Professores pretendem usar mais ferramentas de TI na volta às aulas

Professores pretendem usar mais ferramentas de TI na volta às aulas

Por Agência Brasil

Uma pesquisa encomendada pela Fundação Lemann mostrou que 55% dos professores da rede pública de ensino consideram essencial que as escolas tenham acesso à internet para a retomada das aulas em 2021. Segundo a pesquisa, os professores estão mais preparados e 73% pretendem utilizar mais ferramentas tecnológicas para lecionar do que usavam antes da pandemia da covid-19.

Para 81% dos professores, a tecnologia é uma grande aliada na promoção de um ensino mais ativo. No entanto, 45% dos profissionais consideram a conexão à internet adequada atualmente e quase 30% não têm qualquer internet na unidade escolar.

“Com o isolamento social, e o fechamento de escolas, o ensino remoto foi implementado em caráter emergencial. Em 2021, vamos migrar para um modelo híbrido e temos ainda tempo de nos preparar”, disse a gerente da Força Tarefa Educação/Covid-19 da Fundação Lemann, Cristieni Castilhos.

Para a Fundação Lemann, mesmo diante dos recentes cortes e a não execução no orçamento da educação no executivo federal, “há alguns projetos de lei, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, que estão em tramitação, e esta é uma boa oportunidade para os parlamentares analisarem e aprovarem esses projetos até o final do ano de forma a conectar os estudantes e beneficiar aqueles que têm menos condições”.

“Precisamos de ações concretas ainda em 2021, pois a tecnologia veio para ficar na educação. No ano que vem, uma escola conectada vai ser chave para garantir o modelo híbrido que seguiremos tendo. Fomos pegos de surpresa em 2020, mas não podemos terminar o ano sem uma ação significativa que resolva a conexão da educação”, ressaltou Cristieni.

Preparo

A pesquisa revelou que apenas 3% dos professores não se sentem preparados para dar aulas com ferramentas tecnológicas e 97% acham importante oferecer equipamentos e acesso à internet de alta velocidade para alunos e professores que não disponham, caso as escolas não reabram até o fim do ano.

Segundo a pesquisa, 64% dos professores consideram imprescindível a todas as escolas terem acesso à internet de alta velocidade; 59% acham imprescindível todos os professores terem acesso e 47% acham imprescindível todos os alunos terem acesso, e 76% dos professores dizem que farão mais formações de forma remota após a pandemia do que o quanto faziam antes da pandemia.

Das 27 unidades federativas, apenas 12 já autorizaram a reabertura das escolas: Amazonas, São Paulo, Ceará, Pernambuco, Piauí, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins, com retorno sendo feito de forma gradual.

Foram entrevistados 1.005 professores da rede pública de todo o país em setembro e outubro.

Facebook lança cursos de capacitação para comunidade negra

Facebook lança cursos de capacitação para comunidade negra

Em parceria com o Instituto Guetto e Indique uma Preta, o Facebook promove o programa Potência Preta, que terá início em 23 de novembro. A capacitação incluirá uma série de recursos educacionais, como bolsas de estudos para cursos com certificação profissional e treinamentos, além de palestras e mentoria com especialistas do próprio Facebook.

A proposta do programa é contribuir para que o mercado de trabalho na publicidade se torne um ambiente mais diverso. As vagas para os cursos do Potência Preta são limitadas e você pode se inscrever pelo link. Os candidatos poderão escolher um dos dois cursos das seguintes áreas:

Marketing Digital

Com foco em jovens em busca do seu primeiro emprego, de seguir uma carreira de marketing digital ou aprender sobre esses recursos em um mundo cada vez mais conectado. Totalmente voltado à aprendizagem de Marketing Digital para comunidades negras, com foco em pessoas de baixa renda/desempregadas e jovens que estão iniciando a carreira e não podem pagar por um diploma tradicional.

