A evolução da movimentação financeira da Copa do Nordeste, de 2013 a 2016

Bilheteria, Cotas de TV e marketing do Nordestão, de 2013 a 2016. Arte: Cassio Zirpoli/Infogram

A Copa do Nordeste de 2016 teve a maior premiação da história, mais de R$ 14 milhões. Contudo, a bilheteria foi a menor desde que o torneio voltou ao calendário oficial da CBF, assim como a média de público. Os 74 jogos – pela primeira vez não houve partidas com portões fechados – proporcionaram uma arrecadação de R$ 6,5 milhões (-40%), com seis mil torcedores a cada apresentação (-23%). Foi a primeira vez que um índice financeiro da competição sofreu redução. Crise econômica, nível técnico, mais jogos na tevê? Sobram explicações para uma avaliação. Mas é fato, os números dizem algo.

Ao todo, a movimentação financeira do Nordestão vencido pelo Santa Cruz ficou pouco abaixo de R$ 26 milhões, o patamar anterior, numa soma de rendas, cotas e o dinheiro gasto com marketing na competição, com ampla divulgação e organização. Para o próximo ano, aliás, a previsão é de um investimento de R$ 5 milhões apenas nesta área. Sobre o público presente, escasso nos 60 jogos na fase de grupos, os maiores clubes da região já articulam uma mudança para 2018, visando jogos de maior apelo, com criação de uma segunda divisão.

Eis os dados de público da Lampions League nesta retomada…

2016 (74 jogos)
Público pagante: 434.604
Média: 5.873

2015 (74 jogos, sendo 1 de portões fechados)
Público pagante: 570.777
Média: 7.818

2014 (62 jogos, sendo 1 de portões fechados)
Público pagante: 463.749
Média: 7.602

2013 (62 jogos, sendo 1 de portões fechados)
Público pagante: 517.709
Média: 8.487

A evolução da média de público.

Média de público do Nordestão, de 2013 a 2016. Arte: Cassio Zirpoli/Infogram

Ao analisar a soma de todas as receitas da Copa do Nordeste (televisão, renda e marketing), fica consolidado o status de principal torneio da região, bem à frente dos estaduais. Contudo, o número é basicamente a metade do valor estimado pelo presidente da Liga do Nordeste, Alexi Portela, para o auge do torneio, em 2018. Ele projeta R$ 50 milhões, com média de 20 mil pessoas. É possível?

A movimentação financeira do Nordestão de 2013 a 2016. Arte: Cassio Zirpoli/Infogram

Com cheque na final, Santa termina o Nordestão faturando R$ 3,5 milhões

Nordestão 2016, final: Campinense 1x1 Santa Cruz. Foto: Yuri de Lira/DP

Ao receber a taça do Nordestão de 2016, os tricolores também receberam um enorme cheque, simbolizando a premiação oficial da decisão: R$ 1 milhão. Com o valor, o Santa Cruz terminou o torneio com a cota máxima, de R$ 2,3 milhões. Somando à bilheteria nas seis partidas realizadas no Arruda, um faturamento de R$ 3,5 milhões, o maior entre os vinte times nesta edição.

Por sinal, esse número também foi o maior valor absoluto de um clube pernambucano desde que a Lampions League voltou ao calendário oficial da CBF, há quatro temporadas. E olhe que ainda há um ganho indireto, pois o título abriu caminho para as futuras cotas em dólar da Copa Sul-Americana – lembrando que o clube tem a pré-vaga do torneio internacional para 2016 e 2017. Abaixo, as rendas, públicos e cotas dos representantes da terrinha.

Balanço de receita dos pernambucanos na Lampions 2016
Santa Cruz (campeão)
Público: 79.146 pessoas em 6 jogos (média: 13.191)
Renda bruta: R$ 1.204.575
Cota: R$ 2,385 milhões
Total: R$ 3.589.575

Sport (4º lugar)
Público: 64.955 pessoas em 5 jogos (média: 12.991)
Renda bruta: R$ 1.148.265
Cota: R$ 1,385 milhão
Total: R$ 2.533.265

Salgueiro (6º lugar)
Público: 15.289 pessoas em 4 jogos (média: 3.822)
Renda bruta: R$ 34.854
Cota: R$ 935 mil
Total: R$ 969.854

Confira os borderôs dos três clubes locais, jogo a jogo, clicando aqui.

