Locomotiva nº 1 da Recife and São Francisco Railway Company - Augusto Stahl (1858)

Locomotiva nº 1 da Recife and São Francisco Railway Company – Augusto Stahl (1858) – Instituto Moreira Salles

Os horários das partidas dos vagões foram anunciados na seção “Página Avulsa”, na edição de 8 de fevereiro de 1858 do Diario de Pernambuco. Neste dia, os moradores da capital tiveram o privilégio de experimentar um novo meio de transporte. Era uma locomotiva da Recife and São Francisco Railway Company que faria a sua primeira viagem.
A maravilha de ferro foi devidamente registrada para a história pelo fotógrafo Augusto Stahl, peça rara em gelatina e prata que hoje compõe o acervo do Instituto Moreira Sales. Outras duas imagens valiosas da construção da estrada de ferro até 1860 pertencem à Biblioteca Nacional. Em conjunto, as três fotografias integram a coleção Brasiliana Fotográfica.

[Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco] : [construção] ([1858-1860])

[Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco] : [construção] ([1858-1860]) – Biblioteca Nacional

A ferrovia Recife-São Francisco, a segunda do Brasil, ligaria primeiramente a capital da província à vila do Cabo, numa extensão de 31,5 quilômetros. Construída pelos ingleses, a estrada de ferro Great Western, em bitola de 1,60 m, nunca chegaria até seu destino final, mas ajudou a desenvolver as cidades por onde os trilhos passaram.

[Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco] : [construção] ([1858-1860])

[Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco] : [construção] ([1858-1860]) – Biblioteca Nacional

A viagem inaugural contou com cerca de 400 passageiros. Após a bênção dos vagões, a partida ocorreu ao meio-dia da estação de Cinco Pontas para, meia hora depois, atingir a estação do Cabo, onde uma multidão aplaudiu o monstro de metal.

Não demorou muito para, no Diario, usuários reclamarem do serviço e do preço das passagens. “Que beneficio tem trazido a estrada de ferro? A via ferrea só dá transito ao rico, porque o pobre, ainda mesmo para viajar na terceira classe, tem de pagar trez mil réis, que he mais do que o salario de hum portador, para ir do Cabo ao Recife; e os vagons da terceira classe são taes, que foram feitos e apropriados para conduzir animaes. Ora, a terra he de gente pobre; a consequencia he que sendo a estrada de ferro para os pobres, poucos se aproveitam deste beneficio”, descreve, na grafia da época, José da Silva Guimarães, um usuário que fez seu protesto na seção “Comunicado” na edição do dia 1º de julho de 1858.

Foi a partir de 26 de julho de 1852, com a promulgação da lei nº 641 – que oferecia isenções de impostos e garantia de juros sobre o capital investido – que companhias estrangeiras se interessaram em construir e explorar estradas de ferro no Brasil.

A primeira linha, no entanto, foi iniciativa de um brasileiro, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. No dia 30 de abril de 1854, o imperador Dom Pedro II, um entusiasta das novidades tecnológicas, inaugurou, a bordo da locomotiva “Baroneza”, o trecho de 14,5 quilômetros entre o Rio de Janeiro e Petrópolis.