Câmeras de segurança são novas armas dos moradores de Aldeia

Por Mariana Fabrício
Do Diario de Pernambuco

A insegurança dos moradores de Aldeia, em Camaragibe, vítimas de assaltos e até mortes, trouxe reflexos para Chã de Cruz, que fica a três quilômetros de Aldeia e de Paudalho. Para inibir os assaltos, os comerciantes se uniram para criar o próprio sistema de monitoramento com  câmeras espalhadas pelo centro. Ao todo são 11 equipamentos que filmam por 24  horas o movimento interno e externo dos estabelecimentos. Um investimento de R$ 15 mil dividido entre moradores para ajudar a inibir os crimes e  registrar possíveis roubos para ajudar nas investigações policiais.

Equipamentos foram instalados pela população. Fotos: Karina Morais/Esp.DP
Equipamentos foram instalados pela população. Fotos: Karina Morais/Esp.DP

O mercadinho de Joelma Sales, 32 anos, já sofreu dois assaltos em menos de  três meses e é um dos que estão sendo monitorados. “Por duas vezes, os carros de entrega foram roubados e eu fiquei sem a mercadoria para vender. É uma situação que não é vivida só por mim”, afirmou. Mesmo com o salão de beleza localizado ao lado de um posto policial, o  cabeleireiro Edson Souza, 43 anos, fez questão de investir mais em segurança e participar da cota. “Aqui estamos divididos entre os municípios de Camaragibe e Paudalho, o que nos atrapalha um pouco e atrasa reuniões com as autoridades competentes. Diante desses roubos que estão acontecendo por aqui a gente não pode ficar de braços cruzados e por isso tomei essa iniciativa e  mais gente está aderindo ao monitoramento”, contou.

Joelma já teve o mercadinho arrombado duas vezes
Mercadinho de Joelma Sales já foi assaltado duas vezes

O 20° Batalhão da Polícia Militar, responsável pela área, informou que não faz monitoramento das imagens de câmeras instaladas pela população. Mas que em caso de ocorrência ou flagrantes, as imagens podem ser informadas pelo 190, para subsidiar o trabalho da polícia investigativa. O comando do BPM disse ainda, através de nota, que está em “constante diálogo com a comunidade” através do Fórum de Segurança de Aldeia que faz reuniões semanais, às terças-feiras à noite, e ainda dispõe de um grupo nas redes sociais que conta com o apoio da gestão municipal.

De acordo com a Secretaria de Defesa Social, de janeiro até 28 de agosto 2016, as polícias Civil e Militar apreenderam 104 armas de fogo e realizaram 300 prisões, em toda a Área Integrada de Segurança (AIS 9), composta pelos municípios de Camaragibe e São Lourenço. Segundo o órgão, ocorreram 1.174 Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP) com três mortes. Em comparação ao ano passado, foram registrados 912 CVPs no mesmo período.

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Onda de crimes em Aldeia deixa moradores assustados

Onda de crimes em Aldeia deixa moradores assustados

Um local que já foi considerado um dos mais tranquilos do Grande Recife para moradia voltou a ser palco da violência. Dezoito dias depois que moradores de Aldeia, em Camaragibe, realizaram um protesto pacífico para cobrar mais segurança para a localidade, mais um crime foi registrado. Dessa vez, por volta das 5h de ontem. O estudante de direito João Lucas Ochoa de Siqueira, 22 anos, foi baleado no rosto depois que teve seu carro roubado no Km 3,5 da Estrada de Aldeia. João foi abordado por três homens numa caminhonete Strada. Eles anunciaram o assalto e um deles atirou no vidro do carro do universitário.

