Adiado júri de homem acusado de mandar matar esposa em 2008

Por Thamires Oliveira
Especial para o Diario

Oito anos depois do assassinato da comerciante Alzira Batista da Silva, 65 anos, a família terá que esperar mais uma semana para a realização do julgamento de Antônio Henrique Gomes da Silva, 79, marido da vítima e acusado de ser o mandante do crime. O júri popular que estava marcado para esta terça-feira, no Fórum Desembargador Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra, foi remarcado para a próxima terça-feira (19), devido à mudança de advogados da defesa do réu.

Crime aconteceu neste bar, no bairro do Cordeiro. Foto: Teresa Maia/DP
Crime aconteceu neste bar, no bairro do Cordeiro. Foto: Teresa Maia/DP

Em substituição ao advogado Evandro Custódio, a defesa constituiu Alecsandro Queiroz Silva, enteado do acusado. A de troca de advogados, prevista por lei, foi utilizada pela defesa para adiar o julgamento do réu. “Foi uma tática de defesa. Quanto mais postergar melhor, não há pressa. A lei garante esse direito e estamos usando disso. Na próxima semana terá o júri e vamos provar a total inocência dele”, afirma o advogado Alecsandro Queiroz.

Alzira foi executada em 2008, com sete tiros, enquanto trabalhava no Bar Maxixe, no bairro do Cordeiro, do qual era proprietária. O Ministério Público, representado pela promotora Dalva Cabral, afirma que o marido da vítima foi o mandante do crime. Para a promotora, não restam dúvidas sobre a culpa do acusado. “As entrelinhas de cada depoimento levam o Ministério Público à absoluta certeza de ter sido ele o mentor intelectual do crime. Só ele teria interesse e só ele ganharia com a morte da vítima”, afirma Dalva Cabral.

Segundo a promotora, as maiores evidências do caso referem-se aos relatos de agressão familiar, a preocupação do acusado com os bens da esposa após a morte, e a nova companheira do acusado, além da relação fragmentada com os filhos, que acusam  o pai.

Filhos do casal esperam que o pai seja condenado. Foto: Julio Jacobina/DP
Filhos do casal esperam que o pai seja condenado. Foto: Julio Jacobina/DP

Os quatro filhos do casal, que estiveram presentes no local, confirmam a acusação do Ministério Público sobre as agressões constantes dentro de casa. “Surgiram evidências que nos posicionaram a ter a certeza de que foi o nosso pai quem mandou. Ele sempre foi um homem que agrediu muito ela, e ameaçou. Nós não imaginávmos que iria chegar a esse ponto. Queremos virar essa página, e que a justiça seja feita”, lamenta Antônio Henrique Filho. “Isso foi pura maldade e ganância. Ele sempre bateu na nossa mãe, desde que nós éramos crianças. Até apontar arma para ela e nós entrarmos como escudo ainda pequenos, já aconteceu”, relata Gumercindo Batista.

A tese da defesa nega a autoria do crime e afirma que o caso envolve uma briga de herança entre os filhos. “Não há indícios e nem provas de que ele tenha sido o mandante do crime. Os filhos sempre foram dependentes das finanças dos pais e estão brigando por herança. É bom para eles que ocorra esse julgamento, para tentar condenar o pai, e ter um reflexo no processo de inventário”, afirma o advogado Alecsandro Queiroz. A defesa nega ainda que o réu tenha um comportamento agressivo dentro de casa.

Marina Iracema Conceição, 67, estava no bar no momento do assassinato. Marina trabalhava na casa do casal havia 30 anos, e assistia à TV junto com Alzira no momento em que o pistoleiro entrou e sentou-se numa mesa. Quando percebeu a presença do homem, Marina afirma que pensou que se tratava de um cliente e foi para o balcão, esperando o pedido.

O acusado, Antônio Henrique, que também estava presente na hora da execução, parou atrás dela e disse que acreditava se tratar de um assalto. Pouco depois, Marina escutou os tiros e correu. Do local onde estava, a doméstica não enxergava mais o  pistoleiro. “Eu tenho certeza que ele mandou matá-la. Ele sempre falou em matar, ameaçava muito ela. Ela não tinha inimigos na rua, o inimigo dela era o marido. Ele falava em enfiar uma peixeira nas costas dela até sair na frente. Um homem que fala isso pra sua mulher tem que ter muito ódio”, afirma.

