O desabafo da família de uma vítima da impunidade

Há 11 anos, os familiares de Lara de Menezes Albert esperam por justiça. A garota foi atingida por um tiro quando estava dentro de casa, no bairro de Boa de Viagem.

Leia o e-mail enviado na íntegra à redação:

Hoje, dia 24 de junho, completou-se onze anos da tragédia da qual nossa família foi vítima. Lara de Menezes Albert, à época com 07 anos de idade, foi subitamente atingida na cabeça por um disparo de arma de fogo, enquanto assistia à televisão na sala do seu apartamento. Naquela fatídica noite, os fogos juninos, ao contrário de simbolizarem a alegria e felicidade típica da época, marcaram a dúvida acerca da sua sobrevivência, o que, por intervenção divina, acabou por acontecer.

Lara tinha sete anos quando foi baleada. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press
Lara tinha sete anos quando foi baleada. Fotos: Teresa Maia/DP/D.A Press

A investigação policial atribuiu a responsabilidade pelo disparo a Tibério Gentil Figueiredo de Lima e que, por ironia, era um tenente da policia militar de Pernambuco, pago pelo Estado para promover a segurança da população. O que torna o caso ainda mais grave é constatar que o autor do tiro, que quase ceifou a vida de uma inocente, apesar de ter sido condenado em todas as instâncias no Tribunal de Justiça de Pernambuco, nunca cumpriu sequer um dia da pena, favorecido pelo instituto da prescrição. Do mesmo modo, o processo administrativo, instaurado na Corregedoria da Polícia Militar – PE, também prescreveu, razão pela qual o atual capitão continua exercendo sua profissão sem maiores obstáculos.

Marca de tiro ficou na parede da sala
Marca de tiro ficou na parede da sala

Inegável: ainda que o instituto da prescrição seja capaz de fazer a Justiça “esquecer”, pela passagem do tempo, determinados fatos, ele não é aplicável às memórias do coração. Por isso, nas noites de São João, para nossa família, as fogueiras queimando reacendem o sentimento de revolta, ao lembrar-nos que os estrondos ouvidos naquela noite, infelizmente, não eram de simples fogos de artifício.

Todavia, hoje a nossa intenção não se resume apenas a reprisar os momentos de desespero vividos pela nossa família. A nossa grande missão, neste momento, é continuar denunciando esse caso, que engrossa as estatísticas da impunidade, contribuindo para disseminar a violência. É comum ver nos jornais diários notícias divulgando casos de famílias destruídas pela ação irresponsável de quem acionou uma arma e disparou uma “bala perdida” no corpo de um inocente.

Por outro lado, há motivos para comemorar. Depois de um período de dificuldades, Lara se encontra em processo de recuperação, desenvolvendo gradualmente as atividades normais de uma jovem com sua idade.
Nós, família de Lara, agradecemos a todos os amigos, aos parentes e aos profissionais de diferentes áreas que nos ajudaram e continuam ajudando nessa árdua caminhada, que ainda não terminou.

Por fim, acreditamos na existência de instâncias superiores, não terrenas, para as quais, assim como o coração, a prescrição é inaplicável e a justiça, por consequência, inexorável. Diante delas, as instâncias componentes da justiça mundana não são senão meras tentativas vãs de restabelecer o equilíbrio das coisas, imperfeitas por natureza.

Que Deus ilumine a vida de todos vocês!

Lara e Família.