Pacto pela Vida fecha o mês de abril com 323 mortes em Pernambuco

O governo de Pernambuco anunciou nesta quarta-feira que o mês de abril contabilizou 323 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) em todo estado. O número é um pouco menor do que o registrado em março, quando 334 pessoas foram assassinadas. Os números foram apresentados durante reunião do Pacto pela Vida. O programa de segurança pública completa oito anos nesta sexta-feira e tem recebido muitas críticas por parte de policiais civis e militares.

Mortes em abril diminuíram em relação ao mês de marçoo. Foto: TV Clube/Reprodução
Mortes em abril diminuíram em relação ao mês de marçoo. Foto: TV Clube/Reprodução

“Foi ainda uma pequena inflexão, mas são números que vejo de forma positiva, uma avaliação de que as mudanças que fizemos no início do ano começam a dar resultados. O Pacto pela Vida é isso: um programa que é acompanhado de forma permanente, fazendo as correções de rumo necessárias para atingir o nosso objetivo, que é salvar vidas, reduzir a violência e criar uma cultura de paz”, disse o governador Paulo Câmara.

Nos quatro primeiros meses deste ano, um total de 1.304 morreram de forma violenta em Pernambuco. No mês de janeiro, 323 CVLIs foram computados no estado e 324 registrados em fevereiro. A melhor semana de 2015 ocorreu no período de 24 a 30 de abril passado, com redução de 12%. Apenas no Recife, o CVLI caiu 6,25% em comparação com abril de 2014. O CVLI contra as mulheres também teve uma redução, de 5,5% nos quatro primeiros meses do ano, comparados com 2014.

Apesar do governo do estado afirmar que o Pacto pela Vida tem dado bons resultados, quem trabalha na rua diretamente no combate à violência afirma que o programa está falido. “Não temos condições de trabalhar com segurança porque as viaturas estão velhas, os coletes à prova de bala estão vencidos e a cobrança por resultado tem sido muito grande”, desabafou um policial militar que preferiu não ter o nome publicado.

Durante a reunião do Comitê Gestor, o governador Paulo Câmara determinou a elaboração de planos de ação específicos nas regiões mais violentas, com o aprofundamento e ações preventivas a serem executadas pela Secretaria de Defesa Social e pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, respectivamente.

Com informações da assessoria de imprensa

Pernambuco registrou quase mil mortes no primeiro trimestre

A bancada de oposição da Assembleia Legislativa de Pernambuco voltou a cobrar providências para que o governo reveja as diretrizes do Pacto Pela Vida. Na manhã de ontem, o líder do grupo, deputado Sílvio Costa Filho (PTB), apresentou levantamento feito junto à Secretaria de Defesa Social (SDS), mostrando que o estado registrou quase mil homicídios nos primeiros três meses deste ano. Pernambuco registrou 323 assassinatos em janeiro e outros 325 em fevereiro. Em março, o número foi 334. 350. Mais de 10 mortes por dia. O trimestre fechou em 982 assassinatos.

Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
Média de dez mortes por dia no estado. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press

Silvio Filho observa que, em comparação com os três primeiros meses de 2014, o índice de criminalidade subiu mais de 25%. “Ano passado, neste mesmo período, a SDS registrava 803 pessoas assassinadas. Em 2015 chegamos às mil pessoas, mais 200 pessoas mortas em relação a 2014”. A bancada solicitou a realização de uma audiência pública para o próximo dia 16, para ouvir o secretário de Defesa Social, Alexandre Carvalho. O evento não foi confirmado.

O vice-líder do governo na Assembleia, deputado Lucas Ramos (PSB), argumentou que é favorável à realização da audiência pública e que o governo tem trabalhado para ajustar eventuais falhas no programa. “O pacto é uma política pública que deu certo e que reduziu consideravelmente o número de homicídios no estado nos últimos oito anos. Neste momento, é ótimo que tenhamos essa audiência para identificarmos ações que precisam ser realizadas”, disse. Lucas acrescentou que o governo Paulo Câmara está atento à questão da segurança pública.

