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EDUCAÇÃO ENSINO REGULAR | Mozart Neves

Mozart,
o gestor educacional

Recifense, ele já foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco e secretário estadual de Educação. Hoje, integra o Conselho Nacional de Educação

Um dos maiores nomes da educação brasileira nasceu no Recife. Filho mais velho do médico Orimar Ramos e da advogada Miriam Neves, o químico Mozart Neves Ramos, 63, tem naturalidade na capital pernambucana por acaso. Era para ter nascido em Olinda, diz. Foi onde viveu a infância, a adolescência e parte da vida adulta. “Não tinha maternidade na cidade, então minha mãe foi me ter no Recife, mas não morei na capital até completar 27 anos”, conta. Os primeiros anos da vida escolar do professor que foi reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), secretário estadual de Educação e que hoje dirige a área de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna além de fazer parte do Conselho Nacional de Educação (CNE), foram em instituições olindenses. Estudou no Instituto Domingos Sávio, no Carmo, e no Colégio de São Bento, no Varadouro. Já na universidade, foi chamado pelo colégio onde concluiu o científico (atual ensino médio) para dar aulas de física e química. “Passei um ano e meio ensinando no São Bento. Foi uma experiência muito rica e que fez com que eu me apaixonasse pela sala de aula”, afirma.

Do São Bento, o recifense de Olinda foi para a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde cursou engenharia química de 1973 a 1977. A relação com a instituição foi além da graduação. Mozart tornou-se professor, pesquisador, pró-reitor Acadêmico e reitor da universidade. Antes de assumir os postos, foi estudar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O químico pernambucano havia sido selecionado para o mestrado, mas saiu de uma das maiores universidades da América Latina com o título de doutor. “Fui muito bem nas disciplinas do mestrado, o que resultou em um convite para fazer o doutorado”, explica.

A temporada em Campinas chegou ao fim em 1982. De volta a Pernambuco, dedicou-se à produção científica na UFPE e recebeu como retorno o reconhecimento como um dos químicos mais produtivos do país. A alta produtividade o levou ao pós-doutorado no Politecnico di Milano, uma universidade italiana estatal de cunho científico-tecnológico. “Quando voltei, assumi a chefia do Departamento (de Química Fundamental da UFPE). Era como um castigo. Na época, todo mundo era jovem e não queria administrar. Só queríamos dar aula e pesquisar”, lembra. Ele tinha 32 anos e, embora não fosse seu desejo na época, decidiu se empenhar na gestão do departamento. Nascia ali o Mozart gestor educacional.
O espírito jovem e inovador do novo chefe do Departamento de Química Fundamental chamou a atenção do então reitor da UFPE Éfrem Maranhão. Do Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Mozart passou a ocupar a cadeira principal na Pró-Reitoria de Assuntos Acadêmicos da universidade, onde esteve de 1992 a 1995. Novamente, ganhou destaque na academia pela maneira como geria, o que o levou ao cargo máximo da instituição, o de reitor. “Investi muito no trabalho de extensão universitária. O campus tinha que ser bem cuidado, bonito e com a sociedade presente. Abrimos as portas para afastar a insegurança. Para isso, as pessoas tinham que cuidar, ocupar os espaços. Visitantes de outras universidades ficavam impressionados positivamente quando passavam pela UFPE”, recorda.

O próximo passo na ascensão enquanto gestor educacional foi dado fora do campus da UFPE. Convidado pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos para ser secretário estadual de Educação, Mozart passou quatro anos à frente da pasta em Pernambuco. Chegou ao cargo em 3 de fevereiro de 2003.

Anos antes, na década de 1990, o Ginásio Pernambucano, na época chamado de Colégio Pernambucano, foi da glória à ruína. Ao entrar em decadência, a escola foi fechada por causa das péssimas condições de infraestrutura. Foi quando um grupo de empresários – liderados pelo ex-aluno e então presidente da Philips no Brasil e na América Latina, Marcos Magalhães – decidiu recuperar a estrutura física do prédio. Uma renovação na gestão da instituição foi iniciada. O projeto de recuperação do prédio levou dois anos e meio e um investimento de R$ 3 milhões, numa parceria público-privada. Mozart comandava no braço público da gestão a transformação da instituição de ensino mais antiga em atividade do país em pioneira no modelo de ensino médio integral. “Não sou político e não sou filiado a partido, mas sabia que naquele momento tinha uma contribuição a dar ao estado”, enfatiza.

Após passagens pela presidência da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil e do movimento Todos pela Educação, Mozart, hoje, dirige a área de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna, ONG dedicada à educação básica. Há dois meses, voltou ao Conselho Nacional de Educação (CNE), onde é relator do parecer da resolução sobre formação de professores para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “É um trabalho que quero fazer com muita atenção e cuidado. Tenho certeza que será um capítulo que vai marcar uma parte importante da minha vida”, afirma.

Anamaria Nascimento
anamaria.nascimento@diariodepernambuco.com.br

“Investi muito trabalho na extensão universitária. O campus tinha que ser bem cuidado e com a sociedade presente”

Mozart Neves

Ex-reitor da UFPE

Ministério da Educação
deixou de tê-lo no comando

Acadêmico recebeu prêmio Orgulho de Pernambuco

No último dia 21, Mozart Neves Ramos viu o seu nome estampado na primeira página de todos os sites de grande circulação do país. O currículo do pernambucano e opiniões sobre ele também pipocaram na tarde daquela quarta-feira. “Mozart Neves será o ministro da Educação do governo Bolsonaro” era a manchete nos maiores portais de notícias do país. Um dia depois, porém, o presidente eleito anunciou o nome do colombiano Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação.

Duas semanas depois das especulações sobre o seu nome à frente da pasta, Mozart conversou com o Diario sobre o episódio. Confirmou ter sido convidado pelo futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para assumir o cargo federal. “Antes do resultado das eleições, fomos convidados (Mozart e Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna) para conversar com o então candidato (Bolsonaro). Ele não fez nenhum convite. Pediu apenas que o instituto colaborasse e elaborasse um documento, um diagnóstico que apontasse também soluções para os problemas apontados”, diz. A conversa durou uma hora e meia.

Onyx Lorenzoni fez contato com os representantes do Instituto Ayrton Senna após o encontro. Mozart e Viviane foram à Brasília para apresentar o documento que haviam prometido ao então candidato. Após a reunião, o ministro extraordinário do governo de transição convidou Viviane Senna para o cargo no Ministério da Educação. “Ela declinou, mas indicou o meu nome. Eu pedi um tempo para conversar com a minha família. Falei com a minha mãe, minha esposa e minhas filhas, que concordaram que eu podia contribuir para o país”, afirma.

Mozart estava com ida a Brasília agendada quando o seu nome pipocou na imprensa. “Quando isso aconteceu, surgiram dois movimentos. Um foi muito positivo, em que muitas pessoas, incluindo jornalistas, educadores e secretários apoiaram o meu nome. Em direção contrária, houve um posicionamento contrário”, observa. Após a avalanche de notícias – só o Instituto Ayrton Senna contabilizou mais de 1 mil notas, matérias, colunas e artigos sobre o pernambucano – e comentários envolvendo a sua história, Mozart avalia que é hora de contribuir para o país de outra forma. “A missão agora é ajudar o ministro na difícil tarefa de alfabetizar as crianças e valorizar os professores. Disse que precisaria falar com a família, mas tinha aceitado sim. Vou continuar participando dessa construção tanto pelo instituto quanto pelo Conselho (Nacional de Educação)”, garante.