Os 100 anos entre a Liga Sportiva e a Federação Pernambucana de Futebol

Logotipo oficial em homenagem aos 100 anos da FPF. Crédito: divulgação

A Federação Pernambucana de Futebol completou 100 anos de fundação. Há exatamente um século, em 16 de junho 1915, o Diario de Pernambucou publicou o seguinte texto sobre a organização da entidade:

“Hoje, às 18 horas, haverá reunião das comissões representativas dos clubes esportivos desta capital, a fim de discutirem o melhor de organização de uma Liga de Futebol. Pede-se o comparecimento das comissões de todos os clubes à dita reunião, que se efetuará na Estrada de João de Barros, número 19-A”.

A criação vinha se desenhando há alguns anos, após as frustradas tentativas da direção do João de Barros (atual América) com a Liga Pernambucana de Football e a Liga Recifense, em 1912 e 1913, respectivamente.

Aparando as arestas, a bola começou a rolar de forma organizada. Participaram da pioneira reunião os dirigentes do João de Barros, Peres, Flamengo, Santa Cruz e Agros de Socorro. O debate começou logo em relação à escolha do nome. Liga Pernambucana de Esportes e Liga Pernambucana de Esportes Atléticos foram os primeiros postos na mesa. Ambos rejeitados, terminando a noite com o nome “Liga Sportiva Pernambucana “, proposto não por acaso pelo primeiro presidente, Aristheu Accioly Lins. Em 1915, aliás, a presidência passou de mão quatro vezes, seguindo com Alcebíades Braga, Henrique Jacques e Melchior do Amaral. Aquele ano ainda ficaria marcado também pelo primeiro Campeonato Pernambucano, vencido pelo Flamengo do Recife, hoje extinto.

Evolução do logotipo da FPF. Arte: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

Nesse tempo todo, a federação mudou de nome algumas vezes.

1915 – Liga Sportiva Pernambucana (LSP)
1918 – Liga Pernambucana de Desportos Terrestres (LPDT)
1931 – Federação Pernambucana de Desportos (FPD)
1955 – Federação Pernambucana de Futebol (FPF)

Com a nomenclatura atual, de 60 anos, o distintivo também foi repaginado.

Em relação ao endereço, a última mudança foi em 1952, no local onde seria erguido duas décadas depois o tradicional Palácio dos Esportes, de nº 871 da Rua Dom Bosco, na Boa Vista. Nos bastidores do prédio de vidraça azulada já circularam 93 filiados, entre clubes e ligas municipais. Gente demais fomentando o trabalho da federação, um verdadeiro cartório do futebol, tendo como resultado um patrimônio líquido de R$ 11,5 milhões. Sob o comando de seu 31º presidente, Evandro Carvalho, a FPF organiza a cada ano nove torneios: Pernambucano, Estaduais Sub 23, Sub 20, Sub 17, Sub 15 e Feminino, Campeonato Amador, Copa do Interior e Taça Recife de Comunidades.

Politicamente, a FPF mantém há tempos um diálogo polêmico com os grandes clubes, Náutico, Santa Cruz e Sport. Trata-se de um traço recorrente em outras federações estaduais. Seja por decisões unilaterais, regulamentos esdrúxulos ou o não cumprimento de regras básicas, como o Estatuto do Torcedor, a entidade acabou sendo vista de relance pelos torcedores no estado.

Isso dificilmente mudará a curto prazo, ainda mais com a vigente a luta entre Estadual x Nordestão, na qual o melhor modelo aos times de massa parece em segundo plano para a direção. De toda forma, a FPF, que se confunde com os nomes de Rubem Moreira (1954-1982) e Carlos Alberto Oliveira (1995-2011), se mantém de pé como uma das mais ricas federações do Brasil. Que no segundo século de existência esse poder seja equivalente ao de seus filiados.

Sede da Federação Pernambucana de Futebol. Foto: FPF/divulgação

Milionário, patrimônio líquido da FPF cresce 31% em um ano

Confira abaixo o balanço financeiro da Federação Pernambucana de Futebol em 2011, publicado na página 22 do Diário Oficial do Estado no dia 15 de março (veja aqui).