Pacto pela Vida dá sinais de fracasso

O principal programa de combate à criminalidade em Pernambuco dá sinais de fracasso. O Pacto pela Vida, que chegou a servir de modelo de segurança para outros estados do Brasil e recebeu até prêmios internacionais, não tem conseguido mostrar a que veio há quase um ano. O assunto tem causado bastente polêmica entre as autoridades e as pessoas que levam o Pacto nas costas, que são os policiais.

Desde março do ano passado que os índices começaram a aumentar. De lá para cá, nada mudou. As mortes aumentam a cada dia e quem faz a segurança nas ruas, os policiais civis e militares, está prestes a explodir de tanta cobrança. Muitos militares estão sendo retirados de serviços administrativos para fazer policiamento ostensivo nas ruas. “Os policiais estão desmotivados. Os números estão negativos e a violência está cada dia mais alta”, confessou um PM.

Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
Um total de 324 pessoas foram assassinadas apenas neste mês no estado de Pernambuco Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press/arquivo

Segundo dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), Pernambuco registrou no mês de fevereiro pelo menos 324 assassinatos. No mesmo período do ano passado, foram 261 mortes violentas. Isso representa um aumento de 24,1%. Apenas no período de carnaval, entre a 0h da sexta-feira e as 24h da Quarta-feira de Cinzas, foram 83 assassinatos registrados pela SDS. Ainda em fevereiro houve o registro da chacina no município de Poção, no Agreste, quando quatro pessoas morreram.

Em janeiro, o estado já havia registrado altos índices de violência. O aumento foi de 23,99% para cada 100 mil habitantes. No mês inteiro, foram 321 óbitos, enquanto no mesmo período de 2014 foram contados 256.

Histórico

O aumento nos assassinatos registrados em Pernambuco começou em março de 2014 – se agravando, nos meses seguintes, por conta da greve da Polícia Militar em maio. Deste então, o governo do estado não conseguiu mais reduzir as estatísticas. O ano fechou com crescimento de 9,4% de aumento em relação a 2013.

Em oito anos do programa de segurança Pacto pela Vida, criado pelo ex-governador Eduardo Campos, foi a primeira vez que as estatísticas contabilizadas fecharam o período de 12 meses com saldo negativo.

Investimentos

Na tentativa de frear o crescimento da violência no estado, algumas medidas do governo Paulo Câmara foram apresentadas no primeiro dia útil do ano para reestruturar o programa Pacto pela Vida. A cúpula das polícias Civil, Militar e Científica foi trocada. Em janeiro, houve mudança ainda nos comandos dos batalhões da PM e das principais delegacias.

Outra ação foi aumentar o efetivo da PM em Jaboatão dos Guararapes – um dos municípios que teve maior crescimento no número de mortes em 2014. Uma turma de 1,1 mil novos policiais militares está em treinamento para irem à rua a partir do dia 1 de agosto.

Com informações do repórter Raphael Guerra

Número de assassinatos aumenta no mês de janeiro

Por Raphael Guerra

O mês de janeiro registrou aumento de 20,7% nos assassinatos, em comparação com o mesmo período de 2014, em Pernambuco. Até o dia 30, pelo menos 309 pessoas foram mortas. No ano passado, foram contabilizadas 256. O resultado negativo ainda sofrerá maior variação, já que os assassinatos que aconteceram no dia 31 ainda não foram contabilizados.

As estatísticas da SDS demonstram que as primeiras mudanças feitas no Pacto pela Vida, pelo governo do estado, não surtiram o efeito esperado. No primeiro dia útil do ano, a nova cúpula das polícias Civil, Militar e Científica tomou posse no Palácio do Campo das Princesas. Na ocasião, Câmara anunciou esforços para garantir redução da violência em Pernambuco para uma chegada tranquila do período carnavalesco.