Marketing Science

Oferecerá aprendizagem de Marketing Science para profissionais negros com mais experiência nas áreas de dados (mensuração, pesquisa de mercado, ciência de dados, estatística, ciências sociais e outras áreas).

Negros de 14 a 29 anos desempregados são quase o dobro dos brancos

Negros de 14 a 29 anos desempregados são quase o dobro dos brancos

Por Correio Braziliense

Encontrar trabalho é mais difícil para os jovens e um desafio ainda maior para a juventude negra e parda. A quantidade de pessoas negras de 14 a 29 anos buscando emprego é quase o dobro da de jovens brancos. Dos mais de 12 milhões de desempregados no país, 6,7 milhões têm de 14 a 29 anos. Nessa faixa etária, estão desocupados 4,36 milhões de jovens negros e 2,32 milhões de jovens brancos.

No país, mais de 65% dos jovens que não estudam e não concluíram o ensino superior são negros. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 23,7 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos nessas condições, 15,6 milhões são pretas ou pardas.

“Temos uma desigualdade educacional que se manifesta desde o ensino fundamental e se agrava ao longo do percurso escolar. Isso porque os motivadores do atraso e abandono vão se acumulando e atingem o ápice no ensino superior”, explica Luanda Botelho, analista socioeconômica do IBGE.

A disparidade no ensino afeta diretamente o desempenho no mercado de trabalho. No entanto, o contraste é notável mesmo entre aqueles que estão no mesmo nível educacional. “Não ter ensino superior já é uma desvantagem no mercado de trabalho, mas seria equivocado atribuir somente a essa característica os resultados desiguais”, afirma Luanda, mestra em sociologia pela Universidade do Estado do Rio Janeiro (Uerj).

“As pessoas pretas ou pardas estão mais desocupadas e, entre as ocupadas com o mesmo nível de instrução, o rendimento do profissional branco é maior do que o do preto ou pardto”, diz. A pesquisa do IBGE revela que, enquanto brancos com ensino superior completo ganham, em média, R$ 33,90 por hora, pretos e pardos recebem R$ 25,50. “É uma diferença de 44%”, pontua.

Caminho da educação

A educação é fundamental para conseguir melhores condições de emprego e renda. Nesse sentido, apesar das melhorias ao longo de décadas, há muito a avançar na oferta à população negra.

A meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece que, até 2024, 33% dos jovens de 18 a 24 anos devem estar no ensino superior. “Essa meta já foi alcançada para os jovens brancos. Para os jovens negros, alcançar a meta ainda está distante: 18% deles nessa faixa etária estão na faculdade”, compara a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Tatiana Dias Silva.

No ensino superior particular, o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Financiamento Estudantil (Fies) também se mostraram fundamentais para a inclusão dos negros, apesar de não haver reserva de vagas para eles.

Nas universidades federais, graças a cotas, pretos e pardos são 51% dos alunos, segundo pesquisa do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Estudantis (Fonaprace), vinculado à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes).

Para Tatiana, as ações afirmativas são fundamentais para mudar este cenário, porém, não são suficientes, isoladamente, para acabar com a discriminação. “Se a gente compreende o racismo como questão estrutural, essas medidas somente, mesmo que fossem 100% efetivas, são uma parcela de um projeto antirracista que temos de ter como sociedade”, explica.

“Elas são parte de uma construção histórica que reconhece a necessidade de atuação do estado não só para reprimir o racismo e valorizar a cultura negra, mas, também, para pensar no desenvolvimento brasileiro a partir da inclusão de todos.” A fim de promover essa inclusão de fato, “as políticas públicas devem ser estruturadas de modo que pensem no negro e não criem mais desigualdade”.

As iniciativas não devem se restringir à reserva de vagas em universidades públicas e em concursos públicos, observa Tatiana. “É preciso pensar na tributação, na política social, na distribuição de renda. Se a gente não incorporar realmente a diversidade racial, a gente não se desenvolve”, aponta.