Lucro da FPF: 2009/R$ 675.234, 2010/R$ 297.742 e 2011/R$ 898.500.

Em um ano, o patrimônio líquido da entidade subiu de R$ 2.858.889 para R$ 3.757.389. Ou seja, um crescimento de 31,4%. Nada mal…

A auditoria sobre os dados de 2011 foi realizada pela Ferreira & Associados Auditores Independentes S/S, a mesma que produziu a contabilidade da temporada anterior.

De uma forma geral, as entidades que comandam o futebol, sem despesas pesadas, estão cada vez mais ricas, na contramão dos clubes, operando há anos no vermelho…

Balanço da FPF em 2011

Troféu CAO para o goleador

Chuteira de ouro

Novidade de última hora no Estadual…

Carlos Alberto Oliveira, presidente da Federação Pernambucana de Futebol entre 1995 e 2011, será homenageado no Campeonato Pernambucano desta temporada.

O dirigente, falecido no ano passado, vai emprestar o nome da taça oficial para o artilheiro da competição, criando, assim, o Troféu Carlos Alberto Oliveira.

Segundo a justificativa do atual mandatário da federação, Evandro Carvalho, CAO foi um goleador na arte de interiorizar a competição.

Daí, a chuteira de ouro…

O prêmio deverá se tornar fixo na estrutura do Estadual.

A amaldiçoada Taça Zumbi

Zumbi

Pode-se afirmar que a fórmula do Estadual do ano que vem foi o último ato de Carlos Alberto Oliveira como presidente da FPF.

No domingo passado, quando acompanhava a delegação coral em João Pessoa, ele recebeu um e-mail com um documento de 29 páginas com o esboço da competição.

Ele imprimiu o arquivo e fez todas as correções a mão, rabiscando com uma caneta.

Ajustes em alguns capítulos e exigência de clareza no texto em outros artigos.

No bojo, o regulamento do Pernambucano de 2012 foi aprovado pelo mandatário.

No entanto, algo havia tirado a paciência do dirigente durante toda a leitura.

Uma tal “Taça Zumbi”, escrita em negrito e presente em boa parte do regulamento, relacionada aos quadrangulares do rebaixamento, na segunda fase da competição.

Leu uma, duas, três vezes… Taça Zumbi…

Carlos Alberto não se conteve e ligou na hora para o amigo e secretário-geral da federação, João Caixero, para tirar aquela dúvida.

“Que nome é esse? Quem disse que vai ser Taça Zumbi?”

“O nome foi apenas para dar um exemplo, Carlos Alberto, pois 13 de maio (data da final) é o dia de Zumbi (Lei Áurea, de fato). Era só para deixar um nome no troféu”.

“Pode falar para tirar logo do papel. Esse troféu vai ser uma homenagem a alguém e eu ainda vou escolher. A um Zumbi é que não vai ser!”

Ainda que o troféu, o substituto da Taça do Interior, receba outro nome, a verdade é que a denominação “Zumbi” se encaixa perfeitamente para o quadrangular da morte…

Eternizado na história limoeirense e pernambucana

Busto de Carlos Alberto Oliveira. Foto: Rodolfo Bourbon/Diario de Pernambuco

Chegou a hora do último adeus a Carlos Alberto Oliveira. Com uma personalidade forte, o dirigente deixou frases polêmicas durante a sua longa gestão à frente da FPF.

A cada entrevista, a certeza de que a conversa com o presidente da FPF, natural de Limoeiro, resultaria em algo marcante, base para debates.

Confira algumas dessas declarações, proferidas nas últimas três temporadas.

“Você é incompetente. Você não sabe fazer futebol. Você pegou um time de R$ 300 mil do Santa Cruz e que deu três pisas no seu time de 2 x 0. Aprenda a fazer futebol ou saia disso. Me respeite. Deixe de ser moleque”

Resposta ao diretor do Sport, Wanderson Lacerda, que, após a abertura da final do Estadual deste ano, insinuou que a FPF estava “conseguindo tirar o hexa do Sport”.

Não vou poupar ninguém. Quem estiver na frente vai ser atropelado. Um dos dois vai se dar mal. É preciso ter responsabilidade nessa história e eu estou indignado. Já organizei 16 campeonatos e nunca houve isso

Irritado com a denúncia feita pelo Náutico antes do segundo jogo da semifinal do Estadual deste ano, na qual o Sport teria tentado subornar Eduardo Ramos.

