Há 30 anos, o álcool afogou um gênio

Imagens da carreira de Garrincha

Por Lucas Fitipaldi*

Os últimos suspiros foram um espelho do pós-auge. Findado o período de glórias, deu-se início à decadência. Um dos maiores ídolos da história deste país fraquejou, tirou a própria vida sem cometer suicídio. Parou no único adversário capaz de contê-lo. Manuel Francisco dos Santos cumpriu os últimos anos de vida invisível. Pobre. Quase esquecido. Agonizou na cachaça. Mergulhado numa condição de vida precária.

Os últimos dias de vida foram regados a álcool, perambulando de bar em bar pela vizinhança, em Bangu, onde morava numa casa alugada pela Confederação Brasileira de Futebol. Bebeu do domingo, 16, até o dia 19 de janeiro de 1983: uma quarta-feira mais cinza que qualquer outra. O corpo sucumbiu aos excessos. Ficou a história. Eterna. Não há vício. Desleixo que consiga apagar.

Manuel definhou sem chamar atenção. Manuel. Garrincha jamais será esquecido. Um triste fim para quem era chamado de “a alegria do povo”. O mundo ficou mais sisudo. Sem a irreverência, o sorriso puro de Mané. Àquela altura, os dribles desconcertantes eram só boas lembranças. E quantos foram. Mané tinha o dom de fazer a bola sorrir.

Começou a jogar profissionalmente aos 19 anos. Aos 29, experimentou o auge. Pendurou as chuteiras dez anos mais tarde, aos 39. Morreu aos 49, de coma alcoólico. Como estaria neste sábado, exatos 30 anos depois? Muito provavelmente, levando a mesma vida simples e desregrada em algum subúrbio do Rio de Janeiro.

Garrincha também ficou marcado por uma certa ingenuidade, um certo desapego. Gostava mesmo era de tomar cachaça e jogar bola. Não importa se na Suécia ou em Pau Grande, seu cantinho predileto no Rio. Dos tantos feitos com as camisas da Seleção Brasileira e do Botafogo, um destoa.

Quem mais seria capaz de minimizar a perda de Pelé, no auge da forma, em plena Copa do Mundo? O uso do verbo minimizar, no caso, é apenas um gesto em respeito ao rei. Em 1962, no Chile, Garrincha fez o brasileiro ter um ataque de amnésia. Jogou pelos dois. A verdade é que ninguém sentiu falta do camisa 10. Nenhum outro jogador conseguiu jogar tanto numa mesma Copa do Mundo. Pelé teria feito o mesmo? A mais breve reflexão pontua a dimensão do gênio.

* Lucas Fitipaldi, repórter da editoria de esportes do Diario de Pernambucano

Cinquentenário do domínio brasileiro nas taças do futebol

Copa do Mundo 1962, final: Brasil 3 x 1 Tchecoslováquia. Foto: CBF/divulgação

Há 50 anos a Seleção Brasileira conquistava o bicampeonato mundial.

O triunfo em Santiago, no Chile, transformava o Brasil de vez no “país do futebol”.

Quase 70 mil pessoas no estádio Nacional viram o auge de Garrincha, que tomou para si aquela Copa, depois que Pelé se machucou no início da competição.

Com 25 anos, Mané esbanjou habilidade, arte e marcou gols decisivos.

O anjo das pernas tortas liderou tecnicamente um time bem experiente, com a base de 1958. Estavam lá Nilton Santos, de 37 anos, Didi, 34, Djalma Santos, 33, e Gilmar, 32.

A caminhada invicta teve o seu desfecho em 17 de junho de 1962.

Masopust até abriu o placar para a Tchecoslováquia aos 15 minutos, mas o atacante Amarildo, o “Possesso”, empatou dois minutos depois.

Possesso? Sim, este é o célebre apelido dado pelo escritor Nelson Rodrigues àquele que conseguiu substituir Pelé à altura. Apelido com cara de sobrenome.

Na etapa final, Zito virou o jogo aos 24. Aos 33, Vavá cravou o 3 x 1 do título.

Acompanhando a decisão pelo rádio, a torcida brasileira festejou a conquista nas ruas e só pôde assistir ao jogo dois dias depois, no cinema. TV ao vivo, só a partir de 1970.

Desde que o capitão Mauro Ramos ergueu a Taça Jules Rimet, o Brasil mantém o status de maior campeão. Até ali, Itália e Uruguai eram os maiores vencedores, bicampeões.

O tri da Seleção em 1970 só seria igualado em 1982 (Itália) e 1990 (Alemanha). Igualado sim, ultrapassado jamais. Em 1994, o tetra. Em 2002, o penta. Pioneiros.

Portanto, este 17 de junho de 2012 é o jubileu do gigante…

Idolatria clubística

Pelé (Santos) e Garrincha (Botafogo). Foto: Fifa/divulgação

Ídolo no futebol.

Gênio? Não precisa ser um supercraque…

Não é regra que a idolatria pouse no artilheiro, ou no goleiro.

Pode ser um lateral, um meia. Por que não um volante?! Em alguns casos, até mesmo o reserva ganha tal status diante de uma apaixonada torcida.