Em busca de estudo

Leilany Raquel Ramos, 29 anos, sabe da importância de buscar educação e sonha fazer faculdade. Ela trabalha na conservação de uma academia há três anos, fez o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2019 e conseguiu uma bolsa do ProUni para cursar enfermagem numa instituição particular.

A jovem entregou a documentação e fez a matrícula, mas não conseguiu nem começar a frequentar as aulas porque uma reviravolta aconteceu na família. “Minha mãe faleceu há quatro meses. Ela teve câncer e ficou internada por três meses. Minha vida virou de cabeça para baixo”, conta.

Leilany morava com o filho de 10 anos e a mãe, com quem dividia as contas e os cuidados com o menino. Depois da morte dela, precisou mudar de casa para pagar um aluguel mais em conta. “Fiquei um mês afastada do trabalho e ainda estou resolvendo questões do enterro”, diz.

Era a mãe dela que ficava com o filho da funcionária da limpeza enquanto ela estava no trabalho. “Saio de casa às 5h20 e retorno por volta das 16h30.” Agora, Leilany estuda para recomeçar a batalha por uma vaga no ensino superior e fará o Enem, marcado para janeiro de 2021. Ela sempre gostou muito de ler, e, mesmo longe das salas de aula há muito tempo, conseguiu tirar 860 pontos na redação.

Racismo

Antes de trabalhar na academia de ginástica, Leilany ficou três anos desempregada, época em que fazia bicos como faxineira e entregadora de panfletos. Apesar de ter feito várias entrevistas, não era selecionada. Ela conseguiu o emprego atual por meio da mãe, que era vigilante no condomínio onde mora o dono da academia.

As experiências anteriores da jovem foram como recepcionista num escritório de advocacia, atendente num restaurante e vendedora numa loja de shopping. Ela identificou racismo até mesmo nos processos seletivos e, algumas vezes, viu-se forçada a aceitar imposições discriminatórias para conseguir emprego.

Foi o caso da posição que ocupou como vendedora. “A gerente disse que gostou do meu perfil, mas só me contrataria se eu pintasse o cabelo e usasse ele escovado, pois disse que ele estava muito armado”, relata. Na época, Leilany estava com o cabelo pintado de vermelho.

“Eu tinha acabado de me separar, meu filho tinha apenas 2 anos e eu precisava nos sustentar. Fiz o que ela pediu”, diz. Ela sabe que a imposição foi racista, mas aceitou pelo “desespero do desemprego”. Segundo Leilany, havia outras funcionárias negras na loja e todas usavam o cabelo escovado.

O racismo se apresentou também em outras ocasiões, como quando foi vacinar o filho no posto de saúde. “Meu filho é branco, e a enfermeira pediu para chamar a mãe dele, sendo que eu já estava ali.”

No trabalho atual, Leilany se sente respeitada e integrada, mas já percebeu olhares discriminatórios por parte de frequentadores. “Uma aluna questionou por que eu usava o mesmo banheiro que ela.” Leilany relatou o caso para a gerente, e a aluna foi advertida.

As irmãs gêmeas Andreia e Andreza Ramos, 26 anos, fizeram faculdade graças a programas que facilitam a inserção no ensino superior particular. Andreia formou-se em educação física, em 2018, com 50% de bolsa, e Andreza acaba de concluir o curso de enfermagem, custeado pelo Fies. Ambas trabalharam e fizeram estágios durante a formação para se manter.

Andreia atuou como operadora de telemarketing no início da graduação, foi também vendedora e operadora de caixa. “O pessoal pedia para eu escovar o cabelo. Eu não sentia tanta dificuldade nisso, mas tinha dias que eu não queria escovar”, lembra. “Se eu fosse com ele preso, reclamavam. Eu aceitava isso para não perder o emprego, mas não entendia o porquê dessa exigência.”