Segundo a Juíza Maria Segunda, o adiamento do julgamento para a próxima semana foi decidido conforme a lei, para garantir à defesa o prazo de estudar o processo, sem ser prejudicada pela distituição do advogado. Caso a defesa não compareça na próxima semana, a defesa será relizada pela defensoria pública. “Esperávamos que hoje nós conseguissémos tirar esse peso das costas. Vão ser mais sete dias de espera que não vão ser fáceis, estamos com a emoção à flor da pele, mas a expectativa é positiva, acredito que ele deve ser condenado”, afirma o empresário Jorge Tadeu Gomes, filho da vítima e do acusado.

Quatro mortos após arrombamento de banco no interior do estado

Mais uma ação criminosa contra agências bancárias no interior do estado foi registrada pela polícia. Dessa vez a cidade alvo dos bandidos foi Buenos Aires, na Zona da Mata Norte. Um grupo de seis homens invadiu e tentou roubar dinheiro do Banco do Brasil. Na fuga, após uma troca de tiros com policiais militares, quatro suspeitos foram mortos e dois presos e autuados em flagrante. Segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), de janeiro a maio deste ano, 44 investidas contra bancos, caixas eletrônicos e carro-forte foram registradas no estado.

Veja matéria da TV Club/Record sobre o assalto ao Banco do Brasil da cidade de Bueno Aires.

Aprovada indenização do poder público a mulher vítima de violência

Da Agência Câmara

A Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público aprovou proposta que obriga o poder público a indenizar vítimas de violência sexual ou doméstica, quando houver omissão ou negligência do Estado comprovada. A indenização administrativa por danos morais será de até 60 salários mínimos. A vítima poderá também entrar na justiça para exigir reparação por danos morais, sem limite de valor.

Foto: Paulo Paiva/Esp DP/D.A Press
Indenização da vítima pode chegar a 60 salários mínimos. Foto: Paulo Paiva/Esp DP/D.A Press

Segundo a relatora na comissão, deputada Flávia Morais (PDT-GO), o limite de indenização na esfera administrativa busca estimular um acordo, sobretudo se a Administração Publica entender que o valor definido judicialmente poderia ser maior. “Para a vítima, a vantagem de resolver tudo na esfera administrativa é a celeridade no recebimento do valor”, disse.

Aposentadoria por invalidez
Pelo texto, a vítima poderá requerer aposentadoria por invalidez de, pelo menos, um salário mínimo, caso sofra agressão que a deixe com sequelas e a impeçam de trabalhar. A aposentadoria será concedida independentemente de carência ou de a vítima ser segurada do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). “Hoje viemos fazer justiça com essas mulheres”, afirmou Flávia Morais. A partir de sugestão da deputada Erika Kokay (PT-DF), ela mudou o parecer original, que previa a aposentadoria com valor fixo de um salário mínimo.

O benefício só será concedido depois da sentença final, ou em segunda instância, que comprove o crime de violência sexual ou doméstica, explicitada a omissão ou negligência do poder público.

A aposentadoria por invalidez deverá ser solicitada na Previdência Social, com a decisão judicial usada como documento. O texto inclui a concessão da aposentadoria na Lei de Benefícios da Previdência Social (8.213/91).

Sexo feminino
Flávia Morais acolheu sugestão do deputado Luiz Carlos Busato (PTB-RS) para retirar do texto a expressão “sexo feminino”, para a proposta poder englobar também homens vítimas de violência doméstica. A sugestão, porém, não foi aceita. “A violência doméstica não é só contra o sexo feminino. Temos de pensar nos crimes, por exemplo, nas relações homoafetivas”, afirmou Busato.

Dependentes
Em caso de morte da vítima, a aposentadoria por invalidez será destinada aos filhos ou irmãos menores de 21 anos, ou inválidos, com deficiência intelectual, mental ou física grave de qualquer idade. Segundo a proposta, o menor tutelado, sob guarda e o enteado são equiparados a filhos, comprovada a dependência econômica.

O texto aprovado é um substitutivo de Flávia Morais ao Projeto de Lei 7441/10, da deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), que garantia indenização de R$ 50 mil, acrescida de pensão mensal de R$ 510 – corrigidos anualmente, aos filhos menores de 18 anos ou incapazes das vítimas fatais de violência sexual e doméstica.

