Educação na contramão no Recife

Conversão proibida no Derby , Recife- Foto Alcione Ferreira DP/D.A.Press
Conversão proibida no Derby , Recife- Foto Alcione Ferreira DP/D.A.Press

Na guerra travada todos os dias no trânsito parece prevalecer a lei do mais “esperto”, aquele que sempre tenta tirar vantagem, mesmo que isso implique em não respeitar normas básicas do Código de Trânsito Brasileiro. A deseducação, que deveria ser no máximo uma exceção, é quase regra.

Durante dois dias, o Diario flagrou cenas em cinco pontos distintos da Zona Norte da capital pernambucana: Avenidas Cruz Cabugá, Norte, Estrada de Água Fria e Derby. De tão corriqueiras, as infrações se tornaram invisíveis e muitas não são registradas pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). Mas podem causar risco de acidente e morte.

Pedestre atravessando a faixa com o sinal vermelho na Avenida Cruz Cabugá Recife Foto Blenda Souto Maior DP/D.A.Press
Pedestre atravessando a faixa com o sinal vermelho na Avenida Cruz Cabugá Recife Foto Blenda Souto Maior DP/D.A.Press

A velocidade além do limite permitido e o avanço do sinal vermelho são as infrações mais facilmente mensuradas em razão dos equipamentos eletrônicos, mas há outras, igualmente danosas, que ainda estão longe dos olhos dos agentes de trânsito, mesmo que se repitam todos os dias.

Na Avenida Cruz Cabugá duas faixas de pedestres e dois semáforos não têm sido suficientes para atender a pressa de pedestres, que se arriscam numa travessia perigosa com sinal fechado e carro passando. “Eu vou calculando o carro passar e atravesso. A gente perde muito tempo aqui”, disse a dona de casa Maria Celecina do Amaral, 59 anos. O pedestre tem 20 segundos para fazer a travessia e espera até cinco minutos o sinal abrir.

Motoristas não dão a preferência na rotatória de Água Fria - Recife Foto - Blenda Souto Maior DP/D.A.Press
Motoristas não dão a preferência na rotatória de Água Fria – Recife Foto – Blenda Souto Maior DP/D.A.Press

O consultor de trânsito Carlos Guido, que atende a consultorias do Detran em todo o país, diz que o trânsito é um reflexo do nível da sociedade. Segundo ele, não pode haver uma separação entre a educação de trânsito e o social. “Quem é mal na vida é também no trânsito”, ensina o especialista. Segundo ele, até a buzina é usada de forma agressiva. “Aqui no Recife a buzina é quase um palavrão. Ela é usada para punir, reclamar. Não tem o caráter educativo e de alerta”, afirmou.

De acordo com a presidente da CTTU, Taciana Ferreira, é mais difícil combater as infrações que não são punidas com multa e que dependem apenas da consciência de cada um. “Já existem estudos que apontam que as infrações que não geram multas atrapalham de duas a três vezes mais a fluidez do trânsito que as infrações com multas”, citou a presidente.

No segundo semestre deste ano, a CTTU deverá lançar campanhas educativas a partir de temas. “Estamos desenvolvendo alguns projetos que serão apresentados ao Funset (Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito) para que possamos dispor, sempre que necessário, de campanhas com temas específicos”, disse ela.