Passageiros da agonia reféns de um modelo de transporte no Recife

Passageiros ônibus/Recife - Foto - Roberto Ramos /DP/D.A. Press
Passageiros ônibus/Recife – Foto – Roberto Ramos /DP/D.A. Press

o anúncio de greve dos motoristas de ônibus do Recife, que costuma ocorrer todos os anos no mês de julho, quando se negocia a data-base da categoria, vem provocando um fenômeno que poderia ser definido como tensão pré-greve nos usuários do transporte público.

É quando surgem os verdadeiros passageiros da agonia. Porque quem não participa diretamente das discussões sobre os salários dos condutores e preços das tarifas continua sendo, na prática, o maior penalizado. Os que pagam a conta não podem todas as vezes ficar reféns de um único modal.

Na última sexta-feira, presenciei o diálogo entre duas usuárias – enquanto aguardava o almoço – preocupadas com o cenário previsto para o dia de ontem. Pelo celular, elas buscavam informações a respeito da greve. Nem mesmo a determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PE) em garantir 100% da frota nos horários de pico servia de consolo.

A aflição era justificada e há pelo menos duas fortes razões: o modelo de negociação salarial – que sempre se estende às últimas consequências e traz prejuízo principalmente ao usuário – e a ausência de outros modais para compensar a falta do rodoviário.

Em São Paulo, mesmo a duras penas, o usuário tem o metrô que atende aos quatro cantos da cidade, além dos trens a diesel. Lá, a superlotação, no entanto, não permite que os vagões sejam suficientes e nem poderiam. Não há mobilidade que resista a um único modal.

No caso de Recife, a rede de metrô com 39,5 quilômetros, voltada apenas para parte das zonas Oeste e Sul, é ainda insignificante para atender às necessidades de deslocamento da Região Metropolitana do Recife e nos deixa saudosistas da rede de 200 quilômetros de extensão dos bondes que atendia a Região Metropolitana até meados do século 20.

Quanto mais modais, melhor, e para uma cidade cortada por rios, o transporte hidroviário também atenderia uma parte da demanda, mas a obra prevista para ser entregue até junho deste ano foi adiada para 2015 e isso ainda não é certeza de nada.

A paralisação do sistema, mesmo em parte, afeta diretamente cerca de dois milhões de usuários. O trânsito também fica travado e, para piorar, a direção eleita do Sindicado dos Rodoviários, ainda não empossada, vem colocando em prática uma estratégia que consiste em orientar os motoristas para tirarem os ônibus das garagens e parar os veículos nos principais corredores de transporte. O transtorno é gigante para quem está dentro e fora dos ônibus e não tem para onde fugir. Com uma frota circulante de mais de um milhão de veículos, até a carona não parece ser uma boa ideia em dias assim.

Sem ônibus, sem barcos ou ainda metrô para todos, sobra um asfalto de incertezas, esperas e frustrações. Talvez quem menos sofra quando o ônibus deixa de circular seja o usuário de bicicleta. Mesmo sem faixas seguras, ele consegue deixar para trás os congestionamentos. Também para quem se desloca a pé em distâncias possíveis de serem vencidas, mesmo com passeios impossíveis.

Nesse cenário, uma pergunta que permanece é se os próximos julhos serão iguais. Provavelmente sim, mas não deveria. A melhoria do transporte público está diretamente ligada à qualidade e diversidade dos modais. As questões salariais entre trabalhador e empregado precisam ser definidas em lei de forma clara e segura. Para o bem de todos, principalmente do passageiro.

9 Replies to “Passageiros da agonia reféns de um modelo de transporte no Recife”

  1. Tânia, seu post foi o retrato fiel do sistema de transporte da província recifense, fruto de governos sem compromisso com o povão. Hoje se fala em mobilidade, porém o que fazem é tão somente implantar o famigerado BRT, que é um sistema falido, visto que por experiencia o Recife já tinha faixas exclusivas. O fato é que os SEIs acabaram com a livre circulação do usuário. O sistema temporal seria o mais interessante, porém os empresários, que muitas vezes estão nas Câmaras municipais, estaduais e federais não querem. Outro fato é o sistema do SEI simplesmente jogar o usuário no metrô, que trabalha com o máximo de sua capacidade, dai a queda no serviço deste modal que infelizmente não recebe recursos. Trem novo não adianta. Linha nova sim. Parabéns pela reportagem.

  2. A longa noite da interminável agonia dos passageiros do transporte público no Brasil, especialmente, em Pernambuco vem há mais de 50 anos, fazendo “gato e sapato” dos usuários. Assumem compromisso de colocar 20 ônibus e colocam 12 (até que descobriram a burla, Raul Jugmam e o MP), fração menor que obriga o usuário a sofrer com longas filas, veículos superlotados e os responsáveis cada dia mais ricos. São os mesmos de sempre a explorar o povo com ajuda dos políticos que recebem ajuda de campanha.

