Recalculando as pesquisas de torcida a partir da estimativa do IBGE em 2016

Torcidas de Sport, Santa Cruz e Náutico

Anualmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga a estimativa populacional do Brasil, com dados nacionais, estaduais e municipais. O quadro demográfico é sempre fechado em julho e publicado no Diário Oficial da União no fim de agosto. O levantamento do IBGE em 2016 indica que somos 206 milhões de brasileiros. A cada atualização, o blog tem o hábito de cruzar os dados com os mais recentes percentuais de torcidas dos clubes locais, mensurados por institutos privados, como Ibope e Datafolha, por exemplo.

Nesta postagem, trago quatro cenários de interesse para o nosso futebol, com Recife, Grande Recife, Pernambuco e Brasil. Caruaru, Goiana e Salgueiro, mapeados pelo Plural Pesquisa, também entraram na conta. As diferenças nos índices podem ser explicadas tanto pela margem de erro de cada estudo quanto pelas amostragens (quanto mais gente ouvida, teoricamente melhor). Em relação à época da publicação original, o percentual mais defasado, hoje, é justamente o de Pernambuco, com entrevistas realizadas ainda no fim de 2013. Já são quase três anos sem uma nova pesquisa que contorne o estado.

Lembrando que o IBGE jamais mensurou o tamanho das torcidas dos clubes brasileiros. E provavelmente seguirá assim no próximo censo oficial, em 2020…

Abaixo, as três maiores torcidas nos cenários e os pernambucanos presentes.

Brasil (206.081.432 habitantes)
Paraná Pesquisas 2016*
Período: março e abril de 2016
Público: 4.066 entrevistados (214 municípios)
Margem de erro: 1,5%

1º) Flamengo – 16,5% (34.003.436)
2º) Corinthians – 13,6% (28.027.074)
3º) São Paulo – 7,9% (16.280.433)
14º) Sport – 1,5% (3.091.221)
* O instituto divulgou os dados dos 14 primeiros. Náutico e Santa não figuraram.

Pernambuco (9.410.336 habitantes)
Ibope 2014
Período: 05/12/2013 a 14/02/2014
Público: 300 entrevistados (nº de municípios não divulgado)
Margem de erro: 1,0%

1º) Sport – 26,3% (2.474.918)
2º) Santa Cruz – 24,0% (2.258.480)
3º) Corinthians – 7,3% (686.954)
4º) Náutico – 5,3% (498.747)

Grande Recife (3.940.456 habitantes)
Exatta 2014
Período: janeiro de 2014
Público: 600 entrevistados
Margem de erro: não divulgada

1º) Sport – 42% (1.654.991)
2º) Santa Cruz – 27% (1.063.923)
3º) Náutico – 10% (394.045)

Recife (1.625.583 habitantes)
Maurício de Nassau 2016
Período: 3 e 4 de maio de 2016
Público: 624 entrevistados
Margem de erro: 4,0%

1º) Sport – 36,1% (586.835)
2º) Santa Cruz – 28,4% (461.665)
3º) Náutico – 12,8% (208.074)

Caruaru (351.686 habitantes)
Plural 2014
Período: 4 e 5 de janeiro de 2014
Público: 400 entrevistados
Margem de erro: 4,9%

1º) Sport – 17% (59.786)
2º) Corinthians – 13% (45.719)
3º) Santa Cruz – 8% (28.134)
4º) Central – 7% (24.618)
6º) Náutico – 5% (17.584)
10º) Porto – 1% (3.516)

Goiana (78.940 habitantes)
Plural 2015
Período: junho de 2015
Público: 400 entrevistados
Margem de erro: 4,9%

1º) Sport – 25% (19.735)
2º) Santa Cruz – 13% (10.262)
3º) Náutico – 7% (5.525)

Salgueiro (60.117 habitantes)
Plural 2016
Período: 2 a 6 de março de 2016
Público: 300 entrevistados
Margem de erro: 5,66%

1º) Salgueiro – 19% (11.422)
2º) Flamengo – 18% (10.821)
3º) São Paulo – 13% (7.815)
6º) Sport – 2% (1.202)
8º) Náutico – 1% (601)

Confira a projeção de torcida feita a partir da estimativa de 2015 clicando aqui.

O raio x das torcidas de Sport, Santa e Náutico no Recife, por sexo, idade e renda

Mascotes de Sport, Náutico e Santa. Arte: Jarbas Domingos

A vigente revisão (para cima) na precificação de ingressos e mensalidades de sócios no futebol pernambucano, sobretudo no Sport, levantou o debate sobre o impacto das medidas em relação às respectivas torcidas. Seria um caminho necessário para o fortalecimento econômico do clube, cenário já visto no Corinthians e no Palmeiras? Seria um caminho excludente para a maioria da torcida? Ou seria apenas uma forma de afastar as torcidas organizadas?

As perguntas seguem em análise. Para reforçar o tema, o blog esmiuçou a última pesquisa de torcida realizada na capital pernambucana, pelo Plural Pesquisa. Em setembro de 2015 o instituto ouviu 800 pessoas no Recife, seguindo a divisão estatística da população, por sexo, faixa etária, grau de instrução e renda, com margem de erro de 3,46%. Indo além do tamanho absoluto de cada massa, número já publicado, o blog resolveu traçar um raio x de cada torcida, separadamente, numa projeção do estudo com o dado mais recente do IBGE, que aponta uma população de 1.617.183 habitantes.

