Epidemia de HIV e tuberculose nos presídios do estado

Do Diario de Pernambuco, por Marcionila Teixeira

Um dos maiores focos de HIV e tuberculose em Pernambuco está nos presídios. Levantamento inédito da Human Rights Watch aponta a existência de uma epidemia das duas doenças nas unidades prisionais do estado. Segundo o documento, são 2.260 casos de tuberculose por 100 mil presos, ou seja, uma taxa quase 100 vezes maior que a média na população brasileira.

Fotos: Human Right Watch/Divulgação
Fotos: Human Right Watch/Divulgação

A prevalência de infecções pelo vírus HIV é mais de 42 vezes maior que a verificada na população brasileira em geral, chegando a 870 casos por 100 mil presos. Intitulado O estado deixou o mal tomar conta – a crise do sistema prisional do estado de pernambuco, a pesquisa será lançada hoje em São Paulo.

“Se fora das unidades prisionais a taxa de tratamento e abandono é elevada, uma epidemia dentro dos presídios significa uma população com vulnerabilidade ainda maior”, explica a médica sanitarista Marília Siqueira. Os dados foram coletados este ano durante visitas a quatro prisões do estado. O risco também é ampliado para parentes de presos nos dias de visita.

Segundo o levantamento, na Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá, a equipe de saúde não consegue submeter os novos presos, que chegam em grande quantidade, a exames de tuberculose. Os detentos são examinados apenas depois que os sintomas aparecem, quando outros presos – que com eles compartilham os espaços confinados e mal ventilados – já foram infectados. “A superlotação impede acabar com o foco”, admitiu, na época, a direção.

O relatório revela a existência de apenas 161 profissionais de saúde para cuidar de 31.700 presos, incluindo um único ginecologista para uma população de 1.870 presas. “Funcionários disseram que, sofrendo com a falta de pessoal e de medicamentos, as enfermarias das prisões frequentemente podem oferecer apenas cuidados básicos. Os presos precisam ser levados a hospitais locais para tratamento, mas é comum que o traslado não seja feito por falta de escolta policial”, diz um trecho do documento.

A questão de saúde é agravada pela falta de água. Os pavilhões da PAISJ, em Itamaracá, não possuem água corrente. “Os presos coletam água em baldes para beber, tomar banho, fazer a limpeza e dar descarga. Eles utilizam torneiras nos pátios, onde a água é disponibilizada apenas três vezes ao dia, meia hora por vez. Durante nossa visita, os três vasos sanitários nos pátios estavam entupidos por fezes, havia esgoto correndo a céu aberto pelos pátios da prisão e o lixo se acumulava por toda parte”, diz o relatório.

“Com três vezes mais detentos que sua capacidade, as péssimas condições sanitárias e de ventilação, aliadas à superlotação e à falta de cuidados médicos adequados, fazem com que doenças se espalhem entre os presos”, destaca Maria Laura Canineu, diretora do escritório Brasil da Human Rights Watch.

“Chaveiro é um mal necessário”

“Com a grande quantidade de presos e os últimos dez anos de crescimento carcerário, o estado infelizmente saiu de dentro da cadeia”. A frase é de Eden Vespaziano, Secretário Executivo de Ressocialização de Pernambuco, e foi confessada à Human Rights Watch. Prova disso é a existência dos chaveiros, presos condenados por crimes graves, como homicídio, escolhidos pelas autoridades para impor respeito aos demais. “Os chaveiros são um mal necessário, pois não temos efetivo suficientes”, disse um diretor.

O relatório aponta que os chaveiros abusam de seu poder de várias formas. Vendem espaços para dormir, traficam drogas e cobram propinas. “Uma vez que os leitos de cimento são escassos, os chaveiros cobram por barracos – cubículos de madeira feitos por outros presos – a preços que vão de R$ 600 a R$ 2 mil”, destacaram os defensores de direitos humanos. “Alguns presos compram drogas dos chaveiros a crédito e seus familiares do lado de fora são obrigados a trazerem dinheiro no fim de semana para pagar a dívida”, diz um outro trecho do documento.

