Oito pessoas por metro quadrado nos ônibus, a rotina de todos os dias

Rotina de passageiros e a dificuldade em conseguir espaço no ônibus do Recife. Foto Annaclarice Almeida DP/D.A.Press
Rotina de passageiros e a dificuldade em conseguir espaço nos ônibus do Recife. Foto Annaclarice Almeida DP/D.A.Press

 

A qualidade no transporte público vai além das faixas exclusivas e do ar-condicionado nos coletivos. O serviço também é medido pela forma como ele é prestado antes mesmo de se colocar o pé no degrau do ônibus. E enquanto os passageiros tiverem que disputar à força uma chance para entrar no veículo e se acomodar em um local sem correr o risco de cair, qualquer outro discurso vai parecer menor. Segundo dados da Associação Nacional de Transporte Urbano (NTU), nos horários de pico, o metro quadrado do ônibus chega a ter oito pessoas. O dobro de uma situação considerada ideal.

De 2012 a 2014, o transporte público na Região Metropolitana do Recife sofreu uma perda de 5% no número de passageiros para outros modais. E a tendência é que essa perda fique ainda maior. “Para mim é um sofrimento subir no ônibus. Na maioria das vezes, deixo passar de três a quatro ônibus para ter coragem de subir porque tem muita gente e tenho medo de cair”, afirmou Maria de Lourdes Barbosa, 70 anos, que havia acabado de deixar um ônibus passar.

A universitária Camila Mirele, que morreu após cair de um ônibus em movimento da Linha Barro/Macaxeira, na BR-101, na noite da sexta-feira, fazia parte de um contingente formado por 80% dos usuários do sistema de transporte público, que andam de ônibus.

“A qualidade do transporte passa, necessariamente, pelas faixas exclusivas. Mas do ponto de vista de segurança, o ônibus é o mais seguro dos modais. De mais de 40 mil mortos no trânsito, em 2011, tivemos 248 óbitos em todo país envolvendo ônibus”, pondera o presidente da Associação Nacional de Transporte Urbano (NTU), Otávio Cunha.

Para quem assiste aos ônibus trafegarem de portas abertas, a sensação de insegurança pode ser maior do que é medida nas estatísticas. Mas há outra razão para se preocupar. Segundo o diretor de operações do Grande Recife, André Melibeu, o sistema existente nos ônibus para evitar que as portas sejam abertas com o veículo em movimento tem uma brecha. “Ele permite a abertura com velocidade igual ou menor do que 5km/h. Ou seja com o ônibus praticamente parado, mas pode abrir.”

Licitação
A segunda etapa da licitação do transporte na RMR para os lotes 3,4,5, 6 e 7 está em fase de assinatura de contrato. A primeira previa ar-condicionado em toda a frota. A segunda limitou o item para os ônibus do Sistema Estrutural Integrado (SEI). Atualmente 120 BRTs circulam com ar-condicionado e 36 convencionais terão ar-condicionado no próximo mês.

“Temos 230 novos ônibus no sistema. Até o fim do ano, teremos mais 200. A idade da frota passará de 4,5 para 3,5”, revelou o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE), Fernando Bandeira.
A roda do transporte público

Ônibus transporta maior demanda entre os modais
40 milhões de pessoas são transportadas de ônibus por dia no país
2 milhões de passageiros são transportados por dia na RMR
2,9 mil ônibus circulam na RMR
13 operadoras atuam na RMR

Ocupação dos ônibus por metro quadrado
4 pessoas por metro quadrado é a situação ideal
6 pessoas por metro quadrado já é uma situação de desconforto
8 pessoas por metro quadrado é ocupação registrada nos horários de pico

Transporte por ônibus
80 passageiros no ônibus convencional
120 passageiros no ônibus articulado

Linha de maior demanda na RMR
PE-15/Afogados
18,4 mil passageiros por dia
231 viagens
33 ônibus

Linha de menor demanda
Jardim/Beira Rio
172 passageiros por dia
14 viagens
1 ônibus

Viajar de ônibus é seguro?
43 mil pessoas morreram no trânsito em 2011
11,8 mil pedestres
14,6 mil motociclistas
12,4 mil em acidentes de automóveç
248 mortes em acidentes de ônibus (0,6% das mortes)

Fontes: Grande Recife Consórcio, Urbana-PE e NTU (Associação Nacional de Transporte Urbano)

Mobilidade do Recife não está pronta para a Copa das Confederações

Cosme e Damião - Foto - Cássio Zirpoli DP.D.A/Press
Uma estrutura fadada ao fracasso desde o início. Se ainda não estamos prontos para a Copa de 2014, que dirá para a Copa das Confederações. O jogo de estreia na Arena entre Náutico x Sporting já havia sido um teste para o que não deveria mais ser feito. E tudo foi feito de novo, do mesmo jeito. Ou praticamente igual. Só que com um universo de 15 mil pessoas a mais.

Talvez seja razoável fazer os cálculos matemáticos e supor que a estrutura irá ser mais confortável dentro de uma lógica operacional pensada para 12 horas, em uma partida de menos de duas horas. É simples supor que a massa será diluída na volta, o ponto mais crítico. Os organizadores suporam que o público permaneceria mais tempo na Arena após o jogo, tomando cerveja a R$ 9. Não foi assim que aconteceu. E é difícil acreditar que se pode contar com o que não é mensurável. O fim do jogo, como era lógico, todos fizeram ao mesmo tempo o caminho de volta para casa, ao mesmo tempo,, em uma única opção de saída.

O metrô que vem sendo desmerecido como transporte de massa, vem sendo, na verdade, a principal alternativa viária para a Arena. E para quem não lembra, os recursos do PAC Copa não foram destinados ao metrô. Todos os investimentos estão sendo aplicados para os corredores de ônibus exclusivos. Não que seja ruim termos corredores para ônibus, mas enfim em que eles estão ajudando no transporte para a Arena?

Alguns podem dizer que o corredor Leste/Oeste irá transportar passageiros para o Terminal de Camaragibe, quando enfim ficar pronto em março de 2014. É verdade, mas mesmo assim o Leste/Oeste será coadjuvante. No final das contas é com o metrô que iremos contar. E nada foi feito para melhorar a estrutura do metrô.

A estação Cosme e Damião está muito longe de suportar grandes eventos. Todos sabiam disso. A plataforma tem capacidade de estocagem de 1,4 mil pessoas. Mas recebeu uma multidão de mais de 35 mil pessoas. Não havia nenhum sicronismo entre os ônibus e os trens. E nem poderia. Simplesmente não cabia tanta gente no mesmo lugar ao mesmo tempo. Mesmo assim, ela continua a ser a única opção para quem vai de metrô. As estações do TIP e Camaragibe foram descartadas porque o ramal externo da Copa de 6km não ficou pronto porque está previsto para 2014. Enfim, porque estamos sediando a Copa das Confederações ?

Outro dia estava lembrando que o primeiro projeto idealizado para a Cidade da Copa previa um VLT (Veículo Leve sobre Trilho) da estação do TIP direto para a Arena. Tudo parecia bonito no papel. A realidade é bem outra. Não estamos prontos porque não nos preparamos. E tivemos muito tempo para isso. Mas tudo é uma questão de escolha.Até quando iremos repetir os mesmo erros?