Ao longo do mês passado, comandantes da PM e delegados titulares também foram trocados na tentativa de trazer novo gás. Outra ação foi aumentar o efetivo da PM em Jaboatão dos Guararapes – um dos municípios que teve maior crescimento no número de mortes em 2014.

O aumento nos assassinatos registrados em Pernambuco começou em março de 2014. Deste então, o governo do estado não conseguiu mais reduzir as estatísticas. O ano fechou com crescimento de 9,4% de aumento em relação a 2013. Em oito anos do programa de segurança Pacto pela Vida, criado pelo ex-governador Eduardo Campos, foi a primeira vez que as estatísticas contabilizadas fecharam o período de 12 meses com saldo negativo.

Prioridade da nova gestão será a redução de homicídios

Por Raphael Guerra, do Diario de Pernambuco

Os municípios de Jaboatão dos Guararapes e do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, devem ser os primeiros a receber reforço na segurança como tentativa de o estado voltar a reduzir os índices de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). Após sete anos de queda, Pernambuco fechou 2014 com aumento de mais de 8,7% em relação ao ano anterior.

Governador Paulo Câmara empossou ontem os novos chefes da segurança pública (BLENDA SOUTO MAIOR/DP/D.A PRESS)

“Esses são os municípios que mais nos preocupam em relação aos índices de violência. Nossa atenção será voltada principalmente aos homicídios. Novas ações integradas com a PM e o Poder Judiciário serão feitas para combater a criminalidade”, afirmou o novo chefe da Polícia Civil, delegado Antônio Barros.

Hoje, às 8h30, o governador Paulo Câmara realiza a primeira reunião do Pacto pela Vida com a presença de todos os secretários estaduais. “Não se faz política de segurança apenas com a Secretaria de Defesa Social. Todos os secretários têm a sua cota de contribuição e de responsabilidade com esse tema”, afirmou o governador durante a posse dos novos gestores das polícias Civil, Militar e Científica.

No encontro, será realizado o balanço dos oito anos do programa e discutidas novas estratégias para evitar um novo ano de crescimento no número de assassinatos. O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, disse que a reunião é necessária, principalmente, para avaliar aquelas áreas que são prioritárias e quais ações são necessárias.

Uma delas, anunciada no ano passado, é a criação de concurso para contratação de novos delegados (100 vagas) e peritos (número ainda não informado). “Mas isso só deve acontecer no segundo semestre. Precisamos de ações mais urgentes no momento”, destacou Carvalho.

Nova gestora da Polícia Científica, a perita criminal Sandra Santos tem pela frente o desafio garantir a melhoria na qualidade das perícias “Temos vários projetos em mente”, disse. A construção do Complexo de Polícia Científica e do Laboratório de DNA permanecem atrasados. O coronel Pereira Neto, comandará a Polícia Militar.

ADEPPE divulga nota sobre resultados do Pacto pela Vida

Na última sexta-feira, a Secretaria de Defesa Social (SDS) divulgou o resultado dos oito anos do programa Pacto pela Vida, além disso foram anunciados os novos nomes dos chefes das polícias Civil, Militar e Científica. Confira, na íntegra, a nota divulgada pela Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco.

A Associação dos Delegados de Polícia de Pernambuco – ADEPPE vem a público manifestar-se acerca dos números do Programa Pacto pela Vida recentemente divulgados, em que se apurou aumento do número de homicídios na ordem dos 8,73%. É notório que os resultados positivos alcançados nos últimos 7 anos, com reiteradas reduções dos índices de homicídios, são resultado da entrega incondicional dos servidores que integram a segurança pública no Estado, em especial os servidores policiais civis, que executaram mais de 150 operações, que culminaram com a prisão de mais de 1.500 criminosos.
Lamentavelmente o Governo do Estado de Pernambuco não vem retribuindo a brilhante atuação desses abnegados profissionais. Os delegados de polícia recebem o penúltimo pior salário do país, o que vem causando grande desmotivação em tais servidores. Com uma estrutura deficiente, imóveis impróprios e equipamentos de proteção individual vencidos, as dificuldades ficam ainda maiores.
A categoria aguarda que o novo governo, em conjunto com a nova Chefia de Polícia recém indicada, reconheça as necessidades da classe, atualizando dignamente a remuneração, bem como oferecendo condições de trabalho dignas, resgatando assim o orgulho perdido, para que o Estado volte a apresentar os números desejados por toda Sociedade Pernambucana.