Na época, ela ainda não sabia que se tratava de racismo. “Eu demorei a processar isso. Se acontecesse hoje, eu questionaria e exigiria uma explicação plausível. Se fosse necessário, poderia contestar até juridicamente”, diz. Desde o início do ano, Andreia é professora de contrato temporário da Secretaria de Estado de Educação (SEE-DF) e se esforça para conseguir ensinar e engajar os estudantes a distância.

Em sala de aula, Andreia nunca se sentiu discriminada, mesmo considerando-se “radical” com o cabelo, por frequentemente usar cores extravagantes e cortes diferentes. “Estar dentro de sala de aula com o cabelo enrolado também traz representatividade.” Hoje em dia, a educadora física indigna-se com o racismo e percebe que os negros precisam fazer um esforço acima da média para terem reconhecimento.

“Na faculdade, eu era muito preocupada em estar entre os primeiros da turma e dar o meu melhor. O preto tem que tentar ser o melhor e, ainda assim, ele pode não conseguir oportunidades, o que dá muita raiva”, afirma Andreia, mãe de um menino de 1 ano.

Processo de aceitação

Andreza terminou o curso de enfermagem em outubro, ainda vai colar grau e está se preparando para fazer um concurso de residência de saúde em urgência e emergência. Há um mês, começou a trabalhar como secretária num escritório de advocacia para se manter enquanto não arranja uma chance na área da saúde. Ao mesmo tempo, cursa uma pós-graduação em UTI.

“As pessoas dizem que o racismo acabou ou não existe, mas várias atitudes provam o contrário”, desabafa Andreza. Numa empresa em que trabalhou como operadora de telemarketing, ela e outro trabalhador negro foram demitidos de maneira discriminatória. Andreza usava rastafári na época e, seja com tranças, seja com cabelo natural, acabava chamando atenção.

“A gente vira um ponto de referência, é mais fácil nos visualizar”, percebe. Vários funcionários de diversas áreas estavam numa fila. Algumas pessoas perto dela começaram a falar mal da companhia. “Estávamos calados ali e os dois negros foram os que levaram a culpa”, indigna-se.

Além de chamar a atenção, o cabelo de Andreza foi motivo de comentários depois que ela parou de alisar, pois as pessoas se sentem no direito de expressar a “opinião” delas. “Quando parei de usar chapinha, ouvi frases como: eu preferia antes, isso não combina com você”, conta.

Na faculdade, colegas diziam que ela não podia se sentar nas cadeiras da frente porque o cabelo “alto” atrapalhava. Os comentários pararam depois que Andreza deixou claro que poderia processá-los. “As pessoas não são obrigadas a gostar de mim, mas precisam me respeitar”, exige.

Para ela própria, gostar do cabelo natural exigiu um processo. “Eu não me aceitava de jeito nenhum pelo simples fato de ninguém gostar e de ver essa imposição desde criança.” Hoje, Andreza se enxerga de modo diferente e estimula que a filha, de 6 anos, goste do cabelo do jeito que é.

Ela percebe certa dificuldade para arrumar emprego e, quando consegue, é porque são empresas de estilo alternativo e mais diversas. No escritório de advocacia onde trabalha, Andreza se sente incluída porque a maior parte dos advogados é de negros. Em locais de equipe majoritariamente branca, via um tratamento diferente. “Queriam me explorar mais por seu ser negra.”

Programas de trainee em alta

Os processos seletivos de trainee estão entre as mais cobiçadas portas de entrada para o mercado de trabalho voltadas para jovens universitários e recém-formados, pois preparam iniciantes para assumirem cargos gerenciais. A concorrência passa de 2 mil candidatos por vaga dependendo da empresa.

No entanto, apesar de, muitas vezes, haver grande diversidade entre os inscritos, isso não costuma se refletir entre os aprovados. Os processos seletivos das empresas não estão livres de vieses racistas, uma vez que o racismo é estrutural e se apresenta em todas as esferas da vida em sociedade.