Flávia Morais citou casos de agressão e mesmo morte de mulheres por ex-companheiros que, poderiam ter sido evitados com a ação do poder público. Um deles, o de Mara Rúbia Guimarães, que foi espancada, amarrada, torturada e teve os olhos perfurados por uma faca e foi deixada sangrando para morrer, após histórico de perseguição, violência doméstica, com vários pedidos de medidas protetivas negados e após ter buscado amparo por sete vezes em delegacias locais.

Tortura
Para Erika Kokay, a violência doméstica é um processo semelhante à tortura. “Ela vai arrancando a mulher dela mesma e vai se transformando no espelho do desejo do outro e, quando decide resgatar sua humanidade, é vítima das violências mais cruéis.” Segundo ela, o projeto é fundamental para o Estado ser responsabilizado quando não atuar na proteção da mulher.

A deputada Geovania de Sá (PSDB-SC) defendeu o trabalho de políticas públicas de proteção de forma integrada para reduzir os indicadores de violência contra a mulher no País. Para o deputado Benjamin Maranhão (SD-PB), existe um preconceito muito forte contra a mulher e é necessário fazer ações afirmativas verdadeiras para que isso seja coibido.

Cultura machista
O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA) apontou a insuficiência e a negligência do Estado e da sociedade para enfrentar a cultura do machismo. “Esses fatos mais chocantes revelam algo que vai se naturalizando”, disse.

Esse ponto também foi ressaltado pelos deputados Orlando Silva (PCdoB-SP) e Vicentinho (PT-SP). “A violência doméstica e sexual essencialmente se dá com protagonismo de familiares, o que agrava e muito essa realidade”, disse Silva. Para Vicentinho, a política machista atinge a juventude, por isso as piadas contra as mulheres não podem caber porque inculcam visão equivocada.

Ônibus sem cobrador: será que os assaltos irão diminuir?

Muito tem se falado sobre a retirada da figura dos cobradores de ônibus de algumas linhas que circulam no Grande Recife. Os testes começaram na manhã desta segunda-feira e pegaram muitos passageiros de surpresa. Com o novo modelo, quem for pegar ônibus só poderá pagar a passagem com o cartão do Vem. A ideia do Grande Recife Consórcio de Transportes é reduzir o número de assaltos a coletivos.

Alguns coletivos irão circular sem cobradores. Foto: Nando Chiappetta/DP
Alguns coletivos irão circular sem cobradores. Foto: Nando Chiappetta/DP

A justificativa da ação é a de que sem dinheiro em caixa, os assaltantes estariam menos tentados a entrar nos ônibus para praticar assaltos. Porém, em quase todos os casos de investidas criminosas ao transporte público o maior alvo são os passageiros. Carteiras, relógios e telefones celulares são os bens mais procurados pelos ladrões. Gostaria de estar enganado, mas acredito que essa medida não será suficiente para reduzir as estatísticas criminosas assustadoras. E você, o que pensa sobre esse assunto?

Leia mais sobre o assunto em:

Medo é companheiro das viagens de ônibus no Grande Recife

Mais uma troca na Corregedoria da Secretaria de Defesa Social

A onda de remoções na Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) não para. Depois da saída quatro experientes delegados, como noticiado por este blog no dia 14 de junho deste ano, agora foi a vez do delegado especial Paulo Jeann Barros e Silva ser removido daquela unidade. Quem vai assumir o lugar de Jeann é o delegado Jader Alves Brasiliense, que deixará a 7ª Delegacia de Homicídios.

Foto: Simone Ventura/Esp DP
Paulo Jeann estava na Corregedoria há oito anos. Foto: Simone Ventura/Esp DP

Experiente delegado de homicídios e da criança e adolescente, e há mais de oito anos como corregedor auxiliar, o delegado Paulo Jeann foi responsável por várias investigações no estado, como por exemplo o episódio da Ponte Joaquim Cardoso, ocorrido no carnaval de 2006, onde dois adolescentes morreram após um grupo de garotos terem sido espancados por policiais militares e depois obrigados a entrarem no Rio Capibaribe.

