Quando sustentabilidade era apenas mais uma palavra do dicionário, Marcelo Holanda Guerra, 60 anos, estava em uma encruzilhada. Profissional com cerca de 20 anos de experiência no setor automotivo, ele viu o mercado mudar e precisou pensar em alternativas. Percebeu que, naquele momento, Pernambuco não tinha nenhuma recicladora de garrafas PET e comprou a ideia. Houve quem o chamasse de louco, questionasse se iria atuar na filantropia. Assim nasceu a Frompet, a maior recicladora do Norte e Nordeste e uma das cinco empresas no mundo – a única no Brasil – com produção de preforma de PET automatizada.

Marcelo lembra bem de todas as datas de referência dessa história. Em 2000, ele viu uma capa da revista da Associação Brasileira dos Concessionários da Mercedes-Benz – da qual é conselheiro vitalício – falando sobre reciclagem de latas. Estudou o mercado e decidiu, em julho daquele ano, começar a operacionalizar uma ideia voltada às garrafas PET. Em setembro do ano seguinte, foram feitas as primeiras compras de garrafas. “Os primeiros anos foram dificílimos para trazer valor agregado, verticalizar a operação, não rentabilizava. Mas a gente teve muita coragem, determinação, afinco. Nos dedicamos muito ao trabalho e fomos muito rápidos na parte de recomprar o resíduo sólido”, explica Marcelo.

Até aquele momento, Marcelo carregava no currículo ter trazido nomes automobilísticos como a Nissan e a Kawasaki para atuar no estado, além de uma longa experiência junto à Mercedes-Benz. Antes, havia adquirido experiência no setor comercial e sucroalcooleiro. A escalada ao sucesso no novo negócio começava a se aproximar. Na essência do trabalho, Marcelo carregou o ensinamento do sogro Ricardo Brennand. É preciso ser humilde para ser um bom copista, isto é, não é demérito copiar alguém que acertou no que fez. “Sua margem de erro será bem menor”, diz o homem que, em 18 anos de empresa, nunca tirou férias para fazer uma viagem completamente de lazer. “Sempre vou prospectar coisas novas. Quero trazer para o Nordeste condições de competitividade, automação, tecnologia de ponta”, diz.

Com esse pensamento, o atual diretor e CEO da Frompet tem como uma das marcas conseguir operacionalizar na empresa os quatro “R’s” da sustentabilidade: repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. Isto é, a Frompet é uma empresa que opera 100% na logística reversa. Compra as garrafas pós-consumo, recicla o material, depois revaloriza o flake de pet (garrafa moída) e em seguida – de maneira inovadora e única entre as congêneres no mercado – reutiliza a resina PET-PCR na produção de preformas. As preformas são espécies de tubo de ensaio, um estágio inicial antes de o produto sofrer o “sopro” que o transformará em garrafas. “Passamos a ser uma empresa cobiçada no país e fomos associados ao Valgroup em 2009, o mais antigo fabricante de preforma do Brasil”, acrescenta Marcelo.

Atuar no setor não é fácil, Marcelo sabe. É preciso sempre pensar na parte mais fraca da cadeira, os catadores e fornecedores. “Falta reconhecimento. A Lei de Resíduos Sólidos existe, mas não é cumprida”, elenca. A Frompet gera 111 empregos diretos e cerca de 600 indiretos. Receber o prêmio Orgulho de Pernambuco, para Marcelo, é um reconhecimento difícil de mensurar. “Sempre fomos regidos pelo desafio, pela resiliência e persistência. Esse prêmio é a mais alta expressão da minha pernambucanidade, é o ápice”, diz ele, responsável por conduzir a segunda maior produtora de preformas do Brasil.

Nova expansão terá investimento
de R$ 60 milhões

Há cerca de três anos, a Frompet trocou um prédio alugado em Jaboatão dos Guararapes por um terreno de 10 hectares no Complexo Industrial Portuário de Suape. Agora, a empresa volta a investir em expansão. Adquiriu um terreno de seis hectares, que abrigará uma fábrica de tampas plásticas para preforma – amplificando a atuação do Valgroup no setor. Até 2020, quando o parque estará pronto, serão investidos cerca de R$ 60 milhões, tanto na concepção dessa fábrica como na ampliação da produção. Hoje, a Frompet compra 1,5 mil toneladas mensais de garrafas PET e produz cerca de 180 milhões de preforma no mesmo período.

“A partir da Copa das Confederações, empresas como a Coca-Cola e a Ambev começaram o processo de fazer cumprir a Lei de Resíduos Sólidos. A Coca-Cola Company já anunciou que, a partir de janeiro de 2020, todas as embalagens PET da marca serão obrigadas a ter no mínimo 25% de uso da resina reciclada PET-PCR. Por isso, acreditamos numa expansão da atividade”, afirma Marcelo Guerra.

Desde o ano passado, a Frompet iniciou um processo de automatização das etapas de produção, que lhe confere o selo de uma das poucas indústrias 4.0 do estado. A empresa utiliza um programa gerenciador, o Warehouse Management System (WMS), que controla toda a produção, estoque e expedição dos produtos. E tem, entre os “funcionários”, oito robôs utilizados na rotina produtiva. O sistema permite que o cliente avise com 12 horas de antecedência a configuração e a data de retirada do produto, dentre outras vantagens técnicas.

“A automação na Frompet não quer dizer perda de postos de trabalho. Prezamos pelo emprego e renda de forma sustentável e com responsabilidade. A automação nos trouxe diminuição nos erros, gerou maior precisão”, detalha o CEO. A Frompet já recebeu o Prêmio Vasconcelos Sobrinho de Responsabilidade Ambiental, concedido pela CPRH/Ibama e foi eleita a melhor empresa com projetos ambientais do estado.