Torcedores banidos, a punição inglesa ao racismo. Resultado de investigação

Torcida do Chelsea em ato de racismo em Paris. Crédito: The Guardian/reprodução

A cena no metrô parisiense, com um negro sendo impedido de entrar no vagão por torcedores do Chelsea, correu o mundo. Dentro do trem, os ingleses expulsaram Souleymane S. e ainda gritaram “We’re racist, we’re racist and that’s the way we like it” (“Nós somos racistas, nós somos racistas e essa é a maneira que nós gostamos”). O crime aconteceu após o empate com o PSG, no Parque dos Príncipes, pela Champions League.

Foram sete minutos de puro constrangimento até que a polícia local aparecesse na estação. Após a repercussão do vídeo, devidamente registrado pelo sistema de câmeras do metrô, a diretoria do clube londrino, claro, condenou o delito. A polícia francesa investiga o ato de racismo com o apoio da polícia britânica, tudo para identificar os autores. Três já foram identificados.

O trio deve aumentar a já extensa lista de torcedores punidos na Inglaterra…

Lista de clubes ingleses com torcedores banidos por causa de racismo. Fonte: L'Equipe (França)

No embalo da repercussão negativa do episódio, o tradicional jornal esportivo francês L’Equipe apurou junto ao governo britânico quantos torcedores foram banidos por causa de racismo na terra da rainha, na última década. A lista “contempla” nada menos que 28 clubes, incluindo agremiações menores, como o Charlton e Sheffield, e gigantes como Manchester United e Arsenal.

Ao todo, 176 torcedores já foram banidos para sempre dos estádios em qualquer divisão profissional da Inglaterra, como mandante ou visitante. No topo da lista, dois clubes da capital. West Ham e… Chelsea, com 19 nomes cada.

Abaixo, o vídeo com o mais recente e deplorável ato de racismo.

O racismo também é um gravíssimo problema no futebol brasileiro, de norte a sul. Infelizmente, por aqui a punição é mínima. Até porque quase não há investigação. Quantos torcedores já foram banidos? No máximo, suspensões….

A palavra estava na garganta. Ao ser dita, que exista uma punição real ao racismo

A palavra é clara, a identificação é simples.

Separada por uma grade, a poucos metros do campo, uma torcedora gremista gritava “macaco” para o goleiro santista, Aranha.

O goleiro avisou, mas o árbitro fez vista grossa e até repreendeu o atleta. E os xingamentos continuaram na geral.

As câmeras de tevê captaram outros torcedores no mesmo setor imitando macacos.

E assim voltamos à estaca zero.

Relembrando alguns textos já publicado no blog sobre o assunto, já passamos das bananas arremessadas em campo, com uma senhora resposta do jogador brasileiro, ao racismo nas redes sociais e campanhas de conscientização.

A incrível resposta de Daniel Alves ao racismo

A necessidade de impor uma punição ao racismo no futebol brasileiro

Perdendo a compostura em castellano por causa de futebol 

Apesar disso tudo, o cenário não parece mudar, nem no exterior nem aqui, até porque já está bem enraizado em alguns…

A punição de mando de campo ao clube não basta, a proibição no estádio (bebidas e bandeiras) também não.

Pois, desta forma, as partidas vão se moldando à violência e seguimos empurrando o problema para debaixo do tapete.

A solução não é simples, mas é incrível que até hoje o infrator tenha penas tão brandas, como se o crime dentro de um estádio de futebol tivesse um peso menor do que nas ruas. Como se tivesse uma liberdade de 90 minutos para apresentar o pior de si.

É óbvio que não tem. Se não há controle, isso, sim, precisa ser melhorado. Investigação e punição, nas esferas cível e penal.

A palavra dita pela torcedora estava na garganta dela faz tempo… presa.

Afinal, esse processo é bem mais longo. É cultural, infelizmente.

Ao ser proferida a palavra, que aguente as consequências. Aliás, que as consequências existam.

A incrível resposta de Daniel Alves ao racismo

Daniel Alves dá resposta a ato de racismo na Espanha. Crédito: youtube/reprodução

Cena histórica na Espanha…

Os abomináveis atos de racismo continuam manchando o futebol. Desta vez, no entanto, a resposta foi incrível.

Durante o jogo Villarreal x Barcelona, pela liga espanhola, alguém jogou uma banana em direção ao brasileiro Daniel Alves, que iria cobrar um escanteio.

Sereno, o lateral pegou a fruta, descascou e comeu. Ao vivo, diante das câmeras televisão. Bateu o escanteio sem problemas.

E olhe que o Barça ainda “remontou” o placar, de 2 x 0 para 2 x 3…

Depois, o lateral da Seleção ainda ironizou o ato.

“Meu pai sempre disse: filho, come banana que evita câimbras. Como adivinharam isso? hahaha”

Parabéns pela atitude, Daniel Alves!

Caso não consiga assistir ao lance no vídeo abaixo, clique aqui.

A necessidade de impor uma punição ao racismo no futebol brasileiro

Campanha da CBF contra o racismo. Crédito: twitter.com/cbf_futebol

A cena causa repulsa, indignação.

Ao simplesmente tocar na bola, o volante Tinga, do Cruzeiro, escutava das arquibancadas a mudança no comportamento da torcida.

Em vez de gritos de incentivo e músicas sobre o clube local, escutava-se um som emulando um macaco.

Sem a bola dominada por Tinga, negro e campeoníssimo no futebol, os gritos mudavam rapidamente, voltando ao “alento” tradicional.

Isso ocorreu no Peru, pela Taça Libertadores da América.

Infelizmente, não é um caso isolado. A cena racista – um caso de polícia – já foi repetida inclusive em estádios no Brasil.

No dia seguinte ao episódio, a CBF lançou a campanha “Somos Iguais”. Semelhante ao Respect, adotado pela Uefa.

Somos iguais sim, desde sempre, por mais que a história tenha trilhado um caminho perverso até um século atrás.

No futebol, no entanto, ainda falta algo mais prático para dar fim a isso.

Os episódios se repetem, a indignação toma conta, levanta o debate mais uma vez e, quase sempre, fica por isso mesmo.

Como na sociedade, falta a punição ao racismo. Perda de mando de campo? Perda de pontos na classificação? Suspensão? Multa? Quem sabe até, todas as respostas anteriores.

E pensar que o futebol deveria ter o fair play como ponto de partida…