Projeto de lei propõe criação do Disque-Denúncia da Mulher

Apenas no mês de janeiro, o estado de Pernambuco registrou 20 assassinatos de mulheres. O número alto tem preocupado as autoridades policiais e agora também a Assembleia Legislativa de Pernambuco. O deputado estadual Zé Maurício (PP) está propondo a criação de um Sistema Integrado Estadual de Registro de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher no estado de Pernambuco denominado (Socorro Mulher – PE). A ideia é integrar todos os órgãos de atendimento à mulher vítima de violência doméstica. Além dessa integração, está sendo proposta ainda a criação do Disque-Denúncia da Mulher, onde as mulheres ou seus familiares e conhecidos possam fazer denúncias sobre agressões sem precisar se identificar.

Deputado falou sobre projeto no plenário. Foto: Alepe/Divulgação
Deputado falou sobre projeto no plenário. Foto: Alepe/Divulgação

O objetivo do serviço será atender, acolher, orientar e encaminhar as vítimas para os  serviços da Rede de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres no estado. “Depois da Maria da Penha, testemunhamos uma coragem maior das mulheres para denunciarem o crime, mas percebemos também a urgência de um número maior de ações para fazer um trabalho preventivo, de conscientização, capaz de evitar que a agressão se concretize”, relatou o deputado. No Brasil, 4 mil mulheres são mortas por ano. O país está em 7º lugar em taxa de homicídios contra as mulheres e 70% dessas vítimas são mortas por companheiros e ex-companheiros.

Segundo a proposta, devem ser anexados documentos como Boletim de Ocorrência, exame de corpo de delito, ficha de notificação compulsória de casos de violência doméstica e familiar. Caso seja aprovado, o projeto de lei pretende diminuir o período de tramitação dos processos cíveis e criminais. “Com essa proposta, iremos conseguir traçar um perfil dos agressores de mulheres, saber que tipo de violência é praticada e quais os motivos das agressões”, acrescentou Zé Maurício. Agora, o projeto precisa passar pelas comissões de Justiça e Cidadania da Assembleia Legislativa para depois ir parar nas mãos do governador Eduardo Campos. “Tenho certeza que o governador irá aprovar esse projeto que vai contribuir muito na redução da violência contra a mulher”, finalizou o deputado.

A importância do Disque-Denúncia no caso Maristela Just

Há mais de dois anos, as polícias de Pernambuco e até a Interpol estiveram empenhadas em encontrar e prender o ex-comerciante José Ramos Lopes Neto, 47 anos. Acusado de matar a ex-mulher Maristela Just, atirar nos dois filhos pequenos e no cunhado, em 1989, ele estava foragido até essa segunda-feira, quando foi preso no bairro do Espinheiro, no Recife. A Justiça condenou José Ramos à revelia a uma pena de 79 anos de prisão. O fim dessa procura que parecia impossível, passados os 23 anos de impunidade, acabou após um telefonema para o serviço do Disque-Denúncia. O homem acusado de um dos homicídios e tentativas de homicídios que mais chocaram o estado, enfim, foi capturado. O denunciante vai receber nesta terça-feira o valor de R$ 10 mil pela informação que levou o Grupo de Operações Especiais (GOE) até o local onde o procurado estava. De cabelos e barba longos, José Ramos foi levado para a sede do GOE e depois para o Centro de Triagem, em Abreu e Lima.

Denúncias podem ser feitas pela internet. Foto: Heitor Cunha/DP/D.A/Press

Segundo o Disque-Denúncia, dos R$ 10 mil que serão pagos, R$ 7 mil foram dados pela família de Maristela Just e o restante pelo próprio serviço. Se você tem informação que possa levar à prisão pessoas acusadas de crimes ou até mesmo sobre tráfico de entorpecentes, maus-tratos contra idosos, perturbação de sossego e outras coisas, você pode telefonar para o número (81) 3421-9595 para a Região Metropolitana do Recife, (81) 3719-4545 para o interior do estado ou ainda pela internet no site www.disquedenunciape.com.br.

