Carona solidária e menos carro no entorno da Câmara de Deputados

 

Aplicativos simplificam a vida de caroneiros e motoristas, agregando economia e novas amizades ao dia a dia - Arte - Rafael Aderson/DP
Aplicativos simplificam a vida de caroneiros e motoristas, agregando economia e novas amizades ao dia a dia – Arte – Rafael Aderson/DP

Projeto de mobilidade sustentável da Câmara dos Deputados, conhecido como MOB-Carona Solidária, quer aproveitar melhor as vagas para carros nos arredores da Casa. Funcionando desde o último dia 15 de dezembro, o programa funciona por meio de um aplicativo on-line, em que servidores e funcionários terceirizados da Câmara podem pedir e oferecer caronas.

Aqueles que adotarem o projeto terão acesso a vagas mais próximas da Câmara. Além de economizar com combustível e peças para o carro, o participante também estará contribuindo na diminuição de emissão de gases poluentes para a atmosfera.

O único requisito para participar do programa é o carro ter no mínimo três pessoas (funcionários da Câmara), contando com o motorista.

Melhoria no trânsito
Na opinião do especialista em segurança do trânsito e professor da Universidade de Brasília (UnB) Davi Duarte, a iniciativa da Câmara é louvável e deveria ser copiada por outros órgãos públicos e empresas privadas.

”Este tipo de iniciativa pode servir de exemplo para outras empresas e mesmo para conjuntos de empresas que possam se reunir em consórcios. Essa forma de colaboração para melhorar o trânsito é, de fato, uma boa iniciativa”, disse.

Vagas disponibilizadas
Atualmente, existem 17 vagas destinadas aos participantes do Carona Solidária, mas a expectativa é que esse número dobre ao fim do primeiro semestre e, no futuro, chegue a 250.

Segundo um dos responsáveis pelo projeto, William França, que faz parte da diretoria administrativa da Câmara, a possível mudança de regras para acesso a vaga privativa e algumas outras medidas devem ser fatores importantes para mais servidores se interessarem pelo programa.

”Já tem um anteprojeto de ato da Mesa sendo avaliado pela alta direção da Casa, que muda as regras de quem tem privilégio a vaga privativa. Essa mudança será considerável. Paralelamente a isso, temos alguns estacionamentos que hoje são públicos ou compartilhados, mas são de propriedade da Câmara, e pretendemos aos poucos, dentro dessa necessária mudança cultural, ampliar o programa.”

Menos gastos
Um dos usuários do Carona Solidária, o servidor Daniel Carvalho, morador de Águas Lindas de Goiás (GO), município próximo ao Distrito Federal, conseguiu reduzir seus gastos com a iniciativa de transporte solidário. “Estou gastando um quarto do que gastava mensalmente com gasolina. Gastava R$ 600,00 e, agora, apenas R$ 150,00, então é muito viável para mim”, declarou.

Também tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei (PL 8074/14) que promove o transporte solidário em todo o território nacional e inclui, no calendário do governo federal, o Dia do Transporte Solidário. Esse projeto ainda precisa ser analisado por comissões e pelo Plenário.

Fonte: Agência Câmara

#CompartilheCarona

Aplicativos simplificam a vida de caroneiros e motoristas, agregando economia e novas amizades ao dia a dia - Arte - Rafael Aderson/DP
Aplicativos simplificam a vida de caroneiros e motoristas, agregando economia e novas amizades ao dia a dia – Arte – Rafael Aderson/DP

Por

Carine Carvalho

Polegar apontado para o alto, braços estendidos, pés e horas na estrada. É assim ainda mas, agora, pegar carona ficou fácil e mais seguro. Aplicativos criativos e úteis estão saindo do forno dos inventores e simplificando a vida de caroneiros e motoristas. Mas as benesses dessa troca vão além da companhia, pois dá até para economizar um troco.