Entre outras particularidades, o fato de o Leão, em maior número em todos os quesitos, ter mais torcedoras que torcedores. Em relação à renda, o tema original, 74% dos leoninos ganham no máximo dois salários mínimos. Logo, a imensa maioria é pobre. No Santa, reconhecido como “povão”, o mesmo índice é de 65%. Sobre a idade, a torcida timbu é, proporcionalmente, a mais velha, com 40% acima de 50 anos. Necessita de títulos para fomentar uma renovação.

Um verdadeiro perfil de rubro-negros, tricolores e alvirrubros…

Sport (39%) – 630.701 torcedores*
Sexo
304.677 (48%) – Homens
330.067 (52%) – Mulheres

Faixa etária
253.897 (40%) – 16-29 anos
241.202 (38%) – 30-49 anos
139.643 (22%) – Mais de 50 anos

Escolaridade
57.126 (9%) – Até o ensino fundamental I completo
247.550 (39%) – Ensino fundamental II incompleto a ensino médio incompleto
330.067 (52%) – Ensino médio completo a ensino superior completo

Renda familiar
253.897 (40%) – Até 1 salário mínimo
215.813 (34%) – De 1 a 2 salários min.
165.033 (26%) – Mais de 2 salários min.

Santa Cruz (28%) – 452.811 torcedores*
Sexo
232.308 (52%) – Homens
214.438 (48%) – Mulheres

Faixa etária
138.491 (31%) – 16-29 anos
174.231 (39%) – 30-49 anos
134.024 (30%) – Mais de 50 anos

Escolaridade
44.674 (10%) – Até o ensino fundamental I completo
187.633 (42%) – Ensino fundamental II incompleto a ensino médio incompleto
214.438 (48%) – Ensino médio completo a ensino superior completo

Renda familiar
147.426 (33%) – Até 1 salário mínimo
142.958 (32%) – De 1 a 2 salários min.
156.361 (35%) – Mais de 2 salários min.

Náutico (10%) – 161.718 torcedores*
Sexo
81.445 (51%) – Homens
78.251 (49%) – Mulheres

Faixa etária
39.924 (25%) – 16-29 anos
55.893 (35%) – 30-49 anos
63.878 (40%) – Mais de 50 anos

Escolaridade
9.581 (6%) – Até o ensino fundamental I completo
51.102 (32%) – Ensino fundamental II incompleto a ensino médio incompleto
99.012 (62%) – Ensino médio completo a ensino superior completo

Renda familiar
51.102 (32%) – Até 1 salário mínimo
52.699 (33%) – De 1 a 2 salários min.
55.893 (35%) – Mais de 2 salários min.

* A soma pode não chegar ou mesmo ultrapassar os 100% por causa com arredondamento, via Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

A margem de erro na pesquisa de torcida no Recife entre junho e setembro de 2015

Pesquisa de torcida no Recife em setembro de 2015. Fonte: Plural Pesquisa

Nas pesquisas de torcida, um ponto que gera bastante discussão é a “margem de erro”, ampliando ou reduzindo as massas a cada ano, na visão dos mais variados institutos. Tudo na base da projeção, obviamente. Daí, a curiosidade ao comparar as duas pesquisas de uma mesma empresa, numa mesma região e em épocas bem próximas. Paralelamente à análise de satisfação para clientes, a Plural Pesquisa questionou as 1.600 pessoas abordadas no Recife sobre a preferência clubística. Metade em junho e a outra em setembro. Num intervalo de apenas 90 dias, resultados distintos no futebol local.

A metodologia foi a mesma, com uma margem de erro de 3,46%. E aí está o dado interessante, pois nenhuma resposta quantificada na segunda pesquisa ultrapassou a margem do levantamento anterior. O Sport subiu de 36% para 39%, chegando a 630 mil rubro-negros, já mensurados com a nova estimativa do IBGE para a cidade, divulgada em agosto. Curiosamente, a projeção do Santa caiu na mesma proporção, de 31% para 28%. Numa leitura mais simples, trata-se da parcela volátil da torcida, seja por resultados dos jogos, audiência, relações sociais etc. Já o Náutico é outro ponto “a favor” do universo estatístico, pois manteve os 10% nas duas pesquisas, com entrevistados diferentes, mas dentro do mesmo raio x (sexo, idade, escolaridade e renda familiar).

Para terminar, a inserção do Corinthians na capital pernambucana. Se até junho aparecia junto a outros times, agora já se destaca com o percentual próprio (1%), justamente na diminuição dos não torcedores (de 22% para 20%).

Plural / Recife 2015 (2)
Período: setembro de 2015
Público: 800 entrevistados
Margem de erro: 3,46%
População estimada (IBGE/2015): 1.617.183

1º) Sport – 39% (630.701)
2º) Santa Cruz – 28% (452.811)
3º) Náutico – 10% (161.718)
4º) Seleção Brasileira – 1% (16.171)
4º) Corinthians – 1% (16.171)

Outros times – 1% (16.171)
Sem clube – 20% (323.436)
Não sabe/não respondeu – 1% (16.171)

Plural / Recife 2015 (1)
Período: junho de 2015
Público: 800 entrevistados
Margem de erro: 3,46%
População estimada (IBGE/2014): 1.608.488

1º) Sport – 36% (579.055)
2º) Santa Cruz – 31% (498.631)
3º) Náutico – 10% (160.848)

Outros times – 2% (32.169)
Sem clube – 22% (353.867)

* A soma pode não chegar ou mesmo ultrapassar os 100% por causa com arredondamento, via Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

Pesquisa de torcida no Recife em setembro de 2015. Fonte: Plural Pesquisa