Leia mais sobre o assunto em:

Novos chefes na Polícia Civil, Polícia Militar e Polícia Científica de Pernambuco

Mutirão do Pacto Pela Vida do Recife no bairro da Várzea

A partir desta segunda-feira, a Prefeitura do Recife, através do programa Pacto Pela Vida, realiza um mutirão na comunidade de Brasilit, na Várzea, na Zona Oeste. Até sexta-feira, serão realizadas ações de diversas secretarias para melhorar o controle urbano da região e conscientizar a população sobre prevenção à violência.

A Várzea é o segundo mais populoso do Recife. Foto: Pedro da Hora/ Esp. para Aqui PE/D.P/D.A
A Várzea é o segundo mais populoso do Recife. Foto: Pedro da Hora/ Esp. para Aqui PE/D.P/D.A

Através das Secretarias de Mobilidade e Controle Urbano e Saúde, os comerciantes do local serão orientados sobre ocupação do logradouro público e manipulação de alimentos.

A Emlurb vai recuperar placas de concreto e canaletas, além de reforçar a limpeza em diversas vias da comunidade. Também serão intensificados os trabalhos de fiscalização de trânsito, poluição sonora e recolhimento de carcaças.

O mutirão contemplará ainda atividades educativas e de lazer. Na Academia da Cidade, a Secretaria de Esportes e Copa vai promover oficinas de skate e ginástica. Já nas escolas municipais da área serão realizadas palestras e rodas de diálogo sobre prevenção à violência, discriminação, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes e trabalho infantil

A Várzea é o segundo bairro mais populoso do Recife, com 70.453 habitantes, de acordo com o Censo 2010. A localidade é uma das 15 prioritárias do programa municipal de combate à violência. Em 2013 foram registrados 23 homicídios no bairro.

Com informações da assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Urbana do Recife

Pacto pela Vida acumula índices negativos no primeiro semestre

Por Raphael Guerra

O número de homicídios no primeiro semestre de 2014 cresceu 9,6% em relação ao mesmo período do ano anterior em Pernambuco. O incremento no percentual expõe indícios de enfraquecimento do Pacto pela Vida, programa estadual de segurança pública criado em 2007 com o objetivo de reduzir anualmente em 12% os Crimes Violentos Letais Intencionais – homicídios e latrocínios (roubo seguido de morte). Os dados são da Secretaria de Defesa Social (SDS).

Crime dentro coletivo assustou passageiros no início deste mês. Foto: Wagner Oliveira/DP/D.A Press
Crime dentro coletivo assustou passageiros no início deste mês. Foto: Wagner Oliveira/DP/D.A Press

No meio dessa estatística está o caso da professora Sandra Lúcia Fernandes, 48 anos. Conhecida por lutar pelo fim da violência contra a mulher, foi morta pelo próprio companheiro, o desempregado Marcos Aurélio Barbosa da Silva, 23, em fevereiro. Ela voltava para casa após uma prévia carnavalesca, quando discutiu com o rapaz. Levou oito facadas em casa, em Olinda. O filho dela, Icauã Rodrigues, 10, também foi morto.

O maior índice de crescimento de assassinatos aconteceu em junho, mês em que a segurança pública foi um dos principais focos de atenção do estado por causa da Copa do Mundo. Foram 308 casos registrados em Pernambuco. No mesmo período de 2013, foram 247, o que representa um aumento de 24,7%.