  3. OS PIORES TRASPORTES PUBLICO D OBRASIL , E RECIFE.
    OS ONIBUS SAO ANTIGOS, VELHOS , DESCONFORTAVEIS,
    DEMORAM DEMAIS ( INTERVALO) A CHEGAREM NAS PARADAS E NAS VIAGENS, ALGUNS MOTORISTAS E COBRADORES MAL-EDUCADOS E AGRESSIVOS , MOTORISTAS ” QUEIMAM ” ( NAO PARAM) AS PARADAS, VOLUME DE SOM ALTO E COM MUSICAS DE PESSIMO GOSTO, VENDEDORES AMBULANTES, PEDINTES , EVANGELICOS GRITANDO , ALEM DE VARIOS PASSAGEIROS MAL-EDUCADOS E AGRESSIVOS , NAO RESPEITAM AS PESSOAS IDOSAS, AS GESTANTES , OS DEFICIENTES FISICOS E OU VISUAIS.
    E A GRANDE RECIFE E ADMINISTRADA PELOS PROPRIETARIOS DAS EMPRESAS DE ONIBUS.
    E O GOVERNADOR SO SE PREOCUPA NA SUA DERROTADA CAMPANHA.
    O METRO ? OS VAGOES LOTADOS, VENDEDORES AMBULANTES, PEDINTES, EVANGELICOS GRITANDO E SEM NENHUMA VIGILANCIA , SEM NENUM SEGURANCA E QUANDO TEM NAO FAZ NADA.
    OUVIDORIA DO METRO ? EU JA ME ABORRECI DUAS VEZES , AO TELEFONAR RECLAMANDO DO DESCONFORTO , DAS CONSTANTES PERTURBACOES DOS VENDEDORES AMBULANTE, DOS PEDINTES E DO EVANGLICOS.
    A FUNCIONARIA ME TRATOU COM DESRESPEITO , DEVE SER UMA AFILHADA DE UM POLITICO.
    E O RESULTADO DE COLOCAR AFILHADOS DE POLITICOS NA PRESIDENCIA, NAS DIRETORIAS, NAS CHEFIAS , ETC. .
    E NORMAL , E UMA VERGONHA , E UM NOJO, E RECIFE.

  4. TANIA PASSOS , PARABENS PELA IMPORTANTE E UTIL MATERIA.
    RESIDO COM MEUS FAMILIARES NA CALIFORNIA, U.S.A. , HA VARIOS ANOS , SOU RECIFENSE E CONHECO MUITO BEM A PESSIMA QUALIDADE DOS TRANSPORTES COLETIVOS , ONIBUS E METRO , DO RECIFE .
    CULPADOS ?
    OS USUARIOS , QUE NAO RECLAMAM.
    O DIARIO DE PERNAMBUCO TEM UMA BOA PRESTACAO DE SERVICOS , ESPACOS PARA RECLAMACOES E OU CRITICAS.
    MAS, OS USUARIOS SAO MASOQUISTAS E OU DEMENTES.
    E NORMAL , E UMA VERGONHA , SAO RECIFENSES.
    DEUS TE DE SAUDE E SUCESSOS, AMEM.
    AABRACO.

    ITO CAVALCANTICALIFORNIA, U.S.A..

  5. Bom,o sistema é escravocrata,os empresários só pensam nas viagens.
    Sou Motorista e queria relatar o nosso aumento que conquistamos a duras penas,9 votos a favor dos Desembargadores não imperiram as empresas de descumprirem a determinação judicial.
    Hoje é 20 de Agosto,ficou acertado que as empresas teriam até hoje para pagar os salários,tickets e eventuais diferenças retroativas com o novo reajuste,pasmém,a Urbana recorreu e recebemos os valores antigos.
    Essas são nossas condições,a decisão será decidida em Brasília,quando a Justiça Federal encerrar a greve.

  6. Uma correção sobre os trens (CPTM) e o Metrô de São Paulo: os trens são elétricos (contam com a energia fornecida por fios aéreos), não a diesel, e não é o Metrô isoladamente falando que abrange “toda” a cidade – é o Metrô somado à CPTM. E mesmo assim ambos os modais não satisfazem a toda a população: grande parte das zonas leste e sul de São Paulo capital ainda estão fora da cobertura ferroviária em se tratando de alguns trajetos. Isso sem falar na região metropolitana de SP, que é atendida pela CPTM só em poucas áreas.