“Não tenho tempo para perder com esse assunto não”

Sobre a insatisfação dos dirigentes da Cabense, que durante o Pernambucano de 2011 se sentiram perseguidos pela arbitragem.

“Criem o campeonato de vocês”

Dando uma “sugestão” à imprensa, no final de 2010, após ouvir críticas sobre o regulamento do Pernambucano deste ano, além do calendário apertado.

“Fazer o quê? Mudei fórmula de campeonato, mudei tabela, arrumei briga com o Sport, Justiça, e eles (o Santa Cruz) não ganham nada. Só se eu der o campeonato direto para eles”

Ao ser questionado sobre o que poderia fazer para ajudar o Santa Cruz. A frase foi dita durante o Estadual do ano passado.

“O campeonato é meu. Eu mudo se eu quiser”

Em 2009, sobre as mudanças em relação ao confuso Estadual de 2008, quando subiu o número de clubes de 10 para 12, beneficiando Centro Limoeirense e Petrolina.

Leia uma das entrevistas de maior repercussão feita pela blog com o dirigente aqui.

A costura da primeira homenagem

Estátua de Rocky, na Philadelphia.

Durante a entrega do Troféu Lance Final, destinado aos melhores jogadores do Campeonato Pernambucano deste ano, em 16 de maio, Carlos Alberto Oliveira subiu no palco para revelar o nome oficial do troféu do Estadual de 2012.

“Como forma de agradecimento a essa empresa amiga, correta, leal do futebol pernambucano, quero anunciar que o nome do troféu do próximo campeonato será Troféu Globo Nordeste.”

Agora, a cúpula da FPF estuda modificar a denominação da taça de campeão da próxima competição para “Troféu Carlos Alberto Oliveira”.

Ainda abatido, o secretário-geral da FPF, João Caixero, que também era amigo pessoal do dirigente, afirmou ao blog que a ideia já está sendo considerada.

“Carlos Alberto deu esse compromisso, divulgando o nome do troféu, mas a ausência dele nos move ao interesse de fazer uma homenagem. Vamos rever com a diretoria da FPF quando a vontade dele será cumprida (2012 ou 2013). Com a concordância da Globo, faríamos uma importante homenagem póstuma no próximo ano.”

Desde a notícia sobre o falecimento do mandatário, alguns torcedores chegaram a sugerir o nome de Carlos Alberto para a futura Arena Pernambuco. Por questões contratuais com o consórcio, porém, isso é basicamente impossível.

Mas tal homenagem já foi feita, em escala menor. Em Surubim, o campo local com capacidade para 4 mil pessoas chama-se Estádio Municipal Carlos Alberto Oliveira.

Até 1999, o nome era “Roberto Rivelino”, mas, após uma ajuda da FPF na ampliação da arquibancada, a nova denominação acabou sendo aprovada pela população.

Dez clubes em 2014, a meta possível

Camisa

Um novo presidente. Uma nova gestão.

Uma nova forma de enxergar o futebol pernambucano.

A princípio, nem melhor nem pior, mas diferente, podendo gerar, de cara, uma mudança importante em um futuro breve.

Em entrevista nesta segunda-feira, Evandro Carvalho revelou ao Diario ser favorável ao Estadual com dez clubes, algo que Carlos Alberto Oliveira sempre rechaçou.

Mais. O novo presidente da FPF afirmou que em 2008, quando o torneio foi inchado com mais dois clubes, estava viajando a trabalho, numa ação do seu escritório de advocacia.

Ou seja: não participou do processo que modificou a composição do Estadual.

Agora, aguarda a chegada do relatório sobre o Campeonato Pernambucano de 2011, encomendado por Carlos Alberto Oliveira há alguns meses.

O documento trata, inclusive, sobre a mudança do número de clubes, relacionando o tema com o custo-benefício. Um campeonato mais enxuto a caminho?

Para 2012, após dois anos com a mesma fórmula, o regulamento da competição já poderia ser modificado, seguindo as normas do Estatuto do Torcedor.

