Clássico das Multidões de 1978 filmado em Super-8, por Geneton Moraes Neto

Imagens do vídeo "Esses onze aí: um filme panfletário, a favor do futebol", de 1978

Arruda, 1978. Casa cheia, com bandeiras tricolores e rubro-negras em cores vivas. Craques em campo. E imagens de um jogo histórico. Que raridade! Ainda que o acervo fotográfico dos clássicos pernambucanos seja rico, em relação aos vídeos a história é quase restrita ao período a partir de 1980, quando foi iniciada a documentação regular da Globo Nordeste. Antes disso, apenas alguns jogos, em preto e branco – o gol do hexa alvirrubro, por exemplo, só foi encontrado 46 anos depois, em um acervo no Rio. Por isso, é uma relíquia o curta “Esses onze aí: um filme panfletário, a favor do futebol”, produzido por Geneton Moraes Neto e Paulo Cunha em 1978, com imagens do Clássico das Multidões. No período da ditadura militar, o filme (assista abaixo) usa o futebol como contraponto ao regime, contrariando ainda aqueles que apontavam o esporte mais popular do país como fator de alienação, como frisa um trecho:

“O futebol não é a cartolagem corrupta, nem a política rasteira da CBD (precursora da CBF) nem o sonho dos treze pontos (a loteca), transformado em assalto semanal aos bolsos já vazios. O futebol é o coração pulsando de raiva, é o grito na garganta. O nosso futebol é a verdadeira estética da fome.”

O curta de dez minutos traz entrevistas com Zagallo, Palhinha e e duas estrelas do Santa Cruz, Nunes e Givanildo. Apesar de não informar o jogo em questão, os dois gols apresentados – gravados atrás da barra da Rua das Moças, com uma câmera Super-8 – seriam da goleada coral por 3 x 0, em 2 de julho de 1978, pelo Campeonato Brasileiro. Clássico acompanhado por 39.678 torcedores, apinhados no Mundão, ainda sem o anel superior. Os dois rivais viviam grande fase. O Santa acabaria a competição em 5º lugar e o Sport em 8º. Foi a única vez em que dois pernambucanos ficaram entre os dez primeiros.

Sobre o idealizador do filme, o jornalista (e rubro-negro) Geneton Moraes Neto foi um dos mais renomados do país. Faleceu em 2016, aos 60 anos, dos quais 40 no jornalismo, passando pelo Diario de Pernambuco, Estado de S. Paulo e Rede Globo, onde foi editor-chefe do Fantástico, sem jamais abandonar a paixão pelo futebol. Abaixo, a descrição do próprio Geneton sobre o documentário.

“A quem interessar possa: houve, entre a segunda metade dos anos setenta e o início dos anos oitenta, uma espécie de movimento de cinema Super-8 no Recife. Era – quase – a única maneira de fazer filmes, em meio à falta de condições e ao sufoco geral. O locutor-que-vos-fala participou do movimento. (…) Os monitores dos computadores se transformaram em telas – inclusive para nossos velhos e precários ‘filmecos’, como diria Amin Stepple. Ainda bem! De outra maneira, os filmes poderiam sumir na poeira da estrada. Em cartaz: ‘Esses Onze Aí’ – feito em parceria com Paulo Cunha, hoje um ativíssimo professor de cinema. Tema do filme: o futebol. Vai começar a partida.”

Ex-Store, Loja do Santa Cruz reabre no Arruda após a troca de administração

A Santa Cruz Store foi inaugurada em 1º de junho de 2009, sendo a primeira loja oficial do clube, em um espaço de 230 metros quadrados dentro da sede, na Avenida Beberibe. Na época, a abertura foi marcada pelo lançamento de edição limitada de uma camisa em homenagem à volta da Seleção Brasileira ao Arruda após 14 anos. O contrato de concessão foi feito com a rede GolStore!, de Florianópolis. Porém, a insatisfação com a operação, com a recorrente falta de produtos, levou o Tricolor a um distrato, já na gestão de Alírio Moraes.