Então, qual é o seu maior ídolo no clube do seu coração?

Essa é a pergunta feita pela Fifa para torcedores de todo o mundo (veja AQUI).

Comente e argumente…

Mistério de Jerkovic

Copa do Mundo de 1962Tarde do dia 7 de junho de 1962.

Estádio Carlos Dittborn, na província de Arica.  Extremo Norte do Chile.

Clima agradável, próximo aos 20 graus. Nas tribunas, 7.167 torcedores da pacata cidade. Em campo, Iugoslávia e Colômbia, no jogo que encerraria o grupo 1 da Copa do Mundo.

Para chegar às quartas de final, o time europeu precisava pelo menos empatar com os colombianos, que ainda sonhavam.

Foi um massacre iugoslavo: 5 x 0. Vaga garantida. Com show e aplausos do público!

O terceiro gol da partida, amplamente dominado pelos eslavos, saiu aos 16 minutos do segundo tempo. O árbitro chileno Carlos Robles assinalou o gol para Milan Galic, que numa tarde inspirada já havia aberto o placar.

Sem polemizar, o atacante Drazan Jerkovic disse (ou tentou dizer…) que havia tocado na bola antes dela cruzar a linha.

O camisa 9 estava falando a verdade. Mas ficou nisso. Nem ele mesmo reclamou depois, até porque marcou dois gols naquela partida.

No fim daquele Mundial, a Iugoslávia acabaria na 4ª colocação, na última grande campanha do país, hoje dissolvido em uma colcha de retalhos nos Balcãs e representado pela Sérvia (veja AQUI).

Jerkovic, então com 25 anos e jogador do Dinamo Zagreb, terminou com 4 gols.

Artilheiro da Copa do Mundo de 1962.

Dividiu o status com outros cinco jogadores… Os brasileiros Vavá e Garrincha, o chileno Leonel Sanchez, o húngaro Florian Albert e o soviético Valentin Ivanov. 😯

Nunca a chuteira de ouro do Mundial havia sido dividida por tantos jogadores. E por tão poucos gols…

O tempo passou. Mais precisamente, 31 anos. Em 1993, a Fifa revisou o videotape da partida. O gol foi mesmo de Jerkovic, o verdadeiro goleador da competição, com 5 gols.

O gol foi oficializado. Mas a papelada segue incorreta. Quase duas décadas depois e a Fifa ainda não mudou o resultado (veja AQUI).

Em 2008, Drazan Jerkovic morreu aos 72 anos de idade.

Levou consigo uma dúvida histórica. E deixou a Fifa com uma dívida ainda maior…

O “pai” do Anjo das Pernas Tortas

Você já ouviu alguma vez a expressão o “Anjo das Pernas Tortas”, numa referência ao gênio Garrincha…? Virou quase um sobrenome do atacante que formou a maior dupla da história da Seleção Brasileira.

Mérito do jornalista Armando Nogueira. Um botafoguense apaixonado, que foi a base de muitos outros jornalistas esportivos no país. E que faleceu na manhã desta segunda-feira, aos 83 anos, após lutar durante três anos contra um câncer.

Abaixo, um vídeo com imagens do filme “Garrincha, a Alegria do Povo”, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, em 1964, e intercalado com trechos de um poema de Armando sobre um dos maiores jogadores de futebol em todos os tempos.

É por ti, Fogo!

BotafogoO Botafogo de Futebol e Regatas completa hoje 104 anos de história. Apesar de ter contado com um timaço nos anos 60, cujo craque era simplesmente Mané Garrincha, o Fogão (Alvinegro, Estrela Solitária, Bota…) vive um momento de transição. O ponto de partida foi o arrendamento do estádio Engenhão, no ano passado. O time administrará o estádio pelos próximos 19 anos.

O maior título do Botafogo foi a conquista do Campeonato Brasileiro de 1995, numa polêmica final contra o Santos, no Pacaembu. O clube também conquistou a Taça Brasil de 1968. Fora das fronteiras do país, o Botafogo venceu a extinta Copa Conmebol, em 1993.

Depois de amarelar bastante nos últimos anos (principalmente diante do Flamengo), o Botafogo começa na próxima quinta-feira, contra o Atlético-MG, no Rio, a luta pelo título da Copa Sul-Americana. A taça, instituída pela Conmebol em 2002, ainda é inédita para o futebol brasileiro.

Curiosidade: O Botafogo aplicou aquela que é, até hoje, a maior goleada da história do futebol brasileiro. No dia 30 de maio de 1909, durante o Campeonato Carioca, o Fogão venceu o Mangueira por 24 x 0. Repito: 24 x 0.

Site oficial do Botafogo: http://www.botafogonocoracao.com.br/

História do Botafogo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Botafogo_de_Futebol_e_Regatas

“É por ti, Fogoooo” = http://www.youtube.com/watch?v=inOvY3bUdek

PS. Cuca, homenageado em um vídeo tão recente, deverá pisar hoje nas Laranjeiras para substituir Renato Gaúcho no comando do Flu. Que ironia, hein?

Enfim… Parabéns, Botafogo.