Vítima foi assassinada por volta das 12h dessa sexta-feira. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
Homicídios aumentaram nos últimos meses. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press

A perda de fôlego do Pacto pela Vida foi constatada também em abril, quando foram contabilizadas 296 mortes, 49 a mais que em 2013. O levantamento da SDS mostra ainda que, na Região Metropolitana do Recife, houve aumento de 38,1% nos homicídios em abril. Em junho, o Grande Recife teve um incremento de 1,5% no número de homicídios.

O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, se pronunciou sobre o assunto por meio da assessoria de imprensa. Ele afirmou que “reconhece o crescimento dos homicídios e que está trabalhando com todos os setores que fazem parte do Pacto para voltar à curva decrescente”.

Carvalho disse ainda que “os resultados negativos não tiram o mérito do programa que há sete anos registra redução da violência”. Por fim, destacou que “todas as semanas há reunião e as áreas que integram o Pacto são avaliadas para os devidos ajustes na política de segurança”.

Em janeiro, o governo comemorou resultados do Datasus que apontou Pernambuco como o único estado do Nordeste a apresentar redução da violência. Em 13 municípios, nenhuma morte foi contabilizada no ano passado.

Estatísticas de vítimas de CVLI

Pernambuco

2014

Janeiro – 256
Fevereiro – 261
Março – 311
Abril – 296
Maio – 321
Junho – 308

Total – 1.753

2013

Janeiro – 272
Fevereiro – 279
Março – 285
Abril – 245
Maio – 272
Junho – 247

Total – 1.600

Variação

Janeiro –  queda de 5,9%
Fevereiro – queda de  6,5%
Março – aumento de 9,1%
Abril – aumento de 20,8%
Maio – aumento de 18%
Junho – aumento de 24,7%

Total – aumento de 9,6%

Região Metropolitana do Recife

2014

Janeiro – 112
Fevereiro – 126
Março – 133
Abril – 145
Maio – 158
Junho – 133

Total – 807

2013

Janeiro – 135
Fevereiro – 128
Março – 127
Abril – 105
Maio – 135
Junho – 131

Total – 761

Variação

Janeiro – queda de 17%
Fevereiro – queda de 1,6%
Março – aumento de 4,7%
Abril – aumento de 38,1%
Maio – aumento de 17%
Junho – aumento de 1,5%

Total – aumento de 6%

Fonte: SDS

O outro lado do Pacto pela Vida

Não é de hoje que o blog vem recebendo e-mails e ligações com reclamações de servidores das polícias Civil e Militar sobre a falta de reconhecimento por parte do governo do estado para com os servidores. As queixas vão desde a falta de equipamentos de segurança aos baixos salários pagos aos policiais.

Em visita ao Complexo Policial de Prazeres, em Jaboatão, conversei com o delegado Ramon Teixeira, que atualmente responde pela 12ª Delegacia de Homicídios. Numa conversa em sua sala, Ramon traduziu através de uma entrevista o sentimento que afirma ser de todos os servidores da segurança pública estadual.

Antes de assumir o posto atual, o delegado trabalhou com toda a sua equipe na circunscrição de Cavaleiro, também em Jaboatão, durante três anos e meio e conseguiu deixar o bairro de Cavaleiro por mais de 180 dias sem um homicídio. Historicamente, Cavaleiro era conhecido como um dos bairros mais violentos do estado.

Atualmente, em Piedade há um ano, a equipe comandada por Ramon apresenta uma redução de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) de 43% quando comparado ao mesmo período do ano passado, e um índice de resolução de homicídios de 75%. Confira o desabafo do delegado na entrevista abaixo:

“Temos os melhores índices de resolução de crimes e os piores salários do Brasil”

 

Delegado Ramon. Foto: Arquivo pessoal
Delegado Ramon Teixeira. Foto: Arquivo pessoal

Qual a sua avaliação sobre o Pacto Pela Vida?
O Pacto Pela Vida pernambucano é, num plano teórico, um programa de segurança pública muito interessante, no sentido de buscar uma atuação integrada entre diversos órgãos direta e indiretamente responsáveis pelo enfrentamento ao crime. Pode-se afirmar, de certa forma, que a execução desse projeto foi bem-sucedida nos sete anos anteriores, mas sua conclusão, lamentavelmente, está sendo algo terrível em 2014.

