Edvaldo Rodrigues já viu muita coisa por trás das lentes de uma câmera. No Diario de Pernambuco desde 1967, carrega no currículo imagens históricas, como o desembarque de Miguel Arraes no Recife na sua volta do exílio e o abraço carinhoso do papa João Paulo II em dom Helder Camara.

Ele tinha 18 anos de idade quando decidiu viver de fotografia.  Amador dedicado, candidatou-se a uma vaga de repórter fotográfico em 1962, quando viu um anúncio de jornal. Resolveu apresentar seu material. Ficou.

Começou a trabalhar em plena ditadura. E soube logo o que era censura. Era visto com desconfiança pelos militares e também pelos integrantes das Ligas Camponesas. Com aquela câmera na mão e uma ideia na cabeça, poderia ser um espião.Ele confessa: chegou a ser agredido, mas não deixou de clicar.

Edvaldo gosta de fotografar esportes. Principalmente o futebol. Para ele, tem uma plasticidade muito grande  e marca a memória do torcedor. Pelo Diario, entrou em campo em três copas: Espanha (1982), México (1986) e Itália (1990).

Ele acredita que a carreira de repórter fotográfico está mudando por causa das novas mídias. O futuro profissional terá que se qualificar não só em obter em boas imagens, mas também em ser redator ao mesmo tempo.

A galeria abaixo foi escolhida pelo próprio Edvaldo. Cada foto tem uma história, reflexo de uma técnica própria adquirida por longos anos de exposição à notícia. Ele continuará deixando a sua impressão – agora digital – no Diario de hoje [e de amanhã também].

 

“A rainha Elizabeth II e o príncipe Phillip visitaram o Recife em novembro de 1968. Na época, eu usava terno e gravata com a marca do Diario. A elegância me ajudou quando o casal real desembarcou na Base Aérea. O filme fotográfico se soltou dentro da máquina e tive que trocá-lo rapidamente. Para não perder o que já tinha feito, tirei o paletó e improvisei uma câmara escura para retirar o rolo e colocar o novo. Foi arriscado, mas deu certo”.

“Em 1973, Moura Cavalcanti era ministro da Agricultura e recebeu a embaixatriz da Índia na abertura da exposição de animais do Cordeiro. Esta imagem ficou marcante pelo gestual do cumprimento e pelo céu limpo, que ressaltou os personagens”.

“Na noite de 22 de março de 1982, Gilberto Freyre, torcedor do Sport, foi homenageado pelo clube pelo seu aniversário de 80 anos.  Mesmo com a forte chuva que caía na Ilha do Retiro, o sociólogo fez questão de entrar no gramado para entregar o troféu que levava seu nome para o capitão rubro-negro, Didi. O Sport venceu o Baraúnas por 4 a 0 e ficou com a honraria”.

“Esta é uma das fotos minhas mais publicadas no mundo. Posso dizer que fui abençoado pelo meu atraso na chegada na Base Aérea no dia 7 de julho de 1980. Não tive mais o direito de subir no palanque dos fotógrafos e o comandante me pôs em cima da sala vip. Fiquei sozinho lá. Quando o papa João Paulo II desceu do avião, ele deu um abraço afetuoso em dom Helder Câmara e fui o único a ter uma imagem frontal e bem próxima. Por causa da censura e do ódio dos militares a dom Helder, o Diario conseguiu publicar a foto, mas pequena e de forma discreta. Mas depois não tinha como segurar. Ela foi republicada várias vezes ao longo destes anos”.

 

“João Figueiredo, o general presidente que gostava mais de cheiro de cavalos do que de gente, esteve em Sertânia, no Sertão pernambucano, vistoriando uma frente de trabalho em 1982. Quando ele foi convidado a visitar uma fazenda, já sabia o ângulo que iria buscar. Gostaram da foto, porque ela foi publicada”.

 

“Em 1967, a balarina Margot Fonteyn se apresentou no Teatro de Santa Isabel. Foi uma das fotos marcantes do meu primeiro ano no Diario”.

 

“Miguel Arraes voltou do exílio em 1979. No dia 16 de setembro, o ex-governador desembarcou na Base Aérea no Recife e já havia uma multidão esperando por ele. Os braços erguidos – dele e das pessoas – compõem uma imagem forte que também foi muito publicada”.

 

“Em fevereiro de 1984, lideranças políticas de Pernambuco se uniram no movimento Diretas Já. Nesta foto, Cid Sampaio, Marcos Freire, Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos e Luciano Siqueira, entre outros, fazem passeata pelo Recife. Era a época do fim da ditadura e se podia registrar os eventos sem a presença ostensiva da polícia”.

 

“A queda de um veículo na ponte do Janga, em Paulista, matou quatro pessoas na madrugada do dia 30 de abril de 2007. Três filhos estavam socorrendo o pai quando o motorista perdeu o controle e o carro despencou no braço de mar. Os parentes estavam procurando os desaparecidos por toda parte, porque eles não chegaram ao hospital. Foi quando eles souberam que tinha um carro submerso no Janga. Esta foto mostra quando os bombeiros conseguem retirar a placa do carro – os mortos estavam presos e o resgate iria ser difícil – e a identidade deles foi confirmada. Foi um momento muito triste para a família e para quem estava trabalhando”.