Do problemático crachá ao jogo do Salgueiro, dias especiais na rota da Seleção na Granja Comary

Crachá para a cobertura da Seleção Brasileira na Granja Comary em 2014. Foto: Cassio Zirpoli/DP/D.A Press

Teresópolis – São 1.632 profissionais da imprensa trabalhando na cobertura da Seleção Brasileira na Granja Comary. Acompanhar a preparação da equipe de Felipão para o Mundial de 2014 vem sendo bem corrido, com uma carga horária acima do normal e a consciência de que trata-se de um trabalho especial.

Numa interação com torcedores no twitter, algo que procuro (e gosto) fazer bastante, alguns me pediram algo específico. Sugeriram uma postagem sobre essa experiência (massa), justamente pela proximidade do relato, quase um canal direto com com o centro de treinamento da Seleção.

Realmente, fazia sentido. Afinal, no treino do mesmo dia, um domingo, postei várias mensagens e fotos sobre o desempenho dos jogadores no campo principal, mas sem deixar de conversar com a galera. Era tudo inédito para mim na Granja Comary.

Como jornalista esportivo – a área que sempre quis -, escrever sobre a Seleção é um objetivo que você projeta naturalmente. A minha primeira grande oportunidade do tipo (e inesquecível, diga-se) foi em 2011, na Copa América, durante 26 dias na Argentina. Agora, um cenário semelhante, mas com uma estrutura ainda maior, mais moderna. O mesmo espaço é dividido com jornalistas de renome nacional, como Juca Kfouri, PVC e Tino Marcos. É impossível ficar parado, pela agenda (treino às 9h30, coletiva com dois jogadores às 12h30 e treino às 15h30). Texto, texto, foto, texto, Superesportes, blog, correção…

O ritmo é diferente, sem dúvida. Ou seja, como profissional, só tenho a aprender aqui.

Em relação ao contato com os jogadores, há hoje uma barreira. Há 15 anos era possível entrevistar atletas pessoalmente, independentemente do seu veículo – e aqui, sem dúvida, isso faz diferença. Hoje, o contato é restrito às coletivas, em jogadores indicados pela própria comissão técnica/assessoria. Os principais, Neymar e Fred, por exemplo, demoram a entrar na pauta. A blindagem é clara.

No momento em que tudo isso é transmitido ao vivo em sites e canais de tevê, como ser diferente no conteúdo? Como justificar o investimento? E é óbvio que o Diario de Pernambuco fez isso para que eu estivesse no Rio. O caminho parece ser o de contextualizar depoimentos, histórias, treinamentos, regulamentos etc. Cada um procurando o seu viés. Ao jornal Estado de S. Paulo, a lesão de Paulinho, ex-Corinthians, ganhou um destaque maior. No Diario, a entrada do pernambucano Hernanes na vaga foi o direcionamento adotado. Leituras diferentes de um mesmo episódio.

Existem momentos complicados, desde uma apuração, uma pergunta não efetuada nas concorridas coletivas e problemas logísticos. No meu caso, o crachá ainda não estava no sistema no primeiro dia. Ou seja, não havia liberação para entrar na granja. Telefonemas, e-mails, respostas e, muito tempo depois, chegou.

Cada crachá de acesso, aliás, tem a sua limitação. Estou liberado para o centro de imprensa, para um palco provisório armado pela CBF atrás do gol do campo principal e na área de circulação da granja. Os alojamentos, claro, ficam do lado oposto.

Resumindo, é terminando um texto e seguindo para outra demanda. Tudo num frio considerável – ainda mais para quem vem do Recife. Tempo variando de 10 a 15 graus e bastante vento, o que só piora a sensação térmica.

Nos intervalos – acredite, é preciso se alimentar -, surge uma resenha diferente, no contato com jornalistas de outros estados. Cada um com seu time – e que certamente escutam as mesmas coisas que eu -, sua visão da profissão, suas histórias. Em uma dessas, já na noite de domingo, estava terminando o texto para o jornal numa sala de imprensa com três televisões. Duas passando jogos ao vivo e uma com a reprise de Corinthians x Botafogo. Pedi para que mudassem de canal, para a TV Brasil. Sim, Salgueiro x ASA. “Pode colocar aí, vá por mim. Canal 166 da Sky”.

