Zona Azul do Recife terá novos preços e mais rotatividade para restringir carros no centro

 

Ruas ocupadas por carros no Bairro do Recife - Foto Allan Torres DP/D.A.Press
Ruas ocupadas por carros no Bairro do Recife – Foto Allan Torres DP/D.A.Press

Não há uma só rua nos bairros centrais do Recife que não sirva de estacionamento a céu aberto. E a maior parte das vagas é regulamentada pelo município. Os principais bairros da área reúnem 2,6 mil vagas de Zona Azul. Se forem consideradas apenas as vagas horizontais, são 11 km de ruas ocupadas por carros. O plano da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano para 2015 é inibir a presença dos carros na Zona Azul com o aumento do boleto, que hoje custa R$ 1, segundo a tabela oficial (mas é inflacionado pelos flanelinhas).

A proposta, ainda em análise pelo técnicos, é aumentar o valor de acordo com os horários de maior fluxo. “A gente pode estabelecer um preço das 7h às 8h e outro das 9h às 10h e assim por diante”, explicou o secretário de Mobilidade, João Braga. Os valores ainda não foram definidos pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). Outra medida será gerenciar o sistema por meio digital para obrigar a rotatividade. “Nós não temos um bom gerenciamento e a tecnologia irá nos ajudar nesse sentido”, afirmou João Braga, sem adiantar de que forma a tecnologia será utilizada.

Hoje, a maior parte dos carros passa o dia ocupando as vagas. Em alguns casos, os motoristas só atualizam o boleto da Zona Azul. O tempo limite varia de uma a cinco horas, dependendo do trecho. Esse tempo também terá que ser repensado na nova estratégia. A Zona Azul tenta suprir uma deficiência das empresas e repartições públicas, que não têm estacionamento.

Muitos carros passam o dia nas ruas do Recife, sem rotatividade Foto - Allan Torres DP/D.A.Press
Muitos carros passam o dia nas ruas do Recife, sem rotatividade Foto – Allan Torres DP/D.A.Press

Na maioria das vezes, os carros são de pessoas que trabalham nos prédios antigos, que não dispõem de estacionamento. De acordo com o secretário serão oferecidas opções de estacionamentos a exemplo do Cais de Santa Rita, dos estacionamentos do Metrô e da Casa da Cultura e futuramente o edifício-garagem da Assembleia de Deus, na Avenida Mário Melo e o edifício-garagem do Sport, na Ilha do Retiro.

“Infelizmente não temos um metrô que abasteça o Centro, mas em breve teremos BRT para melhorar os deslocamentos. Queremos também melhorar as condições das calçadas para as pequenas distâncias e aumentar a integração do sistema cicloviário e novos corredores de faixa azul”, prometeu.

Parquímetros substituirão antigos talões de Zona Azul na capital pernambucana

Zona Azul do Recife - Foto: DP/D.A.Press
Zona Azul do Recife – Foto: DP/D.A.Press

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Raphael Guerra

O Recife deve contar em breve com uma nova forma de pagamento de estacionamentos rotativos nas ruas em dias úteis da semana. A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) começou a estudar duas tecnologias para substituição dos tradicionais talões de papel da Zona Azul.

Uma delas é o parquímetro, que permite ao motorista acessar o sistema e, por meio de cartão de crédito, débito ou pré-pago, ativar a vaga em via pública. Outra forma em análise é o ticket eletrônico, que já está sendo testado, desde 2009, no Bairro do Recife – considerado o laboratório urbanístico da cidade.

O uso de novas tecnologias para pagamento da Zona Azul é uma cobrança antiga dos motoristas. A principal reclamação está relacionada à ação dos flanelinhas, pois alguns deles são acusados de ignorar o valor fixo do talão, cobrando quantias ilegais, extorquir os condutores e até danificar veículos – fugindo ao controle da prefeitura e da Polícia Militar de Pernambuco.

A presidente da CTTU, Taciana Ferreira, acredita que a mudança de formato deve inibir a abordagem dos flanelinhas nas ruas. “Esse não é nosso principal objetivo, mas é claro que haverá uma melhoria”, disse.

O uso do parquímetro no lugar dos talões de papel tem sido visto de forma positiva entre os diretores da CTTU. Isso porque, caso implementado, deverá ser aberta concorrência pública para que a empresa vencedora assuma a responsabilidade pelo sistema eletrônico, emissão dos comprovantes e pelo controle das vagas disponíveis estacionamento em vias públicas.

“Mas os guardas municipais vão continuar fazendo as fiscalizações nessas áreas para coibir as irregularidades”, pontuou Taciana Ferreira.O parquímetro é adotado nos Estados Unidos e em países da Europa. Em capitais brasileiras, como Porto Alegre e Florianópolis, o sistema também ganhou adesão. “Estamos estudando as experiências de outros estados para podermos decidir qual a mais indicada para o Recife”, citou a presidente da CTTU.

