22 de novembro de 2024

Foto: Eduardo Matysiak/PT

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Victor Correia e Raphael Felice- Correio Braziliense

A escalada de violência política faz com que sete em cada 10 pessoas tenham medo de sofrer agressões por expressar pensamentos e apoio a candidatos, bem como sua posição ideológica. É o que diz uma pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps).
Em percentuais, 67,5% dos entrevistados admitiram receio de ser vítima de violência por conta de sua posição política. Além disso, 3,2% dos ouvidos na pesquisa relataram ter sofrido ameaças nos últimos 30 dias, aproximadamente 5,5 milhões de brasileiros. O instituto entrevistou 2.100 pessoas com 16 anos ou mais em 130 municípios (de pequeno, médio e grande porte), entre 3 e 13 de agosto.
A pesquisa mediu os posicionamentos por meio de uma série de questionamentos relacionados a três diferentes pontos de vista: tendência à democracia, tendência a apoiar posicionamentos autoritários e apreço aos direitos humanos, civis e sociais, como o acessos às armas. Conforme o levantamento, 66% dos entrevistados entendem que armar a população não vai aumentar a segurança.
O aumento da violência política é monitorada pela organização de direitos humanos Terra de Direitos, que publicou um levantamento de casos entre 2016 e 2020 e trabalha agora na atualização dos dados. Para a coordenadora de Incidência Política da ONG, Giseli Barbieri, as ações de combate ainda são insuficientes para conter os ataques.
“A violência está ocorrendo de forma sistemática e é utilizada para atingir objetivos específicos. É superimportante ter várias organizações e institutos tentando mapear essa violência, mas a gente percebe que a impunidade ainda é muito grande, e isso também encoraja os algozes”, avaliou Giseli Barbieri.
Segundo a Terra de Direitos, nos casos mapeados, os homens são as maiores vítimas dos assassinatos políticos, enquanto as mulheres sofrem mais violência em geral, com casos de intimidação, ofensas e ameaças. “No período da pandemia, os casos de violência virtual também aumentaram muito. Não se tem resposta em relação a esses casos. As pessoas, cada vez mais, têm medo de se expor e têm dificuldade de denunciar”, destacou.
Para Silvana Batini, professora da FGV Direito Rio e ex-procuradora regional eleitoral do Rio de Janeiro, o constrangimento causado pela ameaça de violência espelha o que é visto em áreas dominadas pelo crime organizado, especialmente no estado.
“O que a gente está verificando agora é que há um outro tipo de constrangimento mais disseminado, que é esse intangível, o medo de ser abordado por conta de você ostentar sua escolha (de candidato). A democracia não é silenciosa e, às vezes, não é nem comportada, mas as pessoas precisam poder se manifestar sem temer ser agredidas por isso”, afirmou.

Silvana Batini enfatizou que a Justiça Eleitoral tem mecanismos para lidar com a violência física, mas não com o que chama de “marketing violento” usado por algumas campanhas para gerar conteúdo, envolvendo ataques e agressões verbais a opositores para filmar ou provocar reações.


Assassinatos
 

Nos últimos meses, a violência chegou a extremos, com desfechos fatais. Em 9 de julho, o policial penal federal Jorge Guaranho matou a tiros o tesoureiro do PT, o guarda municipal Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR). O bolsonarista soube de uma festa de aniversário com o tema do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um clube do qual é sócio. O agente provocou o petista ao chegar ao local e, após uma discussão, foi para casa, buscou uma arma e disparou contra o guarda municipal.
No último dia 9, um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) matou a facadas um eleitor de Lula. Em meio a uma briga por divergência política, Rafael Silva de Oliveira, de 24 anos, assassinou Benedito dos Santos, seu colega de trabalho. O crime ocorreu na zona rural do município de Confresa, em Mato Grosso.

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