Flamengo de Guerrero elimina o Náutico e mantém escrita contra pernambucanos

Copa do Brasil 2015, 3ª fase: Náutico x Flamengo. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

O Flamengo manteve a escrita em mata-matas contra clubes pernambucanos. Ao vencer o Náutico por 2 x 0, na Arena Pernambuco, o time carioca chegou a 6 classificações em 6 disputas eliminatórias em torneios nacionais. O próprio Timbu já hava caído uma vez, na semifinal da Copa do Brasil de 1990. Naquela ocasião, foi goleado na ida, atuando quase sem chances nos Aflitos. Desta vez, não. Com o 1 x 1 arrancado no Maracanã, bastava não sofrer gols como mandante para chegar às oitavas de final, onde esteve pela última vez em 2011.

Além do contexto histórico (ainda inédito), valia representaria uma cota de R$ 690 mil, essencial para acalmar as finanças alvirrubras na Série B, a sua prioridade esportiva. Por tudo isso, mesmo com chuva, horário ingrato (22h) e falta de transporte público, com o governo do estado recomendando a utilização de táxis, a torcida compareceu. Foram 16 mil pessoas, no maior público do Náutico este ano. Mas o time decepcionou, com a grande diferença, claro, em campo. No Rio, o Fla contou com um ataque mambembe – em parte responsável pela fraca campanha no Brasileirão. De lá para cá, se reforçou à vera, com Emerson Sheik e Paolo Guerrero. O primeiro impôs o seu ritmo veloz, mas foi o peruano que se destacou no posicionamento e nas finalizações.

Após um primeiro tempo controlado, apesar da posse inferior (47%), o Náutico voltou sem ímpeto ofensivo. Também sem “fome” até então, o Mengo passou a trocar mais passes. O suficiente para envolver a desfalcada defesa alvirrubra. Aos 5, Jorge marcou o seu primeiro gol como profissional, obrigando o Náutico a se mexer. As chances apareceram, várias vezes. Só não havia um Guerrero do lado de cá. No fim, a exposição gerou espaço para contragolpes, um deles mortal, com a bola indo para Guerrero decretar a vitória e a escrita.

Copa do Brasil 2015, 3ª fase: Náutico x Flamengo. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Contra o Fla, a torcida do Náutico abre faixa de protesto contra a espanholização

Copa do Brasil 2015, 3ª fase: Náutico x Flamengo. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

O confronto entre Náutico e Flamengo, pela Copa do Brasil de 2015, expôs uma diferença gigantesca em termos de finanças. Sendo didático, eis o comparativo entre as receitas operacionais divulgadas em 2014.

Timbu: R$ 15,9 milhões
Mengo: R$ 334,3 milhões

O rubro-negro carioca tem uma torcida nacional, apontada como a maior do país, e uma marca rentável no mercado, inclusive no exterior. Há, sim, uma clara diferença em relação ao Alvirrubro. A projeção de torcidas, de acordo com a mais recente pesquisa do Ibope, de 2014, seria de 488 mil x 32 milhões. Pesa.

Entretanto, no faturamento há uma considerável parte reservada à cota de transmissão. Ao Fla, anualmente, a cota mais alta da Série A, ao lado do Corinthians, de R$ 110 milhões. Corresponde a 32% de sua receita. O Timbu, na Série B, precisa se contentar com R$ 3 milhões da televisão. Para o time pernambucano, isso representa 18%. Talvez esteja aí a base do protesto da torcida timbu no jogo na Arena Pernambuco, exibido para quase todo o país.

No anel inferior, torcedores levaram faixas com as seguintes mensagens: “Cotas de TV: R$ 150 milhões x R$ 3 milhões”, com o primeiro valor ‘majorado’, e “Onde está o Bom Senso?”, numa referência ao movimento criado pelos atletas para moralizar o futebol, criando boas condições de trabalho.

No blog, vale algumas observações:

1) Muitas pessoas atribuem como um processo de “espanholização” do futebol brasileiro a verba recebida pelo Flamengo através da tevê. Num contrato privado, entre duas partes (emissora e clube), o valor acordado pode ser, sim, diferenciado (para mais). O que se discute é um processo mais equânime em relação aos outros clubes de tradição no cenário peculiar que é o do nosso país, com pelo menos 18 times com mais de 1 milhão de torcedores. O modelo de distribuição da Premier League é o maior exemplo.

2) Enxergando mais especificamente o cenário de 2015, é possível mirar no rival do Fla, o Botafogo. Na Série B, o alvinegro recebeu R$ 45 milhões, com os 19 concorrentes, juntos, ganhando R$ 57 mi. É difícil concorrer de fato.

3) Sobre o Bom Senso F.C., o movimento é um viés positivo no futebol, criado em 2013. Contudo, a sua relação com o Náutico (e sua torcida, claro) ficou marcada pela greve durante o Brasileirão daquele ano, com Martinez à frente do processo. Os salários estavam atrasados, de fato, mas até hoje aquele foi o único caso articulado pelo grupo. Seria interessante a mesma pressão (necessária, diga-se) nos maiores clubes.

Copa do Brasil 2015, 3ª fase: Náutico x Flamengo. Imagem: Rede Globo/reprodução