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No último dia do ano, precioso conselho da psicologia: o passado deve ser visto como um professor

Luce Pereira (texto)
lucepereirajornalista@gmail.com
Silvino (arte)

Ano quase a virar cinzas e as velhas reflexões batendo à porta com certa impaciência. Escolho apenas uma, porque, afinal, é preciso comemorar – completamos mais um ciclo de remadas em direção à margem. Estamos vivos, portanto, e nada pode superar tal conquista. A pergunta se impõe: olhar ou não olhar para trás? Olhar, mas de maneira sábia, por favor. Analisando através da janela aberta pela psicologia, o passado deve ser visto como um professor apenas de coisas boas. Se erramos, tropeçamos, demos cabeçadas e nos demos mal, o importante é revisitar todas essas experiências com a certeza de que foram valiosas, serviram para apontar outro caminho.
Nunca mais aquele ou aquele novamente (por que não?), mas com a maturidade e a precaução devidas. Logo, o essencial não está em decidir se arriscamos ou não uma olhada pelo retrovisor, mas de que forma escolhemos fazê-lo. Sem generosidade e consciência, não é possível serenar diante da estrada percorrida. “Enquanto olhamos com algum desconforto para o passado, é porque ainda não o aceitamos, e é preciso fechar os ciclos”, disse em entrevista a psicóloga Clarissa Haddad, especialista em técnicas de desconstrução de crenças e de manejo de estresse.

Assim, os caminhos são claros: ou ignoram-se as lições deixadas sobre a passagem dos dias, com enorme chance de tropeçar nas mesmas pedras, ou todas são acolhidas como aprendizado valioso sem o qual não se avança nem um milímetro. É preciso determinação e força até para refletir e analisar. Como bem disse o escritor Guimarães Rosa, “o que a vida quer da gente é coragem”, inclusive em reconhecer que dar mão à palmatória, quando necessário, pode significar não um gesto de rendição, mas de sabedoria. Eis a palavra mais desafiadora, aquela que bate o martelo sobre a qualidade de vida que escolhemos ter e de cidadãos que escolhemos ser na próxima rodada do calendário. No mais, nada há que proíba cada um de abrir espaço à crença em forças místicas e poderosas capazes de “dar uma forcinha” extra no projeto ou expectativa de um ano mais equilibrado e gratificante. Faz parte do espírito da festa. Jogar búzios, tarô, pular sete ondas, guardar sementes na carteira, comer romã e/ou lentilha, jogar flores ao mar, perfumar a casa, tudo, no fim das contas, parece produzir algum conforto, um ganho psicológico nascido da sensação de se sentir mais confiante e protegido. Isto só para lembrar que o poeta português Fernando Pessoa tinha toda razão: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.

Se milagres não existem, ao menos quando mais gostaríamos que acontecessem, é urgente ter força para virar o próprio jogo, mesmo precisando vencer o medo e a insegurança, dois inimigos poderosos na vida de quem deseja chegar ao topo da montanha que recompensa com sucesso, com prazer ou com paz interior. Portanto, brinde à vontade o fato de ter sobrevivido a doze espinhosos meses para a maioria dos brasileiros, porém sem deixar de refletir sobre o que pode ser melhorado em termos pessoais e coletivos. Um ano que se despede sem ponderações é apenas um ano a mais e com tudo para deixar ao próximo um legado de frustrações, decepções, lamentações e faltas. No entanto, vamos combinar, a vida não pode ser só isso. Que 2018 valha a pena.