminal de Santa Rita não tem o sistema de integração. O terminal que é estratégico na área central da cidade e recebe linhas de todas as áreas, não oferece a opção de integração, nem mesmo com as linhas circulares.

Como não saí no horário de pico e não houve nenhum acidente no meio do caminho, foram só 45 minutos de casa até o trabalho. Quase me convenceu se as opções fossem mais atraentes. Depois soube que poderia ter pego o metrô na estação aeroporto e descido na estação Joana Bezerra e de lá pegaria o circular da integração.

Parecia perfeito, mas o deslocamento até a estação também precisaria de uma longa caminhada com calçadas ruins. E fiquei pensando que a Barão de Souza de Leão, que é um corredor de acesso para o Aeroporto, bem que poderia ter uma linha circular.Até porque o acesso da estação para o aeroporto é também complicado.  A travessia a pé, seria uma aventura cansativa e desnecessária.

Seria bom deixar o carro pelo  transporte público, mas precisa me oferecer melhores opções antes de me convencer…

 

 

Dia mundial sem carro, topas?

Dia mundial sem carro. A ideia é essa. A realidade ainda está longe disso. Abrir mão do conforto do carro e encarar o transporte público, ou talvez descolar uma carona, ou quem sabe pedalar de casa para o trabalho ou, em situação mais remota, caminhar, ainda é um desafio para poucos. Mas serve no mínimo para uma reflexão.

E os números mostram o tamanho dos contrastes. Um ônibus comum transporta uma média de 80 pessoas. Um carro comum, no máximo cinco pessoas. Temos uma frota de três mil ônibus e mais de um milhão de veículos na Região Metropolitana. O resultado é um trânsito que trava dia a dia.

Os engarragamentos são apenas uma parte do problema. Outro viés é a poluição ambiental. E nessa conta, os que transportam menos poluem mais. Um exemplo disso é a moto que, transporta duas pessoas e polui 32,3 mais vezes do que ônibus. Já o carro 17 vezes mais que o ônibus.

“Em relação a ocupação das vias, a moto, por incrível que pareça necessita quatro vezes mais de espaço do que o ônibus e o carro de 6,4 vezes mais de espaço em relação ao ônibus”, afirmou o engenheiro e professor das universidades Federal de Católica de Pernambuco, Maurício Pina.

Para quem está disposto a usar a bicicleta como meio de locomoção, tem a certeza de que as ciclovias existentes no município não são suficientes para interligar os quatro cantos da cidade. O Recife dispõe atualmente de 13,2 quilômetros de ciclovias em trechos distintos: Centro, Orla e a ciclovia Tiradentes, na Zona Oeste.

No Recife, o casal de cirurgiões-dentistas Maria Carolina Moura e Renan Almeida, vem tentando fazer a parte deles. Renan, que trabalha em dois locais diferentes, costuma deixar o carro na garagem e ir de bicicleta ou até mesmo caminhando. “Um deles, que fica mais próximo da minha casa, tento utilizar a bicicleta para fazer pequenos deslocamentos, já que é uma maneira de fazer exercícios e fugir também dos congestionamentos que são bastante estressantes”, ele conta e lamenta a falta de meios de transportes públicos de qualidade. “Se os meios locomoção fossem confortáveis, as pessoas deixariam mais seus carros na garagem”, acredita Almeida.

Criado na França em 1998, o Dia Mundial Sem Carro, ganhou força no Brasil em 2001. Desde então, 110 cidades do país já fazem alguma movimentação na data. Em Pernambuco, a cidade de Olinda será 111ª a fazer a mobilização com o intuito de trazer uma reflexão sobre os problemas causados pelo uso massivo de automóveis como forma de deslocamento, sobretudo nos grandes centros urbanos.

De acordo com o secretário executivo de transporte e trânsito de Olinda, Adriano Max, existem 110 mil automóveis cadastrados na cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. “Para se ter uma noção, nós temos 380 mil habitantes. Se cada pessoa resolvesse dar um carona a três, não seria necessário o transporte público”, diz o secretário. Em Olinda, a avenida Ministro Marcos Freyre, beira mar da cidade, será o palco da mobilização social. “Vamos isolar três quarteirões, das 5h ao meio-dia, com o intuito de chamar a atenção da população”, fala Max.

Qual a receita para as empresas de ônibus atenderem bem?

Uma conta difícil de bater. Como atender, de forma satisfatória, a demanda de passageiros nos ônibus coletivos, nos horários de pico? A resposta parece óbvia: aumentar o número de ônibus. Para as empresas de transportes não é tão simples assim. Os custos aumentam e há uma queda significativa da demanda fora dos horários de pico.

Pode até ser, mas em Bogotá, na Colômbia, eles encontraram mais ou menos a receita. Quando o movimento cai, parte da frota para. É economia de combustível, menos desgaste para o veículo e carros a menos no trânsito.

La, da frota do transmilênio de 1.295 veículos, 40% para quando reduz a demanda.O sistema dispõe de sete grandes terminais em pontos estratégicos da cidade com área de estacionamento para os veículos, espaço de lazer para os funcionários, restaurante, oficina e bomba de combustível.

Nos horários de pico vai todo mundo para a rua. Mas uma questão que precisa ser levada em conta é como funciona a carga horária dos motoristas? Pois é, a alternativa que eles encontraram é aparentemente simples.

Dividiram o horário dos motoristas, nos dois horários de maior movimento.Ou seja, eles chegam pela manhã e trabalham até por volta das 10h, retornando às 17h. Mas lá, eles não tem sindicato. Aqui talvez fosse mais difícil encontrar uma solução desse tipo. Será?