Além disso, várias seleções incluem pré-requisitos que, apesar de, em tese, não serem discriminatórios, acabam privilegiando um grupo racial que não é preto nem pardo, como explica a pesquisadora de igualdade racial Tatiana Dias Silva. Pensando em mudar esse sistema, a varejista Magazine Luiza lançou um programa de trainee exclusivo para negros como ação afirmativa.

Por um lado, o programa gerou polêmica e discordâncias, que incluíram mais de uma dezena de processos judiciais taxando a iniciativa de discriminatória, tendo como base o inválido argumento do “racismo reverso” — todas as ações foram arquivadas pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Por outro lado, a iniciativa estimulou reflexões acerca do racismo e serviu de exemplo para outras empresas, como a farmacêutica Bayer, que lançou um programa de trainee similar. Uma ação afirmativa não deveria gerar tanta controvérsia se as pessoas em geral entendessem que seleções para trainee tradicionais carregam consigo um elemento racial.

É o que explica Tatiana Dias Silva, graduada, mestre e doutora em administração. Na avaliação dela, quando uma empresa promove uma seleção que exige que a pessoa fale duas línguas e tenha se formado em universidade de elite, por exemplo, trata-se de um processo seletivo racializado, cujo perfil selecionado será branco.

“Não que a instituição vá dizer que só quer contratar branco, mas ela acaba reproduzindo desigualdades por meio dessa seleção. Isso também pode acontecer num concurso público”, afirma a técnica de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

“A gente acaba se acostumando com essa desigualdade porque ela não é nomeada e considera que essas seleções são ‘neutras’, mas não são, pois colocam a figura do homem branco hétero como universal”, observa. “Aí, quando uma empresa como o Magazine Luíza abre uma seleção para negros, dizem: agora, você racializou, mas a raça sempre esteve lá nos processos seletivos”, afirma.

Apoio para crescer

Luciana Marcondes, 25 anos, é trainee em recursos humanos na Mercedes-Benz do Brasil desde 2018. Na época em que se candidatava a processos seletivos do tipo, a jovem não era fluente em inglês nem tinha experiências internacionais. Por isso, recebeu diversas respostas negativas.

“Eu sempre achei que passar em um programa de trainee fosse uma realidade muito distante da minha. Ainda assim, tentei”, conta. A oportunidade na Mercedes-Benz era mais flexível, dispensava a necessidade de inglês e, quando aprovada, Luciana recebeu bolsa para estudar o idioma.

“Meu pai trabalhou na indústria automobilística por 20 anos e, hoje, é caminhoneiro por paixão. Minha mãe é autônoma, mas, durante anos, foi doméstica”, conta a jovem de Pindamonhangaba (SP). O curso de administração na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas) foi concluído com bolsa integral.

Agora, com a ajuda da empresa onde trabalha, Luciana começará o MBA em gestão com ênfase em liderança e inovação. Durante a graduação, ela vivenciou situações incômodas. “Em entrevistas, eu sempre usava o meu cabelo preso para não chamar atenção”, conta. Essa preocupação surgiu após ouvir de uma recrutadora, em um evento sobre diversidade, que era preferível que o cabelo dela estivesse com outra curvatura.

Hoje, o sonho em realização é poder ser quem ela é no trabalho. “Prefiro estar em um lugar que tenha esse olhar para a diversidade, o desenvolvimento de minorias e que eu consiga colocar um pouco da minha personalidade no meu dia a dia”, diz.

“Não via outros negros”

Felipe Sergio Lisboa, 28 anos, participou de dois programas de trainee e sabe que é exceção. “Nós não vemos pessoas negras nesses tipos de programa ou em cargos de liderança. Então, eu sabia que teria que fazer um esforço adicional”, diz o engenheiro mecânico formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O jovem foi promovido de trainee a colaborador efetivo não só uma, mas duas vezes.

Em 2016, após seis meses no programa de uma empresa de logística, o carioca conquistou o cargo de analista de operações rodoviárias. Menos de um ano depois, ele trocou o emprego pelas experiências internacionais ofertadas pelo trainee da Mercedes-Benz do Brasil. Nos dois anos de treinamento, esteve em países como Alemanha, Índia e Japão.

