Paulista se acostuma ao “inferno”
A primeira impressão fica, mas pode piorar ao longo dos anos. Quando o marido de Daniela Venâncio recebeu proposta para trabalhar em Suape, há cerca de três anos, o primeiro conselho dado à universitária de 28 anos foi: “É impossível morar no Recife. É um inferno”. A recomendação assustou o casal, que alugou uma casa em Porto de Galinhas, no Litoral Sul. Em um mês, porém, eles abandonaram a ideia e decidiram arriscar a capital.
Mesmo com o alerta, o impacto foi grande. Para se adaptar, abriram mão de alguns hábitos de boa convivência aprendidos em Santos, São Paulo.
Daniela volta da universidade para casa, ambos no bairro de Santo Amaro, a pé. Na cidade litorânea onde vivia, a estudante aprendeu que bastava estender a mão para sinalizar a intenção de atravessar a qualquer motorista. Lá, eles paravam.
“Observei a dinâmica recifense e vi que não dava para fazer isso aqui. É bem arriscado ser pedestre no Recife, você se sente inseguro. Mesmo com sinal fechado, há o risco de uma cinquentinha causar acidente”, lamenta ela, que já recomendou parentes a deixar a prática em Santos.
O susto de Daniela ocorre, sobretudo, pela diferença de personalidade do recifense dentro e fora do trânsito. Longe dos veículos, somos todos “ótimos”. Atrás do volante, agressivos, intolerantes, parecemos estabelecer relação de poder. Em meses, a estudante irá tirar a carteira de habilidação. Aprender a ser motorista no Recife é um desafio, mas também um incentivo para Daniela, decidida a tentar ser uma agente de tranformação da mobilidade local.