Além disso, Paulo Jeann também foi o responsável pela última conclusão do Caso Serrambi, que investigou as mortes das adolescentes Tarsila Gusmão e Maria Eduarda Dourado. Depois disso, o inquérito foi encaminhado ao Poder Judiciário. O delegado Paulo Jeann não foi localizado para comentar sobre a remoção.

Insegurança dentro e fora do Parque da Jaqueira

Um dos equipamentos de lazer mais cobiçados da Zona Norte está tomado pelo medo. Não é de hoje que frequentadores do Parque da Jaqueira, localizado numa das áreas mais nobres da cidade, se queixam de investidas criminosas no interior do espaço, como também nas proximidades.

Frequentadores do local estão assustados. Foto: Andre Marins/Esp/DP
Frequentadores do local estão assustados. Foto: Andre Marins/Esp/DP

Caminhar, correr ou utilizar o equipamento para passeios com a família virou sinônimo de medo. Crimes de assaltos são frequentes no local. Em geral, os suspeitos estão armados de facas ou facões e levam os pertences que querem das vítimas. Na última segunda-feira, um adolescente de 15 anos foi o autor de mais um assalto no parque. Um casal de estudantes teve suas bolsas roubadas sob a ameaça de uma faca.

O garoto foi apreendido por policiais militares que faziam rondas na localidade pouco tempo depois e os produtos foram recuperados. Mas nem toda vez o final da história será esse. Os guardas municipais e as câmeras de monitoramento instaladas no parque não têm sido suficientes para inibir a ação dos criminosos. O que se espera daqui para frente é de que a segurança no equipamento seja reforçada. Até lá, é rezar para não ser a próxima vítima.

Assaltos e medo perto do Túnel da Abolição, no bairro da Madalena

Por Thamires Oliveira
Especial para o Diario

Após o feriadão do São João, os comerciantes Genivaldo Lima, 49 anos, e José Marcionila Santos, 56, encontraram a grade de sua loja amassada e muito danificada. Uma tentativa de arrombamento que, por sorte, não deu certo. O sentimento de medo dos comerciantes e moradores aumenta, juntamente com a frequência dos assaltos no entorno do Túnel da Abolição, no bairro da Madalena, ao lado da Avenida Caxangá.

Fotos: Malu Cavalcanti/ Esp. DP
Assaltos perto do túnel estão assustando quem passa pelo local. Fotos: Malu Cavalcanti/ Esp. DP

“É muito preocupante. Depois da construção do túnel o movimento diminuiu, ficou esquisito andar por aqui e tem assaltos quase todos os dias, de manhã, à tarde e à noite. Não importa a hora”, relata Genivaldo.

Moradores, estudantes e motoristas que transitam naquela área denunciam que a quantidade de assaltos vem aumentando e o policiamento é insuficiente. A situação fica ainda mais grave no turno da noite, quando o comércio fecha e diminui a circulação de carros e pedestres. Josias Costa passa todos os dias por cima do túnel, mas não recomenda a ninguém fazer esse trajeto.

“A gente corre o risco de ser assaltado a qualquer momento. Depois das 18h eu até prefiro mudar de rota. E o pior é que quase não vemos policiamento”, afirma o professor de judô.

Pedestres são vítimas de assaltantes armados com facões
Pedestres são vítimas de assaltantes armados com facões

Há apenas três meses, Ana Morreira, 26, trabalha em uma banca do jogo do bicho na Rua João Ivo da Silva, próximo à Avenida Caxangá. Em pouco tempo que trabalha lá, Ana já presenciou vários assaltos e teme que aconteça o mesmo com ela. “Daqui a gente sempre vê os assaltos, à luz do dia mesmo. Essa semana uma moça foi assaltada por dois homens com uma faca. Outro dia levaram o celular e dinheiro de uma senhora de Carpina. Dá medo ficar aqui, mas a gente tem que trabalhar”, confessa a cambista. Segundo ela, na maioria dos casos, os assaltantes estão com facas nas mãos.

De acordo com o 13º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela segurança da área, o policiamento é realizado diariamente por duas viaturas, quatro motos e dois policiais militares a pé. “Não temos muitos registros”, diz o sargento Daniel Oliveira. “É necessário que as vítimas registrem o Boletim de Ocorrência, para que possamos identificar esses assaltos”, ressalta o sargento do 13º BPM.