Estudante fico caído no chão após ter sido baleado. Fotos: João Velozo Esp./DP
Estudante fico caído no chão após ter sido baleado. Fotos: João Velozo Esp./DP

O disparo atingiu o rosto de João, que foi socorrido e levado para a Unidade de Pronto Atendimento e depois para o Hospital Português. O carro dele, um Voyage, foi encontrado no Córrego do Jenipapo, no Recife. Peritos papiloscopistas realizaram a perícia no veículo ontem à tarde e recolheram alguns objetos encontrados no automóvel. A Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) afirmou que todos os esforço estão sendo feitos para tentar conter a criminalidade no local. O caso ocorrido com João Lucas deixou assustados moradores que já pensam em criar mecanismos próprios para garantir a segurança das suas famílias.

O pai da vítima, o médico neurocirurgião e advogado Gláucio Veras, disse que o filho voltava para casa quando sofreu o assalto e que ele, mesmo sem ter reagido, foi baleado e deixado caído no chão. João foi submetido a uma cirurgia e está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ainda segundo o pai, a bala atingiu a face e saiu pelo pescoço. “Meu filho disse que não reagiu. Já tinha havido um tiroteio em outro local e eles (suspeitos) chegaram, tomaram o carro, atiraram e jogaram meu filho no chão. Em plena luz do dia, com gente, ônibus, carro, tudo passando. Não é a primeira vez que isso acontece e providência que é bom, é zero”, desabafou o médico que mora em Aldeia com a família há 22 anos.

O carro da vítima foi periciado ontem na sede do DHPP, no Cordeiro
O carro da vítima foi periciado ontem na sede do DHPP, no Cordeiro

Gláucio Veras reclamou ainda do socorro prestado ao filho. “Um caso de trauma não deveria ter sido levado para a UPA. Eu e minha mulher, que é enfermeira, chegamos na UPA e encontramos o médico pedindo pelo amor de Deus por uma senha para a ambulância levar meu filho. Arranjamos uma ambulância sem soro e dois colegas da UPA vieram. Outra ambulância do 192 precisou ir na frente abrindo caminho porque a ambulância que meu filho estava não tinha sirene. Tenho 64 anos, trabalho em hospitais há muitos anos, e nunca vi um negócio desse”, reclamou o pai.

O crime deixou assustados moradores da Estrada de Aldeia, que relatam não aguentar mais a violência que invadiu a localidade. No último dia 2, o idoso Nilton José Dias, 62, foi morto ao tentar reagir a um assalto em uma farmácia no Km 10. Dois homens entraram armados mandando todos se deitarem no chão. A vítima teria tirado uma faca da bolsa para se defender quando um dos assaltantes disparou contra ele. O suspeito do crime foi preso no dia 13, na Ilha de Itamaracá.

Tânia Andrade relata o aumento nos casos de assalto em Aldeia
Tânia Andrade relata o aumento nos casos de assalto em Aldeia

“Moro em Aldeia há 45 anos e antigamente não era violento assim. Não vou dizer que acontecem assaltos todos os dias, mas eles são cada vez mais frequentes. O caso desse rapaz mesmo aconteceu muito perto da minha casa e ninguém ouviu nada. Quando eu saí com os cachorros para passear eram 6h30 e tudo já havia acontecido. Só vi o sangue no chão e um carro abandonado”, contou Tânia Andrade, 56 anos. Ainda segundo a moradora de Aldeia, na última quarta-feira duas pessoas foram assaltadas ao lado de sua casa por homens que estavam em uma motocicleta.

A Polícia Militar informou, através de assessoria de imprensa, que o policiamento na Estrada de Aldeia e adjacências é feito pelo 20º Batalhão como o apoio de outros quatro batalhões e duas Companhias Independentes. “Estamos realizando abordagens nas rotas de fuga, vamos ampliar o programa de Olho na Rua, que tem ligação direta com alguns condomínios e estamos colocando em prática ações de combate à criminalidade. Reconhecemos as ocorrências de assaltos na área, mas estamos trabalhando para inibir os crimes. No mês passado, quatro homens que praticavam assaltos na região utilizando motos foram presos por policiais militares”, destacou o major Júlio Aragão, da comunicação da PMPE.