CSI pernambucano ajuda polícia a desvendar crimes

A cena do crime fala. O corpo da vítima também. Há um mês, um professor de 49 anos foi encontrado morto em seu apartamento, com as pernas e o pescoço enrolados com fios. A análise de vestígios no local do assassinato levaram à suspeita sobre dois alunos de uma escola particular na qual ele trabalhava. O caso de José Bernardino da Silva Filho, o Betinho, é o mais recente de uma série de investigações que demonstram a importância cada vez maior  da perícia criminal na elucidação de mistérios que intrigam a população e desafiam os investigadores.

Crime está sendo investigado pelo delegado Alfredo Jorge do DHPP. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press
Crime que vitimou o professor Betinho está sendo investigado pelo delegado Alfredo Jorge do DHPP. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press

No Caso Betinho, a perícia papiloscópica, feita pelo Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB), detectou as digitais dos dois estudantes nos objetos usados no crime e num móvel da casa da vítima. “As perícias esclarecem situações com provas incontestáveis. Mas para que sejam bem feitas, é fundamental que haja o isolamento da área”, explica a gerente de Polícia Científica de Pernambuco, Sandra dos Santos.

Apenas nos três primeiros meses deste ano, o Instituto de Criminalística (IC) realizou 921 perícias de comparação balística no estado. Já o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) realizou 341 perícias em locais de homicídios, tentativas ou em veículos no Grande Recife no mesmo período.

Ao chegar em um local de crime, seja ele um roubo ou um assassinato, o perito criminal ou papiloscopista analisa toda área próxima. Sandálias, peças de roupas, objetos pessoais ou a arma do crime são as primeiras coisas procuradas no cenário do crime. “Tudo o que é colhido para perícia pode trazer um resultado. E uma vez que esse resultado é obtido, pode se refazer a técnica em qualquer outro lugar do mundo que a resposta será a mesma”, assegura Sandra dos Santos.

A tarefa de encontrar as provas ou vestígios em locais de crime exige rapidez e experiência. “Quanto mais rápido chegarmos ao local, melhor. Nas perícias em lugares fechados é mais fácil encontrar vestígios como impressões digitais e manchas de sangue”, ressalta a gerente de Polícia Científica.

Para o chefe da Polícia Civil de Pernambuco, delegado Antônio Barros, a perícia criminal é essencial para a investigação policial. “Seja num crime de roubo, homicídio ou até mesmo sexual, a perícia é de fundamental importância. É o trabalho do perito que em muitos casos vai dar um norte para chegarmos à autoria do delito. Eles podem nos apresentar provas cabais contra os suspeitos do crime”, aponta Barros.

DNA
Recentemente, Pernambuco passou a contar com nova ferramenta para combater o crime através de análises de DNA. O estado é o primeiro do país a fazer a coleta de material genético de condenados por crimes hediondos para inserir no Banco de Dados de Perfis Genéticos. O banco, com tecnologia do FBI (polícia federal norte-americana), está presente em 17 estados e Distrito Federal para facilitar a identificação de reincidentes e crimes em série, e integrar o trabalho das polícias.

Outros casos

Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press
Garota de sete anos foi baleada em Boa Viagem. Foto: Teresa Maia/DP/D.A Press

Caso Lara

No dia 24 de junho de 2003, a menina Lara de Menezes Albert, 7 anos, foi atingida na cabeça por uma bala perdida quando estava dentro do apartamento onde morava com a família no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul da cidade. No primeiro momento da investigação, o caso era um mistério para a polícia que não sabia de onde teria partido o tiro que feriu a garota. Somente após uma perícia realizada pelos profissionais do Instituto de Criminalística (IC) de Pernambuco ficou concluído que o disparo que atingiu Lara teria partido de um apartamento de um prédio próximo ao dela.

Tópicos
Com base na trajetória da bala e a posição onde a criança estava, os peritos não tiveram dúvidas de que o tiro foi disparado de um prédio a 100 metros

O resultado foi entregue ao delegado responsável pela investigação, que solicitou um mandado de busca e apreensão no apartamento apontado pela perícia

Uma pistola foi encontrada no apartamento onde morava um tenente da Polícia Militar. Ele negou para a polícia que tivesse feito o disparo

A comparação balística apontou que o projétil que atingiu a vítima saiu da arma do tenente. O inquérito foi concluído e o autor indiciado

Lutador de box morreu em 2009. Foto: Tom Casino/Reproducao da Interne
Lutador de box morreu em 2009. Foto: Tom Casino/Reproducao da Interne

Caso Arturo Gatti

O lutador de boxe Arturo Gatti foi encontrado morto dentro de um quarto de hotel de luxo em Porto de Galinhas, Litoral Sul do estado, em 11 de julho de 2009, um dia depois de chegar à praia com a mulher, Amanda Rodrigues, e o filho para passar férias. Horas antes, segundo o inquérito policial, o casal teria brigado num restaurante e a mulher sido agredida. No hotel, Amanda teria se trancado no quarto com o filho e o lutador ficado na sala onde se suicidou. Inicialmente, a Polícia Civil acreditou em crime passional e Amanda foi autuada por homicídio. Passou 19 dias presa e só foi solta após o laudo da perícia pernambucana descrever que a morte de Gatti foi um suicídio.