TV Clube conta detalhes de como vivia Paulo César Morato

A equipe de jornalismo da TV Clube/Record esteve no endereço onde vivia o empresário Paulo César Morato, no bairro de Pau Amarelo, em Paulista. Ele não foi encontrado no local no dia 21 deste mês quando era procurado pela Polícia Federal. Morato foi encontrado morto no dia seguinte, na suíte de um motel, na Avenida Perimetral, em Olinda. Veja o que os vizinhos contaram sobre a vida dele no bairro, onde morava com a mulher e um filho pequeno.

 

Investigação mais rígida para mortes em confrontos com policiais

Da Agência Câmara

A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 5124/16, do Executivo, que torna mais rígidas as normas para investigação de mortes e lesões ocorridas em ações com envolvimento de agentes de estado, como policiais. As regras para necropsia também são alteradas.

A principal mudança é a exigência de inquérito policial para apurar lesões ou mortes ocorridas em ações com participação de agentes do Estado. Ministério Público e Defensoria Pública deverão ser informados da ocorrência, que também será encaminhada à ouvidoria ou corregedoria do órgão a que pertence o agente envolvido no ato que resultou em ofensa à integridade de outros.

Atualmente, quando há mortos ou feridos em confrontos com a política, é feito o chamado “auto de resistência”, documento que registra a ocorrência, mas não garante a investigação do fato.

A proposta também altera a liberdade dos policiais nas ações. O Código de Processo Penal atual garante ao policial ou autoridade competente o uso dos “meios necessários” para se defender ou vencer a resistência à prisão em flagrante ou resistência à determinada autoridade. Mas o projeto apresentado determina que a autoridade deverá usar “moderadamente” os meios necessários para a defesa ou para vencer a resistência.

Investigação e necropsia
O texto encaminhado pela presidente afastada Dilma Rousseff altera normas para as investigações e necropsia. Proíbe que os exames sejam acompanhados por pessoa estranha ao quadro de peritos e auxiliares, com algumas ressalvas (assistente técnico ou representante legal do examinado).

Nos casos de morte violenta, o texto torna regra a realização de exame interno, documentação fotográfica e coleta de vestígios das vítimas. Atualmente, basta o simples exame externo, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante.

O exame só poderá ser dispensado pelo perito se as lesões externas permitirem precisar a causa da morte, mas deverá ser sempre realizado nos casos de morte violenta com envolvimento de agentes do Estado.

A participação de agentes do Estado obriga ainda a conclusão do laudo em até dez dias e deve ser encaminhado à autoridade policial, à corregedoria, ao Ministério Público e à família da vítima.

Para evitar adulterações das cenas do crime, o texto deixa claro que os cadáveres serão fotografados da forma em que foram encontrados. Na legislação atual, a obrigação é atenuada pela expressão “na medida do possível”.

Abusos de autoridades
Na justificativa, o governo afirma que a proposta vai proporcionar a ampliação do controle e da fiscalização sobre a atividade do Estado, diminuindo os abusos de autoridades e garantindo a responsabilização penal. A intenção é reduzir a violência e respaldar a atuação dos agentes públicos.

De acordo com o texto, assinado pelo ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, não há dados confiáveis sobre violência policial, já que os autos de resistência seriam uma “subnotificação”. “Vários desses casos não são submetidos à devida apreciação do Poder Judiciário porque são considerados mortes resultantes de confrontos entre policiais e criminosos”, afirmou.

Medo é o companheiro das viagens de ônibus no Grande Recife

Texto meu publicado na página Em Foco do Diario de Pernambuco desta quinta-feira com arte feita por Jarbas.

Andar de ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR) virou sinônimo de medo. As notícias de assaltos a passageiros e cobradores são cada vez mais frequentes. Em média, cinco coletivos são assaltados por dia no Grande Recife. Os relatos de violência durante as abordagens deixam amedrontados todos que precisam usar o transporte público diariamente. Na noite da última terça-feira, um ônibus que fazia a linha Curado IV/Barra de Jangada foi alvo de dois assaltantes. Os passageiros viveram momentos de tensão, quando, por volta das 22h, a dupla anunciou o assalto nas imediações do Viaduto Prefeito Geraldo Melo, no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes.