Porém, para evitar atrito com os clubes do interior, a medida sequer foi cogitada.

No entanto, em 2013 o campeonato poderá ter, sim, quatro clubes rebaixados e apenas dois times promovidos da Série A2, totalizando 10 participantes na edição de 2014.

O novo presidente da FPF

Evandro Carvalho, novo presidente da FPF. Foto: Celso Ishigami

Começa uma nova gestão, ainda nebulosa.

Com uma estrutura complexa, dotada de três vice-presidências executivas, secretário-geral e núcleo de futebol profissional, quem seria, de fato e de direito, o sucessor de Carlos Alberto Oliveira à frente da Federação Pernambucana de Futebol?

De acordo com o estatuto da entidade, a vaga pertence ao advogado Evandro Barros Carvalho, primeiro vice-presidente executivo da FPF.

Assume de forma imediata o comando de 93 filiados, entre clubes e ligas municipais.

Durante todo o tempo à frente da FPF, Carlos Alberto Oliveira sempre evitou falara sobre o possível sucessor. Aos poucos, começava a pensar um nome para 2015.

Infelizmente, não houve tempo para isso.

Evandro Carvalho assume o cargo até 2015, com longos quatro anos de gestão.

O dirigente, um ex-delegado de 54 anos e torcedor do Sport, diz que só vai falar sobre as suas futuras diretrizes nesta quarta-feira, após o sepultamento de Carlos Alberto.

Certamente, vai pensar bastante. Até mesmo se irá topar tamanha responsabilidade.

De qualquer forma, eis o novo homem-forte do futebol do estado.

O fim da segunda era do futebol pernambucano

Carlos Alberto Oliveira. Foto: Jaqueline Maia/Diario de Pernambuco

Ele foi empossado presidente aos 52 anos, no distante ano de 1995, no lugar do irmão.

Só deixaria a cadeira em dezembro de 2015, duas décadas depois, aos 73 anos.

A foto de Jaqueline Maia deixa claro todo o tempo à frente da Federação Pernambucana de Futebol, com um dirigente já consumido pelo cansaço de cinco mandatos, pelas inúmeras brigas, confusões e estilo de confronto, em prol do estado, sob sua ótica.

Bateu de frente até mesmo com a CBF, durante boa parte de sua gestão, até retomar a amizade com Ricardo Teixeira em 2009.

Na manhã desta segunda-feira, aos 69 anos, bem antes de seu desejo de comandar o futebol pernambucano no centenário da FPF, em 2015, Carlos Alberto Oliveira faleceu.

Vítima de um infarto fulminante.

Chega ao fim a segunda maior era de um dirigente na presidência da federação, com 16 anos, abaixo apenas de Rubem Moreira, com intermináveis 27 anos, entre 1955 e 1982.

Com Carlos Alberto, Pernambuco viveu, indiscutivelmente, altos e baixos.

Do Estadual com estádios cada vez mais vazios nos anos 90 ao Pernambucano recordista de público, mas dependente de subsídios do governo do estado.

Do torneio radicado apenas no Grande Recife a uma competição que desbravou todo o interior, chegando até o Sertão do São Francisco.

Uma história com regulamentos feitos sob medida para tentar nivelar velhos rivais nos campeonatos (apesar do abismo entre eles), passando por cima de critérios técnicos.

De inchaços em competições que asfixiaram o calendário futebolístico de Pernambuco.

De torneios transmitidos apenas pelo rádio, sem receita alguma para os clubes, à geração da TV ao vivo, incluindo pacotes modernos como o pay-per-view.

Transformou a FPF em uma entidade rica, com patrimônio de R$ 2,8 milhões, valor suficiente para bancar torneios de várias categorias, como infantil, juvenil, Copa do Interior, amador e feminino. Por outro lado, viu ao mesmo tempo a gangorra dos clubes profissionais nas divisões nacionais, saindo da Série A e pisando até na D.

Foram 14 anos sem jogos da Seleção no Recife por causa de discussões de ego. No meio disso, a vitória do estado como subsede do Mundial de 2014. Apoiou o projeto.

Enfim, altos e baixos. Ditadura para uns, gestão firme para outros.

Polêmicas e divergências de opinião à parte, o futebol pernambucano está de luto.