E aproveitando o slogan “imagine na copa”, pode servir até aos turistas, caso as pessoas vençam a desconfiança e adotem essa possibilidade de transporte. Apps, como o WeGo, podem ajudar nesse projeto. Os criadores dessa ferramenta estimam uma economia de, no mínimo, 40% nos gastos com transporte na adoção do carro compartilhado. Apesar do medo, é preciso conhecer o sistema, que oferece um mínimo de segurança para os adeptos. Vale arriscar?

Os apps são recomendados para pessoas que querem compartilhar a viagem de carro. A iniciativa vale para aliviar o trânsito, mas também fazer novos amigos para encarar a hora do rush. A segurança é uma preocupação constante entre os caroneiros, afinal é difícil saber as intenções do motorista que abre a porta.

Mas como a ideia das novas tecnologias é facilitar nossa rotina, as empresas criaram um sistema onde passageiro e motorista são avaliados. Assim, é possível escolher com quem você irá viajar de acordo com reputação dos candidatos. Também é feita uma análise dos cadastros.

Na Europa, os aplicativos de carona já são muito populares. Existem também páginas do Facebook que usam o mesmo esquema para oferecer carona universitária, como descreve a estudante Vanessa Eufrásio. “Na verdade isso não é novo por aqui, só existe sem a ajuda dos apps. Pago em torno de R$ 20 pra percorrer cerca de 200km.

Sai barato pra todo mundo além das amizades que faço com a galera. Pego carona faz dois anos e até hoje nunca tive nenhum problema, mesmo não conhecendo os caroneiros. As ofertas e pedidos de caronas são feitos através de um grupo de email e/ou Facebook”, comentou.

Como funciona
A maioria dos apps são gratuitos. É preciso fazer o download e se cadastrar. Geralmente quem dirige e quer oferecer uma vaga, cadastra o destino, hora de saída e chegada, além de uma sugestão de “doação” para as despesas da viagem. Quem busca a carona, encontra os carros disponíveis para a data e o destino desejado e contribui com o valor, o que pode ser feito com cartão de crédito por meio dos apps.

Saiba mais

Conheça os apps

Zaznu ( “partiu” em hebraico)
App estreou com mais de 6 mil motoristas interessados em dar caronas. É preciso preencher uma ficha, que será avaliada pela equipe, que saberá se candidato tem passagens pela polícia. A página do Facebook será checada. Uma atualização pretende unir passageiros e motoristas com gostos afins.

Wego
O aplicativo também controla os pagamentos que você fez ou recebeu e ajuda a organizar as contas com o transporte no final do mês.

Karona
Gratuito, o sistema funciona em todo Brasil, sugerindo candidatos para uma tomada de decisão mais segura de acordo com a reputação de cada usuário. Você também pode refinar suas buscas, através de filtros como idade, estado civil, sexo, fumante e até entrar em contato com os usuários.

Unicaronas
Iniciativa de dois ex-estudantes da Unicamp para ajudar os alunos. Facilita a comunicação entre estudantes que estão procurando caronas com aquelas que estão oferecendo. Pernambucanos: inspirem-se.

Fonte: Vrum

Que tal ser o pai da vez?

Diario de Pernambuco

Por Tânia Passos

Não tem jeito. As ruas do Recife vão amanheceram com mais carros hoje por causa da volta às aulas. Mas isso todo mundo já esperava. A questão é: o que pode ser feito para reduzir o caos agora? Se são cerca de 200 mil carros a mais, como ficaria essa conta se entrasse em cena o pai da vez? A ideia da carona para reduzir a quantidade de carros nas ruas não é nova, mas depende do esforço de operacionalização das escolas e dos próprios pais.

