24 de abril de 2024
Reunião emergencial que discute o ciclo junino. Foto: Guga Mattos/Câmara do Recife

Reunião emergencial que discute o ciclo junino. Foto: Guga Mattos/Câmara do Recife

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A quarta-feira (01) foi um dos dias mais agitados do ano na Casa José Mariano: após uma semana de muita tensão em torno do assunto, foi convocada uma reunião de emergência, por solicitação da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), na tarde anterior (31). A discussão se deu em torno do pronunciamento do prefeito João Campos através de suas redes sociais, anunciando a suspensão do ciclo junino, atitude que pegou de surpresa tanto os vereadores quanto a classe artística.

O auditório da Câmara dos Vereadores onde foi promovida a discussão estava lotado de artistas, produtores e representantes da sociedade civil. A sala virtual da plataforma ZOOM, utilizada para participação pública de forma remota também lotou: fato inédito desde que a casa começou a adotar a ferramenta. Ao todo, participaram cerca de duzentos representantes de diversos grupos e agremiações culturais pernambucanas.

Auditório da Casa José Mariano foi preenchido pela classe artística pernambucana. Foto: Guga Mattos/Câmara do Recife.

A mesa foi composta pelo presidente da Comissão de Grande Eventos, Marco Aurélio Filho (PRTB), pela proponente da reunião, Cida Pedrosa (PCdoB), pelos vereadores Tadeu Calheiros (PODEMOS), Ivan Moraes (PSOL), Liana Cirne (PT) e Alcides Cardoso (PSDB). Representando a sociedade civil, estavam o Presidente da Comissão de Cultura da OAB, Fabiano Santos, a Presidente da Associação dos Forrozeiros de Pernambuco, Tereza Aciolly e a Presidente da Federação das Quadrilhas Juninas e Similares do Estado de Pernambuco (FEQUAJUPE), Michelly Miguel.

O que dizem os vereadores

A maioria dos parlamentares julgou a decisão tomada pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB), como “precipitada e sem qualquer comunicação prévia ao legislativo municipal”, nas palavras de Alcides Cardoso (PSDB). A proposição é de que o ciclo junino se inicie no dia 29 de junho, data marcada pelo dia de São Pedro.

Segundo Marco Aurélio Filho (PRTB), também faz parte do entendimento da casa que o ciclo junino dure no mínimo vinte e um dias (duração similar à dos anos anteriores), reforçando que o ideal seriam trinta dias de evento.

Presidente da Comissão de Grandes eventos, o vereador Marco Aurélio Filho (PRTB), defendeu que a classe cultural local seja mais valorizada nos próximos anos. Foto: Guga Mattos/Câmara do Recife.

Ivan Moraes (PSOL), destacou a importância da promoção da cultura popular local, criticando a falta de informação e diálogo entre a prefeitura e os vereadores:

“O anúncio feito na rede social própria do prefeito, alegando que iria redirecionar os recursos, depois houve uma mudança no discurso, sob alegação de que não há clima para realização do evento (…) é necessário um esclarecimento maior sobre quando será realizada a festa. Temos que lembrar também que estamos em ano eleitoral, e a festividade não pode ser realizada neste período”, opinou.

Liana Cirne (PT), disse que as chuvas eram previsíveis, propondo medidas de precaução para evitar acontecimentos similares no futuro. Sobre a realização das festas, a vereadora alega que “a cultura popular corre risco de extinção”:

“Não estamos discutindo sobre entretenimento ou festa, estamos falando sobre o nosso patrimônio cultural. As gerações futuras tem que ter o direito de conhecer o Mamulengo, o Forró, o Maracatu. É nosso dever preservar este bem público (…) precisamos de uma data para a realização do São João, sem deixar de lado o nosso luto pelas vítimas da chuva”, ressaltou.

Como pensa a classe artística

Tereza Aciolly, que preside a Associação dos Forrozeiros de Pernambuco, comenta que achou a decisão de João Campos (PSB) “precipitada”, reforçando que as festas culturais como o São João trazem oportunidades para diversos artistas locais. Falando em nome da classe artística, Tereza solicitou “urgência nos esclarecimentos da prefeitura a respeito do São João”.

Michelly Miguel, presidente da FEQUAJUPE, complementou a fala, ressaltando que existe toda uma cadeia produtiva dependente da realização das festas juninas:

“O São João não envolve só os artistas, também contempla a vendedores, costureiras, estúdios, músicos, motoristas e empresas de transporte e turismo, serralheiros, marceneiros, coreógrafos, projetistas e muitos outros (…) é um evento que movimenta a economia local, e muitas pessoas dependem disso. Durante os dois anos de pandemia, diversos quadrilheiros ficaram sem abrigo e sem condições”, afirmou.

Todos os demais artistas e produtores presentes concordaram coletivamente que não é viável iniciar o São João na data prevista inicialmente: sexta-feira (03), mas reforçaram que a classe artística não aguenta mais um ano sem a realização da festividade.

Manifesto

Todo o debate em torno da atual situação dos chamados grandes eventos, ou seja, Carnaval e São João, motivou a classe artística e cultural pernambucana a promoverem um manifesto, lançado a público na tarde desta quarta-feira (01) e assinado por Armandinho – Líder do Movimento “Somos Forró”. O texto solicita à prefeitura, entre outras demandas, maior frequência na realização de eventos culturais fora da sazonalidade, para que os artistas sejam valorizados não só nos períodos festivos, mas durante todo o ano.

Estiveram presentes, em uma segunda reunião, realizada na parte da tarde, alguns dos representantes da classe artística e vereadores da Câmara, além do Secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello. Segundo uma das fontes presentes na reunião, que não quis se identificar, “o dialogo foi promissor” e a expectativa é positiva para a realização das festividades.

No início da noite, a prefeitura emitiu uma nota, dizendo que o São João será realizado em “calendário alternativo”, e reforçando que maiores detalhes serão divulgados em breve.

Reunião entre sobre o festejo junino realizada a tarde no gabinete do Secretário de Cultura. Foto: Divulgação

Nota da Prefeitura do Recife:

A Secretaria de Cultura do Recife esteve reunida, hoje, com representantes do ciclo junino (artistas, quadrilhas e produtores) e da Câmara Municipal. Na ocasião, foi reafirmado o compromisso e atenção com o segmento, confirmando que a suspensão das festividades frente à maior tragédia climática dos últimos 50 anos refere-se ao período tradicional do ciclo, que já se iniciaria nos próximos dias. A Prefeitura do Recife está redesenhando o formato previsto e o cronograma, se asseguradas as condições, mantendo como foco prioritário, no momento, o atendimento à população atingida pelos efeitos das chuvas.

Portanto, a realização do São João 2022, com apresentações musicais e concursos de quadrilhas juninas, terá calendário alternativo, que vem sendo discutido pela equipe da gestão municipal da cultura e representações do ciclo junino. As primeiras informações pactuadas devem ser divulgadas nos próximos dias e já foi garantida a sequência ao pagamento das subvenções às quadrilhas, que já havia sido iniciado. Amanhã haverá a publicação, no Diário Oficial, do resultado dos recursos do edital para credenciamento de atrações artísticas para o São João.

Ainda que o formato não seja o padrão dos festejos juninos, pelo período e a necessidade de observar a situação nos bairros mais atingidos pela tragédia das chuvas, o que terá implicação no calendário a cumprir, a cadeia produtiva do ciclo estará contemplada, conforme previsto no planejamento original.

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