E o que mudou neste ano no Pacto Pela Vida?
Nada, e é exatamente essa a razão do problema. Os números conquistados pelo Pacto Pela Vida comprovam o sucesso do programa quanto à redução da quantidade de homicídios cometidos no estado, porém é preciso assinalar que, entre suas premissas basilares, se encontravam a formação, a capacitação e, especialmente, a valorização do servidor público. Apesar de muito prometer, contudo, o governo do estado não valorizou devidamente o seu policial, que é o servidor público diretamente responsável por tal sucesso; ironicamente, o resultado dessa negligência também pode ser expresso em números.

Então, o senhor acredita que o PPV pode ter resultado negativo neste ano?
Certamente. O Pacto Pela Vida caminha, pela primeira vez em oito anos, para um aumento no número de homicídios, grosso modo, por não valorizar seu policial. Trata-se, evidentemente, de um processo de desgaste paulatino e contínuo, não ocorre da noite para o dia; foram anos de espera por um merecido reconhecimento que, apesar das promessas governistas, nunca veio. Por isso, naturalmente, o inconformismo dos policiais civis e militares culminou em manifestações públicas de insatisfação e chegou, no caso desta última, à deflagração de greve.

Recentemente, foi publicada no blog uma pesquisa feita pelo delegado Igor Leite, na qual 94% dos delegados afirmaram estar insatisfeitos. O motivo da insatisfação é exclusivamente salarial?
Não, o problema não é simplesmente remuneratório, com a mais absoluta certeza. É, sobretudo, a falta de valorização profissional que indigna a quase todos os delegados daqui – a remuneração consiste somente no lado financeiro da questão. Quer ver? A mesma pesquisa por você citada aponta que 91% dos delegados pernambucanos trocariam, se pudessem, seu cargo por outra carreira jurídica com salário equivalente ou superior. Noutras palavras, nove em cada dez delegados de polícia pernambucanos preferiam ser, por exemplo, delegados de polícia em qualquer outro estado da federação que lhes pagasse pelo menos a mesma coisa! Isso é um retrato do cenário desolador em que se encontram esses dedicados profissionais em Pernambuco.

Em que consiste, na prática, essa desvalorização profissional?
Consiste no injustificável descompasso entre o volume de trabalho existente, o nível de cobrança exercido sobre a produtividade, a qualidade dos resultados alcançados pelos ocupantes do cargo e a sua realidade remuneratória. Ora, se você trabalha por absurdas 64 horas semanais ou mais, é diariamente demandado por cada homicídio ocorrido em sua área de atuação territorial, apresenta os melhores índices de resolução de crimes entre todas as Polícias Civis do país e recebe o segundo pior salário da categoria no Brasil – caso dos delegados de polícia pernambucanos –, como não se indignar? Como não se sentir injustiçado, frustrado, desvalorizado?

Os delegados de Pernambuco recebem o 2º pior salário do país?
Sim, alguns reais a mais do que o último lugar do ranking nacional, o Espírito Santo. Delegados de polícia pernambucanos têm uma remuneração bruta inicial, acredite, cerca de duas vezes e meia menor do que a dos delegados goianos em início de carreira. Então é isso, por si só, que indigna a todos aqui? Com certeza, não. É, sim, o fato de que Goiás, a título de exemplo, contabiliza 44,3 homicídios por 100 mil habitantes, ao passo que Pernambuco, segundo dados do Mapa da Violência de 2014, atingiu a marca de 37,1 homicídios por 100 mil habitantes. Indigna o fato de que Pernambuco foi o único estado nordestino a apresentar diminuição no número de homicídios na última década, embora os delegados de polícia pernambucanos sigam com o pior salário da região Nordeste.