A professora Elisângela Galdino da Silva, 37 anos, já faz isso. Uma vez por semana ela é encarregada de levar a filha dela  e os dos vizinhos na escola. “É bem mais prático e econômico também. São cinco crianças que os pais se revezam”, explicou. Para o contador Mário Jorge, 37 anos, a ideia não é ruim, mas ele diz que a escola da filha fica no caminho para o trabalho. “Eu a deixo na escola e na hora do almoço vou buscá-la. No meu caso não acho necessário, mas se for para melhorar o trânsito eu faria, sem problemas”, revelou.

Uma das maiores dificuldades de levar adiante o compartilhamento das caronas é a falta de conhecimento sobre quem está disposto a oferecer e receber o serviço. A dona de casa Maria Marluce da Silva, 50 anos, ainda não teve a oportunidade, mas já pensou no assunto. “Às vezes eu saio de casa para levar meu filho na escola e vejo outros pais saindo no mesmo horário. Seria mais fácil a carona, mas sem conhecer a pessoa fica mais difícil”, revelou.

A escola pode ser o pontapé inicial na operacionalização dessa logística. O diretor pedagógico do Colégio Motivo, em Boa Viagem, Eduardo Belo, acha que é possível incentivar a carona entre os pais. “Acho a ideia excelente e a gente pode desenvolver uma campanha nesse sentido dentro da escola”, revelou. O Motivo tem atualmente 2.500 alunos e ampliou os portões de acesso para evitar os congestionamentos nas ruas do entorno. “São cinco portões com entrada na Padre Carapuceiro, Beira Canal e Faustino Porto com o intuito de melhorar a mobilidade”, afirmou.

Não à fila dupla

Para tentar reduzir os engarrafamentos nas portas das escolas a partir de hoje, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) inicia uma campanha para orientar os pais a não estacionar em fila dupla. Ao todo, 30 agentes irão atuar no entorno das onze maiores escolas do Recife situadas na Rui Barbosa, Rua Dom Bosco e em Boa Viagem. Também haverá 12 arte-educadores para orientar na travessia da faixa de pedestre. Eles irão distribuir cartilhas com orientações sobre o tráfego. “Nós temos também uma peça teatral para levar para dentro das escolas. Inicialmente iremos trabalhar com 50 escolas da rede municipal, mas iremos disponibilizar as apresentações para qualquer escola que nos solicitar”, explicou Francisco Irineu, gerente de educação de trânsito da CTTU.

Dia mundial sem carro, topas?

Dia mundial sem carro. A ideia é essa. A realidade ainda está longe disso. Abrir mão do conforto do carro e encarar o transporte público, ou talvez descolar uma carona, ou quem sabe pedalar de casa para o trabalho ou, em situação mais remota, caminhar, ainda é um desafio para poucos. Mas serve no mínimo para uma reflexão.

E os números mostram o tamanho dos contrastes. Um ônibus comum transporta uma média de 80 pessoas. Um carro comum, no máximo cinco pessoas. Temos uma frota de três mil ônibus e mais de um milhão de veículos na Região Metropolitana. O resultado é um trânsito que trava dia a dia.

Os engarragamentos são apenas uma parte do problema. Outro viés é a poluição ambiental. E nessa conta, os que transportam menos poluem mais. Um exemplo disso é a moto que, transporta duas pessoas e polui 32,3 mais vezes do que ônibus. Já o carro 17 vezes mais que o ônibus.

“Em relação a ocupação das vias, a moto, por incrível que pareça necessita quatro vezes mais de espaço do que o ônibus e o carro de 6,4 vezes mais de espaço em relação ao ônibus”, afirmou o engenheiro e professor das universidades Federal de Católica de Pernambuco, Maurício Pina.

Para quem está disposto a usar a bicicleta como meio de locomoção, tem a certeza de que as ciclovias existentes no município não são suficientes para interligar os quatro cantos da cidade. O Recife dispõe atualmente de 13,2 quilômetros de ciclovias em trechos distintos: Centro, Orla e a ciclovia Tiradentes, na Zona Oeste.

