Let’s go Heat

Miami Heat faz a festa sobre o Phonix Suns, em 2010: 123 x 96. Foto: Cassio Zirpoli/Diario de Pernambuco

Miami – Esporte é espetáculo em sua essência, e quando bem produzido torna-se algo impressionante, muito além de um duelo na grama, no cimento, no saibro, no asfalto ou sobre os tacos de uma quadra. Há décadas a NBA atingiu um incrível nível de profissionalismo aliando competitividade e entretenimento. E bote entretenimento…

Ao assistir pela primeira vez in loco a um jogo da maior liga de basquete do planeta foi um pouco difícil ficar alheio ao evento, à presença de astros do Miami Heat – LeBron James (2,03m), Dwyane Wade (1,93m) e Chris Bosh (2,08m) – e ao comportamento do público. Aliás, todos estão lá para ver as feras, mas também bem despojados e prontos para serem captados pelas dezenas de câmeras espalhadas pelos quatro andares da moderníssima American Airlines Arena.

Essa ansiedade começa ainda fora do ginásio, apesar do tom organizacional que toma conta da agenda da NBA. A venda dos ingressos restantes, já que a imensa maioria foi vendida antecipadamente em carnês, começa pontualmente às 16h – comprei pela internet, ainda no Brasil, mas havia tíquete a partir de 28 dólares. Duas horas depois, catracas liberadas. Na entrada, detector de metais e a ordem para tirar qualquer objeto do bolso. No meu caso foi necessário até mesmo um tic-tac.

A 60 minutos do início, a arena se mostra um centro autossustentável. O tempo é suficiente para conhecer as inúmeras lojas dentro do imponente ginásio na margem da Biscayne Bay. A gama de produtos faz inveja a qualquer clube de futebol brasileiro. Opções para comer e beber também são fartas. O preço é que não é convidativo. Como exemplo, um copo de refrigerante por R$ 5 dólares (ou R$ 8,6). Ok, não é um valor convidativo para um brasileiro… Mas confesso que paguei ali 50 dólares na camisa número 6, de LeBron, eleito em duas temporadas como o “MVP” (melhor jogador).

Cerveja em grande escala e hot-dogs afogados em catchup. Contagem regressiva nos quatro telões em HD no centro da quadra, cheerleaders de shortinhos, hino dos Estados Unidos com 100% dos americanos em pé e, finalmente, bola ao alto.

Let’s go Heat. Esta é apenas uma das inúmeras frases puxadas por um locutor em sintonia absoluta com a partida. Não só com o apoio deliberado como também através da popular “secação”, algo cultural. Além do tradicional ” D-Fence” (cujo cartaz é um brinde na entrada), também aparece nos telões a todo momento o pedido “make some noise” (faça algum barulho), durante o lance livre. Do adversário, é claro.

Na noite de quarta-feira, em mais um dia quente na cidade que teima em não aceitar o inverno no hemisfério norte, o Heat recebeu o Phoenix Suns – uma temperatura que fez jus aos nomes dos dois times. Foi um duelo entre duas franquias tradicionais da liga. Campeão da NBA em 2006, o time da Flórida vinha num início irregular. Eram seis vitórias e quatro derrotas. Mas a minha “primeira impressão” da NBA acabou sendo espetacular, com uma atuação irretocável do trio milionário do Miami.

O caladão Bosh foi o cestinha, com 35 pontos. O marrento LeBron – dono de um contrato de US$ 14 milhões por temporada – marcou outros 20, com enterradas que levantaram público na arena. Para completar, o ídolo Wade anotou 17, mas com direito a duas jogadas individuais que foram reprisadas pelo menos duas vezes cada uma.

O placar? Com tanta técnica, força e velocidade em quadra, o chocolate acabou sendo inevitável sobre o Suns, do veterano Steve Nash: 123 x 96.

Aquela ansiedade da torcida virou euforia na escadaria. Numa saída sem aperreio algum, um sistema parecido com o futebol – afinal, o público foi de 19 mil pessoas -, com a avenida principal interditada por alguns minutos pela polícia. A grande maioria do público se dissipou pelos utilitários esportivos, febre nos Estados Unidos. Mas cerca de 20 pessoas ficaram na parada de ônibus em frente à arena.

Lá fiquei durante 15 minutos, até a chegada do ônibus, na mais absoluta tranquilidade. Jovem arrêa? Inferno Coral arrêa? Fanáutico arrêa? No máximo, let’s go Heat.