Após um tempo fechada, a loja foi reaberta neste 23 de janeiro de 2016, com as mesmas dimensões, mas agora rebatizada como Loja do Santa Cruz e administrada pela PE Retrô. reinauguração foi prestigiada pelos atacantes Nunes e Grafite, ídolos do passado e presente, e contou novamente com a apresentação de uma camisa especial, desta vez uma homenageando o Cabelo de Fogo, destaque entre 1976 e 1978. Nas demais prateleiras, um mix de 140 produtos licenciados pelo clube, com a linha completa de uniformes (da Penalty), camisas retrô (da própria PE Retrô) e acessórios a partir de 39 reais. 

Atualização: a loja, já com site oficial, passa a ser chamada “Loja Cobra Coral”.

Inauguração da Loja do Santa Cruz, em 23/01/2016. Crédito: TV Coral/Santa Cruz (reprodução)

Inauguração da Loja do Santa Cruz, em 23/01/2016. Crédito: TV Coral/Santa Cruz (reprodução)

Inauguração da Loja do Santa Cruz, em 23/01/2016. Crédito: TV Coral/Santa Cruz (reprodução)

Inauguração da Loja do Santa Cruz, em 23/01/2016. Crédito: TV Coral/Santa Cruz (reprodução)

Nunes, a midiática e milionária venda do Santa Cruz, disputado por Real e Flu

Revista Placar de setembro de 1978, com a venda de Nunes, do Santa Cruz para o Fluminense

Em setembro de 1978, o Fluminense pagou 9 milhões de cruzeiros pelo passe do atacante Nunes, astro do Santa Cruz. Foi a maior transação do futebol brasileiro naquele ano, estampando a capa da edição 437 da revista Placar.

“Super-Flu faz um gol de 9 milhões”

Manchete justa, pois o Cabelo de Fogo era um dos principais atacantes do país, havia sido convocado para a Copa do Mundo em junho – foi cortado por causa de uma lesão – e estava na mira do Real Madrid. Com 86 gols em 152 jogos no Arruda, o Tricolor até tentou segurá-lo. Primeiro, recusou Cr$ 5 milhões do time espanhol, um valor já recorde no estado, conforme o Diario de Pernambuco em 11 de julho. Em seguida, o Flu ofereceu 7 milhões. Balançou, mas rechaçou. 

Uma semana depois, a investida final dos cariocas: Cr$ 9 milhões. Quase um “clube chinês”. Na época, a cotação do dólar era 19,25 cruzeiros. Ou seja, Nunes saiu por 467 mil dólares – inferior só a Palhinha, do Cruzeiro para o Corinthians em 1977 por US$ 1 milhão. Pela inflação, um dólar em 1978 equivaleria a quatro hoje. Em dados atuais o passe teria custado US$ 1,87 mi. Convertendo para a atual moeda do país, em janeiro de 2016, R$ 7,7 milhões.

Confira as maiores negociações de Pernambuco no Plano Real clicando aqui

No Rio, Nunes brilharia mesmo no Flamengo, decidindo o Mundial de 1981. Não por acaso, foi homenageado no Troféu Chico Science 2016, entre Santa e Fla.

A um passo da história

Nunes, após corte na Seleção na Copa de 1978Nunes, atacante do Santa Cruz, convocado para a Copa do Mundo de 1978Um jogador do Santa Cruz na Copa do Mundo.

Surreal. Até para os torcedores corais mais fanáticos. Para a edição de 2010, sim. Mas não para o Mundial de 1978.

O atacante Nunes, o “Cabelo de Fogo”, então jogador o Santa (numa época em que o Tricolor ficava nas cabeças na Série A), foi convocado para a Seleção pelo técnico Cláudio Coutinho.

Acima, na foto à equerda, a viagem do centroavante no Aeroporto Internacional dos Guararapes para o Rio, com destino à Granja Comary, CT do Brasil. Na foto da direita, o jogador após o corte, com a torção durante um treinamento.

Aquela teria sido a única participação na Seleção de um jogador de um clube do Nordeste em toda a história da Copa do Mundo. Veja a reportagem completa do Diario sobre o episódio, escrita pelo repórter José Gustavo, clicando AQUI.

No blog Torcedor Coral, um post imaginando como teria sido caso Nunes tivesse disputado o Mundial de 1978. Veja o texto de Leonardo Júnior AQUI.

Será que a presença de Nunes no Mundial teria mudado a história do Santa Cruz?

Fotos: Arquivo/DP