No Recife, o casal de cirurgiões-dentistas Maria Carolina Moura e Renan Almeida, vem tentando fazer a parte deles. Renan, que trabalha em dois locais diferentes, costuma deixar o carro na garagem e ir de bicicleta ou até mesmo caminhando. “Um deles, que fica mais próximo da minha casa, tento utilizar a bicicleta para fazer pequenos deslocamentos, já que é uma maneira de fazer exercícios e fugir também dos congestionamentos que são bastante estressantes”, ele conta e lamenta a falta de meios de transportes públicos de qualidade. “Se os meios locomoção fossem confortáveis, as pessoas deixariam mais seus carros na garagem”, acredita Almeida.

Criado na França em 1998, o Dia Mundial Sem Carro, ganhou força no Brasil em 2001. Desde então, 110 cidades do país já fazem alguma movimentação na data. Em Pernambuco, a cidade de Olinda será 111ª a fazer a mobilização com o intuito de trazer uma reflexão sobre os problemas causados pelo uso massivo de automóveis como forma de deslocamento, sobretudo nos grandes centros urbanos.

De acordo com o secretário executivo de transporte e trânsito de Olinda, Adriano Max, existem 110 mil automóveis cadastrados na cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. “Para se ter uma noção, nós temos 380 mil habitantes. Se cada pessoa resolvesse dar um carona a três, não seria necessário o transporte público”, diz o secretário. Em Olinda, a avenida Ministro Marcos Freyre, beira mar da cidade, será o palco da mobilização social. “Vamos isolar três quarteirões, das 5h ao meio-dia, com o intuito de chamar a atenção da população”, fala Max.

Dom Helder, o caroneiro

 

Jaílson da Paz

Diario de Pernambuco

 

Pegar carona não é para qualquer um. Caso queira ter sucesso nessa tarefa, o caroneiro precisa, acima de tudo, ser bem comportado. Do contrário, entrará no rol dos indesejados. Dom Helder Camara, arcebispo de Olinda e Recife entre 1964 e 1985, tinha consciência disso. Tendo optado por não ter carro, ele ficava à mercê de padres e leigos para os compromissos diários que, às vezes, ficavam 50 quilômetros um distante do outro. De tanto receber ajuda, o sacerdote, único brasileiro indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz, criou um manual de sobrevivência. Ou melhor, o decálogo para o bigu.

“Carona aqui é bigu”, justificou o arcebispo. E as oportunidades de bigus surgiam para o “carona universal”, como se intitulava dom Helder, em muitos lugares. Eram tantas que o sacerdote, ao enviar carta a amigos do Rio de Janeiro, em setembro de 1964, disse que “não há quem não me apanhe, quando me vê nas filas ou caminhando pela cidade”. O arcebispo geralmente aceitava os convites e procurava colocar em prática as regras que escreveu. Uma delas, “abrir e fechar suavemente as portas do carro”, agradaria até aos motoristas de hoje.

Embora pareça brincadeira, o decálogo é uma aula de bom senso. Qual o motorista que, na hora de uma tempestade, não gostaria de contar com a ajuda do carona? Dom Helder afirma que, caso chova, o “bigu responde pela visão do motorista”. Então, imagine a cena. As razões para o alívio dos motoristas não ficariam por aí. É que dom Helder afasta da lista do bom bigu aquelas figuras que, além de desfrutar da carona, “dirigem com o motorista”. Ou, sem qualquer cerimônia, sintonizam o rádio do carro na estação que gosta. Para ser correto, ensinava o arcebispo, o carona “aceita o programa de rádio que estiver sendo ouvido”.

A ex-secretária de dom Helder, Maria José Duperron Cavalcanti (Zezita), foi uma das pessoas que mais deu carona ao arcebispo. Ainda hoje, ela ri das histórias em que o arcebispo se envolveu. “As pesssoas não só davam carona como muitas vezes o orientava no caminho certo”. O sacerdote cearense, em seus primeiros anos no Recife, nem sempre sabia para que lado ficavam os bairros.