Desafio intermodal

 

Por

Tânia Passos

Pode  até parecer, mas não é brincadeira e tampouco uma disputa. A ideia do 1º Desafio Intermodal, que será realizado, amanhã, no Recife, em pleno horário de pico, servirá para apresentar outras formas de deslocamento além do carro, ônibus ou metrô. Mais do que isso, mostrará a possibilidade de integrar diversos modais para chegar ao mesmo destino.

A experiência que já foi realizada em outras cidades, revelará ainda informações sobre o tempo de deslocamento e os níveis de poluição. Em São Paulo, no desafio de lá, um dos participantes integrou a bicicleta com o helicóptero. Aqui não deve chegar a tanto, mas há pelo menos doze modais confirmados para realizar a experiência no Recife.

Tem gente que fará o percurso de moto, carro, skate, patins, ônibus, a pé, bicicleta, metrô, ônibus e até barco. Os participantes podem associar mais de um modal. A saída está prevista para esta quinta-feira às 18h com saída do Edifício Garagem do Shopping Boa Vista em direção ao Shopping Recife. Embora não seja uma corrida, imagino que em muitos aspectos quem for de carro levará desvantagem e corre o risco de ficar preso no trânsito. Pode ganhar a lanterninha de último colocado e ainda de maior poluente. Mas vamos esperar o desafio para ver as lições que temos de aprender com modais ainda pouco usados.

Skate, segregação do espaço público

Uma das belezas da arquitetura é justamente a incerteza do seu uso. Espaços públicos de qualidade contém sempre o imprevisto, o erro, a arte que não antecipada e que só se faz pelo uso.

Há, no entanto, uma certa tendência a desumanizar os espaços para restringir usos e “ordenar” fluxos e comportamentos, nada mais empobrecedor. Em São Paulo andar de skate já chegou até a ser proibido, afinal ia contra a ordem estabelecida. Mas a proibição deu brecha para o debate e acabou por fim contribuindo para a profissionalização do skate como esporte.

Mas permanece a pergunta sobre o que é mais valioso para uma cidade, espaços públicos herméticos e que aos poucos acabam tomados pelos “indesejados”, ou espaços públicos de qualidade com vidas que circulam, brincam e usufruem da cidade.

A resposta parece bastante clara, mas o vídeo que inspirou esse post traz mais elementos para se refletir sobre a idéia de “arquitetura vs. skate”. Em Auckland, cidade mais importante da Nova Zelândia, o embate está definido entre a vontade e necessidade do poder público de conter o ímpeto dos skatistas e tendência dos skatistas de subverter os usos do mobiliário urbano.

Ao mesmo tempo em que faz adaptações anti-skate nos locais perfeitos para um grind, a administração municipal de Auckland investe na construção de “skate parks”, infraestrutura segregada planejada para a prática do skate. O que a princípio soa interessante, é na verdade uma miopia em relação aos desejos reais da comunidade das rodinhas.

O skatista está sempre em busca de novos locais para realizar manobras em busca de desafios. Ter um parque é bom para novos adeptos, mas é na dificuldade de pular uma nova escadaria ou em voar por um corrimão inexplorado que reside o desafio.

Manobras radicais em grandes obras arquitetônicas podem parecer uma grande heresia, contribuindo para o desgaste prematuro da infraestrutura. Mas a realidade é que uma cidade precisa ser adequada para o uso democrático do espaço. Pensar em maneiras de integrar diversos usos é sempre mais eficiente do que segregar cada grupo social, ou tribo, em sua caixinha.

Do Blog Transporte Ativo