Porto Alegre melhor acessibilidade para cadeirantes

 

 

O entorno dos domicílios particulares de Porto Alegre (RS) é o que possui maior acessibilidade para cadeirantes do País. A informação é de estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) divulgado na última sexta-feira (25). De acordo com o levantamento, as áreas ao redor de 23,3% dessas casas possuem rampas para cadeirantes. Número bem superior a média nacional, que é de 4,7%.

O estudo levou em consideração apenas as cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Assim, o segundo município com mais acessibilidade no entorno das casas é Brasília, com 16,5%; seguida por Curitiba, com 12,2% e Goiânia, com 10,2%.

Na contramão, Fortaleza (CE) teve o menor índice, com 1,6%. Em seguida, São Luís (MA) registrou apenas 1,9% das casas com rampas para cadeirantes no entorno.

O estudo do IBGE analisou 47.264.208 dos 48.759.012 domicílios urbanos do Brasil — o que representa 96,9% do total de imóveis particulares em área urbana. Segundo o Instituto, não foi investigado o entorno das casas que ficam em aglomerados irregulares como favelas e outras comunidades de baixa renda.

 

Fonte: Mobilize

Calçadas, martírio dos cadeirantes

A difícil acessibilidade na maior cidade do País. Em capitais menores, o problema não é diferente. Quando o poder público vai entender que calçada é um princípio de mobilidade? Na verdade, a número um na cadeia dos deslocamentos.

Para os pedestres, uma calçada mal conservada é sinômino de desconforto e muitas vezes acidentes. Um estudo de 2005 feito no Hospital das Clínicas de São Paulo atestou que a circulação de pedestres é na verdade um enorme problema de saúde pública. São milhares de casos todos os anos que oneram os custos dos hospitais que também geram um enorme prejuízo econômico para a sociedade.

Já para um cadeirante, calçadas sem condições de circulação representam um custo ainda maior, a perda de acesso à cidade. De maneira consistente ou com improvisos, garantir o direito de ir e vir à pessoas com mobilidade reduzida ganha a devida atenção em nossas cidades. É a luta em prol do que se convencionou chamar de acessibilidade, ou “desenho universal”.

Ao reforçar a lógica de pensar primeiro no mais frágil, o planejamento urbano garante acesso à todos. Sejam ciclistas nas ruas ou os cadeirantes nas calçadas. Parabéns aos irmãos Ramon e Thomaz Ballverdu que junto com Marcelo Silva, produziram o vídeo que ilustra esse post. Moradores de Pelotas, nenhum dos três é cadeirante, mas sabem da importância de uma cidade inclusiva.

Com informações de:
Parkour Roulant: atletismo sobre rodas – Pelotas, Capital Cultural
Cerca de 100 000 pedestres caem e se machucam nas calçadas todos os anos – VejaSP

Acessibilidade não acessível: o guerreiro em duas rodas

Em 2009, o Diario fez uma série sobre as as obras de acessibilidade nas vias urbanas do Recife, que na verdade são pouco acessíveis. E levamos três deficientes para mostrar como elas (não) funcionam na prática. Aproveito as férias para resgatar essa série bem legal. Vale a pena ver de novo.

 

 

 

 

 

Tânia Passos

taniapassos.pe@dabr.com.br

 

Nada parece mais básico, do ponto de vista da cidadania, do que o direito constitucional de ir e vir com plena acessibilidade. Simples, mas ainda distante para um universo de pessoas com deficiência física. Mais de um milhão só em Pernambuco.

A acessibilidade é uma condição primordial para a inclusão social. Um assunto relativamente novo, onde as cidades ainda estão tateando para encontrar o caminho. Um começo inseguro e carente de acertos.
Até mesmo as obras já contempladas com equipamentos para esse fim se tornam pontos inacessíveis, ou pela falta de continuidade ou por não terem sido executadas de acordo com as normas técnicas previstas no Decreto Federal 5.296/04.

Servem de “enfeite” para propagar uma medida “politicamente correta”, porém ineficaz. Durante uma semana, o Diario acompanhou pelas ruas do Recife as dificuldades de pessoas com deficiência. Gente como o cadeirante Edvaldo Gonçalves, que ficou paraplégico há 17 anos, vítima de uma esquistossomose medular.