Agora, Felipe é coordenador de projetos da empresa, em São Bernardo dos Campos (SP). “Desde pequeno, minha mãe dizia que eu teria que me dedicar mais do que as outras pessoas tanto por questões financeiras quanto por aspectos raciais”, afirma.

Por isso, Felipe, que atualmente faz pós-graduação em administração na Fundação Getulio Vargas (FGV), dedicou-se intensamente desde a escola aos estudos. Na faculdade, investiu em atividades extracurriculares e conseguiu bolsa de intercâmbio. A preparação para as seleções de trainee também foi feita com muito cuidado. “Eu gastava muito tempo para deixar o currículo perfeito antes de mandar e me preparava para o que eu falaria e como me portaria.”

Em busca de uma vaga

No mesmo caminho de esforço está a pernambucana Ebenezaide Alves, 25, formada em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ela conta que tem se dedicado exclusivamente à preparação para processos seletivos para trainee e se inscreveu em mais de 20 neste ano. “Consegui avançar apenas em três ou quatro”, comenta.

Segundo Ebenezaide, os feedbacks costumam ser genéricos, por isso, ela não consegue saber quais são os motivos da reprovação. “Sinto que a pouca experiência na área tem sido um fator, além do mercado de engenharia ser concorrido”, supõe.

Ebenezaide diz que nunca se sentiu prejudicada pelo racismo, mesmo assim, reconhece o potencial positivo de inclusão de processos seletivos exclusivos para negros propostos por algumas empresas. “Muito se fala sobre diversidade, mas pouco se coloca realmente em prática”, opina.

“Além disso, a representatividade é muito importante. A gente vê que o processo é difícil, mas não é impossível quando vê alguém igual a gente que já chegou lá”, reflete ela, que sempre estudou em escola pública e é a primeira engenheira da família.

Empregabilidade discrepante

 

Estudo do Instituto Locomotiva para a Central Única das Favelas (Cufa) mostra que 91% das pessoas acreditam que um branco tem mais chance de conseguir emprego; enquanto 94% acham que um negro tem mais risco de ser abordado de forma violenta ou de ser morto pela polícia.

A pesquisa demonstra que os brasileiros sabem que o racismo existe, mas muitos optam por não fazer nada a respeito. “O tema da desigualdade racial é muito incômodo para todos, para quem vivencia e para quem não quer enxergar que sua posição de privilégio também é racializada”, reflete Tatiana Dias Silva, pesquisadora de igualdade racial.

Pré-requisitos excluem

Segundo Tatiana, é ilusão pensar que uma pessoa negra da periferia, que estudou em escola de baixa qualidade e não teve acesso a bens culturais competirá em pé de igualdade com outros perfis. “À medida que os requisitos vão ficando cada vez sofisticados e exigentes, você elimina determinados grupos.”

A meritocracia, em muitos casos, é mito. Dependendo dos requisitos que uma seleção exige, ela determina quais grupos terão acesso às vagas. “Esses critérios podem reproduzir desigualdades e selecionar um determinado perfil de raça ou de gênero ou os dois juntos.”

Cerca de 43% dos universitários negros não têm nenhum conhecimento da língua inglesa e 44% declaram não conhecer a ferramenta Excel, considerados pré-requisitos para muitas vagas. Entre alunos pardos, ambos percentuais estão em 66%. Os dados são de pesquisa da Companhia de Estágio, consultoria em programas de estágio e trainee.

Para Tiago Mavichian, fundador e CEO da Companhia de Estágios, o alto número de candidatos negros que declaram não ter conhecimento em ambas competências se deve, principalmente, a dificuldades financeiras. “Para muitos, já é complicado pagar a graduação e ajudar em casa e dificilmente sobra para um curso complementar”, diz.