Já a Zona Azul Eletrônica, desenvolvimenta por meio de parceria entre a gestão municipal anterior e o Porto Digital, tem sido analisada sob o ponto de vista da ampliação do projeto piloto para outros bairros da capital, acabando definitivamente com os cartões impressos em papel.

Atualmente, esse sistema ainda possui limitações. O motorista só pode adquirir “vagas” por meio de cartão de crédito. Já fiscalização dos veículos no Bairro do Recife é feita por profissional da CTTU utilizando equipamento conectado à internet para verificar se o estacionamento foi pago.

Estacionar nas ruas: caro para a cidade, não para você!

 

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Juliana Colares

 

O Recife gira em torno do carro, mesmo quando ele está parado. Todos os dias, 40 novos automóveis são emplacados na cidade. A frota circulante diária chega a 1 milhão de veículos na RMR. Atender à demanda por estacionamento ficou impossível. E caro demais.

Com o metro quadrado avaliado em R$ 4,5 mil, uma vaga de 11 m2 em Casa Amarela, por exemplo, custaria R$ 49,5 mil, valor mais alto que o preço de um carro popular. Ainda assim, estacionar na maior parte da cidade, mesmo que o carro fique parado durante todo o expediente, das 8h às 18h, não custa nada – quando não tem um flanelinha “gerenciando” a vaga. A falta de um controle rígido dos espaços públicos usados como estacionamento estimula o uso do automóvel e, nos casos das vias onde é permitido estacionar dos dois lados, impede a criação de ciclofaixas, o alargamento das calçadas e a criação de faixas exclusivas para o transporte coletivo.

A “carrocracia” fez até ruas sem tráfego intenso virarem bônus. A Rua Arnoldo Magalhães, em Casa Amarela, por exemplo, já é usada como garagem privada por moradores dos edifícios e é apontada como “rua livre para estacionamento” em lançamento imobiliário que ganhou as redes sociais. A via tem cerca de seis metros de largura e meio fio pintado de branco em boa parte de sua extensão – da Estrada do Arraial à Avenida Norte. O diretor comercial de uma construtora é categórico: vias mais fáceis de estacionar pesam na escolha do terreno. “Hoje a facilidade para aquisição de carro é muito grande. É natural uma família com mais de um”, disse.

Para o especialista em transporte público e professor da UFPE Oswaldo Lima Neto, Recife carece de uma política de estacionamento nas vias públicas. Ele defende que a prefeitura demarque as vias, defina a quantidade de vagas que a cidade deve ter, delimite os horários de permissão para estacionamento e cobre caro pelo uso desses espaços, principalmente nas áreas mais críticas. “É inadmissível pagar só R$ 1 por até cinco horas de estacionamento no Centro da cidade”, disse, em referência à Zona Azul.

Oswaldo Lima Neto defende, inclusive, que medidas como essa, que são restritivas ao uso dos carros, não esperem a melhoria dos sistemas de ônibus e metrô para serem implementadas. “Muitas vezes essa questão é usada como desculpa por quem não quer usar o transporte público”, afirmou.“A tendência mundial é de restrição do estacionamento, principalmente em áreas críticas. A permissão da vaga gratuita na via é um incentivo ao transporte individual e representa prejuízo ao transporte público. Se o espaço é público, ele tem que ser usado em benefício público”, disse o professor de engenharia civil da UFPE Maurício Pina.

Para o presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, Milton Botler, “todas as vagas de automóveis têm que ser absorvidas dentro do espaço privado”. Segundo ele, esse pensamento está por trás do projeto de construção de 10 mil vagas de estacionamento em edifícios-garagem, que seriam interligados ao transporte público. Concomitantemente à construção desses prédios, seria reduzida a quantidade de vagas nas ruas.

A construção dos edifícios-garagem já é alvo de críticas. Para Oswaldo Lima Neto, o ideal é localizar esses estacionamentos verticais próximo a estações de metrô ou ônibus para fazer as pessoas estacionarem fora do centro e usarem o transporte público. Segundo Botler, a decisão quanto aos edifícios-garagem só será tomada após a análise dos estudos feitos por três empresas que atenderam à chamada pública.“Eu posso ter edifício-garagem, inclusive, para substituir vaga de Zona Azul”, disse Botler. Expectativa é de que o edital seja lançado em novembroO Recife gira em torno do carro, mesmo quando ele está parado. Todos os dias, 40 novos automóveis são emplacados na cidade. A frota circulante diária chega a 1 milhão de veículos na RMR.