O documento também destaca a necessidade de ampliação das audiências de custódia, cuja função é prevenir a prisão ilegal e evitar a superlotação. Para se ter uma ideia, no Maranhão, a iniciativa levou os juízes a decidirem que 60% dos detidos não deveriam permanecer presos enquanto aguardavam julgamento e ordenaram sua libertação. No dia 14 de agosto de 2015, Pernambuco instituiu seu próprio programa de audiências de custódia, embora restrito apenas ao Recife.

Ao final, o documento faz uma série de recomendações ao estado, à Justiça e ao Ministério Público, ao governo federal e Congresso Nacional para solucionar a situação de grave violação de direitos humanos nas unidades prisionais do estado. O Diario tentou falar com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Uma cidade pichada nas alturas

Do Diario de Pernambuco, por Marcionila Teixeira

Maria Diva Leite tem 62 anos e sofre de insônia. Noite após noite, costuma permanecer em uma cadeira de plástico próxima à janela da frente de seu apartamento. Percebe em silêncio o movimento da rua. Diva tem uma curiosidade: deseja saber como pichadores escalaram o prédio de seis andares onde mora, na Avenida Barão de Souza Leão, em Boa Viagem. Há cerca de seis meses, eles deixaram as pastilhas da parte mais alta do edifício marcadas com tinta preta. “Moro aqui há quase vinte anos e essa foi a primeira vez que vi o prédio pichado. Ficamos impressionados com a altura que eles alcançaram”.

Fotos: Hesiodo Goes/Esp. DP/D.A Press
Moradores reclamam das pichações. Fotos: Hesiodo Goes/Esp. DP/D.A Press

Insatisfeitos com a pichação, moradores do condomínio de 198 apartamentos custearam a retirada dos dizeres da fachada. O resultado parece não ter dado muito certo. “Tiraram o máximo, mas ainda ficou feio”, comentou outro morador do Edifício Barão de Souza Leão, o autônomo Jairo Júnior, 52, referindo-se ao tom esbranquiçado sobre a pichação. O serviço custou R$ 1 mil.

A escalada de prédios, residenciais ou públicos, é vista como ousadia pelos moradores, mas para pichadores a modalidade é tida como a mais radical. Dificilmente é feita por apenas um indivíduo. Em grupos, costumam entrar no imóvel pela parte de fora, com a ajuda uns dos outros, inclusive subindo nos ombros. “Outras vezes, conseguem ter acesso ao prédio por dentro mesmo. Sobem as escadas até atingirem o ponto mais alto. Se um prédio é muito alto, pode ser visto de longe e o nome do pichador está no topo desse prédio, esse cara ganha respeito entre eles”, explica o pesquisador Thiago Santa Rosa, estudioso do tema em Pernambuco e autor da dissertação de mestrado Pixadores, grafiteiros e suas territorialidades: apropriações socioespaciais na cidade do Recife.

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Pichadores escalam altos prédios residenciais e comerciais no Grande Recife

A grafia dos pichadores também está no alto do Edifício Karla, um prédio de dois andares localizado na Barão de Souza Leão. “A gente acha que eles pularam o portão de ferro da frente e escalaram pela parte de trás, onde há cobogós”, raciocina o aposentado Moacir Tomaz da Silva, 81. Nenhuma das quatro famílias residentes viu ou ouviu a presença dos pichadores naquela madrugada. A “visita” teria acontecido na mesma época da ação do outro edifício na mesma rua. “Se pintar eles vêm de novo. Então o pessoal quer deixar como está”, lamenta Moacir.

A ação do pichador costuma durar poucos minutos, daí a dificuldade em flagrá-los. O vendedor Flávio Leal, 51, já deu de cara com um deles no  Edifício Duque de Caxias, em Santo Amaro. “Era noite e, ao virar o rosto para a janela eu o vi”, disse.

