Da dor à educação

Os pés de Alexandre Nascimento, 37 anos, mal alcançavam os pedais quando o coração dele foi fisgado pelas motocicletas. Das primeiras aceleradas, no começo da adolescência, para a compra da primeira moto, bastaram a maioridade e os primeiros salários. Paixão, adrenalina, liberdade. A profusão de sentimentos só não levava na garupa a prudência. Beber e pilotar era costume de todo fim de semana. Até o dia em que o risco cobrou a conta e tirou dele a autonomia de movimentar as pernas. Onze anos depois, a dor com a qual Alexandre aprendeu é instrumento de educação.Ele é um dos oito educadores da Lei Seca.

Alexandre estava a menos de três quilômetros de casa, em uma festa de bairro. Na cabeça dele, pilotar era sempre melhor alcoolizado. Naquela noite, cochilou e subiu no meio fio, a 60km/h, antes de cair da motocicleta. O choque contra o chão resultou em fratura exposta na tíbia e lesão medular. Imediatamente, Alexandre deixou de sentir as pernas. No hospital, onde passou 18 dias internado, descobriu que estava paraplégico. A família não tinha dinheiro nem para comprar a cadeira de rodas e precisou adaptar uma cama na casa de dois andares para recebê-lo.

Desde o dia em que ele sofreu o acidente até hoje, o número de motos só cresce em Pernambuco. No último mês, foram 4 mil novos emplacamentos adicionados a uma frota que já cresceu 30 vezes nos últimos 15 anos. “No primeiro momento, achei que mais nada justificava viver e cheguei a passar dois anos em casa, isolado do mundo. Depois, percebi que precisava sair desse poço fundo e comecei a correr atrás”, lembra Alexandre. Diariamente, dá palestras em universidades, escolas, empresas e atua nas blitze sensibilizando motociclistas e motoristas com a própria história. “Já vi pessoas chorando e gente agradecendo porque convenceu parentes a usar capacete. Isso recompensa o esforço.”

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