Segundo o British Council e o Instituto de Pesquisa Data Popular, 5% da população brasileira falam inglês, sendo que a fluência está em 1%. Apesar de cada vez mais requisitado pelo mercado de trabalho, o domínio da língua estrangeira acaba sendo um fator de exclusão, especialmente com relação a trabalhadores de menor poder aquisitivo.

Como os negros são 75% entre os mais pobres e os brancos, 70% entre os mais ricos, segundo o IBGE, não é difícil entender por que uma seleção que coloca língua estrangeira como pré-requisito pode selecionar um perfil que é basicamente branco. Mesmo em processos seletivos de trainee sem esses pré-requisitos, a tendência é de que haja menos candidatos negros, pois menos deles chegam às faculdades.

Universitária branca que usou cota tem liminar derrubada e será desligada

Universitária branca que usou cota tem liminar derrubada e será desligada

Por Estado de Minas

A Justiça Federal acatou o recurso do Ministério Público Federal (MPF) e derrubou a liminar que suspendia o desligamento da universitária branca que ingressou por meio de cota na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no Triângulo Mineiro. Ela tentava finalizar a faculdade de Odontologia, da qual cursaria o último período.

Foi do juiz federal José Humberto Ferreira a decisão de deferir o pedido feito pelo procurador da República Onésio Soares. “A política de cotas raciais tem como objetivo principal a promoção do princípio da igualdade, visando assegurar o acesso ao ensino superior àquelas pessoas que em razão da cor da pele ou de seu grupo étnico racial são tolhidas das condições necessárias para concorrer em condições de igualdade com os demais integrantes da sociedade”, disse na sentença.

A estudante se declarou negra ou parda mesmo sendo branca e conseguiu o ingresso na universidade em 2015. Posteriormente denunciada, a continuidade no curso foi suspensa pela própria UFU em processo administrativo. Ainda assim, a universitária recorreu à Justiça para tentar anular essa decisão. Recentemente, ela tinha obtido uma liminar que garantia que ela pudesse seguir no curso.

A nova decisão já era esperada pelo procurador da Justiça, Onésio Soares, que classificou a liminar inicial como algo para garantir que não houvesse prejuízo a nenhuma parte e, com a apresentação de provas a partir daí, pudesse haver um novo juízo. Entre as provas apresentadas pelo MPF estava uma foto de rede social em que a estudante se chamar de “branquela e lora (sic)”.

“Portanto, tendo sido apurado que a parte impetrante não se insere no grupo racial ao qual se declarou no momento de sua inscrição para o processo seletivo, deve ser excluída do certame e cancelada a sua matrícula, conforme previsto nas regras do Edital”, determinou a Justiça.

Entretanto, foram mantidas a vida acadêmica da universitária, que poderá utilizar as disciplinas cursadas caso venha a ingressar regularmente no Ensino Superior.

CNE garante matrícula de estudantes estrangeiros na rede pública

CNE garante matrícula de estudantes estrangeiros na rede pública

Por Agência Brasil

O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou medida que assegura o direito de matrícula de crianças e adolescentes migrantes, refugiados, apátridas e solicitantes de refúgio nas redes públicas de educação básica brasileiras. A resolução foi publicada hoje (16) no Diário Oficial da União e diz que o acesso desse público à escola deve acontecer sem discriminação em razão de nacionalidade ou condição migratória e que não há a necessidade de documentação comprobatória de escolaridade anterior.

O CNE atende aos princípios da legislação educacional do Brasil e de convenções internacionais, que asseguram o respeito à diversidade, à proteção de crianças e adolescentes e ao respeito à dignidade humana. Além disso, o documento cita a situação dos refugiados venezuelanos que “possuem necessidade de proteção internacional, conforme os critérios contidos na Declaração de Cartagena, baseado nas ameaças à sua vida, segurança ou liberdade resultante de eventos que atualmente estão perturbando gravemente a ordem pública na Venezuela”.