Apesar da incidência, o crime é pouco denunciado

A pichação é considerada crime pela lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. A média de reclamações pelo Disque-Denúncia é de quatro por ano. A pena prevista é detenção de três meses a um ano, além de multa. Se é feita em monumento ou coisa tombada, a pena sobe para seis meses a um ano. Pela mesma legislação, o grafite também é considerado crime quando feito sem autorização do proprietário ou órgão responsável pelo suporte a ser pintado. A pena de detenção é de três meses a um ano, além de multa.

“O grafite tem como uma de suas principais características ser feito sem autorização. Visto por este ponto, pichações e grafite se igualam para a lei e em sua aplicação nas ruas pouco importa se é uma assinatura ou um painel multicolorido que está sendo pintado, se não foi autorizado pelo proprietário, se está transgredindo a propriedade privada”, ressalta o pesquisador Thiago Rosa.

Apesar de considerada crime, a pichação também tem sido cada vez mais analisada como fenômeno cultural. O documentário Pixo, com 61 minutos de duração, relata o impacto da pichação na cidade de São Paulo e sua influência internacional como uma das principais correntes da street art. O documentário mostra a realidade dos pichadores, os conflitos com a polícia.Os diretores defendem que o filme fornece argumentos para o debate da pichação ser crime ou arte.

Governo prepara coordenadores de segurança pública para Enem

Do Ministério da Justiça

O Ministério da Justiça concluiu em Brasília a capacitação dos coordenadores de segurança pública dos 26 estados e do Distrito Federal para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece nos dias 24 e 25 próximos. São eles que farão o monitoramento dos 30,4 mil policiais estaduais e federais escalados para garantir a tranquilidade no acesso e realização das provas em todo o Brasil.

Provas serão nos dias 24 e 25. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Provas serão realizadas nos dias 24 e 25. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

O Curso de Gestão de Ações Integradas contou com 50 participantes que atuam como gestores em Centros Integrados de Comando e Controle (CICCs) ou Centros de Operações nas 27 capitais. Foram capacitados gestores de Polícias Militares e também de Polícias Civis de todo o país, além da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal.

“Padronizamos no Curso os procedimentos de uso e gestão dos Centros, bem como o alinhamento técnico da coordenação de planejamento e de execução operacional integrada para o Enem e para a segurança pública em geral. Afinal de contas, esses profissionais continuarão servindo à população após o Exame, seja no serviço diário ou em operações integradas interestaduaise nacionais”, explica a secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki.

O treinamento foi realizado em parceria com o Ministério da Educação e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça (Sesge/MJ). As aulas aconteceram de terça (12) a sexta-feira (16), no Centro de Trteinamento do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal e no Centro Integrado de Comando e Controle Nacional (CICCN), em Brasília.

A solenidade de encerramento do Curso contou com o ministro da Educação, Aloízio Mercadante, após a entrevista coletiva, realizada nesta sexta-feira, sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que aconteceu no Centro Nacional de Comando e Controle, em Brasília, de onde será feito o monitoramento do exame.

CENTROS INTEGRADOS – O Ministério da Justiça prepara a implantação de novos CICCs em 15 estados do Brasil. O investimento supera R$ 300 milhões. Por meio de tecnologia e inteligência, as unidades deverão reforçar as políticas públicas de enfrentamento ao crime e à violência nas cinco regiões do país.

“Nossa premissa é atender, de forma padronizada, às demandas do dia a dia e identificar o nível de criticidade que se espera da atuação desses Centros em cada estado”, afirma a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki. “Também envolvemos nesse trabalho outras áreas, como defesa civil, trânsito e saúde, que poderão trabalhar de forma integrada em um único prédio”, acrescenta.