E, ainda, o jovem Edson Amorim, 18 anos,cego aos 2 anos, vítima de glaucoma e cheio de sonhos para realizar. A dificuldade de acessibilidade não é apenas para o cadeirante ou o cego.
O surdo, mesmo enxergando e sendo capaz de se locomover, também fica à margem é o que nos conta Patrícia Cardoso, 38, surda desde os 2 anos.

A deficiência da comunicação visual limita e constrange. E talvez seja uma das mais difíceis barreiras a serem vencidas e uma das menos combatidas nas intervenções de acessibilidade.

O cadeirante Edvaldo Gonçalves, 54 anos, está longe de ser o tipo atlético, mas se transforma em guerreiro todas as vezes que precisa enfrentar os desafios da rua.

Quem conhece as péssimas condições das nossas calçadas e a infinidade de obstáculos existentes pode até ter uma vaga ideia do que isto representa, mas jamais será capaz de enxergar sob o ponto de vista de quem está sentado em uma cadeira de rodas e precisa seguir em frente. É assim que Edvaldo vê o Recife. É também assim que ele quer mudar o que ainda não é acessível.

Convidado para ser personagem desta matéria, não hesitou e traçou o roteiro dos problemas que costuma enfrentar. A viagem teve início em uma das mais importantes obras da Prefeitura do Recife, o Corredor Leste-Oeste. Um investimento de R$ 14 milhões e que foi apontado como uma das maiores obras de acessibilidade no trânsito executada nos últimos anos.

Pois foi lá mesmo que o cadeirante Edvaldo Gonçalves mostrou o que não funciona. O ponto de partida foi a Praça do Derby, restaurada, no ano passado, para integrar o corredor. Depois de estacionar o carro da reportagem no lado direito da praça, nós acompanhamos o trajeto feito por ele na cadeira de rodas.

Uma rampa de acesso ao cadeirante na lateral da praça parecia ser o caminho natural para subir na calçada. E seria, se tivesse sido feita da forma correta. A diferença na altura do pavimento da pista bem acima do nível da rampa é facilmente percebida. Um risco para o cadeirante.

“Como há uma diferença na altura dos dois pisos, a cadeira inclina e corro o risco de ser projetado para frente”, explicou. A velocidade da descida na rampa foi amortecida pela areia acumulada no local. “A areia segurou, mas exige um esforço físico maior”, explicou.

Na praça veio também o primeiro elogio. A rampa frontal que dá acesso à faixa de pedestre na Agamenon Magalhães recebeu nota máxima. “Não há risco de inclinação da cadeira e o piso está no mesmo nível da pista. Ela é perfeita”, afirmou.

O caminho perfeito é também curto. Só serviu mesmo para dar acesso à faixa de pedestre que corta a avenida. No fim da faixa os problemas recomeçam. No outro extremo não há rampa.

Sem opção, ele toma uma decisão arriscada e continua o percurso na pista de rolamento concorrendo com os carros. Segue em frente, mais uma vez, destemido. “Não posso parar no meio do caminho. Se não for acessível tenho que contornar e continuar. Se não for assim, não saio de casa”, revelou Edvaldo.

No Centro – Ao longo do Corredor Leste-Oeste, um dos trechos de melhor acessibilidade para o cadeirante é a Avenida Conde da Boa Vista. As calçadas foram alargadas e se encontram praticamente livres de ambulantes.

A locomoção na extensão do passeio não apresenta dificuldades. Mas o mesmo não se pode dizer das vias transversais. Dificuldade também na hora de atravessar de um lado para outro da avenida. “Aqui a preocupação é com o tempo do semáforo”, ressaltou.

No centro da cidade, ele convida para mais uma demonstração de desrespeito à condição do cadeirante. Na Praça Joaquim Nabuco, as rampas mais uma vez não estão no nível do pavimento da pista.

Por causa disso, exige um esforço hercúleo até mesmo para Edvaldo, habituado a travar batalhas diárias para vencer as barreiras que encontra pela frente. “Aqui não consigo sozinho”, admitiu. O fotógrafo Hélder Tavares o ajudou a vencer o obstáculo.