Atender à demanda por estacionamento ficou impossível. E caro demais. Com o metro quadrado avaliado em R$ 4,5 mil, uma vaga de 11 m2 em Casa Amarela, por exemplo, custaria R$ 49,5 mil, valor mais alto que o preço de um carro popular. Ainda assim, estacionar na maior parte da cidade, mesmo que o carro fique parado durante todo o expediente, das 8h às 18h, não custa nada – quando não tem um flanelinha “gerenciando” a vaga. A falta de um controle rígido dos espaços públicos usados como estacionamento estimula o uso do automóvel e, nos casos das vias onde é permitido estacionar dos dois lados, impede a criação de ciclofaixas, o alargamento das calçadas e a criação de faixas exclusivas para o transporte coletivo.

A “carrocracia” fez até ruas sem tráfego intenso virarem bônus. A Rua Arnoldo Magalhães, em Casa Amarela, por exemplo, já é usada como garagem privada por moradores dos edifícios e é apontada como “rua livre para estacionamento” em lançamento imobiliário que ganhou as redes sociais. A via tem cerca de seis metros de largura e meio fio pintado de branco em boa parte de sua extensão – da Estrada do Arraial à Avenida Norte. O diretor comercial de uma construtora é categórico: vias mais fáceis de estacionar pesam na escolha do terreno. “Hoje a facilidade para aquisição de carro é muito grande. É natural uma família com mais de um”, disse.

Para o especialista em transporte público e professor da UFPE Oswaldo Lima Neto, Recife carece de uma política de estacionamento nas vias públicas. Ele defende que a prefeitura demarque as vias, defina a quantidade de vagas que a cidade deve ter, delimite os horários de permissão para estacionamento e cobre caro pelo uso desses espaços, principalmente nas áreas mais críticas. “É inadmissível pagar só R$ 1 por até cinco horas de estacionamento no Centro da cidade”, disse, em referência à Zona Azul.

Oswaldo Lima Neto defende, inclusive, que medidas como essa, que são restritivas ao uso dos carros, não esperem a melhoria dos sistemas de ônibus e metrô para serem implementadas. “Muitas vezes essa questão é usada como desculpa por quem não quer usar o transporte público”, afirmou.“A tendência mundial é de restrição do estacionamento, principalmente em áreas críticas. A permissão da vaga gratuita na via é um incentivo ao transporte individual e representa prejuízo ao transporte público. Se o espaço é público, ele tem que ser usado em benefício público”, disse o professor de engenharia civil da UFPE Maurício Pina.

Para o presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, Milton Botler, “todas as vagas de automóveis têm que ser absorvidas dentro do espaço privado”. Segundo ele, esse pensamento está por trás do projeto de construção de 10 mil vagas de estacionamento em edifícios-garagem, que seriam interligados ao transporte público. Concomitantemente à construção desses prédios, seria reduzida a quantidade de vagas nas ruas.

A construção dos edifícios-garagem já é alvo de críticas. Para Oswaldo Lima Neto, o ideal é localizar esses estacionamentos verticais próximo a estações de metrô ou ônibus para fazer as pessoas estacionarem fora do centro e usarem o transporte público. Segundo Botler, a decisão quanto aos edifícios-garagem só será tomada após a análise dos estudos feitos por três empresas que atenderam à chamada pública.“Eu posso ter edifício-garagem, inclusive, para substituir vaga de Zona Azul”, disse Botler. Expectativa é de que o edital seja lançado em novembro.

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Fonte: Diario de Pernambuco

Os caminhos da Zona Azul

Ampliar vagas de estacionamento nas ruas do Recife, mesmo sendo com o modelo de Zona Azul, é um estímulo para a entrada de mais carros nas áreas centrais da cidade e uma inversão do que defendem os urbanistas e especialistas em trânsito.

Enquanto os grandes centros caminham para restrição do uso do automóvel, aqui há um estímulo. Outra consequência é que mais carros estacionados em vias públicas significa uma menor capacidade de circulação.

A ideia do município de incentivar os edifícios-garagem não emplacou e dificilmente irá. Nenhum empresário vai querer concorrer com o espaço da via pública, que é praticamente de graça, mesmo contando com o que se paga ao flanelinha ou na compra do bilhete da Zona Azul.

A ampliação do número de vagas é um ponto a se questionar. Mas o trabalho para a melhoria do serviço é um avanço. A terceirização, por exemplo, pode se traduzir numa melhor profissionalização e otimização do modelo, principalmente no deslocamento de 24 agentes, que hoje atuam no sistema e passarão a trabalhar no trânsito.

Lembrando que a CTTU também dispõe da Zona Azul virtual, onde a pessoa pode comprar o bilhete pela internet. O projeto é em parceria com o Porto Digital. O acesso pode ser feito pelo site: http://www.mobilicidade.com.br