O senhor falou em uma carga horária de 64 horas por semana ou mais, é essa a jornada de trabalho de um delegado de polícia em Pernambuco?
Para muitos, é, sim. Há alguns anos, o governo do estado de Pernambuco criou uma espécie de sistema de complementação salarial, o chamado Programa de Jornada Extra de Segurança, PJES, que consiste na remuneração por blocos de horas trabalhadas em regime de plantão, além do horário normal do expediente. No âmbito da Polícia Civil, essa jornada de trabalho extraordinário vem sendo há anos remunerada pelo estado de Pernambuco, no entender da ADEPPE, em descumprimento da legislação vigente, pagando por meio de decreto valores que chegam a ser quase sete vezes menores do que o efetivamente devido na forma da lei, o que seria, por óbvio, ilegal conforme esse entendimento.

Essa é uma queixa só dos delegados ou de todos os policiais civis?
Os ocupantes de todos os cargos policiais civis, sem sombra de dúvida, têm as mesmas reclamações a fazer. Insiste-se na ideia de que o cerne da indignação dos policiais civis está na falta de valorização profissional; portanto, quem integra os quadros da instituição que, em alguns aspectos, funciona como o motor do Pacto Pela Vida, mas é tratado pelo governo como coadjuvante e descartável, fica justamente inconformado.

Recentemente, o governador João Lyra Neto afirmou não ser possível negociar aumento salarial para os delegados da Polícia Civil, assim como para os PMs que entraram em greve alegando que não podia mais negociar em ano eleitoral. Como o senhor vê essa posição do governo do estado?
Sob o argumento da legislação eleitoral, vejo como inverídica. É possível, sim, negociar a reestruturação da carreira nos termos propostos por representantes da ADEPPE, mas, em vez de adentrar o viés jurídico da questão, prefiro trazer à tona que, logo depois das declarações do chefe de nosso poder executivo estadual, o governo potiguar encaminhou e a Assembleia Legislativa aprovou significativo reajuste salarial para policiais e bombeiros militares; além disso, foi igualmente noticiado, na mesma época, que o governo federal acordou um reajuste salarial para agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal. Ora, seria apenas em Pernambuco que a legislação nacional supostamente vigeria, ou se trataria esse, verdadeiramente, de um argumento não compatível com a realidade?

O senhor, como delegado de polícia, está naquele grupo de insatisfeitos com o cargo e trocaria de carreira jurídica se pudesse?
Tristemente, no atual cenário, sim. Veja, o mínimo que se espera de um ente federativo é que valorize seus servidores públicos, para que sempre produzam com mais qualidade e eficiência. Se você, estado, não os valoriza e não lhes reconhece o trabalho duro, você irá perdê-los. Considero-me, sem falsa modéstia, muito bom no que faço – não por talento ou outra qualidade individual inata, mas por trabalhar muito e dedicadamente. Recusei-me, já delegado de polícia em Pernambuco, a tomar posse em dois concursos públicos financeira e geograficamente mais vantajosos para mim, simplesmente porque, vocacionado para o cargo, acreditei nas promessas governistas de valorização profissional da carreira. Vários outros delegados de polícia, aqui talvez falando de dezenas de profissionais, passaram por situação semelhante; hoje, acredito que nenhum deles tomaria igual decisão. Há delegado de polícia em Pernambuco, acredite se quiser, disposto a se licenciar sem remuneração apenas para estudar para sair, tamanha sua indignação com a presente conjuntura.

O senhor acredita que a insatisfação pode afetar a qualidade do trabalho policial?
Acredito que todos com quem trabalho muito bem sabem que não somos servidores públicos do governo, nem trabalhamos para um programa de segurança pública. Somos servidores públicos do estado, trabalhamos para a sociedade e dela fazemos parte, para a qual desejamos, pessoal e profissionalmente, proporcionar a melhor qualidade de vida possível. Se conseguirmos gerar, por meio de nosso trabalho, um pouco mais de segurança ao cidadão, então o trabalho estará sendo realizado a contento, independentemente de nosso estado de espírito.

