Bumbum irreverente

Final do Pernambucano feminino de 1999: Jô, do Sport, marca o gol do título sobre o Santa Cruz com a bunda... Foto: Heitor Cunha/Diario de Pernambuco

Em 24 de outubro de 1999, Jô entrou para a história do futebol.

Jô é uma mulher, é bom avisar…

Jogava no Sport quando proporcionou um lance inusitado. Na final do Pernambucano feminino, na Ilha do Retiro, ela marcou o gol do título sobre o Santa Cruz com a bunda.

Isso mesmo… O lance correu o Brasil. Rendeu também no exterior. Chegou a ser destaque na CNN, o poderoso canal de notícias dos Estados Unidos.

Quase 11 anos depois, 27 de setembro de 2010. Já esquecida no mundo esportivo, Jô foi assassinada na noite desta segunda-feira. Saía de um salão, no bairro da Macaxeira, quando foi baleada. Voltou a entrar na história. Na mais infeliz de todas. Virou mais um dado na estatística da violência do estado.

Abaixo, o texto do jornalista Armando Nogueira, impressionado com o lance pioneiro na época. Título do artigo? Bumbum irreverente.

Cada vez mais me impressiona o interesse feminino por esportes. Especialmente, por futebol. Os estádios começam a ser freqüentados por meninas, moças e adultas. Recebo cartas e correios eletrônicos na seguinte medida: um terço de mulheres pra dois terços de homens. Elas estão vendo, torcendo e jogando. E até já abusando do prazer de jogar. É o caso de Jô, atacante do time feminino do Sport Recife. Vejam o que fez a moça, no finalzinho da decisão do título pernambucano, entre Sport e o Santa Cruz, no último fim de semana, em Recife.

A partida estava zero-a-zero. Pelas tantas, Jô recebe um passe açucarado e parte, célere, bola dominada, na direção do gol do Santa. Na escapada, dribla a primeira, avança mais, dribla a segunda, avança ainda mais, encara e ultrapassa a goleira, aplicando-lhe mais um drible. Jô vai fazer um gol de placa, entrando com bola e tudo. Pois, sim! Jô pára em cima da linha das traves, pisa na bola. Tem todo o tempo do mundo pra escolher como desferir o golpe de misericórdia. Pode dar um biquinho sarcástico. Pode dar um toque de calcanhar, bem malicioso.

Jô deve ter pensado, num repente: gol de letra, muita gente já fez. Gol de calcanhar, então, quem já não fez? Gol de trivela, hoje, é coisa igualmente banal. Gol de peito, o Romário já fez. Gol de barriga o Renato Gaúcho já fez, por sinal, no Flamengo, decidindo o título num Fla-Flu. Pois Jô resolveu inovar e, num requinte de originalidade, senta na bola e faz um gol, literalmente, de bumbum.

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