Técnicos do Ministério da Justiça já finalizaram a primeira fase de modelagem do projeto. Em três meses, a comitiva esteve em Teresina (PI), Rio Branco (AC), Aracaju (SE), Maceió (AL), São Luís (MA), Campo Grande (MS), Vitória (ES), Florianópolis (SC), João Pessoa (PB), Boa Vista (RR), Belém (PA), Goiânia (GO), Macapá (AP), Porto Velho (RO) e Palmas (TO).

As reuniões envolveram gestores de Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Perícia Criminal, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, além de Guardas Municipais, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Defesa Civil entre outros setores.

Participam da iniciativa equipes da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) e da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge), vinculadas ao ministério. A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) presta apoio técnico de infraestrutura.

Taxa de homicídios de mulheres negras é mais que o dobro da de mulheres brancas

Da Agência Brasil

A taxa de mulheres negras vítimas de homicídios no país é mais que o dobro da de mulheres brancas. Para cada 100 mil habitantes, o número é de 7,2 e 3,2 respectivamente. Os dados estão no Diagnóstico dos Homicídios no Brasil: Subsídios para o Pacto Nacional pela Redução de Homicídios, divulgado nessa sexta-feira pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça.

Perfil etário das vítimas - mulheres negras

O documento foi elaborado para subsidiar políticas públicas de combate à violência em conjunto com os estados e municípios como parte de um pacto para reduzir as mortes violentas em 81 localidades que concentram cerca de 50% do total de homicídios dolosos registrados no Brasil.

É na faixa etária dos 15 aos 29 anos que está a maior parte das vítimas mulheres. Para as jovens negras, a taxa de mortes violentas é de 11,5 por 100 mil habitantes, enquanto para as jovens brancas é de 4,6. Os dados são do último levantamento do Datasus, de 2013.

De acordo com a publicação, os homicídios de mulheres estão relacionados a causas e fatores de risco diferentes dos homens. No caso deles, os homicídios parecem estar mais relacionados à participação em gangues, envolvimento com drogas e conflitos interpessoais. As mulheres são vítimas de questões relacionadas a conflitos familiares e têm como algozes, na maioria das vezes, os seus parceiros.

Perfil etário das vítimas - mulheres brancas

A secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, disse que os dados levantados pelo diagnóstico servirão para definir metas e ações voltadas para a redução da criminalidade e do número de homicídios no país. “A partir dessa pesquisa, vamos buscar, focalizar, ações não só de polícia para dentro das áreas críticas. Nossa meta a ser atingida é reduzir cerca de 5% ao ano [o número de homicídios]”, disse Regina Miki

Negros e jovens

Ao tratar dos perfis de vulnerabilidade e vitimização no país, o relatório mostra que os negros – somatória de pretos e pardos, segundo o Censo 2010 – representam 50,7% da população do país e corresponderam a 72% das mortes por agressão. A de brancos e amarelos, o número é de 26%.

Os jovens com idade entre 15 e 29 anos estão no topo da pirâmide das mortes causadas por homicídio no país. O percentual de assassinatos dessa parcela da população chega a 52,9% do geral, de acordo com o Datasus, do Ministério da Saúde. Quando os dados sobre os jovens são desagregados por cor/raça, é possível ver a concentração de mortes para os jovens negros, cuja taxa por 100 mil habitantes é de 79,4. Para os jovens brancos, ela é de 26,6.

Servidores da SDS farão doação de sangue para o Hemope

Nestas quinta e sexta-feiras, a Secretaria de Defesa Social (SDS) estará com um posto de coleta de doações de sangue no Centro Integrado de Comunicação. A ação é uma continuidade da Campanha “o Heroísmo corre em suas veias”, fruto de uma parceria firmada com a fundação Hemope no mês de agosto. As doações podem ser feitas das 08h30 às 12h e das 13h30 às 17h, na Rua São Geraldo, Nº 126, Santo Amaro.

