Em Foco 1411

Como ser bem-sucedido? Robson Campos, CEO de uma empresa líder mundial de motores de energia, dá a receita.

Silvia Bessa (texto)
Nubia Altarriba (foto)

O sonho do menino que estudava no bairro do Grajaú era ter uma bicicleta. Simples, ainda que dele. Morava no Rio de Janeiro com a mãe, uma bancária de 40 anos que criava sozinha os filhos subindo e descendo de ônibus. Robson Campos frequentava escola pública e vivia como brasileiro de classe média baixa, sem viagens ou luxos. Até que aos oito anos teve de aprender a ser órfão de mãe. Ela morreu ao ser “cuspida” do banco carona do carro de uma amiga. O pai, com quem tinha pouco contato, se reaproximou e conseguiu uma bolsa em escola particular para os meninos. “Levei bomba. Aos 14 anos não se tem ideia quanto custa a educação”. Pela regra, perdia a bolsa. O pai cumpriu a promessa de matriculá-lo em escola pública novamente. O menino estava na então 7ª série do ensino médio e buscava saídas para conquistar o que queria. Propôs um acordo ao pai.
“Olha, queria pedir desculpas pela vergonha de ser reprovado, pelo tempo perdido. Queria mais uma chance numa escola particular e lhe garanto que vou me dedicar”, disse Robson ao final do ano refeito. “E tem mais: ao encerrar meu ensino médio, garanto que não quero um real mais seu”. O pai confiou. Robson cumpriu. “Se você olhar o mundo e não tiver meios para quebrar o muro que encontrar pela frente, ache o fim do muro”, diz ele, que estará no Recife neste sábado. Robson estava com pressa. Aceitou um emprego na Bob’s. Lavou chão, pratos, vendeu sanduíches e foi gerente na lanchonete Bob’s office boy, numa ascensão de apenas três meses. Saiu. Acabou o ensino médio. “Pai, posso dar uma volta no carro?”. Ganhou mais um “não”. Passou em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e precisava se manter financeiramente já que não poderia contar mais com o pai – afinal, tinha um acerto. Antes mesmo de começar o primeiro semestre como universitário, aceitou emprego de office boy de uma empresa finlandesa.
Hoje, aos 39 anos, Robson Campos é o CEO (ou Chief Executive Officer, sigla em inglês) da empresa finlandesa Wärtsilä Brasil. Foi o primeiro brasileiro a ocupar o cargo. Muito jovem para a função, filho de mãe branca, pai negro, é o executivo que comanda a líder mundial do mercado de motores de geração de energia. Ganha dezenas de milhares de reais por mês e anda dirigindo seu Dodge, carro luxo. Nunca esqueceu da bicicleta. Aprendeu a andar numa depois de adulto. Ainda lembra que cresceu tendo um pai “duro” no trato. “Acontece que, se alguém me nega alguma coisa, não dou as costas e vou embora. Fico motivado. Vou correr para conseguir o que quero”, arremata.
Robson foi office boy enquanto fazia seu curso de Direito. Era uma época difícil, comparada, segundo ele, aos tempos de crise em que o Brasil enfrenta hoje. “Eu abria o jornal e não encontrava nada. Era o Plano Collor. De boy, passou para a gerência financeira da Wärtsilä. Teve seu salário aumentado em 15 vezes. Assumiu a área de contabilidade, controladoria, mas não sentia que queria fazer aquilo para sempre. Abraçou um desafio proposto pela empresa em Manaus, passou a ser fonte de notícias de jornal como responsável pelo projeto da então maior usina termoelétrica do mundo. Queria a presidência. Até que conseguiu alcançá-la em abril de 2010.
Ele conta essa história pessoal e profissional pelo menos uma vez por mês na contratação de novos funcionários e em palestras pelo país. Sobre ser órfão desde os 8 anos, ser mulato, ter sido office boy e chegar ao cargo mais alto da Wärtsilä. Neste sábado, cerca de 800 pessoas irão ouvi-lo falando sobre o que viveu, o que e como conquistou na 3ª edição da Conferência Vox, promovido pela Ong Novo Jeito. A conferência é voltado para o empreendedorismo social e práticas do bem do Brasil. Se alguém da plateia perguntar para Robson Campos sobre qual a palavra que o norteou nessa trajetória de sucesso, ele dirá: “Resiliência”. Como sabem, resiliente é aquele que tem capacidade de se recompor diante de mudanças ou má sorte.