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Após analisar o peso da vítima (70kg), a posição que o corpo foi encontrado e a alça da bolsa usada no enforcamento, os peritos concluíram que o boxeador cometeu suicídio

Segundo a perícia, Gatti amarrou a alça de uma bolsa na escada e se pendurou, utilizando um banco da cozinha americana da suíte

O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) apontou como causa da morte asfixia por enforcamento

A família da vítima chegou a contestar o resultado e contratou peritos internacionais, mas não obteve sucesso

Dois suspeitos foram identificados e um deles já foi preso. Foto: Reproducao TV Clube
Dois suspeitos foram identificados e um deles já foi preso. Foto: Reproducao TV Clube

Caso jornalista Marco Aurélio

O corpo do jornalista aposentado Marco Aurélio de Alcântara, 77 anos, foi encontrado na manhã do dia 24 de setembro do 2014, dentro da casa dele, no bairro do Derby. A vítima estava com as mãos, pernas e braços amarrados e um fio de náilon enrolado no pescoço. Na noite anterior à morte, testemunhas viram pelo menos duas pessoas estranhas entrando na casa. Alcântara teria vendido a residência onde morava por R$ 800 mil e sacado R$ 60 mil do valor. O dinheiro estaria guardado no imóvel. A identificação dos suspeitos do crime foi possível graças à análise feita pelos peritos do Instituto de Identificação Tavares Buril (IITB) em objetos que estavam na casa, onde foram colhidas impressões digitais.

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As imagens das câmeras de segurança analisadas pela Polícia Civil mostraram dois homens saindo da casa do jornalista no dia do crime

Numa pasta que pertencia à vítima foram encontradas as digitais do suspeito Cristiano José da Silva Nascimento. Ele foi preso e confessou o crime

A partir da prisão de Cristiano, a polícia chegou ao segundo suspeito identificado como Emerson Pereira Morais, que está foragido

A polícia concluiu que os dois suspeitos mataram o jornalista aposentado para roubar. Cristiano disse que ele e Emerson ficaram com R$ 30 mil

Médico foi assassinado no dia 12 de maio de 2014. Foto: Tv Clube/Reprodução
Médico foi assassinado no dia 12 de maio de 2014. Foto: Tv Clube/Reprodução

Caso Artur Eugênio

No dia 12 de maio de 2014, o cirurgião torácico Artur Eugênio de Azevedo, 36 anos, foi assassinado às margens da BR-101 Sul, em Jaboatão dos Guararapes. O carro da vítima foi encontrado na manhã do dia seguinte, no bairro da Guabiraba, no Recife. Uma garrafa plástica localizada perto do veículo foi a chave inicial para desvendar o assassinato. A partir da localização das impressões digitais no recipiente, a polícia chegou ao nome de um dos suspeitos. Ao final das investigações, cinco pessoas foram indiciadas pelo assassinato que causou grande revolta na sociedade, sobretudo na classe médica.

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O corpo de Artur Eugênio foi localizado na noite do dia 12 de maio do ano passado às margens da BR-101. Ele estava sem nenhum documento de identificação

Uma garrafa plástica encontrada perto do carro da vítima completamente carbonizado na Zona Norte do Recife foi recolhida pela perícia

A partir da análise feita por peritos do Instituto de Identificação Tavares Buril, as impressões digitais de um suspeito foram localizadas

As imagens das câmeras de segurança analisas pela polícia mostraram que a vítima estava sendo seguida desde a saída do trabalho

4 Replies to “CSI pernambucano ajuda polícia a desvendar crimes”

  1. Prezado, Wager

    ´É com grande alegria que venho cumprimentar e parabenizar pela matéria CSI de Pernambuco. Trata-se de uma matéria que retrata a verdadeira realidade de profissionais que vem trazendo resultado para elucidação de crimes, dos mais diversos que ocorrem no estado.
    Embora, um trabalho sem o reconhecimento por aqueles que fazem a gestão da defesa social em nosso estado. E lamentavelmente, a imprensa pernambucana por falta de conhecimento ou por motivos escusos não divulgam a realidade e nem enaltece o trabalho desses profissionais.

    Acreditar em profissionais sérios como o nobre em réporter, faz acreditar em um imprensa séria e imparcial.

    meus parabéns pela matéira.

  2. Parabéns pela reportagem Wagner. Voce é um dos poucos jornalista desse Estado que sabe apontar as diferenças entre o Perito Papiloscopista (IITB) e o perito criminal (IC). Além de evidenciar a extrema importância da Pericia Papiloscópica na resolução de crimes.

  3. Parabéns pela reportagem. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos Peritos Papiloscopistas da Polícia Civil de Pernambuco, esses profissionais fazem milagres para identificar as pessoas que estiveram nos locais de crimes. Pena que o governo não reconhece o trabalho desses profissionais.