A campanha conjunta vem realizando palestras de conscientização com os profissionais de segurança pública do estado sobre a importância de cada um fazer a sua doação, a fim de abastecer o banco de sangue do Hemope e contribuir com o salvamento de mais vidas.São requisitos para doar sangue, ter idade entre 16 e 69 anos, ter peso acima de 50 kg e ter uma boa saúde. É necessário apresentar um documento oficial de identificação, não ter tido hepatite, malária ou doenças de chagas, nem risco acrescido para doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis e AIDS.

Visando a proteção da saúde do doador é relevante não ingerir bebidas alcoólicas 12 horas antes da doação, comparecer ao posto de coleta já alimentado, obedecer ao intervalo de doação de três meses para homens e quatro meses para mulheres, não está grávida ou amamentando e não fazer uso de medicação controlada.

Se você atende aos requisitos para ser um doador de sangue, junte-se à SDS e contribua para alimentar um banco que pode salvar vidas.

Com informações da assessoria de imprensa

Cidades sem roubos e assassinatos

Do Diario de Pernambuco, por Ed Wanderley

Há três anos, o município de Ingazeira no Sertão do Pajeú, a 390 km do Recife, não sabe o que é um homicídio. É a recordista de Pernambuco, sem registro de assassinato desde março de 2012. A 80 km dali, outra cidade salta aos olhos: Calumbi, desde janeiro de 2013 sem qualquer assalto. As cidades fogem à escalada da violência no estado, desde 2014.

Menor cidade pernambucana, Ingazeira tem pouco mais de 4,5 mil habitantes. Possui um distrito quase do tamanho do Centro, onde, pela manhã, é fácil encontrar moradores sob a sombra das árvores ou conversando nas calçadas. Já são 42 meses desde a última vez em que a população teve de lidar com um assassinato em seu perímetro. “Aqui é bom demais. Não era assim. Antigamente era violento, tinha briga, tanto que a cidade acabou não desenvolvendo”, conta o aposentado Cícero Ribeiro Sobrinho, 84.

Para a promoção de tanta tranquilidade, não faltam “pais”. O prefeito Luciano Torres Martins atribui a realidade ao trabalho preventivo com crianças entre 8 e 12 anos, por meio de aulas de policiais militares durante o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência. “Assim, eles acabam influenciando os pais, o que evita problemas. O que mais temos aqui é problema com perturbação do sossego e outras questões leves”, afirma, acrescentando, no entanto, que 12 guardas municipais foram contratados pelo poder municipal para proteger o patrimônio público (porque “a farda já intimida”) e anunciando a instalação de oito câmeras de monitoramento no centro comercial, ao custo de R$ 6 mil. Diz ainda que o município não dispõe de orçamento fixo para segurança pública por não haver demanda para isso.

Já o chefe de estatística do 23º Batalhão da Polícia Militar, capitão Marcos Antônio Barros das Neves, aponta o patrulhamento e a conscientização dos habitantes, por parte da polícia, sobre cidadania – bem como as investidas contra possíveis áreas de uso de drogas e recolhimento de armas – como o fator crucial para colocar sua área de segurança como uma das de melhor desempenho dentro do programa Pacto pela Vida, atingindo, inclusive, os padrões aceitáveis da Organização Mundial da Saúde no que diz respeito à taxa de homicídio inferior a 10 mortes por 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia, em Jaboatão dos Guararapes, essa taxa foi de 48,5 em 2014.

Quem vive na cidade, pensa um pouco diferente. O fato de conhecer uns aos outros e de a cidade não ser visitada por muitos “forasteiros” são determinantes para a sensação de paz. “A polícia passa por passar. Mesmo com festa, não tem problema”, argumenta Maria Aparecida Alves. O fato de “existir por existir” não chega a ser incomum no município onde a delegacia praticamente não tem fachada identificada e fica junto a uma cadeia pública, que, segundo a PM, foi inaugurada há anos sem nunca ter recebido qualquer preso, além de bodes de criadores locais.

