SDS diz que não existe toque de recolher em Ipojuca

Mesmo diante das denúncias da população e da recomendação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para que seja feito um reforço no policiamento, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou, através de nota, que não procede a notícia que exista toque de recolher no município de Ipojuca.

Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
Polícia Militar fez abordagens no Bairro 13, em Nossa Senhora do Ó. Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press

No entanto, flagramos nessa última quarta-feira várias viaturas da Polícia Militar fazendo diligências em uma das comunidades que reclamou da insegurança e abordando algumas pessoas. Os moradores assistiam às abordagens em silêncio.

Ainda segundo a SDS, “a PM vem realizando o policiamento preventivo no município de Ipojuca, o que já resultou em diversas apreensões de drogas e armas. Já a Polícia Civil está investigando as ramificações do tráfico na cidade e em seus distritos, havendo identificado lideranças, estando alguns deles, com mandados de prisão expedidos.”

A nota enviada ao blog afirma ainda que “para colaborar no combate à violência em Ipojuca e região, duas grandes Operações de Repressão Qualificada (Areia Branca I e II), foram realizadas onde foram presas e apreendidas cerca de 80 pessoas envolvidas no tráfico de drogas.”

Moradores de Ipojuca pedem ajuda devido a toque de recolher

A população de Ipojuca, distante 43 Km do Recife, está aterrozida. Segundo o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), moradores de duas localidades da cidade que abriga uma das mais famosas praias do Brasil estão sendo obrigados a não sair de casa à noite devido ao toque de recolher imposto por traficantes.

Comunidade Bairro 13 está assustada.
Comunidade Bairro 13 está assustada. Fotos: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press

O pedido de socorro por parte da população foi feitos aos promotores Paula Katarine e Rinaldo da Silva, o que fez o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, recomendar à Secretaria de Defesa Social (SDS) reforço no policiamento na área. Ontem, viaturas do 18º Batalhão da Polícia Militar fizeram rondas na comunidade Bairro 13, em Nossa Senhora do Ó. Já a Polícia Civil fez diligências nas Salinas e na praia de Maracaípe, em Porto de Galinhas. Uma força-tarefa foi montada para investigar os crimes e oferecer patrulha nas localidades.

Na denúncia feita ao MPPE, moradores das Salinas e do Bairro 13 relataram que não podem sair de casa depois das 21h por determinação dos traficantes. As reclamações da população incluem ainda o fechamento do comércio nesse mesmo horário. Um morador do Bairro 13 contou que pessoas armadas, inclusive com espingardas calibre 12, são vistas andando livremente pela localidade durante o dia. “Isso aqui está muito violento. Ninguém pode sair de casa nem de dia, nem à noite. Agora mesmo passaram umas quatro viaturas da Polícia Militar em alta velocidade por aqui”, apontou o morador.

Um grupo de jovens que estava na cobertura de uma casa foi abordado e revistado por PMs. Como nenhum deles foi encontrado com armas ou drogas, não foram levados para a delegacia. Informações extra-oficias apontam um dos rapazes como o responsável pelo medo imposto aos moradores. Uma reunião realizada entre a Prefeitura de Ipojuca, policiais Militar e Polícia Civil e o MPPE discutiu as ações de combate à iniciativa dos bandidos. “Não podemos admitir que bandidos imponham toque de recolher em lugar nenhum. Isso é muito grave”, ressaltou Fenelon.

Rapazes estavam na cobertura de uma casa quando a polícia chegou
Rapazes estavam na cobertura de uma casa quando a polícia chegou

Ainda entre as denúncias, os relatos de que as motos de 50 cilindradas (cinquentinhas) eram usadas para a entrega de drogas na cidade, resultaram numa determinação para abordagens e recolhimento das motonetas irregulares.

Segundo o delegado titular de Porto de Galinhas, Luciano Siqueira, desde o início do ano até ontem, apenas um homicídio foi registrado em Ipojuca. “A última morte da cidade foi no dia 14 de janeiro e o inquérito já está sendo concluído. Além disso, várias operações são realizadas com o objetivo de melhorar a segurança nas comunidades. Fazemos operações conjutas com a Polícia Militar. Amanhã (hoje) nossa equipe da delegacia seguirá com diligências em Nossa Senhora do Ó”, adiantou o delegado.

Entrevista – Comerciante do Bairro 13

“O crack está dominando tudo”

É verdade que as pessoas não podem mais sair de casa à noite?
As coisas aqui estão muito complicadas. A comunidade está assustada e a insegurança sem limites. Tenho um comércio e quando anoitece eu fecho as grades e fico atendendo as pessoas sem elas entrarem, pois o risco é muito grande. Algumas pessoas não saem mais de casa à noite.

Como está a situação do tráfico de drogas aqui na comunidade?
Eu não gosto nem de falar muito sobre essas coisas, mas como várias viaturas da polícia acabaram de passar por aqui e você mesmo viu, não tenho como dizer que está tranquilo, né? Esse tal de crack está domindo tudo por aqui.

Estão acontecendo muitos assaltos na localidade?
Com certeza. Eu, graças a Deus, nunca fui assaltada, mas outros comerciantes estão tendo muito prejuízo. E os bandidos andam armados e assaltam durante o dia mesmo. Parece que não têm medo de nada.

Toque de recolher para menores de 18

A Câmara analisa o Projeto de Lei 4590/12, do deputado Roberto de Lucena (PV-SP), que restringe a permanência de crianças e adolescentes em bares, restaurantes, lanchonetes ou qualquer local público, após as 22 horas.

A proposta, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90), encarrega o juiz da Vara da Infância e da Juventude de, justificadamente, restringir essa permanência caso a criança ou o adolescente esteja desacompanhado dos pais ou responsáveis. Lucena lembra que vários municípios já adotaram a medida.

Na avaliação do deputado, o direito à liberdade, conferido a crianças e adolescentes pelo próprio estatuto, não pode ser confundido com o “perdimento” da infância e da adolescência. “Não se pode falar em ferir direitos dos jovens, quando um bem maior deve ser preservado: a sua dignidade, a sua segurança e o seu bem-estar.”

Aliciamento
O parlamentar acrescenta que pessoas com menos de 18 anos têm sido empregadas por adultos para o cometimento de vários crimes. “Crianças e adolescentes nas ruas após as 22 horas, desacompanhados dos pais ou responsáveis, é algo que atenta contra a proteção que a Constituição Federal garante a eles”, reforça.

Da Agência Câmara