Nathália e Zaldo Just, filhos de Maristela, estão em São Paulo. Foto: Arquivo Pessoal

Os dois jovens que aparecem na foto acima são os filhos do casal José Lopes e Maristela. Nathália e Zaldo perderam a mãe e o pai muito cedo. Maristela por ter sido assassinada pelo ex-marido. José por ter assassinado a ex-mulher, naquele momento, também morreu para os filhos, que lutaram até agora para que a justiça pela morte da mãe fosse feita. “Estamos aliviados com a prisão de José Ramos”, disseram os jovens. Ambos estão em São Paulo e devem vir a Pernambuco no final deste ano. A prisão de José Ramos Lopes foi destaque em toda a imprensa pernambucana nesta terça-feira e manchete do Diario de Pernambuco. Confira abaixo a capa do caderno Vida Urbana que também destacou a prisão do ex-comerciante. A cobertura da edição impressa foi realizada pelas repórteres Marcionila Teixeira e Alice de Souza.

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Campanha para divulgar Disque-Denúncia pela internet

 

O Disque-Denúncia vai intensificar a campanha de divulgação do seu serviço de recebimento de informações pela internet. Até essa sexta-feira, mais de 300 denúncias já haviam sido recebidas pelo site www.disquedenunciape.com.br, que funciona 24 horas. Segundo o órgão, os municípios do interior foram responsáveis, até o momento, por cerca de 25% das denúncias enviadas pela internet. Serão distribuídos em todo o estado 50 mil folderes, 10 mil cartazes, e ainda espalhados outbus e outdoors ressaltando a importância da denúncia de crimes. O anonimato do denunciante será garantido pelo órgão e as informações serão repassadas para a polícia imediatamente, podendo gerar inclusive prisões em flagrante dos acusados.

Com o novo formato, as denúncias podem vir acompanhadas de fotografias, vídeos e até documentos que possam ajudar a identificar os criminosos. Após passar por uma análise rigorosa, esse material poderá servir como prova nas investigações policiais. Segundo a superintendente do Disque-Denúncia, Carmela Galindo, a campanha tem como objetivo alcançar um público maior de denunciantes nas regiões do Agreste e Sertão do Pernambuco. “Vamos reforçar nossas campanhas nas cidades do interior e continuar a realizar as reuniões com os delegados, comandantes de batalhões e com as escolas desses municípios para divulgar mais a nossa campanha pela internet”, ressaltou Carmela Galindo

Já na Região Metropolitana do Recife (RMR), que recebe a maior quantidade de denúncias, nos dez primeiros dias de funcionamento do serviço, os bairros do Ibura e Boa Viagem foram os que mais enviaram denúncias. Um total de 16 informações chegou do bairro do Ibura e 11 do bairro de Boa Viagem, ambos na Zona Sul do Recife. O terceiro lugar na capital pernambucana ficou com o bairro de Areias, de onde chegaram 10 queixas. No município de Jaboatão dos Guararapes, o líder de denúncias é o bairro de Piedade com cinco recebimentos. Em segunda colocação está Cajueiro Seco com quatro. Já em Olinda, cinco denúncias chegaram do bairro de Ouro Preto e quatro de Rio Doce.

 

Serviço:

Disque-Denúncia

Site: www.disquedenunciape.com.br

Fone: 3421-9595

Quando a população vira um investigador

 

Cada vez mais, a sociedade tem procurado ajudar a polícia a diminuir a criminalidade. Muitas vezes, essa iniciativa ganha corpo porque as pessoas estão descrentes na Justiça e cansadas de verem criminosos agirem livremente aos olhos de todos. As denúncias anônimas pela internet têm motivado a população colaborar mais com as investigações policiais. Em uma semana, o novo serviço do Disque-Denúncia recebeu 257 informações referentes a crimes cometidos no estado. O tráfico de drogas ocupa o primeiro lugar no ranking. Foram 92 casos. Na segunda colocação está a queixa sobre poluição sonora, que somou 47 reclamações e em terceiro lugar, a violência doméstica, com 21. As demais denúncias são de outros tipos de crimes.