Diálogo e atenção inibem roubos

A 360km do Recife, Calumbi não é diferente de Ingazeira. Seus 5,8 mil habitantes aprenderam a não conviver com crimes – há 34 meses não há registros de assaltos no município. Como não há ocorrências de roubos a banco ou sequestros, por exemplo, seria o mais próximo de uma “capital da paz do ano”, não fosse a decapitação de um agricultor por seu filho, em setembro deste ano.

“É o tipo de coisa que a polícia não consegue evitar. Questão de droga somada à crime de proximidade, fora da área urbana”, defende o delegado Williams Cavalcanti Lacerda. Ele acredita que como toda transgressão registrada no município, nos dois anos de sua atuação, é remetida à Justiça e há ouvidas oficiais, há uma espécie de “presença” da polícia no imaginário da população local, o que inibiria crimes mais graves. “Aqui só tem Maria da Penha e agressão por conta de álcool”, minimiza.

O prefeito Erivaldo José atribui a tranquilidade aos investimentos feitos em educação e ao fato de 70% da população residir na zona rural, dificultando intrigas. “Problema maior é quando vem gente de fora, em especial de Serra Talhada. Um grande aliado é o 190 (emergência policial telefônica)”, garante, afirmando não haver recursos destinados à segurança pública no município além de palestras em escolas por parte da Polícia Militar.
Para o secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, diferentemente do que ocorre na Região Metropolitana do Recife, é a cultura do sertanejo que contribui para a queda da violência no Pajeú. “Todo mundo se conhece, tem uma relação e eles têm uma cultura mais apurada sobre o valor do trabalho e dos princípios morais”, diz.

Desde 2014, assim como Ingazeira, não possuem registros de homicídio as cidades de Granito, Itacuruba e Vertente do Lério. A exemplo de Calumbi, estão sem assaltos Quixaba e Solidão.

Abertas inscrições para especialização em Segurança Pública e Ciências Criminais do IBCJUS

Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas (IBCJUS) abriu as inscrições para o curso de pós-graduação lato sensu em Segurança Pública e Ciências Criminais. É destinado a advogados, policiais civis, policiais militares, bombeiros militares, papiloscopistas, guardas municipais, policiais federais, policiais rodoviários federais, agentes penitenciários, delegados e servidores públicos em geral.

Aulas acontecerão no prédio azul da Polícia Civil. Foto: Google Street View
Aulas acontecerão no prédio azul da Polícia Civil. Foto: Google Street View

Com coordenação geral dos advogados Adeildo Nunes e Carlos Macambira e coordenação científica do advogado Elidário Gois, a especialização é uma oportunidade de capacitação a partir de um conteúdo programático criteriosamente selecionado, atual e, sobretudo, capaz de abranger temáticas de extrema importância prática e teórica sobre a segurança pública e ciências criminais.

O curso procura atender tanto uma crescente demanda de profissionais e acadêmicos, quanto às necessidades da administração de formação de recursos humanos qualificados para o exercício da função pública. Aos aprovados será assegurado o certificado autorizado pelo MEC, credenciado pela Faculdade de Ciências Exatas e Humanas do Sertão do São Francisco (FACESF).

A carga horária total será de 360 horas. As aulas terão início no dia 16 de novembro e serão ministradas as segundas e terças-feiras, das 18h às 22h, no auditório da Polícia Civil, na Rua da Aurora, no bairro da Boa Vista, no Recife. As inscrições poderão ser feitas no site www.ibcjus.org.br. Outras informações pelo telefone: (81) 3423-5100.

Com informações da assessoria de imprensa

MPPE fará controle externo da atividade policial

Do Ministério Público de Pernambuco

O procurador-geral de Justiça, Carlos Guerra de Holanda, publicou duas portarias que especificam as Promotorias de Justiça da Capital e as Promotorias de Justiça de 1ª e 2ª entrância das 14 Circunscrições Ministeriais responsáveis pelo controle externo da atividade policial no segundo semestre de 2015. As portarias atendem às determinações do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), definidas no IV Encontro Nacional de Aperfeiçoamento da Atuação do Ministério Público no Controle Externo da Atividade Policial.