Armados com facões, os criminosos recolheram os pertences das pessoas e ainda ameaçaram cortas os dedos das vítimas. Logo após desceram do coletivo, os dois suspeitos foram abordados e detidos pela população. Os dois foram quase linchados. Um deles conseguiu fugir. O outro, bastante ferido, foi preso em flagrante pela Polícia Militar. Com ele foram recuperados nove telefones celulares, três relógios e 10 anéis. Tudo havia sido roubado dos passageiros. As vítimas prestaram queixa na Delegacia de Prazeres, onde o caso foi registrado. Mais um para a assustadora e complexa estatística.

O Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco informa que de janeiro a maio deste ano, 704 ônibus foram assaltados na RMR. No ano passado, segundo o sindicato, esse número foi de 490 registros no mesmo período. “Os assaltos estão aumentando a cada dia e a segurança dos passageiros está ameaçada. Do início de junho até hoje (ontem), 102 coletivos foram assaltados. A questão da segurança no transporte público não tem sido levada a sério pelas autoridades competentes”, comentou o assessor assistente de comunicação do sindicato, Genildo Pereira. Os números apresentados pelo sindicato revelam uma realidade sentida na pele pelos dois milhões de passageiros que usam os coletivos para se locomoverem diariamente.

Enquanto os números do Sindicato dos Rodoviários apontam para 704 assaltos a ônibus nos cinco primeiros meses deste ano. O total notificado pela Secretaria de Defesa Social (SDS) fica bem abaixo. De acordo com dados da Gerência de Análise Criminal e Estatística (Gace), no período de janeiro a maio de 2016 foram registradas 415 ocorrências de assaltos a coletivos na Região Metropolitana do Recife. No mesmo período do ano passado foram notificados 293 casos. Segundo o sindicato, a diferença na contagem se deve ao fato da SDS notificar apenas os assaltos onde a renda do coletivo é levada pelos criminosos. “Na nossa avaliação, os casos onde apenas os passageiros são assaltados também são computados”, ressaltou Genildo Pereira.

Ainda de acordo com a SDS, “a Polícia Militar segue realizando a Operação Transporte Seguro em pontos da RMR que são selecionados de acordo com a incidência criminal, com base nos dados coletados pela Gace/SDS, para a realização de blitz policial com foco na abordagem em coletivos. Na operação, patrulhas de unidades especializadas e de área realizam as abordagens nos usuários e nos coletivos. De janeiro a maio de 2016 foram realizadas 11.912 abordagens, resultando na apreensão de seis armas de fogo, três armas brancas e 24 pessoas encaminhadas à delegacia.” Também segundo a SDS, a Polícia Civil está dando prioridade, através da Diretoria Integrada Metropolitana, aos inquéritos policiais que apuram roubos contra coletivos e seus passageiros.

O medo de ser a próxima vítima está tão grande que já tem gente abrindo mão de andar de ônibus portando telefones celulares, relógios e outros pertences de valor. Na lista dos lugares mais perigosos estão rodovias federais, corredores viários e avenidas bastante movimentadas. Um dos trechos de maior incidência está na BR-101 Sul, em toda extensão da RMR. As avenidas Sul e Agamenon Magalhães também são locais escolhidos para anúncios das investidas criminosas. Situação crítica também é observada na PE-60, no Cabo, e na PE-15, em Paulista. “Quando eu vou pegar um ônibus, procuro levar apenas as coisas necessárias e evito atender o telefone celular durante a viagem. Os assaltos estão acontecendo a qualquer hora e em todos os lugares”, destacou a dona de casa Ivonete Salustino, 45 anos.

As armas usadas para praticar os assaltos a ônibus, em geral, eram revólveres e até mesmo pistolas. No entanto, nas últimas investidas, os suspeitos estão entrando nos coletivos armados com facas e até facões. Alguns escondem as armas brancas dentro de mochilas e nas próprias roupas. No caso dessa terça-feira, os ladrões que ameaçaram cortar os dedos das pessoas que não conseguissem tirar os anéis e alianças estavam armados com facões. Uma prova de que as fiscalizações nas estradas precisam ser mais eficientes. E que as vítimas, ao entrarem nos coletivos, precisam contar com muita sorte para não terem supresas desagradáveis durante o percurso.