A matrícula na rede pública do Brasil, uma vez demandada, deverá ser facilitada, considerando-se a situação de vulnerabilidade, e será assegurada de imediato, inclusive na modalidade de educação de jovens e adultos e, de acordo com a disponibilidade de vagas, em creches. A situação migratória irregular ou documentos fora do prazo de validade não devem ser impedimento para a matrícula das crianças e adolescentes.

Na ausência de documentação escolar, os estudantes estrangeiros serão avaliados e matriculados em qualquer etapa, conforme o seu desenvolvimento e faixa etária, exceto a matrícula na educação infantil e no primeiro ano do ensino fundamental, que obedecerá apenas ao critério da idade da criança.

O processo de avaliação deverá ser feito na língua materna do estudante, cabendo aos sistemas de ensino garantir esse atendimento. As avaliações de equivalência e classificação também devem considerar a trajetória do estudante, sua língua e cultura, e favorecer o seu acolhimento.

A resolução entrará em vigor em 1º de dezembro deste ano. As escolas devem organizar procedimentos para o acolhimento dos estudantes migrantes, com base na não discriminação, prevenção ao bullying, racismo e xenofobia e não segregação entre alunos brasileiros e estrangeiros. Os professores e funcionários deverão ser capacitados sobre práticas de inclusão desses alunos.

Também deverão ser observadas práticas de atividades que valorizem a cultura dos alunos não brasileiros. Além disso, o ensino de português deverá ser ofertado como língua de acolhimento, visando a inserção social àqueles que detiverem pouco ou nenhum conhecimento da língua portuguesa.

Colégio Núcleo bate recorde com 20 equipes de alunos na final da ONHB

Colégio Núcleo bate recorde com 20 equipes de alunos na final da ONHB

Vinte equipes de estudantes do Colégio Núcleo estão na final da Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB), realizada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. A instituição quebrou o próprio recorde e está com o maior número de equipes na final da ONHB no estado. Entre as 421 equipes finalistas, 55 são de Pernambuco e 20 delas são compostas por alunos do Núcleo.

“Essa é uma das olimpíadas mais interessantes do país e quebramos nosso próprio recorde com as 20 equipes na final, sendo duas delas de alunos ainda do Fundamental e competindo com estudantes até o 3º ano de todo o Brasil”, comemora o diretor do colégio, Gilton Lyra. O resultado final dos medalhistas será divulgado no próximo dia 22 de novembro.

A participação na ONHB ocorre por meio de equipes formadas por um professor e três alunos – a partir do 8º ano do Ensino Fundamental até o 3º do Ensino Médio de escolas públicas e particulares. Durante a competição, os estudantes precisaram realizar tarefas de forma colaborativa, em curtos intervalos de tempo, e elaboraram um livro com uma crônica temática, unindo os conhecimentos sobre história e sociedade aos da literatura. “São atividades diferenciadas que envolvem muitas áreas do conhecimento e temas das atualidade”, explica a diretora Olímpica e de intercâmbio do Núcleo, Thatiana Stamford.

Na 5ª fase da competição, eles receberam o desafio de elaborar uma crônica jornalística e deveriam escolher entre os temas: violência de gênero, preconceito religioso, genocídio das populações indígenas e genocídio das populações negras. “A ONHB é muito interativa e bem diferente de outras competições nacional por ser uma das mais longas que existe, com sete fases no total. Então o ritmo é bastante intenso para nossos alunos”, aponta Thatiana. “A partir das atividades eles desenvolvem o senso crítico, o trabalho em grupo, argumentação, interpretação e tudo isso é muito enriquecedor para o desempenho e preparo para futuras avaliações”, completa.  “Só quem participa na ONHB sabe a evolução que um estudante passa”, completa.

De acordo com a organização, a competição iniciou em setembro com 69,8 mil inscritos de todo país, um total de 17,4 mil equipes. Por causa da pandemia, o projeto foi adiado e adaptado para uma versão totalmente online.

Alunos do 8º ano do Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio estão na final da Olimpíada Nacional de História do Brasil. Foto: Colégio Núcleo/Divulgação