Aúreo Cisneiros rebateu números da SDS. Foto: Sinpol/Divulgação
Situação das delegacias, do IML, do IC já foi denunciada pelo Sindicato dos Policiais Civil. Foto: Sinpol/Divulgação

De acordo com a Portaria nº 1.802/2015, que se refere às Promotorias de Justiça da Capital, os membros do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) devem vistoriar as Delegacias de Polícia, o Instituto de Medicina Legal (IML), o Instituto de Criminalística (IC) e as repartições da Polícia Militar de nível igual ou superior a batalhão. Todas as instalações policiais existentes e os promotores de Justiça criminais, de Direitos Humanos, de Execução Penal e da Central de Inquéritos da Capital foram divididos em onze grupos designados pela portaria. Cabe a cada um desses grupos a fiscalização, que ficará a cargo de um membro a ser escolhido em comum acordo pelos componentes do grupo. As visitas devem ser realizadas nos meses de outubro ou novembro.

Os membros de cada grupo deverão comunicar ao Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça Criminal (Caop Criminal) e à Corregedoria Geral do MPPE os nomes dos Promotores de Justiça responsáveis pelas inspeções e as respectivas delegacias policiais, unidades do IML, do IC e repartições da PM que serão visitadas. Caso o membro necessite do apoio do Caop Criminal para realizar as inspeções, deverá solicitá-lo com, no mínimo, dez dias de antecedência. O Caop Criminal providenciará o apoio logístico e humano necessário para a realização das visitas.

Nas demais Promotorias de Justiça das 14 Circunscrições Ministeriais, o exercício do controle externo da atividade policial civil e militar recairá sobre os promotores de Justiça criminais, de Direitos Humanos e, quando houver, das Centrais de Inquéritos, conforme a RES-CPJ n.º 12/2006.

Ainda segundo a Portaria nº1.829/2015, que dá as instruções para os promotores das 14 Circunscrições, os coordenadores de Circunscrição e de Sede deverão organizar as inspeções nos órgãos de Polícia de suas circunscrições, ouvindo os demais membros. Além disso, são os responsáveis por encaminhar ao Caop Criminal e à Corregedoria Geral do MPPE, no prazo de 15 dias da publicação da Portaria, os nomes dos Promotores de Justiça responsáveis pelas inspeções.

No prazo de dez dias após realizar as visitas, todos os Promotores de Justiça deverão preencher e encaminhar o formulário de visita técnica, por meio do sistema disponibilizado pelo CNMP, através de senha pessoal previamente cadastrada através da Corregedoria Geral do MPPE. As tabelas com a listagem das repartições policiais e dos grupos de promotores podem ser conferidas no Diário Oficial de 8 de outubro (Capital) e 3 de outubro (14 Circunscrições).

Comitê da ONU critica violência policial contra crianças no Brasil

Da Agência Brasil

O Comitê sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou relatório em que critica a violência policial contra crianças e a discriminação estrutural no Brasil contra negros, indígenas, crianças com deficiência e outras minorias. De acordo com a ONU, o alto número de execuções extrajudiciais por parte da Polícia Militar, milícias e Polícia Civil aumenta conforme a impunidade diante dessas violações torna-se generalizada.

Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press
Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press

A tortura e desaparecimento forçado de crianças por meio desses agentes também foram reprovados pela organização, que pede a investigação de todos os casos, incluindo os autos de resistência vindos de agentes públicos. Entre os problemas apontados está a grande participação de crianças em conflitos armados e em organizações criminosas, tendo como origem a pobreza, marginalização e o abandono da escola.

pesar do Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, segundo o comitê, o Brasil apresenta uma das maiores taxas de homicídio infantil do mundo, sobretudo de jovens homens e negros. A remoção forçada de crianças da rua para instituições de jovens infratores sem provas concretas contradiz o Estatuto da Criança e do Adolescente e também é alvo de críticas.