Não me levaram a sério na hora. No fim, a turma – formada por cariocas, paulistas e mineiros – estava torcendo pelo Carcará, que venceu por 1 x 0. Até ali, na prática, mal sabiam que o Salgueiro existia. Mudou. E tudo por causa da ampla cobertura da Seleção na Granja Comary, por causa da presença de 1.632 profissionais. E porque tive o prazer, como jornalista formado, de ser um deles…

Jogo do Salgueiro no centro de imprensa da Vila Teresópolis. Foto: Cassio Zirpoli/DP/D.A Pres

Resistência cultural do futebol pernambucano nas mesas redondas

Juca Kfouri (Linha de Passe), Lédio Carmona (Redação Sportv) e Luiz Roberto (Bem, Amigos!)

O público fraco no clássico carioca na Arena Pernambuco, com 7.882 pagantes e prejuízo de R$ 41 mil no borderô, repercutiu fora do estado. Na imprensa do Sudeste, o tema foi discutido nas mesas redondas mais conhecidas da tevê.

O fiasco teria sido motivado pela “resistência cultural do futebol pernambucano”.

Abaixo, as opiniões dos jornalistas Juca Kfouri, no programa Linha de Passe, da ESPN Brasil, Lédio Carmona, no Redação Sportv, e Luiz Roberto, no Bem, Amigos!, ambos do Sportv. Todos no mesmo tom.

Juca Kfouri
“O futebol brasileiro comete contra si mesmo o equívoco de achar, de desconhecer por exemplo o perfil do torcedor pernambucano. O torcedor pernambucano se orgulha de dizer que é Sport, é Náutico e é Santa Cruz. Se há um torcedor no Nordeste que se orgulha de dizer isso e reprime os outros que dizem ser Flamengo, Vasco e Fluminense, é o torcedor pernambucano. É uma questão de orgulho estadual não ir a um Clássico Vovô.”

Lédio Carmona
“Não deu público porque o torcedor do Recife, do estado de Pernambuco, torce para Náutico, Sport e Santa Cruz. Ele torce muito, é muito apaixonado. Tem uma resistência. Eles são apaixonados pelos clubes deles e não tem espaço para clube de outro estado. O resultado financeiro era esperado. Eles não querem receber esses jogos. É um direito. É a cultura local.”

Luiz Roberto
“Acho que ficou aqui um alerta, uma confirmação. Me foi perguntado outro dia sobre o fato de jogos de times de outros estados acontecerem na Arena Pernambuco. Não teremos no Recife a mesma pegada de outras capitais do Nordeste. O Recife é uma cidade peculiar nesse aspecto. Ela é muito com os times locais. Não adianta porque no Recife não será como Natal, por exemplo, João Pessoa etc.”

Duas décadas depois…

Homero Lacerda e Juca Kfouri em Pernambuco, em 2010. Foto: Marcelo Ribeiro Navarro Dantas/divulgaçãoNa foto ao lado, em uma praia do litoral pernambucano em janeiro: Homero Lacerda e Juca Kfouri. Foto de 2011, diga-se. Surpreendente.

Foi o primeiro encontro entre os dois, que se desentendem desde 1987, por causa do polêmico Campeonato Brasileiro daquele ano.

A foto foi postada no site do próprio Juca Kfouri (veja AQUI), surpreso com o encontro, no qual até andou no jet ski emprestado por Homero…

Em tempo: o da esquerda, presidente leonino em 1987, segue defendendo com unhas e dentes o título do clube. O da direita, jornalista de renome nacional, segue cravando o Flamengo como o campeão.

Homero e Juca, 63 e 60 anos, respectivamente. Será que acabou a briga de meninos?

Abaixo, um vídeo de Homero Lacerda falando em rede nacional, em 2007, sobre toda a confusão. Ele cita Juca Kfouri a partir do tempo 6min22s.

“Pernambuco todo está esperando uma resposta. É um mentiroso. É um caluniador.”