Facilidade em prestar informações pelo site e a garantia do anonimato têm incentivado as denúncias (HEITOR CUNHA/DP/D.A PRESS)

Qualquer pessoa pode entrar no site www.disquedenunciape.com.br e denunciar. Foto: Heitor Cunha/DP.D.A Press

O que a população talvez não saiba é que todo o material que será enviado para a polícia poderá ser transformado em provas materiais. O que torna o cidadão um detetive auxiliando a polícia. As fotografias, os vídeos e outros documentos que comprovam crimes poderão servir como provas na investigação policial. O chefe da Polícia Civil de Pernambuco, delegado Osvaldo Morais, adianta que tudo o que for enviado será analisado e submetido a uma perícia antes de ser considerado uma prova.

A estudante Amanda Lacerda, 18 anos, aprovou o novo modelo de fazer denúncias, apesar de ainda não ter utilizado o serviço. “Isso vai encorajar mais as pessoas a denunciarem os crimes que acontecem aqui em Pernambuco. Agora, posso fazer uma denúncia pela internet sobre crimes”, ressaltou a estudante.

O assunto foi manchete do Diario de Pernambuco desta quinta-feira. Confira reportagem completa na edição impressa publicada na editoria de Vida Urbana.

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Agressões contra mulheres ainda são muitas

 

Brasília – Mais de 329 mil mulheres que procuraram o serviço de denúncia de violência contra o gênero, o disque 180, sofreram algum tipo de violência nos últimos seis anos. A maioria delas, cerca de 47%, relataram que essa situação ocorrera diariamente. Os dados são do balanço da Secretaria de Política para as Mulheres, divulgados nessa terça-feira, dia em que a Lei Maria da Penha, fonte de mais rigor para a punição de crimes de violência doméstica, completou seis anos de vigor. Os números vieram acompanhados da atualização do Mapa da Violência 2012 – Homicídio de Mulheres no Brasil, com base nos dados de 2010, que mostra que a taxa de homicídios de mulheres só caiu no ano seguinte ao da promulgação da lei, em seguida continuou a aumentar, chegando à marca de 4.465 em 2010, um aumento de 20% comparado a 2007, e de 230% comparado ao ano 2000.

A secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves, explica que os dois dados refletem lados diferentes da mesma história. Enquanto os números da secretária indicam o crescimento de ligações, chegando ao total de 2,7 milhões de atendimentos nos últimos seis anos, com um aumento de 30% nas ligações comparando os seis primeiros meses do ano passado com o mesmo período deste ano, os crimes contra as mulheres ganharam mais requintes de crueldade. Na opinião dela, é como se as mulheres estivessem mais decididas a denunciar e dar um basta na situação, só que os homens têm reagido mal. “É o sentimento de posse. Temos vistos casos de cárcere privado, de mulheres que ficam mais de 36 horas com uma arma apontada para cabeça delas. São tiros na vagina, rostos desconfigurados”.

 

Na maioria dos casos, as agressões são cometidas pelo próprio companheiro (DANIEL FERREIRA/CB/D.A PRESS)
Na maioria dos casos, as agressões são cometidas pelo próprio companheiro

Para Aparecida, entretanto, a lei surtiu efeito no pensamento feminino. “Aumentou a coragem de não querer mais sofrer também por saber que ela não está sozinha, que o estado, o mesmo que antes não tinha nenhuma postura, tem dado apoio”. A farmacêutica Maria da Penha, que dá nome à lei, concorda que a regra promoveu a igualdade de gênero, mas ressalta que ainda faltam políticas públicas de acolhimento e mais delegacias e órgãos especializados. “A população se apropriou do seu direito, mas ainda é preciso que se repense a reestruturação do poder Judiciário”.

Maria da Penha lembra que a legislação mudou porque, depois de mais de 15 anos lutando pela punição do seu agressor, ela conseguiu enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que condenou o Brasil por negligência e omissão em relação à violência doméstica e exigiu que se mudasse a lei. Mesmo com a nova norma em vigor, o país está entre os dez piores no ranking mundial mais recente da Organização Mundial da Saúde, que calcula mortes para cada 100 mil mulheres. Nesta lista, o Brasil figura em sétimo lugar, com taxa de 4,4 morte para cada 100 mil mulheres.