Santo Amaro, tem futuro?

Diario de Pernambuco
Por Tânia Passos

Qual o primeiro sinal de crescimento de um bairro? O número de prédios, comércio ou número de carros? Acertou quem apostou no aumento do tráfego. O bairro de Santo de Amaro, que tem hoje um dos quadriláteros mais disputados pelas empresas, trouxe junto os estacionamentos em vias públicas, o aumento das operações de carga e descarga, comércio informal e a sensação de que o bairro do futuro não foi planejado para a sua nova vocação.

O Instituto da Cidade Pelópidas Silveira está elaborando um estudo prevendo edifícios-garagem, ciclovias e vias verdes em Santo Amaro. O estudo deverá servir de emenda para o Plano de Mobilidade da cidade. Mas, até isso acontecer, o impacto do crescimento desordenado é também uma das preocupações do Porto Digital, que expandiu seu território para o bairro e realiza hoje, às 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho, um seminário sobre a mobilidade da área.

E a preocupação não é a toa. De acordo com a Dircon, nos últimos dois anos, 476 empresas receberam alvará de funcionamento no bairro. “Nós precisamos saber a cidade que queremos”, ressaltou o presidente do Porto Digital, Francisco Saboya. O impacto da circulação não é apenas dos veículos, mas também do deslocamento das pessoas.

Das novas empresas, uma das que mais chamam atenção pela dimensão é a Contax, que fornece serviço de call center e emprega cerca de 15 mil funcionários. Grande parte dos funcionários usa o transporte público e um número significativo opta pela moto. Um quarteirão inteiro de motos é o retrato da mobilidade que temos hoje.

Para quem depende do transporte público, como é o caso da operadora de telemarketing, Rafaela Martins, a rotina para chegar ao trabalho começa cedo. “Saio de casa às 4h40 para chegar aqui às 6h. Trabalho até o meio-dia e chego em casa por volta das 14h30”, revelou. Se tivesse condições, não teria dúvida em deixar o transporte público.

O que também contribui para a piora na circulação é o aumento das operações de carga e descarga. O bairro tem uma característica de dispor de um grande número de galpões. Em um passado não muito distante, as empresas aproveitavam a proximidade do bairro com o centro e construíam depósitos para armazenar mercadorias. Em Santo Amaro há atualmente 82 galpões. E pelo visto estão operando com toda sua capacidade. Não importa a hora. Uma cena comum no bairro é o motorista ter que esperar, pacientemente, que determinada empresa conclua a tarefa de carga e descarga para poder prosseguir. Há casos em que a via inteira fica obstruída.

De acordo com o diretor de trânsito da CTTU, Agostinho Maia, o bairro de Santo Amaro ainda não foi incluído no perímetro defindo pela portaria do órgão de trânsito, que determina que as operações sejam feitas das 22h até as 5h e durante o dia, em pontos definidos pela CTTU e com veículos de até seis metros de comprimento.

“Até julho devemos incluir Santo Amaro nesse perímetro”, afirmou Agostinho Maia. Na estratégia de ordenamento, o trabalho da CTTU é tentar administrar o caos que já está instalado. Mas como evitar que o problema se instale? De acordo com a diretora da Dircon, Maria José D’Biase, os novos alvarás estão sendo fornecidos com a condição das empresas disporem de uma área dentro do lote para as operações de descarga.