Participação nos clubes

“A gente tem que trazer a mulher pro futebol”

Se o cenário é de pouca participação – mesmo crescente – de mulheres dentro dos gramados, fora deles, no mundo dos que tomam à frente dos negócios, é ainda mais desolador. Nesse aspecto, Tatiana Roma, que encabeça a Diretoria da Mulher do Náutico, é exceção. Única dirigente mulher do clube, ela sabe e sente muito bem o que é a esfera futebolística. A diretora tomou posse em 2018 – especificamente em 8 de março, Dia da Mulher – pela atual gestão do Alvirrubro e é responsável por encabeçar a única diretoria da mulher de futebol dos três grandes times da capital pernambucana.

Tatiana Roma, que encabeça a Diretoria da Mulher do Náutico. Única dirigente mulher do clube.
Foto: Mandy Oliver/Esp. DP

Como estratégia para tornar as alvirrubras mais próximas do Timbu, a gestão criou três vertentes de atuação: esportiva, social e comercial. Todas essas atribuições, com um objetivo principal: representar torcedoras, jogadoras e mulheres que trabalham no meio. Na função esportiva, a direção melhorou a estrutura do futebol feminino – reativado em 2014. Em feito inédito na história do clube, permitiu que as atletas acessassem as instalações do CT do Náutico. Na vertente social, protagonizou uma campanha para angariar mais contribuintes: as alvirrubras que viraram sócias no mês de março de 2018 não pagaram a primeira mensalidade. E, por último, na função comercial, o núcleo gestor ainda conseguiu dar maior disponibilidade de produtos para o público feminino. Como foi o caso da camisa rosa, lançada em outubro de 2018 em parceria com a Topper, em prol do combate ao câncer de mama.

“Eu, Edno (presidente do Náutico) e Diógenes (vice-presidente), já estávamos pensando em criar essa diretoria. E, em uma de nossas conversas, colocamos no papel e decidimos colocar para frente. A gente queria construir um Náutico novo, com ideias novas. E a criação da Diretoria da Mulher passava por isso também. É entender a necessidade de se ter esse olhar para as mulheres. Da sócia, jogadora, torcedora, de todas elas que participam do meio do futebol”, explicou Tatiana Roma.

As conquistas, entretanto, muitas vezes vêm carregadas de espinhos. Mudar uma cultura predominantemente masculina no futebol é difícil. E, em se tratando de gestão administrativa, mostra-se ainda mais complicado. Mas Tatiana enxerga que as transgressões vão acontecendo quando se criam espaços com os quais as torcedoras possam dialogar. “A gente tem que trazer a mulher pro futebol, independente do clube que seja. Temos que ser ‘supra clube’. Que elas vão aos jogos, que se associem, participem mais das decisões do clube. Enfim, que a gente tenha mais mulheres conselheiras, diretoras e, futuramente, uma mulher presidente”, almeja a dirigente alvirrubra de 32 anos.

Mesmo pioneira, a gestão se depara com mudanças que, apesar de pensadas, como campanhas de conscientização contra o assédio e machismo dentro dos estádios, não trazem o resultado de maneira imediata, segundo a dirigente do Timbu. De um lado, ter dentro do clube uma diretoria voltada à mulher é fundamental para mudar o panorama de ausência de representatividade. De outro, não é suficiente para transformar uma realidade que assola as torcedoras há tanto tempo.

“A maior dificuldade é transformar o apoio em ação prática, que dê resultado. Nós temos uma cultura de que no futebol e no estádio se pode tudo. Nenhum homem assedia uma mulher no shopping da mesma forma que no estádio. Parece que quando você está lá, com pessoas iguais a você, você se sente na liberdade de fazer isso da maneira que quiser. Não é algo que a gente vá mudar em uma semana, um ano, um ambiente que eu gostaria para mulher”, finalizou.

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