Cotas de participação da Lampions 2016
R$ 2,385 milhões (campeão) – Santa Cruz
R$ 1,885 milhão (vice) – Campinense
R$ 1,385 milhão (semifinalista) – Bahia e Sport
R$ 935 mil (quartas de final) – Ceará, Salgueiro, CRB e Fortaleza
R$ 505 mil (fase de grupos) – Vitória da Conquista, América-RN, Coruripe, Estanciano, Botafogo-PB, ABC, Confiança e Juazeirense
Sem cota – Sampaio Corrêa, River, Imperatriz e Flamengo-PI* 

* Entre 2015 e 2017, os clubes maranhenses e piauienses, recém-integrados, só recebem cotas a partir das quarta

Santa Cruz, o Terror do Nordeste

Santa Cruz, campeão da Copa do Nordeste de 2016. Arte: Cassio Zirpoli/DP

“Santa Cruz, Santa Cruz
Junta mais essa vitória
Santa Cruz, Santa Cruz
Ao teu passado de glória
És o querido do povo
O terror do Nordeste
No gramado
Tuas vitórias de hoje
Nos lembram vitórias
Do passado
Clube querido da multidão
Tu és o supercampeão.”

Em 1948, o compositor coral Capiba compôs a marcha-exaltação O Mais Querido. Como o clube não levantou a taça estadual, ele guardou a letra. Hoje decorada em cada canto do Mundão, a canção só seria lançada em 1957, com uma palavra a mais, “super”, em homenagem à conquista daquele ano.

Em um dos versos há a expressão “terror do Nordeste”, no embalo da massiva participação popular e das façanhas pioneiras no futebol da região. Como a vitória sobre o Botafogo em 1919, a primeira de um nordestino sobre uma equipe carioca, até então o maior centro, o triunfo sobre a Seleção Brasileira em 1934 (apenas Galo, em 1969, e Fla, em 1976, repetiram) e a conquista do primeiro Torneio Pernambuco-Bahia, em 1956, com um generoso peso na época.

História que não se apaga, mas talvez hoje a justificativa nunca tenha sido tão real. O troféu dourado erguido por Tiago Cardoso em Campina Grande simboliza a maior conquista do Santa Cruz. Legítimo campeão da Copa do Nordeste de 2016, pintando um imensa parte do país em preto, branco e encarnado

Parabéns ao Santa, parabéns os leitores tricolores!

Empurrado pela multidão, o Santa Cruz reage no fim e conquista o Nordestão

Nordestão 2016, final: Campinense 1x1 Santa Cruz. Foto: Yuri de Lira/DP

Repetindo o roteiro dos últimos anos, de se agigantar nos mata-matas, na hora decisiva, o Santa Cruz chegou ao ápice de sua centenária história. Em um final de jogo emocionante em Campina Grande, o Tricolor reagiu, empatou com o Campinense e conquistou a Copa do Nordeste. Com todos os méritos possíveis. No Amigão, uma multidão de tricolores, bem acima da expectativa de três mil. Foi quase o dobro. Uma torcida que viajou 198 quilômetros para cantar e apoiar até o fim. Sendo recompensada com lágrimas de uma emoção inédita.

Era preciso trabalhar a vantagem do empate, mas sem perder as características do time nessa passagem de Milton Mendes. Tanto que o Santa largou sem João Paulo, preocupação durante a semana, mas o técnico manteve a escalação do Arruda, bem ofensiva, com jogadores leves no meio-campo e três atacantes. Por linhas tortas, a formação acabou mudando para a ideal aos 14 minutos, quando Leandrinho sentiu a coxa. João Paulo foi acionado, indo para o sacrifício. Literalmente, sem deixar espaço para o adversário. Um dado que ilustra isso é a posse de bola da Raposa, 57%. Girou, girou e quase não criou chances efetivas, com Rodrigão com marcação dupla – Neris e alguém na sobra.

Nordestão 2016, final: Campinense 1x1 Santa Cruz. Foto: Ricardo Fernandes/DP

Enquanto isso, o Tricolor, armado para o contragolpe, teve a chance para matar aos 26. Grande jogada de Arthur, que deixou Grafite livre, na marca do pênalti. Um quique na bola atrapalhou o camisa 23, que isolou. No intervalo, o elétrico técnico Francisco Diá fez uma mudança ousada, tirando o camisa 10, Roger Gaúcho. De fato, o meia não acertou nada e a Raposa precisava de agilidade. Com o sol caindo, o segundo tempo seria mesmo mais nervoso. Seguiu com poucas chances e muitas divididas até os 25 minutos. Num lance quase fatal, o Campinense tocou bem a bola, num espaço mínimo. E realmente bastou um centímetro de vacilo para Rodrigão guardar. Recebeu e tocou com categoria, no canto esquerdo de Tiago Cardoso. O 9º gol do artilheiro, invertendo a situação.

Logo depois, Bruno Moraes entrou no lugar de Vitor, com o time pernambucano indo para o all in. Apostando tudo, na pressão e com o coração, o Tricolor chegou lá. Em outra jogada decisiva de Keno, a bola rolou para Arthur empatar. A partir dali, o copeirismo imperou, com o 1 x 1 eternizado em uma campanha com 7 vitórias, 3 empates e apenas 2 derrotas. Parabéns, Santa Cruz! Ah, o clube ainda ganhou R$ 1 milhão e vagas na Sul-Americana de 2016 e 2017…

Nordestão 2016, final: Campinense 1x1 Santa Cruz. Foto: Ricardo Fernandes/DP