Pesquisa feita por delegado aponta que 94% da categoria está insatisfeita

O texto abaixo foi retirado do Facebook do delegado Igor Leite, que atualmente responde pela Delegacia de Jaboatão dos Guararapes. Seguido por mais de 9 mil pessoas no seu perfil do Facebook, Igor publicou no dia 5 deste mês uma pesquisa feita por ele.

No entanto, essa insatisfação não é só dos delegados. Agente, escrivão, comissário, todo mundo tem reclamado bastante das condições de trabalho na Polícia Civil do estado. Se queixam principalmente da cobrança excessiva em resultados devido ao Pacto pela Vida e de não serem reconhecidos pelo desempenho. Depois da greve da Polícia Militar e de toda desordem que houve no estado, cabe ao governo olha mais para a segurança pública de Pernambuco.

Veja o texto sobre a pesquisa:

Percebendo a insatisfação dos Delegados da Polícia Civil de Pernambuco, como delegado e também pesquisador da área de ciências biológicas (graduação), direito, perícia criminal e políticas públicas de segurança (pós-graduação), resolvi avaliar o verdadeiro sentimento desses profissionais através de pesquisa e em números.

OBS: Gráficos em números absolutos (n=90).

Assim, sem apego a formalismos metodológicos desnecessários ao propósito, apliquei um simples questionário, com duas perguntas/quesitos, que deveriam ser respondidos com SIM ou NÃO, existindo ainda a possibilidade de ausência de resposta em qualquer dos quesitos.

Os questionários foram aplicados através de grupos de emails, grupos de whatsapp e grupo do facebook, sendo todos compostos por Delegados de Polícia de Pernambuco. Os participantes teriam que responder o questionário voluntariamente. As perguntas foram as seguintes:

1) Você está satisfeito exercendo o cargo de Delegado de Polícia Civil em Pernambuco?

2) Deixaria o cargo para assumir outra carreira jurídica com remuneração equivalente ou superior?

21% (90) dos 423 delegados em atividade em Pernambuco responderam o questionário. Os resultados foram impressionantes!

– 94% dos profissionais estão insatisfeitos exercendo o cargo de Delegado de Polícia em Pernambuco.

– 91% afirmaram que deixariam o cargo para assumir outra carreira jurídica com salário equivalente ou superior.

– 6% não deixariam o cargo por outra carreira.

– 2% estão satisfeitos com o exercício do cargo em Pernambuco, mas deixariam a função por outra carreira.

Apenas 01 (um) delegado afirmou que está satisfeito e que não deixaria a carreira por outra. Por coincidência (ou não) é um dos poucos que exerce função gratificada de valor elevado, tendo salário maior que os demais.

Os motivos da insatisfação foram apontados por alguns como sendo, inicialmente, o baixo salário – que atualmente é o terceiro pior do Brasil. Em seguida, os motivos mais apontados foram a ausência de estrutura para prestar um bom atendimento ao cidadão e as cobranças excessivas do governo, com colocação do profissional de segurança em segundo plano. Já existe, inclusive, um grupo de mais de 30 delegados que planeja reuniões de estudos semanais, com o intuito de realizar outro concurso e deixar a carreira no estado.

Não é a toa que desde o mês passado os Delegados de Pernambuco, após deliberação da entidade de classe, deflagraram a Operação Legal que, se cumprida na íntegra, deve fazer ruir a produtividade das delegacias e afetar o resultado do Pacto pela Vida.

Não é preciso ser especialista em segurança, bastando analisar os números da pesquisa, a mudança de postura e o grau de insatisfação das autoridades policiais, para perceber que o tempo está nebuloso e que o futuro não parece mais promissor.