Ideais que sobrevivem ao tempo

Onze anos depois de sua morte, Miguel Arraes, que teve centenário comemorado nesta semana, ainda é referência na política pernambucana

Há 68 anos, quando Miguel Arraes (1916-2005) ocupou pela primeira vez um cargo público – o de secretário da Fazenda no governo de Barbosa Lima Sobrinho -, ele não imaginava que, cem anos após o seu nascimento, completados na quinta-feira passada, estaria sendo apontado como um dos maiores líderes políticos da história de Pernambuco. Nesta Superedição de fim de semana e nas duas próximas, o Diario faz um balanço do legado de Miguel Arraes que foi eleito praticamente para todos os cargos políticos do estado, excetuando-se o de senador: deputado estadual, federal, secretário de estado, prefeito do Recife e governador por três vezes. Tal legado será discutido nas próximas páginas, com ênfase ao regime militar (1964-1985), período no qual Arraes teve o mandato de governador cassado e continuou a fazer política no exterior, diretamente de Argel, capital da Argélia, onde esteve como exilado entre os anos de 1964 e 1979.

Nascido na cidade de Araripe, no interior do Ceará, Miguel Arraes de Alencar fez parte de uma família de políticos locais e chegou ao Recife depois que foi transferido pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para a capital pernambucana. Aqui, fez amizade com o concunhado e ex-governador Cid Sampaio – que era casado com a irmã de sua primeira mulher, Célia de Souza Leão, descendente do Barão de Vila Bela – e foi introduzido na vida política. A ascensão política de Arraes foi meteórica. Após assumir a Secretaria da Fazenda pela segunda vez, já no governo de Cid, em 1959, foi eleito prefeito do Recife, em 1960. A vitória no governo de Pernambuco veio rapidamente, em 1963, com um mandato interrompido pelo Golpe de 1964.

As matérias que serão publicadas e que tem início hoje trazem as origens da família, no interior do Ceará, conta os bastidores do exílio, a relação complexa com adversários e apresenta, também, o legado intelectual de Miguel Arraes. Além disso, não poderíamos deixar de citar a herança deixada pelo socialista no campo político: o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que administra o governo do estado, com Paulo Câmara, e o Recife, com Geraldo Julio. Os dois iniciaram as respectivas carreiras políticas pelas mãos do ex-governador Eduardo Campos, neto de Arraes.

O presidente do partido no estado, Sileno Guedes, diz que seus pensamentos continuam sendo diretrizes da legenda. “Não há como dissociar o PSB da pessoa de Miguel Arraes. Ele era um líder que pensava à frente do seu tempo, um homem do futuro”.

Arraes entrou no PSB em 1990, depois de ter passado parte de sua carreira política no PMDB. Divergências com algumas lideranças como Ulysses Guimarães e Jarbas Vasconcelos -, além da possibilidade de ser a maior referência em um partido, pesaram na decisão. Pelo PSB, foi eleito mais uma vez governador de Pernambuco, em 1987, e seu neto, Eduardo Campos, em 2006, sendo reeleito em 2010.

Atualmente, o PSB administra 70 prefeituras em Pernambuco, tem 47 vice-prefeitos, 355 vereadores eleitos e 40 mil filiados. Os números o fazem a maior força política do estado, e Arraes é até hoje lembrado em suas campanhas políticas. A construção desse patrimônio político é reconstituída a partir desta edição, mostrando que, aos 100 anos, Miguel Arraes continua sendo mais atual que nunca.