Com quantos carros se faz um rodízio?

Engarrafamento - Foto - Alcione Ferreira DP/D.A.Press

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Tânia Passos

Ainda não há como medir o impacto que trará o rodízio de placas em algumas vias do Recife, nos horários de pico. Até porque os horários de “pico” podem mudar de direção. Há ainda a tendência de que o resultado seja apenas temporário se levarmos em conta o aumento de 200 carros por dia na cidade. Mas que algo precisa ser feito, isso precisa. E a maioria dos motoristas que já conversei é a favor do rodízio, embora a maioria não saiba dizer qual será o plano B.

Em São Paulo, segundo o professor Maurício Pina, especialista na área de mobilidade, há pesquisa apontando que a maioria dos paulista que têm carro,  já adquiriu o segundo veículo. O rodízio é uma das medidas restritivas, mas já se discute um outro ponto, que também mexe diretamente com o usuário do carro: os estacionamentos em vias públicas.

A prática comum em quase todas as vias da cidade, salvo alguns corredores de tráfego, traz um prejuízo calculável na circulação. Vias de quatro faixas funcionam apenas com duas na prática. Ampliar esse leque, seja para melhoria do tráfego ou mesmo para outros usos “politicamente corretos” é o mesmo que mexer em vespeiro. Ninguém vai querer perder o privilégio, mas todo mundo quer que o trânsito melhore. Talvez mais do que perguntar com quantos carros se faz um rodízio, a pergunta deva ser: de quem é a responsabilidade sobre o nosso próprio carro?

Rodízio de carros no Recife. Funciona?

 

Charge de Jarbas DP/D.A.Press

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Tânia Passos

A implantação de um sistema de rodízio de carros no Recife como anunciou o secretário de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga, até o primeiro semestre deste ano, traz algumas preocupações em relação à eficiência da medida.

Uma delas é que o rodízio irá favorecer famílias que têm mais de um carro em casa, uma tendência que já é observada na disputa por vagas nas garagens dos prédios. Outra questão pode ser o aumento da frota não apenas de carros, para quem quiser garantir a placa com números pares e ímpares, mas também de motos.

Hoje, já há muita gente que dispõe de carro e moto para fugir dos engarrafamentos e pode passar a querer driblar o rodízio. E essa é uma questão que vai além do trânsito e passa a ser de saúde pública.
Mas é preciso também chamar atenção para a ausência, hoje, de um transporte público de qualidade. Tira-se o carro e oferece o quê em troca? É mais provável que o usuário do carro encontre outros meios para se deslocar.

A restrição ao uso do automóvel, nunca irá agradar, mas não há, de fato, nada para se oferecer hoje. E fico me perguntando se o nosso transporte público seria suficiente para atender a demanda do transporte individual. Talvez no aperto. Pouca gente irá se submeter. O que se desenha será um aumento da frota mais rápido do que temos hoje de cerca de três mil novos carros por mês. Que cidade suporta isso?