O relatório trata das condições de vida das crianças no Brasil e foi elaborado por 18 peritos independentes da ONU com base em informações fornecidas pelo governo brasileiro e a sociedade civil. Ele parabeniza programas como o Mais Médicos, Bolsa Família e Brasil Sem Miséria, mas destaca a urgência de novas medidas que protejam os direitos das crianças, principalmente as mais vulneráveis, como indígenas, negras e com deficiência.

Apesar de elogiar a adoção de políticas educacionais inclusivas, a organização critica o ensino ainda segregador para crianças com deficiência. O documento também destaca o alto número de adolescentes grávidas, principalmente entre 10 e 14 anos, em situação de vulnerabilidade e critica a criminalização do aborto no Brasil, que vitimiza adolescentes.

O comitê ainda mostrou preocupação com as 250 mil remoções forçadas em razão das obras da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas de 2016, sem compensar os moradores de forma justa, afetando seus meios de vida e o bem-estar e desenvolvimento das crianças.

O relatório completo, em inglês, está disponível na página do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

PCC pode estar envolvido no plano de fuga do Complexo do Curado

Cinco pessoas foram presas suspeitas de estarem envolvidas na escavação do túnel que foi descoberto ontem no quarto de uma casa localizada ao lado do Complexo Prisional do Curado, no bairro do Sancho, Zona Oeste do Recife. Após investigações, o serviço de inteligência da Polícia Militar foi ao local e prendeu três pessoas em flagrante, entre eles, uma mulher que seria esposa de um presidiário que cumpre pena no Presídio Frei Damião de Bozzano, o mais próximo do imóvel onde a escavação era feita.

Túnel estava sendo construído de dentro de uma casa. Fotos: TV Clube/Reprodução
Túnel estava sendo construído de dentro de uma casa. Fotos: TV Clube/Reprodução

Segudo a polícia, o buraco fica a cerca de 120 metros do pátio da unidade prisional. As três pessoas presas dentro da casa foram identificadas como Luciana, que seria a mulher do detento, Renato Correia dos Santos, 25, responsável por alugar a casa, e Wilson Barbosa de Oliveira, 21. Wilson e Luciana afirmaram que apenas foram contratados para levar ventiladores até o imóvel. Segundo a Secretaria de Ressocialização, a cratera tinha um metro de diâmetro, no entanto, o comprimento ainda não foi medido. Uma sindicância foi aberta para investigar quais presidiários estão envolvidos do no plano de fuga. A suspeita é de que presos do Primeiro Comando da Capital (PCC) esteja envolvidos.

Suspeitos estavam usando iluminação para trabalhar à noite
Suspeitos estavam usando iluminação para trabalhar à noite

O imóvel onde o túnel foi encontrado foi alugado há cerca de 15 dias pelo valor de R$ 450 por mês. Após o flagrante, outros dois suspeitos foram presos em Curcurana, Jaboatão dos Guararapes. Eles foram identificados como Elvis Antônio dos Santos, 20, e Marcos Ferreira da Silva Júnior, 21.

Todos foram levados para a Central de Plantões da Capital, em Campo Grande, para prestar depoimentos. Com os suspeitos foram apreendidos ventiladores, pás, enxadas e fiação que seria usada no túnel. Vários sacos com areia foram encontrados dentro da casa. Segundo um morador da localidade, os suspeitos agiam sem chamar muita atenção. “Não tinha muito movimento na casa e eles faziam tudo em silêncio”, disse um aposentado.

 

De acordo com o secretário Pedro Eurico, esse foi o primeiro túnel encontrado na área externa da unidade prisional neste ano. No entanto, outros oito túneis foram descobertos dentro do Complexo Prisional em 2015. “Foi uma ação inusitada, mas que não foi concretizada. O que posso dizer é que o estado não tolera a fuga de presos.” No último dia 6, um túnel foi encontrado no Presídio Frei Damião de Bozzano. Nenhum detento conseguiu escapar