Grafite encerra história no Santa Cruz com 47 gols espalhados em 16 anos

Grafite balançando as redes no Santa Cruz. Foto: Rafael Martins/DP

Acabou a segunda passagem de Grafite no Santa, antecipando o distrato em um ano. O rebaixamento e o atraso de salário (quatro meses) pesaram na decisão do experiente centroavante, que manteve a sua média de gols mesmo num intervalo de 13 anos vestindo a camisa coral. Tanto no período 2001/2002 quanto em 2015/2016, o Grafa estabeleceu um índice de 0,43 gol por partida, tendo justamente em sua última temporada, aos 37 anos, o maior número de jogos: 56! De fato, o desgaste físico acabou atrapalhando, como relatou o próprio jogador.

Melhores momentos
Vice-campeão da Série B, 2015
Campeão nordestino, 2016 (craque da competição)
Campeão pernambucano, 2016 (craque da competição)

Piores momentos
Rebaixamentos na Série A, em 2001 e 2016

Quando chegou ao Arruda, aos 22 anos, foi alvo de críticas pelos gols perdidos. Buscando seu espaço, mostrou qualidade técnica e acabou vendido ao Grêmio por R$ 1 milhão, na 8ª maior transação do futebol local até então. Retornando na reta final de sua carreira, já com a participação em uma Copa do Mundo e com o status de craque da Bundesliga, Grafite acertou o maior contrato já visto no tricolor, de R$ 166 mil mensais. Investimento pesado e com resultado imediato, tendo na sequência o acesso à elite, o inédito título do Nordestão e o bi estadual. No Brasileiro, viveu uma má fase, chegando a 15 jogos de jejum, mas ainda chegou em dezembro como vice-artilheiro. O Grafa já está marcado no Santa.

Estatística de Grafite no Santa Cruz. Arte: Cassio Zirpoli/DP

Clássico das Multidões de 1978 filmado em Super-8, por Geneton Moraes Neto

Imagens do vídeo "Esses onze aí: um filme panfletário, a favor do futebol", de 1978

Arruda, 1978. Casa cheia, com bandeiras tricolores e rubro-negras em cores vivas. Craques em campo. E imagens de um jogo histórico. Que raridade! Ainda que o acervo fotográfico dos clássicos pernambucanos seja rico, em relação aos vídeos a história é quase restrita ao período a partir de 1980, quando foi iniciada a documentação regular da Globo Nordeste. Antes disso, apenas alguns jogos, em preto e branco – o gol do hexa alvirrubro, por exemplo, só foi encontrado 46 anos depois, em um acervo no Rio. Por isso, é uma relíquia o curta “Esses onze aí: um filme panfletário, a favor do futebol”, produzido por Geneton Moraes Neto e Paulo Cunha em 1978, com imagens do Clássico das Multidões. No período da ditadura militar, o filme (assista abaixo) usa o futebol como contraponto ao regime, contrariando ainda aqueles que apontavam o esporte mais popular do país como fator de alienação, como frisa um trecho:

“O futebol não é a cartolagem corrupta, nem a política rasteira da CBD (precursora da CBF) nem o sonho dos treze pontos (a loteca), transformado em assalto semanal aos bolsos já vazios. O futebol é o coração pulsando de raiva, é o grito na garganta. O nosso futebol é a verdadeira estética da fome.”

O curta de dez minutos traz entrevistas com Zagallo, Palhinha e e duas estrelas do Santa Cruz, Nunes e Givanildo. Apesar de não informar o jogo em questão, os dois gols apresentados – gravados atrás da barra da Rua das Moças, com uma câmera Super-8 – seriam da goleada coral por 3 x 0, em 2 de julho de 1978, pelo Campeonato Brasileiro. Clássico acompanhado por 39.678 torcedores, apinhados no Mundão, ainda sem o anel superior. Os dois rivais viviam grande fase. O Santa acabaria a competição em 5º lugar e o Sport em 8º. Foi a única vez em que dois pernambucanos ficaram entre os dez primeiros.

Sobre o idealizador do filme, o jornalista (e rubro-negro) Geneton Moraes Neto foi um dos mais renomados do país. Faleceu em 2016, aos 60 anos, dos quais 40 no jornalismo, passando pelo Diario de Pernambuco, Estado de S. Paulo e Rede Globo, onde foi editor-chefe do Fantástico, sem jamais abandonar a paixão pelo futebol. Abaixo, a descrição do próprio Geneton sobre o documentário.

“A quem interessar possa: houve, entre a segunda metade dos anos setenta e o início dos anos oitenta, uma espécie de movimento de cinema Super-8 no Recife. Era – quase – a única maneira de fazer filmes, em meio à falta de condições e ao sufoco geral. O locutor-que-vos-fala participou do movimento. (…) Os monitores dos computadores se transformaram em telas – inclusive para nossos velhos e precários ‘filmecos’, como diria Amin Stepple. Ainda bem! De outra maneira, os filmes poderiam sumir na poeira da estrada. Em cartaz: ‘Esses Onze Aí’ – feito em parceria com Paulo Cunha, hoje um ativíssimo professor de cinema. Tema do filme: o futebol. Vai começar a partida.”